O Oriente visto por “nós”
Resenha do livro Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente*, de Edward Said
“Ela nunca falou de si mesma, ela nunca representou suas emoções, sua presença, ou a sua história. Ele falou por e representou ela. Ele era estrangeiro, comparativamente rico, do sexo masculino, e estes foram os fatos históricos de dominação que permitiram a ele não só possuir fisicamente Kuchuk Haman, mas de falar por ela e dizer aos seus leitores de que formas ela era “tipicamente Oriental”.
– Edward Said
Como entendemos e nos relacionamos com o Oriente, em particular aqueles que vivem e são provenientes das “Terras da Bíblia”? Quem decide quais são os ‘valores’ do Leste, no que ele acredita, o que ele deseja? Por que “eles” são considerados tão diferentes de “nós”?
Em “Orientalismo”, um texto fundamental para os estudos pós-coloniais, Edward Said argumenta que a hegemonia histórica e cultural do Ocidente sobre o Oriente, como um colonizador, um ocupante, e um opressor ao longo dos últimos três séculos, resultou na “criação” do ‘Oriente’ ou, como denomina o autor, na “orientalização”, pelo Ocidente. Ou seja, o Ocidente, em primeiro lugar a Europa e, em seguida, a América (após a Segunda Guerra Mundial), foi capaz de decidir – e continua decidindo – o que é o Oriente, uma vez que “a relação entre o Ocidente e o Oriente é uma relação de poder, de dominação, de vários graus de uma hegemonia complexa”. O que é preeminente sobre o Oriente não é a sua existência, mas o que é dito sobre ele.
Uma forma de entender o “Orientalismo” é vê-lo como um “estilo de pensamento” que insiste afirmar que há um “nós” e um “eles”, e que “eles” são muito diferentes, ontológica e epistemologicamente, de “nós”. Esta “distinção básica” foi aceita por todos, desde poetas e romancistas ate cientistas políticos e economistas. Ela tem sido usado como uma plataforma para lançamento de “teorias elaboradas, épicos, novelas, descrições sociais e narrativas políticas a respeito do Oriente, o seu povo, sua conduta, sua “mente”, seu destino, e assim por diante. “Eles” têm sido inferior ao “nós” europeu e americano. “Eles” são atrasados, “eles” não compartilham “nossos” valores. “Eles” são … diferentes, inferiores.
Outro significado de “Orientalismo” é o de uma “instituição corporativa para lidar com o Oriente – lidar com ele pela via de fazer declarações sobre ele, autorizandovisões sobre ele, descrevendo-o, ensinando-o, ocupando-o, governando-o: em suma, Orientalismo como um estilo ocidental para dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o Oriente”. Longe de ser uma “fantasia Europeia frívola”, que pode ser facilmente descartada, o orientalismo é um “órgão criado entre teoria e prática”, em que foi investido fortemente e ao que se foi adicionando elementos ao longo de muitas gerações. Said argumenta que o “Orientalismo” deve ser estudado como um discurso a fim de compreender a dimensão dessa disciplina sistemática, através do qual o Ocidente gerenciou e produziu o Oriente em todas as formas possíveis – politicamente, sociologicamente, militarmente, ideologicamente, cientificamente, e imaginativamente .
O discurso do Orientalismo é tão autoritário que “ninguém que escrevesse, pensasse ou agisse sobre o Oriente poderia [ou pode] fazê-lo sem ter em conta as limitações em pensamento e ação imposta pelo orientalismo…Em suma, por causa do Orientalismo o Oriente não foi (e não é) um sujeito livre para pensar ou agir”.
Enquanto oramos pela paz no Oriente Médio e no Norte da África, enquanto lamentamos a morte de seres humanos, devemos ter cuidado com quais conclusões fazemos sobre o Oriente. Devemos questionar a lente através da qual vemos aqueles que são supostamente tão diferentes de nós. Devemos ser pró-ativos na busca de ouvir as vozes daqueles que são oriundos e/ou vivem dentro das ‘terras da Bíblia’. E devemos questionar o uso dessa proclamada diferença para justificar a guerra, a islamofobia, a ocupação e a violência.
Sharone Birapaka**
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**Formada em Relações Humanas e Religião (Concordia University, Canadá), e mestranda em Estudos Interdisciplinares (Athabasca University, Canadá)
* Said, Edward W. Orientalism. New York: Vintage, 1979. Print.
Eduardo
Segundo Sharone Birapaka.
1. Em “Orientalismo” Edward Said argumenta que a hegemonia histórica e cultural do Ocidente SOBRE o Oriente, como um colonizador, um ocupante, e um opressor ao longo dos últimos três séculos, resultou na “criação” do ‘Oriente’. Isto é, ‘Oriente’ é invenção do Ocidente, do Western World;
2. Outra palavra seria “orientalização”, também pelo Western World.
3. Numa ordem de gênero, grau e número, primeiro o Western World (Europa), depois os Estados Unidos, os quais decidirão o que é o Oriente;
4. Esse Western World, especialmente sua cultura, impõe sobre o Oriente o seu militari manus, o seu poder, estabelecendo assim uma complexa hegemonia.
5. De modo que, o que é Oriente será determinado pelo Western World.
A primeira vez que eu li Edward Said eu ainda morava nos Estados Unidos e Said sofria de câncer em fase terminal. Naquela época eu ainda era esquerdista, ou ideologicamente esquerdista como o Marcus.
Eu não conseguia pensar que alguém pudesse aparecer com uma coisa tão bem pensada, sobretudo porque eu andara por Israel e ficara um bocado chocado com o tratamento do Israelitas (atenção, eu não disse Judeu. Existe cidadão árabe em Jerusalém que é cidadão Israelense. Em outras palavras, é muito mais complicado a coisa do que se pensa).
Recordo-me também de naqueles 60 dias por lá, estudando geografia da Palestina (nome também que se tem que ter um enorme cuidado. Se você está em Hamallah, é uma coisa para um árabe, para um judeu, é Jericó), percebi que o problema era complexo demais para o meu mundo.
Escrevi para meu tutor na Holanda: “quem está certo?” Respondeu os cabelos brancos (da Nederlandse Hervormde Kerk ou NHK, ou da Protestantse Kerk in Nederland, ou PKN?) complicando ainda mais: “os árabes estão certos, os judeus estão certos. Deus tenha misericordia da Europa. Ele se referia a Balfour. Aquela bagunça lá tinha sido criado, ainda que em parte pelo Primeiro Ministro das Relações Exteriores inglês, Arthur James Balfour.
Dito isto.
Acrescento mais um ponto.
Muito embora meus estudos não tinham interesse maior no assunto, eu resolvera ler Said e fiquei muito impressionado. Eis aí um sujeito convincente.
Até que li o que as pessoas que discordavam dele diziam. Paul Johnson, distinto escritor inglês e, diga-se de passagem, de peso, era tido como um velho retrógrado na área social e não passava de um polemista político; Daniel Pipes, fundador do Middle East Forum e Middle East Quarterly, era tido como um ‘Neanderthal. Bernard Lewis, um dos mais eminentes historiadores de Princeton, era apontado como um sujeito capaz de distorcer toda a verdade.
Não entro no mérito da publicação de Sharone, portanto, por razões que informo acima.
Aproveito todavia, para para dar uma sugestão a DIGNIDADE. Se vocês têm o propósito e o desejo de serem ouvidos, o que é extremamente louvável, terão que abandonar a visão tendenciosa de tudo o que publicam.
Marcus, dirijo-me a você. Quem lê o blog DIGNIDADE, a julgar pelos comentários que você aceitou postar em seu artigo, não são especialistas. Esse pessoal merece todo respeito.
E uma das maneiras de respeitar é produzir e publicar artigos que espelham verdade e não tendências, no seu caso, esquerdista. Informe a seus leitores, forneça a eles pontos de vista equilibrado, sensatos. Quando você publica um artigo desses, você está dizendo à inteligentzia que não é nem da esquerda e nem da direita, que você está equivocado.
Quem como eu, que não sou da esquerda e nem da direita, fareja longe quando alguém quer vender gato por lebre. Eu acho que o blog DIGNIDADE pode ter um enorme futuro.
Como está e por este viés, pode ser muito bem liquidado como um produto da 25 de Março. Sharone, se é a de FALE, é uma das pessoas menos habilitadas a pontuar. E por uma razão bem simples: se alguém vem a público aplaudir Edward Said, não informa, desinforma.
Se DIGNIDADE fizesse um trabalho melhor do que a Wikipédia, até seria louvável.
Eduardo
ERRATA
“Até que li o que as pessoas que discordavam dele diziam”
CORRETA
Até que o que Said dizia das pessoas que discordavam dele diziam
Eduardo
Segundo DIGNIDADE, este é
1. “… uma reunião de notas, notícias, além de matérias mais extensas e, não apenas ‘repositório’ de conteúdo, mas um ponto de encontro e conexões com os leitores.”
Seus idealizadores queriam
2; “… resgatar textos e documentos antigos, desconhecidos, notícias sobre pesquisas, oportunidades e eventos relacionados ao tema.”
Um dos objetivos era
3. “… contar ‘histórias de vida’ (vida em comunidade; vida para a comunidade), além de outros serviços e informações. A cada dia postaremos algo novo, venha sempre nos vistar [sic] e deixe a sua opinião!”
Outro objetivo era
4. “… trazer para o espaço virtual uma discussão qualificada sobre temas cotidianos da sociedade numa perspectiva cristã, tendo como eixo norteador a temática da dignidade humana e temas correlatos como: direitos humanos, cidadania, participação/controle social e justiça social.”
A abordagem propunha
5. “… eixo analítico [de] questões cotidianas das vida em sociedade e sua práxis, além de dialogar com conhecimentos e abordagens do campo das Ciências Humanas e Sociais, sempre em diálogo e sob inspiração da abordagem bíblica. Diálogo que se dá menos por uma chave teológica/filosófica e mais numa perspectiva devocional/pastoral.”
O blog deveria interessar por
6. “… uma iniciativa coletiva, pois acreditamos que o somatório de várias vozes, perspectivas e experiências é fundamental para nossa reflexão, como também para nossa ação.”
Não há simplificação (não simplismo), não há um eixo, não há nada. Isso aí acima é possível de ser encontrado nas cartas declaratórios de intenção sobretudo de partidos políticos.
A palavra esquerda ou direita, centro ou qualquer coisa de característica de posição não aparece, mas o blog é de espinha dorsal esquerdista.
Um dos primeiros artigos escritos aqui em DIGNIDADE, teve a lavra de Daniela S Frozi, com a colaboração de Juliana Peres e de Ronilso Pacheco. O texto versava sobre Josué de Castro.
Envie um longo comentário e, como de hábito eu lera o artigo, ponderei sobre os erros de Josué, fiz ilações, comparações, demonstrei que Josué errara e isso é reconhecido hoje até por quem tem respeito por ele. José era do Recife, aqui perto, mas morrera nababo em Paris.
Não publicaram meu artigo.
Publicarão outros, sem exceção um monte de comentários de baba-ovos.
Baba-ovo é o sujeito que não lê, ou se lê, só o faz com relação ao que se interessa, não demonstra suas críticas, positivas ou não e de ponta a ponta é só elogio. Baba-ovo, gosma na gravata de quem publica.
Por que não publicaram meu comentário?
Sabe-se lá as razões.
Mas uma das críticas, com absoluta certeza e segurança, agora, um ano depois, é que o blog DIGNIDADE é da esquerda, a caviar, e da esquerda sebosa também, isto é, aquilo aí acima que eu ‘copiei-e-colei’ sobre a orientação do blog é um exemplo. É um alinhamento de ideias sem amarras a nada, para confundir editorialmente.
Eduardo
ERRATA
O Oriente visto por “nós”
CORRETO
O Ocidente visto por Edward Said
Não dá para dizer nem que é o Oriente visto por Said, porque Edward está criando uma linguagem, um neologismo para pespegar no Ocidente com o Ocidente encara o Oriente, sendo essa uma invenção.
Percebe a equipe de DIGNIDADE que em vez de oferecer ao público uma crítica construtiva sobre um grande estudioso do assunto, vocês acabam por vender um Said panfletário?
Adelson Luiz Garcia
É claro que Edward Said é tendencioso. Apenas um único exemplo simples: O fato do oriente ser mais atrasado que o ocidente é uma constatação. A maioria absoluta de seus governos são tiranos e a democracia é quase nula. Só não vê quem não quer (ou melhor quem é tendencioso).