Gerações diferentes. Sexualidade diferentes?
Como pais cristãos devem ajudar seus filhos a lidar com as demandas contemporâneas no campo da sexualidade?
Dagmar Fuchs Grzybowski
Recentemente fui abordada pela líder do trabalho com crianças em uma igreja de minha cidade. Ela estava muito chocada que ao pegar o celular de uma criança de nove anos, o qual estava gerando muito alvoroço durante a reunião, percebeu que havia gravado no mesmo um filme pornô. Como isso pode acontecer? A criança é filha de pessoas comprometidas na igreja, será que algum “gene” ruim está se manifestando, será que somos vitimas desse mundo depravado sem limites e não tem como preservar as crianças dessas influências malignas?
Ross Campbell[i] afirma que certamente vivemos numa época muito difícil de educar, existem muitas influências externas, as crianças passam grande parte do dia sob cuidados externos à família, seja a escola, babas, ou sozinhos com a internet ou a TV. Os pais ao chegarem em casa à noite e nos finais de semana estão cansados e pouco dispostos a colocar limites e dar atenção de forma concentrada.
Carlos “Catito” Grzybowski [ii] (p.20) afirma que adquirimos nossos conceitos sobre a sexualidade a partir de várias fontes: “a cultura em que estamos inseridos; a educação e os modelos de nossa família de origem; as opiniões dos meios de comunicação de massa; as tradições e ensinos do meio religioso que freqüentamos; a ciência; a nossa experiência pessoal e a bíblia.” Para ele a forma como percebemos nossa própria sexualidade como adultos, a verdade em relação à ela tem a haver com um somatório de todos estes ingredientes, sendo que alguns poderão ter um peso maior do que outros.
A cultura ocidental no século passado passou por uma série de mudanças muito grandes, o surgimento da psicanálise com os escritos de Freud sobre a sexualidade humana e a influência da família, principalmente da mãe na formação desta abalaram conceitos firmes outrora existentes. O surgimento das linhas filosóficas niilistas, com os conceitos de Sartre, Nietsche, Focault, Marx, e outros, afirmando a não existência de Deus e conseqüente desesperança de uma vida futura, incrementaram a vida sem propósitos e valores onde tudo é permitido e onde as pessoas pensam apenas no desfrutar, no conquistar coisas e no possuir; é mais importante ‘ter do que ser”.
A educação que recebemos em casa é outro fator na formação de nossa sexualidade. Arrisco afirmar que este talvez é o item mais importante para os conceitos que formamos a respeito do assunto. Infelizmente muitas famílias, mesmo as cristãs, parecem não perceber como são responsáveis pelo que passam a seus membros. No meu consultório muitas vezes pergunto aos casais quais são os valores que julgam importantes e que deverão ser apreendidos pelos seus filhos, e percebo que eles não o sabem ao certo. É difícil ensinar algo que eu próprio não vivencio, e a daí torna-se muito fácil aceitar os valores seculares que nos rodeiam. A mídia está pronta para ensinar, formar opiniões, transmitir valores, infelizmente estes pouco ou nada tem a haver com os preceitos de Deus.
Hoje em todas as escolas são ensinados princípios de biologia, e em muitas também existe a disciplina de Educação Sexual, mas apesar de toda a informação, cresce o número de gestantes adolescentes, pois não basta saber da biologia e fisiologia da reprodução, transmitir conceitos sobre sexualidade sem valores é reduzir a mesma à genitalidade. Esquece-se que temos a “Imago Dei” somos criaturas feitas à imagem de Deus, portanto muito superiores que os animais irracionais, temos responsabilidade sobre os nossos atos, inclusive sobre o exercício da sexualidade.
A igreja também tem (deveria ter) forte influência na formação dos conceitos de sexualidade de seus membros, mas infelizmente pouco se tem falado sobre assuntos como pornografia na internet, relações pré-matrimoniais, ficar, etc. Em Romanos 12:2 lemos que não devemos nos amoldar ao padrão deste mundo, mas transformarmos pela renovação da nossa mente, para que possamos experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Não é fácil ser pais hoje, demanda tempo, atenção e trabalho conjunto. Significa que os pais deverão cumprir a tarefa em conjunto, ambos devem educar e abordar os assuntos da sexualidade dentro da família de forma conjunta. Demanda transformarmos a nossa mente corrompida pelas vãs filosofias deste mundo contemporâneo, em uma mente segundo o coração de Deus.
Pais que adotam os valores das novelas televisivas, que dedicam mais tempo aos chats de amizade, do que os valores do reino de Deus transmitem aos seus filhos que o que a cultura vigente, a mídia e a internet transmitem tem mais peso do que as palavras proferidas por eles mesmos ou pela igreja. A sociedade prega uma sexualidade descomprometida com a pessoa, o “ficar” é o máximo do uso do outro, este deixa de ser à imagem de Deus e passa a ser objeto de consumo, que me serve enquanto me agrada, mas com o qual não formo vínculo. Rubem Amorese[iii] fala que a sociedade-supermercado apresenta o sexo como produto de consumo, sem o qual não podemos sobreviver (p. 31). Mas também afirma (p.37) “Somos livres em relação ao poder de sedução do mundo, (…) ela não pode nos escravizar, se não permitirmos.” Para isso precisamos: estudar a bíblia para saber o que o nosso Senhor pensa a respeito; buscar constantemente a sabedoria de Deus para enfrentar os “senhores do mercado”.
Um dos textos que mais gosto em relação à educação é o de Deut.6: 6-9. Creio que nele se resume o mais importante que podemos dar aos nossos filhos. Ensiná-los o amor a Deus acima de todas as coisas; com o coração, a alma e as forças; (na dimensão: corpo, alma e espírito) é interessante que não basta ensinar, o texto é muito mais enfático, fala em ensinar com persistência, inculcar; todo tempo, ao deitar e levantar, nas paredes da casa. O amor a Deus deve permear todos os atos de nossa vida familiar. Mas como amar alguém a quem não se conhece? Como transmitir os preceitos de Deus que são saúde para a vida se não me dedico a Ele. Isso é impossível, portanto preciso conhecer a Deus através de sua palavra, insistentemente, a fim de poder transmitir os seus preceitos à minha família. A bíblia nos fala de várias famílias, ela não esconde os erros cometidos, mesmo pelas pessoas que tinham uma vida íntima com Deus. Lembremos do profeta Eli seus filhos que não eram tementes à Deus, o pai foi alertado várias vezes sobre as atrocidades de seus filhos mas não tomou providencia (I Sam. 2: 22-25; 27-30 I Sam. 3:11-13). Outro exemplo é Davi, homem segundo o coração de Deus, mas um pai fracassado, que não soube enfrentar os pecados de seus filhos (II Sam. 13 a 18), em ambos os casos o resultado da falta de enfrentamento por parte dos pais trouxe morte e ruína na vida familiar. Em Provérbios 19: 18; 22:6 e 15 e 23:13 e 14) somos alertados sobre a responsabilidade de guiar os nossos filhos no caminho do Senhor. Não se pode delegar-la a terceiros, pois são os pais que respondem perante Deus pelo comportamento e educação dos filhos.
Eduardo
Que tremendo, desafiador e ao mesmo tempo encorajador esse texto! Isso é mandatário e urgente que seja inculcado e vivido primeiro por nós pais.
Em nossa “agenda” com tantas prioridades, podemos ver essas ações?
Que Deus tenha misericórdia de nós, e que nossas mentes e corações pulsem nessa direção!