Liberdade para chorar  

terça-feira

Não me deixes decepcionado, pois eu me refugio em ti. (Sl 25.20)  

Decepcionado com Deus? Decepcionado porque o salmista se refugiou nele e ele não foi capaz de guardar a sua vida da fúria de seus inimigos? Deus é tão pequeno assim?  

Na verdade não é o ser humano que se decepciona com o ser divino. O que ocorre é exatamente o contrário: é a criatura que deixa o Cria­dor decepcionado. Várias vezes, muitas vezes. Basta ler o lamento de Jesus sobre Jerusalém: “Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram!” (Lc 13.34). Basta lembrar o desgosto de Jesus quando sentiu a falta de nove dos dez leprosos que ele havia curado: “Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?” (Lc 17.17-18).  

O salmista está simplesmente suplicando: “Não me deixes decepcio­nado”, “Não te furtes de mim”, “Não te ausentes neste momento difícil”, “Não permitas que eu me apavore”, “Não me entregues na mão dos meus inimigos”. O versículo a seguir o confirma: “Guarda a minha vida e livra­-me!” (Sl 25.20).  

Em outras versões podemos ler assim: “Que eu não seja envergo­nhado por abrigar-me em ti!” (BJ) ou “Que eu não fique defraudado por ter-me abrigado em ti” (BP) ou “Livra-me da vergonha da derrota, pois em ti encontro segurança” (NTLH).

Na hora do sofrimento, no pique da dor, na mais densa escuridão, o crente precisa de liberdade para orar, chorar, clamar, gritar, pôr para fora o que está lá dentro. Ele não precisa escolher as palavras mais adequadas, teologicamente mais corretas ou mais comedidas. O próprio Jesus, no Getsêmani, teve o desejo passageiro de não beber o cálice! (Mt 26.39) 

 

>> Retirado de Um Ano com os Salmos [Elben César]. Editora Ultimato. 

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