Isaque e Rebeca: um casal dividido pelo amor por seus filhos

ISAQUE E REBECA: UM CASAL DIVIDIDO PELO AMOR POR SEUS FILHOS

 

Texto Básico: Gênesis 25.27-28

LEITURA DIÁRIA
Domingo: Gn 24.1-14 – Uma esposa para Isaque
Segunda: Gn 24.15-51 – Deus escolhe Rebeca
Terça: Gn 24.52-67 – Isaque ama Rebeca
Quarta: Gn 25.19-34 – Esaú e Jacó
Quinta: Gn 26.1-25 – A preservação divina
Sexta: Gn 27.1-46 – A bênção para Jacó
Sábado: Sl 127 – Todo bem procede de Deus

INTRODUÇÃO

Conflitos em nossa vida não é nenhuma novidade. Lidar com eles é uma necessidade constante. Isto porque ainda sofremos a influência do pecado em nossos pensamentos e atitudes. Temos que administrá-los no trabalho (principalmente quando trabalhamos em equipe), nos momentos de lazer (é só pensar em uma partida de futebol), no namoro e, também, no casamento.

Há também os casos em que temos de administrar os conflitos em favor dos outros. Considere, por exemplo, os conflitos existentes na vida dos filhos. Querendo ou não, mais cedo ou mais tarde, os pais terão que administrá-los.

Geralmente os conflitos afloram quando expomos nossas ideias e preferências e elas são contrárias à de outra pessoa. Diante disso, enfrentamos sempre um grande dilema: abrir mão ou não de nossa posição? Entretanto, a questão não é somente ceder ou não em nosso ponto de vista, mas fazer o que é certo. E para que isso aconteça é preciso que sejamos orientados e conduzidos por Deus.

O relato sobre a vida em família de Isaque e Rebeca nos traz uma oportuna lição sobre a administração dos conflitos familiares.

I. CONTEXTO

Depois da morte de Sara, estando Abraão já muito velho, era necessário tomar providências quanto à continuidade da família da aliança, pois Isaque ainda era solteiro. Diante disso, Abraão chamou o seu servo mais antigo e de grande confiança (Gn 24.1-5), muito provavelmente Eliézer, o damasceno (Gn 15.2-3), para encontrar uma esposa dentre sua parentela para Isaque.

O relato sobre a busca e a escolha de uma esposa para Isaque é muito bonito e demonstra o governo soberano do Senhor sobre a vida. O servo de Abraão orou: “Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão! Eis que estou ao pé da fonte de água, e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; dá-me, pois, que a moça a quem eu disser: inclina o cântaro para que eu beba; e ela me responder: Bebe, e darei ainda de beber aos teus camelos, seja a que designaste para o teu servo Isaque; e nisso verei que usaste de bondade para com o meu senhor” (24.12-14). E, assim sucedeu. Uma moça formosa apareceu onde ele estava, deu água a ele e aos seus camelos. Era Rebeca (24.15-51).

O encontro de Isaque e Rebeca também demonstra o estabelecimento dos desígnios do Senhor e o casamento (Gn 24.52-67) como havia plena harmonia entre a vontade de Deus e o sentimento que nasceu em seus corações: “Isaque conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele, e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou…”(v. 67).

II. ISAQUE E REBECA EM FAMÍLIA

Apesar de essa união ter sido realizada por Deus, devemos nos lembrar de que se tratava de duas pessoas diferentes, que viveram sob a influência do pecado e, portanto, passíveis de cometer erros e de ter de lidar com suas dificuldades.

Na história deste casal encontramos algumas características marcantes que, certamente, os ajudaram na administração de seus conflitos.

A. Um casal monogâmico
Tudo indica que Isaque só teve Rebeca como esposa. Isto significa que eles tiveram um casamento segundo o padrão estabelecido por Deus, ou seja, monogâmico.
Não encontramos na Bíblia qualquer indício que seja de que Isaque tenha se relacionado com outra mulher. O texto aponta apenas para Rebeca. Em sua genealogia, por exemplo, encontramos apenas os nomes dos gêmeos Esaú e Jacó, como seus filhos.

B. Um casamento movido por oração
O casamento de Isaque e Rebeca continuava sendo dirigido por Deus. Diante da esterilidade de Rebeca, que era um obstáculo ao desenvolvimento da família da aliança, Isaque se colocou diante de Deus em oração por sua esposa. Essa atitude não apenas demonstra sua fé em Deus, como também seu amor por sua esposa (Gn 25.21). O resultado disto foi que Deus os abençoou, ouvindo e atendendo essa oração. Rebeca, então, concebeu.

Rebeca também orou a Deus para a resolução de um problema. Quando ela já se achava grávida dos gêmeos, diante de sua agonia com a inquietação dos bebês no seu ventre, ela se dirigiu a Deus. A resposta obtida foi reveladora, apontando para o futuro dos seus filhos: “Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço” (25.23).

C. Um casal afetuoso
Isaque e Rebeca talvez formem o casal mais romântico das Escrituras. Desde o seu primeiro encontro, eles são apresentados de modo bastante romântico (Gn 24.62-67).
No capítulo 26 de Gênesis é narrado o período que Isaque passou na terra dos filisteus por causa da seca e fome que sobreveio à terra (v. 1). Nessa narrativa, observamos que Isaque, temendo por sua vida, apresentou Rebeca, sua esposa, como sendo sua irmã (26.7) – a exemplo do que Abraão fizera com Sara anteriormente (12.13; 20.2).

Permanecendo Isaque naquela região por um tempo razoável e, antes que alguém tomasse Rebeca por sua mulher, Abimeleque, rei dos filisteus, “viu que Isaque acariciava a Rebeca” (26.8). Embora a palavra traduzida por “acariciar”, no hebraico signifique “brincar”, ela denota uma atitude de intimidade que não podia ser aplicada a irmãos, por exemplo. Tanto é assim, que, quando Abimeleque viu aquela cena, mandou chamar Isaque e disse: “…é evidente que ela é tua esposa” (26.9). Esta atitude demonstra afetuosidade entre Isaque e Rebeca. Eles demonstravam carinho um pelo outro.

III. ADMINISTRANDO OS CONFLITOS

Como já dissemos, apesar desta união ter sido planejada por Deus, estavam envolvidas pessoas com suas naturezas pecaminosas, entre as quais os conflitos surgiam e que deveriam ser administrados. Isso não quer dizer que esses conflitos foram necessariamente criados por eles. Um, em especial, não tinha a ver com eles propriamente, mas com os seus filhos, Jacó e Esaú. Esse conflito iniciou-se desde o ventre de Rebeca (25.22).

A. Esaú – O primogênito sem o direito de o ser
Esaú, em hebraico, significa “peludo”. Ele também foi chamado de Edom, que, em hebraico, significa “vermelho”. Ele foi o pai dos edomitas, que habitaram em uma região que hoje é conhecida por Aqaba. Esaú nasceu ruivo e peludo. Ele era um perito caçador, um homem viril, do campo, destemido e agitado, completamente oposto a Jacó. Eles eram muito diferentes, tanto na aparência quanto no temperamento.
Esaú era o primogênito. Na cultura hebraica “o filho mais velho tinha o direito de ser o herdeiro principal da fortuna da família (27.33; Dt 21.17; 1Cr 5.1-2). A herança paterna era dividida pelo número de filhos, e o primeiro sempre tinha direito a duas partes. Por exemplo, se fossem nove filhos, o primeiro receberia duas partes e os outros oito dividiriam as sete partes restantes. Se fossem apenas dois filhos, o primeiro herdava as duas partes sem deixar nada para o irmão. Ao primogênito também cabia a responsabilidade de ser o protetor da família. Na família da aliança, essa fortuna incluía a promessa do Senhor de dar a Abraão uma descendência na terra que abençoaria todas as nações. A primogenitura era transferível, como nos casos de Judá/Rúben, Efraim/Manassés e Salomão/Adonias” (Bíblia de Estudo de Genebra). Em outras palavras, a primogenitura era algo que não se podia dispensar. Era tida como ação graciosa de Deus para um propósito divino e, portanto, considerada uma bênção imensurável.
Esaú, entretanto, rejeitou esta bênção quando a trocou por um prato de lentilhas: “Tinha Jacó feito um cozinhado, quando esmorecido, veio do campo, Esaú e lhe disse: Peço-te que me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido. Daí chamar-se Edom. Disse Jacó: Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura. Ele respondeu: estou a ponto de morrer; de que me aproveitará o direito de primogenitura? (…) Assim desprezou Esaú o seu direito de primogenitura” (Gn 25.29-32,34).

Esaú demonstrou total desprezo pelas coisas de Deus quando rejeitou sua primogenitura, vendendo-a. Essa atitude o caracteriza como um homem profano, imediatista e soberbo, contrapondo-se ao caráter de um servo de Deus: “…nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura” (Hb 12.16). Ele pagou um preço muito alto por este desprezo, pois, mais tarde, quando tentou recuperar a bênção, foi rejeitado.

Não houve lugar para arrependimento: “…querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado” (Hb 12.17).

B. Jacó – O primogênito de fato e de direito
Pode soar estranho o que nasceu depois ser considerado o primogênito de fato e de direito, mas, não é. A primogenitura de Jacó não se dá pela ordem do nascimento, mas pela eleição soberana de Deus.
Jacó, diferentemente de seu irmão, era pacato, tranquilo, gostava da casa e de seus afazeres (Gn 25.27). O nome de Jacó pode ter dois significados: “aquele que segura o calcanhar” ou “astuto, suplantador”. Além da aparência física e do caráter, Jacó era diferente de seu irmão, Esaú, também na ambição e na ação:
• Jacó queria a bênção da primogenitura desde o ventre de sua mãe e, isto, é demonstrado quando a narrativa bíblica dá ênfase no modo como eles nasceram – Jacó segurava o calcanhar de Esaú (25.26), numa demonstração de que ele queria ser o primeiro.
• Jacó almejava a bênção de Deus (primogenitura), mesmo sabendo que isto poderia ser impossível. Quando lemos o texto à impressão que fica é que Jacó estava sempre atento às oportunidades. Assim, quando Esaú chega esmorecido e com fome, Jacó simplesmente oferece um acordo – a comida pela primogenitura (25.29-34).
• Jacó também não mediu esforços nem as consequências para conseguir o que queria. Quando soube que o seu pai, já muito velho, abençoaria ao seu irmão, orientado pela mãe, ele se passou por Esaú e foi receber a bênção de Isaque. Havia no coração de Jacó intensidade em querer as bênçãos do Senhor (27.1-29).

Além disso, precisamos entender que Jacó era o herdeiro da promessa desde a sua concepção, eleito soberanamente pelo próprio Deus. Entendendo isto, saberemos que Jacó não usurpou a bênção de Esaú, mas se apropriou, ainda que de forma astuta, daquilo que era seu. Basta olharmos para a resposta que Deus deu a Rebeca no capítulo 25.23: “Respondeu-lhe o SENHOR: Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço.”

Portanto, o que podemos avaliar destes dois personagens é que o conflito que havia entre eles ia além de suas diferenças físicas e características essenciais, mas, se dava por causa da bênção do Senhor. Um deles queria muito ser o herdeiro da promessa e, o outro, tratou com descaso tão grande privilégio.

IV. CONFITO AGRAVADO

O conflito familiar já existia frente as rivalidades dos irmãos Jacó e Esaú. Entretanto, os posicionamentos que os pais tomaram na tratativa deste conflito foi, de fato, um agravante. Não devemos definir quem estava certo ou errado, mas é prudente pensar que todos tiveram sua parcela de culpa.

A Bíblia nos fala que existia uma preferência dos pais pelos seus filhos: “Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua caça; Rebeca, porém, amava a Jacó” (Gn 25.28). Esse favoritismo explícito dificultou ainda mais as coisas, principalmente, porque Deus já havia estabelecido a sua preferência. Livre e soberanamente, Deus havia escolhido Jacó como o herdeiro da promessa e, Isaque, por maior amor que tivesse por Esaú, não poderia contrariar o que Deus já havia estabelecido.

Temos aqui um sério alerta sobre o perigo da predileção entre os filhos. Dar atenção especial a um filho, em detrimento do outro – ainda que em alguns casos isso seja necessário – pode causar sérios problemas: ciúme, ódio, falta de cordialidade, etc. Cabe aos pais edificar um lar de amor, disciplina e aceitação mútua. É preciso combater a rivalidade e a competição entre irmãos. Todos devem sentir-se acolhidos e amados, ainda que considerando a peculiaridade de cada filho.

Mas, o ápice do conflito familiar se deu no momento em que Isaque foi dar sua bênção. O tema desse conflito familiar agora se manifestou plenamente na busca da bênção patriarcal e os equívocos e fraquezas vêm à tona:
a. Isaque se escora em seus sentidos falíveis e não na orientação de Deus (27.4, 21-27);
b. Isaque errou em não se impor como líder espiritual de sua casa e, possivelmente, em não dar ouvidos à Rebeca, sua esposa. Aqui há um paralelo contrastante com 21.8-14;
c. Rebeca contribui para o problema familiar posicionando sua preferência em Jacó; ele usa de astúcia, mas, apesar do seu método não ser o correto, os seus valores espirituais são bons (25.23; 26.35; 27.46);
d. Esaú quebrou o seu juramento a Jacó, pois já havia aberto mão de sua bênção na troca pelo prato de comida (25.31-33); Esaú mostrou seu desprezo pelas bênçãos da aliança ao se casar com as mulheres cananeias (24.3-4; 26.34-35), desapontando inclusive aos seus pais (26.35);
e. Jacó mentiu descaradamente (27.19-20).

CONCLUSÃO
Vimos nesta lição a imensa crise familiar vivida e administrada por Isaque e Rebeca. Pudemos aprender que apesar de ser uma família planejada por Deus, os conflitos existiram e se agravaram, mas que, por causa de atitudes como: oração, demonstração de carinho e fidelidade a Deus, toda crise foi superada e o propósito de Deus foi estabelecido.

A lição também mostra que o partidarismo é muito danoso na vida familiar. Devemos aprender com as diferenças de nossos filhos e ajuda-los a superarem os seus conflitos. Devemos aprender também que as nossas predileções não podem jamais contrariar o que Deus, livre e soberanamente, estabeleceu e determinou.

APLICAÇÃO
Você consegue identificar a influência e os prejuízos que os conflitos causam em seu lar? As decisões que você toma têm resolvido ou agravado esses conflitos?
Considere sempre que, mesmo andando na presença de Deus, por sermos pecadores, sempre teremos de lidar com conflitos. Procure conduzir sua família sob a instrução divina e não segundo a inclinação do coração, que é enganoso. Isso ajudará a resolver e amenizar os efeitos dos conflitos em sua casa.

Como verdadeiro cristão, procure viver em paz com todos que estão ao seu redor; ore por eles e com eles. Esforce-se para melhor interagir com as pessoas, não sendo partidarista ou egocêntrico.

>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Nossa Fé -– Casais da Bíblia. Usado com permissão.

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