A beleza da intimidade sexual

A beleza da intimidade sexual

Extensão e limites da relação no casamento

Texto básico:  1 Coríntios 7.5

Leitura Diária
D 1 Co 7.1-5 – Direito e precaução
S Ct 2.1-17 – Romance e cuidado
T Ef 5.22-33 – Sujeição e revelação
Q 1 Co 13 – “Ah! O amor!”
Q Jo 10.11-18 – Entrega
S Fp 2.5-11 – Amor abnegado
S Ct 5.1-16 – Romance nunca é demais

Introdução

A relação sexual gera dúvidas em qualquer fase de um relacionamento. Antes do casamento, os problemas são como nos livrarmos das tentações e nos mantermos firmes no propósito de nos santificar. Após o casamento, as indagações são outras. Não é porque a relação sexual é permitida que tudo se torna simples. A sexualidade de um casal pode ser um grande problema, e é necessário definir a extensão e os limites dessa relação. Como veremos nesta lição, há princípios bíblicos práticos para a relação sexual no casamento, que é o ambiente adequado de consumação dos planos de Deus para a união de um homem e uma mulher, e que gera bênçãos na comunhão do casal.

I. Fartura ou escassez?

Fomos feitos para o casamento e para a relação sexual. As formas de nossos corpos, as regiões erógenas, o fato de que nos reproduzimos por meio dessa relação, tudo isso aponta a vontade de Deus de que homem e mulher se relacionem sexualmente.

Como já vimos, há um modo correto para isso. Não é só uma questão de não adiantar as coisas antes do casamento, mas também de mantê-las na linha durante o casamento. Devendo ocorrer no casamento a união física de um homem com uma mulher, o que faz com que os dois tornem-se uma só carne diante de Deus, a primeira regra é que a relação sexual não pode faltar. A própria sociedade fala em casamento que “não se consumou”, quando não ocorreu entre marido e mulher essa união física. Há, contudo, duas questões a serem levantadas: a exposição ao pecado e a manutenção do casamento.

1 Coríntios 7.5 reconhece a importância do sexo na relação conjugal. O texto não nega nem tenta suprimir os desejos sexuais, pelo contrário, ele os descreve como legítimos e, menciona que impróprio, sem

motivo justo, privar o cônjuge de relações sexuais. Tal privação seria uma exposição desnecessária às artimanhas do inimigo; é provocar uma tentação, já que o casamento é o ambiente para o sexo.

Isso nos leva à segunda questão: a manutenção do casamento. Cântico dos Cânticos 2.15 traz a figura das raposinhas que destroem os vinhedos, uma metáfora do relacionamento. Devemos lembrar que sempre há raposas prontas para destruir vinhedos. O exercício da intimidade física é essencial para se manter o desejo sexual dentro de um ambiente próprio.

O livro de Cântico dos Cânticos está repleto de descrições a respeito do desejo eda satisfação de um casal. A demonstração de amor é intensamente demonstrada por contatos físicos e de carinho, cujas práticas contínuas, no relacionamento do casal, são o caminho para afastar as “raposinhas” das “vinhas”. O relacionamento sexual, como prática comum da vida do casal, é uma bênção de Deus para a satisfação do casal, a fim de que o interesse sexual se mantenha em seu devido lugar.

II . Moeda de troca?

Como visto, há uma relação de direito no casamento; essa relação é tão profunda que Deus olha marido e mulher como se fossem apenas um. Por isso o casamento não pode ser conduzido em meio a disputas de poder e nem pode ser baseado em uma constante troca de favores: “Você faz o que quero e eu faço o que você quer”.

Como templos do Espírito que somos, nosso corpo deve ser instrumento de santidade para ser utilizado com a mesma disposição de amor e dedicação, como Cristo fez com seu próprio corpo. Quando a Escritura compara a relação marido e mulher com a relação de Cristo e a igreja, ela está se referindo à entrega. A entrega do Redentor pelo bem de sua igreja é uma amostra da entrega graciosa que deve existir no matrimônio. O cônjuge não deve considerar apenas seu bem-estar, mas deve pensar nas necessidades e agir para o bem-estar do outro.

1 Coríntios 7 fala sobre a autoridade (poder) que um cônjuge tem sobre o corpo do outro. Efésios 5.21 destaca que há uma relação de constante sujeição de um em relação ao outro. Sexo, cuidado, amor, carinho e proteção se constituem modos de sujeição que um ser humano, antes cheio de si e que vivia para si, pratica em relação a seu cônjuge. Por amor, Cristo humilhou-se como servo, abriu mão de sua glória, sujeitou-se à forma humana, à lei e à morte. Ele não chantageou a igreja, não negociou sua entrega, mas entregou-se espontaneamente (Jo 10.18).

Usar o sexo como um prêmio pelas boas ações, ou como punição pelos erros, é desvalorizar o próprio corpo. Enquanto Cristo o utilizou como meio de graça, perdão e vida, muitas pessoas o utilizam como meio de vingança, ira e condenação. Isso é tirar a sublimidade do corpo e deixar de reconhecer que a entrega tem de ter um significado; ela deve ser ligada ao amor e não à troca.

O movimento feminista, por exemplo, prega que a mulher deve ter poder sobre o próprio corpo (a ponto de decidir pelo aborto, por exemplo). O cristianismo luta para que o corpo seja utilizado, na relação entre marido e mulher, como um instrumento de bênção, intimidade, entrega, misericórdia e outras marcas que externem Cristo.

É evidente, contudo, que em um relacionamento de amor deve haver espaço para que cada coisa ocorra no momento e do modo certo. O marido ou a esposa, por exemplo, não podem passar o dia humilhando, magoando o outro e depois querer que o parceiro sinta desejo e se entregue. Uma ferida precisa ser tratada. O perdão, no casamento, deve ser trabalhado, deve haver sujeição da humilhante confissão do erro e pedido de perdão, não como moeda de troca pelo sexo, mas para vivenciar o amor, a entrega e a sujeição mútua, e não uma ação unilateral e solitária.

Devemos lembrar que somos fracos e temos muito a caminhar, até chegarmos à estatura de Cristo.

III . E as fantasias?

Imaginação é uma qualidade muito valorizada hoje. De fato, criar uma fantasia pode ser algo não apenas interessante, mas animador e, na área sexual, ela pode ser interessante, além de demonstrar interesse na relação e na satisfação do outro. Por outro lado, fantasias podem dar vazão a desejos e paixões pecaminosos. Mais uma vez, por causa de nosso pecado, algo bom pode tornar-se mau.

Devemos ter cuidado com as fantasias, mas isso não significa que precisamos matar a imaginação. Os perigos são muitos, mas uma dose de bom senso tornar as fantasias seguras. Nesse sentido, Cântico dos Cânticos, como excelente guia, mostra dois aspectos importantes: exclusividade e romantismo. As comparações estranhas desses livro podem parecer até ofensivas para nós, mas, elas faziam todo o sentido naquela época, demonstrando o valor, a singularidade e a beleza do relacionamento entre Salomão e a jovem sulamita.

A valorização do marido e da esposa no livro de Cântico dos Cânticos mostra o primeiro aspecto: a exclusividade. A grandeza do prazer demonstrado por ambos dispensava uma terceira pessoa na relação dos dois “pombinhos”. Você pode estar perguntando: O que isso tem a ver com fantasiar? Ora, é sabido que muitas das fantasias em nossa sociedade incluem situações com personagens diferentes, além dos cônjuges. Por exemplo, fantasiar que o cônjuge é outra pessoa é uma maneira de projetar, imaginar que se está com outra pessoa.

A fantasia deve ser uma forma de externar desejo pelo cônjuge, portanto, ela não deve incluir outra pessoa, mas ressaltar, valorizar, reforçar a ligação entre os cônjuges. Pode parecer exagero, mas fantasiar que se é ou que se está com outra pessoa não é romantismo, é fuga e pecado. Não é nada romântico querer outra pessoa, ao contrário, essa atitude demonstra que o cônjuge não é importante, não é único em sua vida, nem mesmo quando você busca prazer. Por isso, as fantasias devem ressaltar o valor do outro por meio de declarações e ações que enfatizem a ligação emocional e sexual entre o casal.

Vejamos o significado de algumas declarações do casal de Cântico dos Cânticos.[1]

1.9: “Às éguas dos carros de Faraó” – as éguas egípcias eram muito enfeitadas e se destacavam em meios aos garanhões, causando admiração e excitação.

1.15: “Eis que és formosa, ó querida minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas” – possivelmente, uma referência à meiguice.

4.8: “Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano; olha do cimo do Amana, do cimo do Senir e do Hermom, dos covis dos leões, dos montes dos leopardos.” – Líbano, Amana, Semir, Hermon são lugares altos, pontos de difícil acesso, que deveriam ser vencidos, para se chegar à pessoa amada.

8.10: “Eu sou um muro, e os meus seios, como as suas torres…” – uma referência tanto à integridade moral da jovem como à sua maturidade sexual, que mostra-se reservada a seu amado.

Perceba que essas figuras e fantasias estão ligadas a imagens que enalteçam o relacionamento do casal. Não há espaço para terceiros, pelo contrário, o foco é a troca de prazer, o amor e a atenção de um em relação ao outro. Esse é o romantismo ensinado como uma forma de relação que revela verdadeiramente o amor de Cristo por sua igreja.

IV . Nada além das quatro paredes

Pelo que vimos, o relacionamento de um casal não deve ir além das quatro paredes. Ao erguer as quatro paredes para a vida sexual, o casal deve seguir estes padrões bíblicos: amor, abnegação, satisfação e respeito; essas quatro “paredes”, quando ligadas, formam o ambiente seguro para o relacionamento sexual de um casal.

A. Amor

O amor é a primeira parede de qualquer relacionamento. Ele nos leva a ter total interesse no bem-estar do próximo. Na conversa entre Deus e Abraão, sobre a destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 18.22-33), o Senhor declarou que seu amor pelos justos o levaria a poupar aquelas cidades. Já 1 Coríntios 13 nos mostra que o amor é uma inclinação em favor do outro. Um relacionamento amoroso se estabelece somente quando duas pessoas desejam e trabalham pelo bem um do outro; e isso deve ser aplicado no relacionamento sexual do casal: o interesse não é somente buscar o próprio prazer, mas também o do outro.

B. Abnegação

A abnegação é a marca do amor verdadeiro da igreja de Cristo. Paulo ressaltou isso ao falar da igreja de Tessalônica (1Ts 1.3), que mostrava abnegação ao apoiar os necessitados, ao abrir mão de parte de seus recursos pelo bem do outro.

Uma relação matrimonial que revele como deve ser a igreja do Senhor tem na abnegação um importante parâmetro. No relacionamento conjugal, ambos devem se entregar, abrindo mão de si mesmo pelo bem do outro. Amor e abnegação são paredes que, unidas, formam parte da estrutura de um lar. O amor nos move em direção do outro, em favor do outro; já a abnegação nos move para longe de nós mesmo. Tanto o amor como a abnegação foram demonstrados por Cristo (Fp 2.5-11).

C. Satisfação

Paulo demonstrou seu amor aos filipenses, mesmo diante de tantas pessoas que tornavam sua prisão ainda mais dura. Ele mostrou que seu desejo em permanecer era ver os frutos do evangelho na vida de seus irmãos. A satisfação de quem ama é a satisfação da pessoa amada.

Esse princípio também se aplica na vida conjugal. A terceira parede da intimidade do casal é a satisfação. O amor é uma ação em favor do outro. Quando amamos o nosso cônjuge o seu bem-estar é uma satisfação para nós.

D. Respeito

A quarta parede, o respeito, completa o fechamento correto da relação de um casal. Em tempos em que tanto se fala de fantasias e de coisas para “apimentar” a relação, devemos lembrar que a Palavra de Deus preza a honra do corpo. Antes de ser meio de prazer para um casal, o corpo é oferta a Deus (Rm 12.1).

O prazer e a satisfação do próprio corpo não devem ser o foco do ser humano. Antes de tudo, o corpo deve ser encarado como instrumento para serviço de Deus. Além da satisfação sexual do casal, Deus nos constituiu para seu serviço, por isso imprimiu-nos sua imagem e semelhança. O uso do corpo deve ser respeitoso, de modo que nem esposo, nem esposa, o usem indevidamente, sem objetivar a glória de Deus.

Infelizmente, diante de tanta perversão sexual, os crentes têm adotado formas grotescas de sexo, que desviam o propósito de Deus para nosso corpo. Para que um casal cristão não ceda à tentação de imitar o que a pornografia vende como sendo simples formas de se esquentar a relação é preciso haver respeito entre os cônjuges.

Conclusão

Sexo é importante e deve ser praticado dentro dos limites do matrimônio. Não deve ser usado como moeda de troca. Há uma forma bíblica para o romantismo e, para alcançá-la, o casal deve construir sua relação a partir de quatro pilares sólidos; são eles: o amor, a abnegação, a satisfação e o respeito.

O cristão deve ter cuidado com as inspirações, e as fontes de onde ele tira ideias para incrementar o relacionamento sexual. Além disso, ele deve enxergar o corpo, a relação sexual e a vida a dois como um serviço diante de Deus e não como uma simples forma de satisfação pessoal.

Aplicação

Leia com atenção Cântico dos Cânticos e pense bem no “romantismo” que o mundo oferece atualmente. Sua ideia de romantismo tem sido mais parecida com os ensinos da Escritura ou com os ditames do mundo?

[1]Notas da Bíblia de Estudo de Genebra.

>> Estudo publicado originalmente na revista Nossa Fé, da Editora Cultura Cristã. Usado com permissão.

Leia mais
» Homem e mulher os criou

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4 Comentários para “A beleza da intimidade sexual”

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