O evangelho e o sustento material

O EVANGELHO E O SUSTENTO MATERIAL

 

Texto Básico: 1 Reis 17; 2 Reis 4.1-37

Para ler e meditar durante a semana
Domingo – Dt 28 – As bênçãos e maldições da aliança;
Segunda – Is 55 – A palavra não voltará vazia;
Terça – 2Rs 4.38-44 – Sustento confirmado;
Quarta – Lc 12.13-34 – O reino e as demais coisas;
Quinta – Jo 6.22-40 – A comida que não perece;
Sexta – 1Co 15 – A ressurreição e a vida;
Sábado – Jo 21.1-20 – Apascenta minhas ovelhas

INTRODUÇÃO

O valor do evangelho para a nossa vida espiritual é inquestionável. Mas surgem muitas controvérsias quando relacionamos o evangelho com a nossa vida material. Há aqueles que dizem que os crentes devem possuir todos os bens que desejarem nessa vida. Em outro extremo, estão aqueles que dizem que o evangelho nada tem a ver com as nossas necessidades materiais.

Na lição de hoje, veremos situações na vida de Elias e Eliseu que nos ajudarão a ter uma posição biblicamente orientada sobre a relação entre o evangelho e a vida material.

I. UMA FONTE ALTERNATIVA PARA A VIDA

1. Descreva a realidade em Israel quando Elias apareceu como profeta.

2. O que Israel deveria saber sobre seu sustento? (cf. Dt 8.3; 32.47; 28)

3. Explique o que representava o culto a Baal.

4. Liste três fontes onde as pessoas de nossos dias têm buscado sustento e satisfação. Explique como a igreja deve lidar com isso.

O surgimento de Elias como profeta de Israel foi surpreendente. Durante o reinado idólatra de Acabe e Jezabel em Samaria, ele apareceu para desafiar o culto a Baal e anunciar que Deus é o único sustentador de toda a vida.

Na religião caananita, Baal era o deus do clima e da fertilidade, ele era a fonte tanto da água quanto dos alimentos. Quando estava forte, Baal mandava as chuvas necessárias para o crescimento das plantações, quando se enfraquecia, havia seca e fome. Em Canaã, o verão era sempre seco, só havia chuva no outono e na primavera, por isso, os adoradores de Baal entendiam que deveriam cultuar seu deus nesse período para que as chuvas não falhassem. Entendiam também que, enquanto servissem e fortalecessem Baal com suas oferendas, teriam tudo de que necessitavam. Dillard cita um poema pagão que nos mostra o pensamento dos caananitas:

“Chove óleo dos céus.
Os riachos correm com mel.
Então eu sei que o poderoso, Baal, vive,
Vejam, o Príncipe, o senhor da terra, existe”.1

Jezabel, esposa do rei Acabe, era filha de um sacerdote dessa religião e fez tudo o que estava ao seu alcance para levar Israel a crer desse modo. Chegou a perseguir e matar os profetas do Senhor.

No entanto, desde os dias de Moisés, Israel fora ensinado a buscar em Deus e em sua Palavra as fontes de sua vida. Em Deuteronômio 8.3, Moisés disse: “Ele te humilhou e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem.” Em 32.47, lemos que a lei de Deus “não é para vós outros coisa vã; antes, é a vossa vida”.

Ao entrar na terra de Canaã, Israel deveria saber que seu sustento seria uma dádiva amorosa do Senhor, mas isso só poderia ser experimentado se o povo vivesse em conformidade com as leis de Deus. Uma grande quantidade de bênçãos materiais foi prometida em caso de obediência. Por outro lado, uma série de privações sobreviria se Israel abandonasseos caminhos do Senhor (Dt 28).

Por isso, o culto a Baal não era apenas um desvio espiritual do povo, mas um desafio satânico às palavras de Deus. No Éden, Satanás disse a Eva “é certo que não morrereis” (Gn 3.4). Agora, por meio de Jezabel, estava dizendo a Israel que a vida e a prosperidade não dependiam das bênçãos de Deus. Elas também poderiam ser encontradas no culto a Baal. Mais que isso, era Baal e não o Senhor que sustentava a vida. Foi para combater essa mensagem que Elias se levantou em Israel.

Tal pensamento não ficou restrito aos dias de Elias. Ainda hoje, nosso mundo tem buscado sustento e satisfação pessoal em fontes que não são Deus. Há centenas de santos padroeiros que são apresentados como provedores das mais diversas aspirações humanas.

Dillard questiona: “Quando nós, como indivíduos, transformamos a riqueza, educação, posição, fama ou quaisquer outras coisas em objetos de nossa adoração e esforço, podem elas, por acaso, satisfazer o anseio de nossa alma?” Frequentemente vemos notícias de pessoas que, por uma “vida melhor”, empenham ou vendem todos os seus esforços, seus valores, seus corpos. O stress contemporâneo, a corrupção instalada nos governos e nas empresas, a pornografia difundida por todos os meios de comunicação são exemplos claros de que, de modo geral, as pessoas estão buscando seu bem-estar em falsos deuses.

Tudo isso indica que ainda precisamos de pessoas fiéis a Deus que anunciem o evangelho do Senhor Jesus que é a verdadeira fonte da vida e a luz dos homens (Jo 1.8-9). Nos dias de Elias, como nos nossos, a pregação do evangelho precisa corrigir o pensamento dos homens também quanto à fonte de seu sustento material. Afinal, Jesus ensinou que, em sua perfeição, Deus manda chuva sobre justos e injustos (Mt 5.45). Fugir da idolatria é um dos mandamentos básicos do evangelho (1Co 10.14; 1Jo 5.21).

II. O SENHOR SUSTENTA O SEU SERVO

5. O que era necessário para que Deus fosse reconhecido como verdadeiro provedor de Israel?

6. De que maneira Elias agiu para que isso acontecesse e quais foram as consequências?

7. Explique a importância do ribeiro de Querite ter secado.

8. Que lição Jesus ensinou citando o profeta Elias? (cf. Lc 4.25-26)

Em seu desafio, Elias quer colocar as coisas em seu devido lugar. O Senhor, e não Baal, deveria ser reconhecido como o verdadeiro provedor de Israel. Para isso, duas coisas eram necessárias:

1. Aqueles que confiavam em Baal deveriam ter suas esperanças frustradas;

2. Aqueles que confiavam no Senhor deveriam ser sustentados por ele.

Elias, então, anuncia que os poderes atribuídos a Baal na realidade pertenciam a Deus. As chuvas não cairiam sobre a terra até que ele, na qualidade de servo do Senhor, dissesse. Sem chuva, os rios e poços secariam e não haveria colheitas. O Israel idólatra padeceria de sede e de fome.

Logo após seu anúncio, Elias recebeu do Senhor a ordem de esconder-se às margens de um pequeno riacho nos limites de Israel. Ali, por um tempo, ele teria água e Deus, milagrosamente, lhe mandaria pão e carne. Dessa forma, mesmo num período de seca e fome, nada faltou a Elias. Diante das ansiedades comuns aos homens, Jesus exortou seus discípulos a não terem medo e confiar no amoroso cuidado de Deus (Lc 12.29-32).

Essa fuga tinha dois propósitos. O primeiro era proteger Elias da fúria de Acabe e Jezabel. Os inimigos do Senhor não gostam de ser confrontados. De muitas formas, eles procuram silenciar os mensageiros de Deus. Por isso, o Senhor providenciou um esconderijo para Elias.

O segundo propósito era disciplinar Israel, retirando o único meio de voltar a desfrutar das bênçãos divinas: a pregação do profeta Elias. Além da fome e sede materiais, Israel teria fome da Palavra de Deus (Am 8.11; Sl 74.9). O povo experimentaria na prática a verdade de que a Palavra de Deus é mais importante para a nossa vida do que o pão. Jesus chamou a atenção da multidão que o procurava porque comeu pão e se fartou, mas não se preocupava em fazer as obras de Deus, que é crer nele (Jo 6.26-29). É irônico observar que durante três anos e meio, Acabe percorreu Israel e reinos vizinhos à procura de alimento e de Elias (1Rs 18.5,10).

Tudo ia bem até que o ribeiro de Querite, de onde Elias tirava a água, secou-se. Parecia que o servo de Deus sofreria privação como os demais homens e que os cuidados de Deus não seriam diferentes dos cuidados de Baal. No entanto, de novo, o Senhor mostrou de modo maravilhoso o seu poder de cuidar de seus filhos. Elias deveria ir para Sarepta uma pequena cidade no país de Jezabel. Ali, ele seria sustentado por uma viúva.

Mais uma ironia é apresentada. Deus desafia a alegação de que Sidom seria o território de Baal. O domínio do Senhor não tem limites geográficos. Seu poder não tem restrições sociais. Enquanto o rei está à procura de alimento, uma viúva, com um resto de farinha e azeite, sustentaria o profeta do Senhor.

Aquela mulher não tinha como sustentar a si mesma. Estava preparando sua última refeição para si e seu filho. De repente, chega um estranho israelita em busca de alimento. Não havia como dar certo, a não ser que a Palavra de Deus estivesse presente (cf. 1Rs 17.14).

Eis um desafio que novamente une a fé e o sustento material. Ao preparar primeiro alimento para o profeta, aquela mulher colocava o reino de Deus em primeiro lugar, demonstrava confiar na Palavra de Deus e isso trouxe sustento para ela e sua família naqueles tempos de sede e fome (1Rs 17.15-16). A presença do profeta foi tão abençoadora na vida daquela mulher que, mesmo quando seu filho morreu, Deus lhe devolveu seu filho por meio da ressurreição (1Rs 17.20-24). Assim, ao prover sustento a uma viúva estrangeira, Deus mostra o que Israel estava perdendo por sua infidelidade a Deus.

O mesmo aconteceu nos dias de Jesus. Na sinagoga de Nazaré, citando Elias, ele lembrou essa característica de Israel de rejeitar seus profetas. Por isso, as viúvas de Israel padeceram enquanto uma viúva estrangeira foi sustentada (Lc 4.25-26). De forma semelhante, a maioria dos judeus rejeitou o evangelho de Cristo, enquanto gentios de todas as nações foram transformados pelas boas-novas da salvação.

III. O SENHOR SUSTENTA O SEU POVO (2RS 4.1-37)

9. Quais foram os propósitos de Deus para Israel ao prover o sustento material para Elias?

10. Quais são as semelhanças entre as narrativas de 1Reis 17.7-24 e 2Reis 4.1-38? O que elas mostram?

Por meio do sustento material, no tempo de Elias, o Senhor confrontou a confiança de Israel em Baal e mostrou ser o único provedor de todas as coisas. Para isso, ele deixou Israel sem chuva e sem pão por três anos e meio enquanto Elias era sustentado milagrosamente por meio de corvos e de uma viúva estrangeira.

Entretanto, o propósito de Deus não era desamparar o seu povo. O ministério de Elias visava restaurar a fidelidade e a confiança de Israel no Senhor e na sua Palavra. Por isso, o sucessor de Elias, o profeta Eliseu, foi incumbido de levar as bênçãos materiais de Deus para o povo de Israel.

As histórias registradas em 2Reis 4.1-38 são muito semelhantes às que vimos anteriormente em 1Reis 17.7-24. Na primeira, o profeta Eliseu provê meios para que uma viúva pudesse pagar um credor que vinha para levar seus filhos como escravos. Na segunda, abençoa um casal que o hospedara orando para que eles tivessem um filho e, posteriormente, fazendo-o ressuscitar. Elas mostram que o Deus de Elias continuava a agir por meio de sua palavra e de seus profetas e que suas bênçãos estavam ao alcance daqueles que respondiam com fé. Isso significa que a mensagem de confiança na provisão divina não deve ser restringida ao tempo de Elias e Eliseu. Ninguém deve dizer:

“Isso foi em outro tempo. Agora as coisas são diferentes”. O mesmo Deus está no controle de todas as coisas, geração após geração. As necessidades mudam, os meios de provisão mudam, mas Jesus é o mesmo, hoje, ontem e para sempre (Hb 13.8).

A. Socorro para uma mulher pobre

Na história da viúva, a Bíblia nos conta de uma mulher que procura o profeta. Trata-se da viúva de um dos discípulos de Eliseu. Não sabemos quase nada desse homem. Apenas sabemos que ele tinha uma dívida e que era temente ao Senhor (2Rs 4.1). Não sabemos como essa dívida foi constituída, mas sua pobreza é evidente, uma vez que aquela mulher não tinha bem nenhum para dar em pagamento, o que a obrigava a entregar seus filhos como escravos ou servos e que, em sua casa, só havia uma botija de azeite. A fidelidade daquele marido morto precisava ser confirmada por Eliseu. Aquele homem era servo2 do profeta e, agora por causa de uma dívida, seus filhos passariam a ser servos do credor.

A comparação com nossos dias é fácil de perceber. Há muitas pessoas em nosso país que, em sua mente e coração, são escravas de seus credores. Dívidas de todas as naturezas lhes tiram a paz, sequestrando sua atenção e esforço de modo que se veem impedidas de servir ao Senhor (cf. Mt 6.24).

Aquela mulher não quer que seus filhos sirvam ao credor, quer que sua família continue a servir o profeta e, portanto, a Deus. Assim como aconteceu em Sarepta, Deus, mediante a palavra de Eliseu, multiplicou o azeite daquela mulher até que suas dívidas fossem pagas e seu sustento estivesse garantido. Ao resolver seu problema material, Eliseu estava também tratando de sua condição espiritual. Daí fica claro o porquê da preocupação de Deus em suprir nossas necessidades materiais. Esse é um privilégio dos filhos de Deus, por isso Jesus nos diz: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).

B. Graça para uma mulher rica

Na segunda história, a personagem central também é uma mulher temente a Deus. No entanto, nesse caso não era nem viúva nem pobre, mas alguém com recursos para sustentar e dar abrigo ao profeta. Nem por isso sua vida era plena. Os recursos materiais não eram suficientes para satisfazer seu maior desejo: ser mãe.

Deus não deve ser visto apenas como um recurso para os pobres. Elias e Eliseu nos mostram que Deus é aquele de quem todos os homens dependem. Jesus ensinou que a vida não consiste na quantidade de bens que alguém possui (Lc 12.15). A esterilidade era a maior tristeza de uma mulher em Israel. Nenhum recurso material pode preencher o vazio do coração humano. Somente o Senhor pode fazer da estéril, alegre mãe de filhos (Sl 113.9).

A história daquela mulher também nos ensina que ainda que  conquistemos tudo o que sonhamos, não somos capazes de manter o que temos. A morte daquela criança trouxe àquela casa uma dor maior do que a da falta: a dor da perda. Ainda assim, a resposta deve ser encontrada no Deus que ressuscita os mortos e que fez de Jesus Cristo as primícias dos que dormem (1Co 15.21-23).

Os exemplos poderiam se multiplicar indefinidamente, mas sempre demonstrariam que nosso Deus é o único doador e sustentador da vida. Assim, todos, homens, mulheres, ricos, pobres, escravos e livres, devem abandonar sua confiança nas provisões desse mundo e buscar exclusivamente em Deus tudo de que precisam material e espiritualmente. Esses aspectos não podem ser separados e, juntos, demonstram a plenitude do evangelho em nossa vida.

CONCLUSÃO

11. O principal ensino que aprendi hoje foi

Deus mostrou a Israel seu poder sobre todos os aspectos dessa vida. Aqueles que confiavam em Baal foram privados da Palavra de Deus e, portanto, passaram fome e sede. Por outro lado, aqueles que confiavam em Deus receberam provisão para todas as suas necessidades. Assim, ele demonstrou que todas as pessoas dependem dele para sobreviver e que o evangelho não deve ser restringido apenas às questões espirituais e eternas. Em vez disso, quando buscamos em Deus os bens  necessários para essa vida, rejeitamos a idolatria e fortalecemos a nossa fé.

APLICAÇÃO

12. O que significa buscar o sustento em Deus?

Creia que o poder de Deus é suficiente para suprir todas as suas necessidades e submeta-se a ele. Adote medidas para evitar a adoração e o serviço aos falsos deuses desse mundo. Lembre-se de que tudo provém de Deus.

>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – O Evangelho do Antigo Testamento. Usado com permissão.

1 Fé em face da apostasia, Raymond B. Dillard, Cultura Cristã, p. 23.
2 No hebraico a mesma palavra é usada para os termos servo e escravo.

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3 Comentários para “O evangelho e o sustento material”

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