CONSUMISMO — o culto ao escolher e ter

CONSUMISMO  — O culto ao escolher e ter

 

Texto Básico:  1 Timóteo 6.9,10

LEITURA DIÁRIA
D Gl 5.22-23 – Domínio próprio, fruto do Espírito
S 1Tm 1.12-17 – Veio salvar os pecadores
T Ef 4.11-12 – A vida em comunidade
Q Ec 1.4-11 – Todas as coisas são canseira
Q Mt 4.4 – Nem só de pão viverá o homem
S Mc 8.34-38 – Ganhar o mundo inteiro?
S Lc 12.13-21 – O que tens, para quem será?

 

INTRODUÇÃO

De certa forma, o consumismo é semelhante à Hidra da antiga mitologia; ele é uma serpente com muitas cabeças. Contudo, temos de vencer os desafios que o consumismo colocou diante de nós, como cristãos, na virada do segundo milênio da era cristã nesta nossa sociedade de consumo.

 

I. O EVANGELHO SECULAR

O consumismo é o evangelho atual que é oferecido pelo secularismo ao mundo. Chamamos o consumismo de evangelho secular porque ele finge conter as boas-novas de grande alegria para as pessoas – bem, pelo menos para as prósperas. Ele faz uma promessa de felicidade por meio da aquisição de bens materiais e atividades que se concentra, principalmente, no prazer que as pessoas sentem quando põem em prática a escolha pessoal.

As pessoas sempre gostaram de adquirir bens e sempre houve uma tendência de se viver para o mundo material em vez de se viver para Deus. Se temos “bens” suficientes, nos sentimos seguros e até autossuficientes. Todavia nem mesmo o rico insensato na parábola de Jesus em Lucas 12 teve a infinidade de opções com a qual nos deparamos em nossa sociedade sobre onde podemos gastar o nosso dinheiro.

Gostamos deste poder de compra e escolha. Possuir é ter poder. No entanto, há muita coisa além disso que está em questão. Com o crescimento populacional e uma vez que o número de pessoas se dirigindo para os grandes centros urbanos aumenta, a vida torna-se cada vez mais anônima. A comunidade dos bairros, onde todos se conheciam e se aceitavam, já é coisa do passado. As pessoas já não se reconhecem como antes. Nesta sociedade anônima, a escolha pessoal de roupas, música ou cardápio, etc. é uma forma de autoafirmação. É uma forma de se expressar.

Esta ênfase na escolha pessoal e na afirmação de “quem eu sou” adapta-se perfeitamente à mentalidade pós-moderna contemporânea do subjetivismo, onde a única verdade é a “sua verdade”.

Como cristãos, podemos ver que o materialismo e o egoísmo são formas de idolatria. Entretanto, é preciso cuidado para não irmos além do normal. Pensar que o mundo material é, por natureza, mau é uma forma de heresia gnóstica que vemos ser condenada pela Bíblia (1Tm 4.3- 5). O mundo material não é mau em si mesmo. Deus criou o mundo e se fez carne, assumindo a forma humana em Jesus Cristo (1Tm. 3.16). Além disso, a última etapa de nossa redenção inclui a ressurreição do corpo e a renovação do universo material (Rm 8.22-25).

Contudo, embora não devamos ultrapassar o normal nem condenar a criação física de Deus contra o materialismo e o consumismo, cremos, como cristãos, que só podemos utilizar o mundo material adequadamente uma vez que ele nos leva a agradecer a Deus e a direcionar a nossa vida para uma adoração sincera do Criador (1Tm 4.4). Isto não acontece de forma natural com os pecadores.

 

II. A TELEVISÃO – O PROFETA DO CONSUMISMO

Marshall McLuhan foi o grande mestre da sociologia dos anos de 1960. Ele dizia que “o meio é a mensagem”. Em outras palavras, o meio pelo qual nos é comunicada a mensagem já é uma mensagem em si. Podemos entender isto simplesmente pensando no discurso como um meio de comunicação. Nossas palavras formam a mensagem, mas a nossa entonação é o meio pelo qual a mensagem é transmitida. Todos nós sabemos que podemos mudar completamente o significado de um conjunto de palavras faladas simplesmente alterando a entonação na qual elas são expressas.

Desta mesma forma, a televisão, que hoje ocupa grande parte da vida diária do mundo desenvolvido, tem mensagens em si só pelo fato de ser a mídia que é. Além do conteúdo de um programa, há idéias que a própria televisão transmite. Podemos resumir algumas das mensagens mais importantes da seguinte forma:

– A televisão é visual – sua mensagem é: “O que você vê é o que é verdade”, implicando que a realidade material é tudo que existe.

– A televisão é instantânea – ela capta nossa atenção. A única coisa que importa é o agora. Se estamos assistindo a um programa, nossa capacidade de reflexão interior está temporariamente paralisada.

– A televisão é distante – embora vejamos as coisas na televisão, as coisas que vemos não podem nos atingir diretamente. As pessoas podem morrer de fome ou ir para os ares, mas isso não acontece conosco. Isto ofusca nossa sensibilidade moral.

– A televisão é entretenimento – ela enche nossos olhos de coisas prazerosas. Agradar o espectador é a coisa mais importante. A idéia de que a vida tem a ver com prazer nos é sutilmente comunicada.

– A televisão é opcional – ela oferece uma diversidade de programas e canais que podem ser assistidos, coloca um controle remoto em nossas mãos e, na verdade, diz: “É você quem escolhe”.

Podemos ver que a televisão leva as mensagens básicas do consumismo. É materialista no sentido em que nos diz que a realidade consiste no que vemos. Ela nos diz que divertir-se agora, e não preocupar-se com os princípios morais, é a coisa mais importante da vida. Auxilia a satisfazer a ideia de que a escolha pessoal vem antes de qualquer coisa. Todos os dias, então, as pessoas são evangelizadas pelo consumismo. Mesmo desconsiderando as propagandas, a televisão prega para as pessoas, da forma mais divertida e fascinante, as doutrinas básicas do consumismo. Tanto ricos quanto pobres se alimentam deste evangelho, que a cada dia entra direto em suas casas.

 

III. COMO O CONSUMISMO AFETA O INDIVÍDUO

À medida que esta mensagem do consumismo se espalha por todo o mundo, pessoas são atingidas por ela. Ela molda o modo de pensar e tomar decisões das pessoas. Os ideais do consumismo determinam as prioridades na vida da maioria das pessoas. Veja algumas formas pelas quais os indivíduos são afetados.

Nossa visão de mundo. As pessoas são levadas a definir suas prioridades levando em consideração apenas esta vida. Assuntos sobre a eternidade e a espiritualidade de cada indivíduo não são tão importantes para as pessoas quando elas são massacradas pelas propagandas materialistas do consumismo.

Nossos Valores. Muitos dos valores visíveis da cultura de consumo explicitamente descartam virtudes cristãs. Sabemos que entre os frutos do Espírito está o domínio próprio (Gl 5.22-23). No entanto, a marca distintiva da sociedade do cartão de crédito diz: “Por que esperar? Compre o que você quer agora!” Mais uma vez, negar-se a si mesmo faz parte do discipulado do cristão.

Nossos objetivos. O teólogo David Wells mostrou recentemente que, enquanto havia uma preocupação em desenvolver o caráter humano nos séculos passados, a nossa sociedade se preocupa em desenvolver a personalidade.[1] Qual é a diferença? O caráter é uma disposição interior de amar o que é bom, sendo que o “bom” é definido em termos absolutos pela natureza e pela vontade de Deus. Agora, as pessoas estão muito mais atraídas pela idéia de sentir-se bem consigo mesmas e se tornar personalidades “interessantes”, “modernas” ou “divertidas”. O foco não está mais na vida interior, mas na vida exterior.

Nossa identidade. Vivemos em uma sociedade em que a identidade é vista como algo muito variável. De certo modo, podemos escolher a nossa identidade. Tudo o que devemos fazer é comprar os símbolos certos de status. Contudo, isto significa que a identidade pessoal está sendo desvalorizada. Não passa de uma imagem. Consequentemente, as pessoas hoje têm dificuldade em saber quem realmente são. Além disso, uma vez que a identidade é algo flexível, não há qualquer relação entre o que afirmamos ser e o comportamento moral que se espera de nós. Isso deturpa o discipulado cristão sério.

 

IV. COMO O CONSUMISMO AFETA A IGREJA

A cultura de consumo não apenas modela nosso modo de pensar e agir como indivíduos, mas também, uma vez que a igreja é formada por indivíduos, começará a influenciar a igreja, se seus membros forem influenciados. Desta forma, em vez de a Palavra de Deus reger a igreja, as doutrinas do consumismo é que começam a fazê-lo. Eis aqui algumas áreas onde isto pode acontecer.

Nossa mensagem. O evangelho descrito na Bíblia é a mensagem que a igreja deve levar ao mundo. Este evangelho, fundamentalmente, constitui as boas-novas pertinentes ao perdão dos pecados diante de um Deus santo, por meio do Senhor Jesus Cristo e de sua cruz. Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores (1Tm 1.15). Esta mensagem compreende a estrutura dos princípios morais centrados em Deus para o mundo e define o que é “bom” em termos de moral. A cultura do consumismo desenvolveu-se em uma sociedade incrédula/secular que abandonou as categorias da moral absoluta. Há, conseqüentemente, uma grande pressão sobre os pastores para que mudem a mensagem da igreja, reformulando-a de acordo com os termos centrados no homem. É uma mensagem que encara o homem como uma vítima, em vez de um agente do pecado que precisa arrepender-se. Por fim, esta é a mentalidade na qual o próprio Deus é visto como um item de consumo, que é arrancado do armário quando nos sentimos feridos ou necessitados e guardado novamente quando não mais precisamos dele.

Nossa comunidade. O consumismo é muito individualista. Tudo gira em torno da aquisição de coisas. Possuir bens é ter poder como indivíduo. O consumismo também se refere às nossas escolhas pessoais. Concentra-se no “eu”. Em contrapartida, Deus nos convida para que deixemos o isolamento do individualismo e façamos parte de sua família, a igreja. Ele quer que participemos e nos envolvamos com outras pessoas. Ele quer que exercitemos nossos dons para o bem de todos (1Co 12.5). Aqui, mais uma vez, a atitude básica do consumismo está em conflito com a vontade revelada de Deus.

Nosso compromisso. O consumismo desenvolve-se na escolha pessoal e, portanto, em um mundo consumista onde a idéia de “manter suas opções em aberto” torna-se uma virtude. Entretanto, quando deixamos que nossas opções em aberto se tornem um estado constante da mente, o compromisso e a perseverança inevitavelmente morrem. Deixar nossas opções em aberto é o mesmo que ficar sempre em cima do muro. Quando esta postura atinge os cristãos, as igrejas são usadas como um tipo de supermercado espiritual, para onde corremos para satisfazer nossas necessidades pessoais, mas é só nisso que estamos interessados. Estamos lá para receber, e não para oferecer. Muitas vezes, quando as coisas ficam difíceis na igreja, as pessoas desistem e vão “procurar satisfazer suas necessidades” em outro lugar. Esta não é a visão da igreja que encontramos no Novo Testamento. É óbvio que precisamos optar por uma igreja, mas, feito isto, devemos permanecer nela e nos envolver em amor com a família de Deus.

Nossa adoração. A característica distintiva de nossa sociedade de consumo é determinada pela televisão e pela preocupação pós-moderna com a imagem e não com o conteúdo. Juntas, estas são influências poderosas que levam até os cristãos a se preocuparem mais com a aparência das coisas do que com o que elas realmente são. Em particular, é fácil para os cristãos ver a igreja como parte de um palco de teatro do que um lugar de verdadeiro compromisso com Deus.

 

V. POR QUE O CONSUMISMO É UMA DECEPÇÃO

Há apenas um evangelho verdadeiro. São as boas-novas do Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo, que morreu para que fôssemos perdoados e tivéssemos vida eterna. Embora não haja nada errado com os bens materiais em si, aproximar-se deles tendo como motivação o consumismo é uma mentira idolátrica. As nações estão sendo enganadas.

Enganar as pessoas. O consumismo reduz a quase nada a importância de Deus, dos valores morais, dos desejos puros e da busca do caráter espiritual. Ele enfatiza que a felicidade pessoal é a única coisa que importa na vida. E Bíblia, por sua vez, deve ser relegada ao último plano na lista de itens que devem moldar a nossa vida. Contudo, somos seres morais, feitos à imagem de Deus, quer reconheçamos isto ou não. Por isso, não podemos ficar em paz com nós mesmos ignorando esta área de nossa vida. Não podemos ter paz suplantando a consciência ou ignorando Deus.

Coisas materiais, ainda que boas, não podem satisfazer a nossa alma. Há um vazio espiritual no coração de homens e mulheres sem Deus que nenhum bem ou riqueza pode preencher. O rei Salomão nos adverte quando escreve: “Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir” (Ec 1.8). Jesus disse: “Não só de pão viverá o homem” (Mt. 4.4).

Mas o consumismo engana o mundo indo além disto. O consumismo faz com que as pessoas se concentrem no aqui e no agora e se esqueçam de Deus e da eternidade. As palavras de Jesus ainda são verdadeiras: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8.36).

Uma sociedade que engana. O estilo de vida consumista e as indústrias que o sustentam acabam com os recursos da terra de forma alarmante. Estamos vivendo no paraíso dos tolos se pensamos que a terra poderá suportar para sempre este estilo de vida tecnologicamente avançado, descartável e centrado no prazer. O consumismo ostensivo não é uma forma sustentável de vida para o mundo.

 

CONCLUSÃO

Diante das decepções da sociedade de consumo, o apóstolo Paulo faz com que nos voltemos para Deus (1Tm. 6.9,10). O estilo de vida do cristão deve ser caracterizado por caminhos melhores que levem a coisas melhores. “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (1Tm. 6.6). Este foi o conselho sábio de Deus para seus filhos do século 1° da era cristã. Ainda é o conselho sábio de Deus para nós hoje.

 

APLICAÇÃO

Faça uma lista com os gastos que você pretende ter durante esta semana. Agora, elimine tudo o que for supérfluo. Não compre o que não é necessário. Descubra como pode aproveitar com sabedoria o dinheiro que você economizou. Que tal investir em educação e saúde?

Autor da lição: Vagner Barbosa
Publicado na Revista Nossa Fé – ISMOS DE NOSSOS DIAS – Ideias atuais à luz da Bíblia [Adaptada de “Cristãos em uma sociedade de consumo”, de J. Benton]
[1] David Wells, Losing Our Virtue, IVP, 1998.

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Um comentário para “CONSUMISMO — o culto ao escolher e ter”

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