Ame o seu próximo como a si mesmo. (Lucas 10.27)
Essa parábola tem sido mundialmente admirada e interpretada de várias formas. Por exemplo, muitos comentaristas antigos e modernos, dentre os mais famosos Agostinho, consideram-na uma alegoria de nossa redenção. O bom samaritano é Jesus Cristo, nosso Redentor, que nos encontra praticamente mortos, cuida de nossas feridas, nos entrega à igreja (a hospedaria), dá ao hospedeiro duas moedas de prata (os sacramentos) e promete retornar. É uma interpretação engenhosa, mas podemos ao menos ver o bom samaritano como um retrato do amor redentor. Não temos liberdade, no entanto, de fazer alegoria de cada detalhe da história. Em vez disso, a parábola lança luz sobre aquilo que significa “amar nosso próximo”.
Primeiro, essa parábola é uma ilustração do amor. Por meio de negativas, Moisés dá exemplos do que não fazemos se amamos verdadeiramente o nosso próximo – não negligenciamos os pobres; não exploramos trabalhadores; não prejudicamos surdos nem cegos; não pervertemos a justiça; não usamos falsos pesos e medidas nos negócios; não damos lugar a ressentimento nem nos vingamos; pois tudo isso é incompatível com “ame cada um o seu próximo” (Lv 19.18). Positivamente, devemos buscar o bem-estar máximo do nosso próximo.
Segundo, essa parábola dá uma definição de quem é o próximo. De todas as pessoas improváveis, um samaritano foi quem veio resgatar a vítima dos ladrões. Samaritanos eram odiados pelos judeus, pois estes os consideravam mestiços raciais e religiosos. No entanto, eis ali um samaritano fazendo por um judeu aquilo que nenhum judeu sonharia em fazer por um samaritano. O verdadeiro amor ao próximo é mútuo. Ele define tanto quem é o nosso próximo a quem devemos servir, quanto o que significará ser o seu próximo.
Embora quase não haja mais samaritanos no mundo hoje, existem muitas pessoas que podemos ser tentados a desprezar e rejeitar. Estou pensando em pessoas de outra raça, cor ou cultura; homossexuais que são vítimas de homofobia; ou pessoas de outra fé, tais como os muçulmanos. A parábola de Jesus nos desafia a superar todos os preconceitos raciais, sociais, sexuais e religiosos. Não estou sugerindo que comprometamos nossa moral e nossas crenças cristãs, mas que não permitamos que elas nos impeçam de praticar um amor ativo pelo nosso próximo. Isso é o que “vá e faça o mesmo” (v. 37) irá significar para nós.
Para saber mais: Lucas 10.25-37
>> Retirado de A Bíblia Toda, o Ano Todo [John Stott]. Editora Ultimato.
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