Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E [Jesus] entrou para ficar com eles. [Lucas 24.29]
Que dia deve ter sido aquele domingo em que Jesus ressuscitou! No coração dos discípulos, um misto de tristeza pela perda do amigo e mestre e de incerteza quanto ao futuro deve tê-los deixado confusos.
Dois deles, também chamados discípulos, mas não da turma dos onze, voltavam à tardinha para casa, em Emaús. No caminho conversavam sobre os acontecimentos dos últimos dias. Deviam estar impressionados com a traição de Judas, o alvoroço da prisão, a maldade dos açoites, as inconsistências da condenação, a dor da morte e o mistério da ressurreição. Quanta coisa tinha enfrentado o seu Senhor!
No meio do caminho, os dois são interrompidos por um desconhecido, que parece ser o único que, estando em Jerusalém, ignora os acontecimentos daqueles dias e a quem, entristecidos, contam a história de Jesus – o “varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e do povo” (Lc 24.19) – e falam da esperança frustrada: “Nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel” (Lc 24.21).
O desconhecido, por sua vez, rebate as palavras de tristeza, fazendo-os lembrar tudo o que dizia respeito a Cristo, desde Moisés até a sua entrada na glória, como diziam as Escrituras.
Os dois parecem gostar da conversa. As palavras do desconhecido aquecem o seu coração e, como o dia já declina, constrangem-no a ficar em sua casa. À mesa, o convidado toma a frente, abençoa, reparte e dá o pão e os discípulos, finalmente, reconhecem Jesus, que, num instante, desaparece de sua presença.
Da conversa ao gesto inconfundível do mestre, uma longa caminhada. Dos olhos fechados aos olhos abertos dos discípulos, a revelação da história, do poder, da autoridade e da presença de Jesus. Ele é o Senhor e eles não estão sós.
Ó Deus, abre os nossos olhos e permite-nos reconhecer o Senhor na história, por meio das Escrituras, e no gesto, ao partirmos o pão.
>> Retirado de Refeições Diárias – Celebrando a Reconciliação. Editora Ultimato.
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