A Ética da Internet

A Ética da Internet

Texto Básico: 1 João 2.12-17

Leitura Diária
D Mt 6.19-23 – A importância dos olhos na santificação
S 2Sm 12.1-17 – Um pecado não resolvido leva a outro pior
T Êx 20.1-17 – A vontade de Deus
Q Ec 3.1-8 – Tudo tem seu tempo determinado
Q 1Co 3.24-27 – Aprendendo a autodisciplina
S Ez 14.1-11 – Deus usa a idolatria para purificar seu povo dos idólatras
S 1Sm 18.1-4 – Verdadeira amizade

Introdução

Home page, e-mail, Google, Skype, Messenger, Second Life, blog, Orkut, Facebook, Twitter, etc. A internet trouxe novos nomes e novos conceitos para a vida de todos que usam computador. Ela pode ser uma ótima ferramenta de informação, estudo, entretenimento, procurar emprego e amizade, mas também um grande perigo. Esta lição analisará alguns dos desafios, perigos e oportunidades da internet para o cristão.

I. Aliança com os Olhos

Na internet tem de tudo. Você pode fazer suas transações bancárias, fazer uma videoconferência com alguém que está do outro lado do mundo, ler livros gratuitamente, escutar músicas, jogar, fazer compras, pesquisar, ler jornal. Mas na internet também há muitas coisas erradas como textos, imagens e vídeos de pornografia, pedofilia e homossexualismo; conversação torpe e sem objetivo, vídeos e jogos cheios de violência. Além disso, existem inúmeras pessoas que usam a internet para cometer crimes como, por exemplo, roubo, uso de informações confidenciais alheias e a pirataria. Com tudo isso, como o cristão se mantém puro num mundo virtual cheio de impurezas?

Cuidado olhinho o que vê… Aquilo que é expresso de forma tão singela na música infantil é uma das chaves da santificação. Para navegar na internet de forma santa e para viver uma vida santa é necessário que o cristão tenha olhos santos. O nosso sentido da visão é responsável por grande parte de nosso contato com o mundo externo e de nossa aprendizagem. Deus sabe disso e por essa razão deixou bem claro na sua Palavra o cuidado que devemos ter com os nossos olhos. Jesus afirmou: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno.” (Mt 5.28-29). Isso porque se os olhos forem bons, todo o corpo será puro (Mt 6.22-23). Um dos motivos pelos quais Jó foi descrito como um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se desvia do mal (Jó 1.1) é porque ele fez uma aliança com seus olhos para manter sua pureza (Jó 31.1). Os olhos tiveram um papel fundamental nos pecados de Eva e de Davi (Gn 3.6; 2Sm 11.2). O salmista decidiu não por coisa injusta diante de seus olhos (Sl 101.3) e orou a Deus para desviar seus olhos de coisas vãs (Sl 119.37).

Ao navegar na internet (assistir televisão, andar na rua), o cristão, seja homem ou mulher, precisa constantemente se lembrar destes ensinamentos bíblicos e cuidar de seus olhos para não pecar. É necessário que o cristão evite sites impróprios e seja corajoso para pedir aos colegas que parem de mandar e-mails com conteúdos impróprios. Se não queremos andar em trevas, precisamos ter olhos santos ao navegar pela internet, assistir televisão, andar na rua, em todo lugar e situação.

II. Não Furtarás…O Convite da Pirataria

Com a internet é possível copiar filmes que ainda estão no cinema (ou que nem chegaram ao cinema), ter músicas sem pagar nada por isso, conseguir softwares e serial numbers pirateados. O estudante pode conseguir fazer seus trabalhos sem pesquisar e o torcedor pode assistir jogos da TV por assinatura sem ter de pagar por isso. O problema é que todas estas aparentes vantagens são roubo e, portanto, violações do oitavo mandamento: Não furtarás (Êx 20.15, veja também Ef 4.28; Rm 13.9). O Catecismo Maior de Westminster assim começa a resposta à pergunta 141, “quais são os deveres exigidos no oitavo mandamento?”: “Os deveres exigidos no oitavo mandamento são: a verdade, a fidelidade e a justiça nos contratos e no comércio entre os homens, dando a cada um o que lhe é devido, a restituição de bens ilicitamente tirados de seus legítimos donos…”.

É difícil encontrar alguém que não tenha coisas que são fruto de pirataria em seu computador. Mais do que crime, pirataria é pecado. É descumprir contratos e não dar às empresas que desenvolveram os softwares e detentoras dos direitos autorais aquilo que lhes é devido. Nenhum cristão acharia normal entrar em uma loja e roubar um computador, mas muitos acham normal roubar um programa de computador, um filme, uma música. Infelizmente até mesmo algumas igrejas têm errado, mantendo programas e arquivos piratas em seus computadores.

As desculpas mais usadas para justificar tal comportamento são: “programas, CDs e DVDs são muito caros no Brasil” e “a legislação brasileira permite que se tenha material pirata para uso próprio, o errado é reproduzir para vender.” Quanto à primeira desculpa devemos afirmar fortemente que o fato de algo ser caro não nos dá o direito de roubá-lo. Ninguém pode entrar numa concessionária de carros importados e roubar uma Mercedes só porque ela custa muito caro. Em relação à segunda desculpa, ainda que a afirmação seja verdadeira em alguns casos, devemos nos lembrar que a ética cristã muitas vezes será mais restrita do que as legislações de um Estado leigo. O cristão precisa respeitar a propriedade alheia, seja ela um bem físico, seja ela propriedade intelectual. Pirataria também vai além de softwares e filmes baixados da internet, mas envolve também fotocópias de partituras de música (para o coral) e livros, além de muitos itens vendidos por camelôs. O cristão e as igrejas precisam evitar descumprir o oitavo mandamento e lutar contra este pecado.

Qual é a solução? Quanto aos filmes e músicas, é necessário que se use os meios legais para assisti-los, seja comprando uma cópia autorizada em uma loja real ou virtual, seja alugando ou indo a cinemas. Quanto a programas de computador é necessário que se compre a licença de uso ou que se instale um programa similar gratuito. A boa notícia é que existem versões gratuitas de vários dos mais usados softwares de computador, como, por exemplo, o BrOffice (http://www.broffice.org), que é compatível com o Microsoft Office e o Gimp (http://www.gimp.org) para tratamento de imagens.

III. Descontrole das Horas

Um terceiro perigo que vem com o uso da internet é o descontrole das horas. É muito fácil gastar o tempo que deveríamos investir no reino de Deus, na família, no trabalho e nos estudos, ‘navegando’ na internet. Se você gasta o seu dia consultando e-mails a cada minuto, lendo todos jornais, vendo sites de esportes, conversando no MSN ou outro programa e fazendo pesquisas meramente para satisfazer sua curiosidade, você provavelmente tem gastado mais tempo com a internet do que deveria. Eclesiastes 3.1-8 afirma que há tempo para todo propósito debaixo do céu. Entretanto, da mesma forma que ver televisão, trabalhar, arrumar a casa, estudar e jogar videogame, navegar na internet também é uma atividade com capacidade de reivindicar todo o nosso tempo e nos dominar.

Os cristãos da cidade de Corinto tinham um lema que afirmava: “todas as coisas me são lícitas” (1Co 6.12; 10.23). Paulo, depois de citar este lema deles, limitou-o da seguinte forma: “mas nem todas convêm”; “mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”; e “mas nem todas edificam”. Estas, portanto, são três qualidades das ações lícitas para cristãos: 1) são convenientes, 2) o cristão tem controle sobre elas (e não o contrário) e 3) são edificantes. Para parar de gastar tempo demais com a internet (ou outras atividades) é preciso uma boa dose de autocontrole, que é parte do fruto do Espírito (Gl 5.22-24). Pedro também recomenda aos cristãos que acrescentem domínio próprio ao conhecimento (2Pe 1.3-11) e o autor de Provérbios afirma que um homem sem domínio próprio é tão vulnerável como uma cidade derrubada e sem muros (Pv 25.28). Não é possível ganhar domínio próprio sem esforço. O apóstolo Paulo usou a imagem de um atleta para ilustrar o estilo de vida que deve caracterizar o cristão (1Co 9.24-27).

É importante perceber que se somos dominados por algo que não Deus, este algo se transformou num ídolo para nós. Evidentemente a Bíblia condena idolatria (Êx 20.3; 1Jo 5.21). O livro de Ezequiel ensina que existe um tipo de idolatria sem imagens, que acontece no coração (Ez 14.1-11). David Powlison nos ajuda a entender melhor a idolatria e nos avaliar quanto a este assunto através das seguintes perguntas: O que me motiva? Porque faço as coisas como faço? Porque penso as coisas que penso? O que me motiva a olhar para as coisas que olho? O que me move? O que faz meu comportamento ser assim? E principalmente: “Alguém ou alguma coisa que não Jesus Cristo tem controlado a confiança do nosso coração, como objeto, preocupação, lealdade, serviço ou prazer”?1¹ Caso a internet ou outra coisa qualquer apareça como resposta a esta última pergunta, você deve se arrepender e pedir perdão a Deus por tal idolatria.

O que fazer se você ou seus filhos têm gastado mais tempo do que deveriam na internet ou em outra atividade? É necessário uma conscientização de que nosso tempo pertence a Deus e daremos conta por ele. O que fazemos com o nosso tempo é intimamente relacionado com nossa vida com Deus. Assim, textos bíblicos que falem sobre domínio próprio e advirtam contra a idolatria devem ser estudados, memorizados e praticados.

¹ Ídolos do Coração & Feira das Vaidades, David Powlison, Refúgio, pág. 22-23.

IV. Relacionamentos Menosprezados

Através da internet é possível manter contato com pessoas conhecidas e conhecer outras. Muitas das atividades da internet estão ligadas a relacionamentos. Este é o caso de salas de bate-papo (chat), programas de mensagem instantânea (Messenger, Skype), sites de relacionamento (Orkut, Facebook), listas de discussão por e-mail, sites onde pessoas expressam suas opiniões nos mais diversos assuntos (blogs), sites onde pessoas disponíveis para um relacionamento colocam suas fotos e perfis e até mesmo sites nos quais se é possível viver uma vida virtual (Second Life). Neste último é possível comprar, vender, casar, ir à igreja, ver shows, fazer faculdade, passear em shoppings e viajar pelo mundo.

Estes sites e programas representam oportunidades e perigos. São oportunidades, por exemplo, de manter contato com pessoas queridas que estejam distantes, de economizar em tarifas telefônicas e até mesmo de evangelizar. O perigo fica por conta do tipo de relacionamento que se pode estabelecer. Muitas pessoas usam a internet para manter conversação imprópria, estabelecer relacionamentos adúlteros e até mesmo fazer “sexo virtual”. Existe muita conversa imprópria para cristãos em salas de chat e pessoas que usam estes meios para atrair crianças e adolescentes para conversações impróprias e até mesmo para marcar encontros. Existem também pessoas que começam relacionamentos impróprios e/ou adúlteros pela internet (com conhecidos ou desconhecidos) e os levam adiante para a vida real. O que a Bíblia tem a dizer para ajudar o cristão a manter-se puro, ainda que usando estes meios de relacionamento? Três princípios bíblicos são muito úteis para guiar o cristão:

  1. A Bíblia encoraja relacionamentos saudáveis – O livro de Provérbios é extremamente prático e que, entre outros ensinamentos, tem muito a ensinar sobre relacionamentos. Provérbios 18.1 afirma que um estilo de vida solitário resulta em egoísmo e falta de verdadeira sabedoria. Deus criou o homem como um ser relacional. A Bíblia mostra exemplos de verdadeiras amizades como a de Davi e Jônatas (lembre-se que ambos eram corajosos homens de guerra ao invés de pessoas delicadas com tendências homossexuais – 1Sm 18.1,3; 20.17) e de casamentos cheios de alegria e prazer (Cântico dos Cânticos). Outros textos que têm muito a ensinar sobre as vantagens dos relacionamentos saudáveis são Provérbios 12.26; 17.17; 18.24;27.6,9-10 e Eclesiastes 4.9-12. Deus, portanto, quer que nos relacionemos e ensina que relacionamentos podem ser meios pelos quais ele mesmo nos abençoa. Não há, portanto, nada intrinsecamente mal na maioria destes meios que a internet provê para facilitar relacionamentos;
  2. A Bíblia adverte contra más companhias e conversações impróprias – Um segundo princípio bíblico que deve guiar as decisões dos cristãos com relação aos sites de relacionamento são as advertências bíblicas contra as más companhias e más conversações. A convivência e a conversa com pessoas que agem contrariamente a vontade de Deus podem corromper (Pv 1.10- 19; 22.24-25; 1Co 15.33; Ef 4.25,29; 5.3-4);
  3. A Bíblia proíbe o adultério e estreita esse conceito – O sétimo mandamento é muito claro: “não adulterarás” (Êx 20.14). O profeta Malaquias afirma que Deus odeia o divórcio (Ml 2.13-16) e o livro de Provérbios tem várias advertências contra a mulher adúltera que anda a caça de vidas preciosas (Pv 2.10-11; 5.8,15-20; 23.27). É muito importante lembrar que Jesus estreitou o conceito do que é o adultério, afirmando que aquele que olha para uma mulher com intenção impura no coração já adulterou com ela (Mt 5.27-28). Portanto é possível afirmar que qualquer ação (uma conversa em um chat, fingir-se solteiro sendo casado) com intenção impura no coração já é adultério. O cristão tem o dever de evitar o adultério e de odiá-lo tanto quanto Deus o odeia a fim de manter o seu leito sem mácula (Hb 13.4).

Conclusão

Cuidado com os perigos e aproveite as oportunidades. A internet, embora não sendo intrinsecamente má, é uma poderosa ferramenta que pode fazer muito mal ao cristão se este não vigiar. É um dos meios mais fáceis de ter acesso a pornografia, roubar filmes, músicas, programas de computador e ideias alheias, perder tempo e desenvolver relacionamentos que desagradam a Deus. Por outro lado como poderosa ferramenta que é, também pode ser usada para o bem dos cristãos e do reino de Deus. Como cristãos não devemos nos distanciar da internet, mas usá-la para fazer coisas que agradem e glorifiquem a Deus.

Nossas igrejas também precisam marcar presença na internet. Seria ótimo se cada igreja tivesse um bom e bem desenvolvido website (é melhor pagar por um website bem feito do que pedir a alguém bem intencionado para produzir um site que afugenta pessoas ao invés de atraí-las). O povo evangélico em nosso país pouco tem explorado o poder da internet para evangelizar e ensinar. É tempo de aproveitarmos esta grande oportunidade.

Aplicação

Não permita que a internet atrapalhe a sua comunhão com Deus. Se isto já está acontecendo, peça perdão a Deus e tenha atitudes práticas para mudar seu proceder. Pais, acompanhem de perto o que seus filhos têm feito na internet. Limitem o tempo de acesso diário. Não tenham medo da internet e dos computadores, tenho visto pessoas de mais de setenta anos aprenderem a navegar e se comunicar por e-mails.

Texto publicado na Revista Nossa Fé do 4º trimestre de 2009, com o tema A OPÇÃO CRISTÃ – Questões éticas atuais, pela Cultura Cristã.

Autores das lições: João Paulo Thomaz de Aquino, Eduardo Assis, Leandro Antonio de Lima, Filipe Fontes, Marcelo Smeets, Vagner Barbosa, Heber Carlos de Campos Júnior, Solano Portela, Valdeci da Silva Santos

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2 Comentários para “A Ética da Internet”

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