Eu nunca tinha parado para pensar na minha história com a finalidade de escrever sobre ela. Vai ser a minha primeira experiência. Vou contar um pouco sobre essa trajetória. Vamos nessa?

MEUS PAIS

Meu pai é Feitoza, de uma cidade histórica do ciclo do ouro em Goiás chamada Crixás. Cresceu entre as árvores do cerrado, dançando catira, tocando caixa em folia de reis. Na adolescência, mudou-se para a cidade de Goiás, para fazer o segundo grau. Viajou por dias em lombo de cavalo. Minha mãe, de família tradicional goiana, é a filha mais velha dos Veiga Jardim com os Alencastro Veiga. Seus pais eram primos de primeiro grau. Fiquei sabendo que Ozair e Célia, meus pais, conheceram-se num 7 de setembro, quando assistiam à Parada Cívica na Avenida Goiás, em Goiânia. Olho no olho, paixão à primeira vista. Um tempo depois o namoro, depois noivado e um pouco mais se casavam.

Eu sou o primeiro filho de quatro irmãos. Nasci em Goiânia, num verão de 1963. Cresci num ambiente bastante favorável à música. Não havia reunião da família sem violão e cantoria. Tios, primos, avós, todos cantavam. Família festeira, amante das serenatas.

FORMAÇÃO MUSICAL

Aos oito anos comecei a dar os primeiros sinais de que teria o violão por companheiro. Aos doze, com a contrariedade típica de adolescente, tocava mal-humorado nas festas da família, com o meu “Rei dos violões”, presenteado pelo meu pai. Com treze anos, participei do meu primeiro programa de TV cantando uma canção no O Mundo é das Crianças, da Magda Santos, na TV Anhanguera. É brega, mas tá registrado… não posso negar.

Um dia, chegando à casa da minha vó Elza, vi no quarto do meu tio um instrumento diferente. Tinha 10 cordas e era muito parecido com o violão. Fiquei sabendo que era uma viola caipira. Apaixonei pelo som. Estava com 13 para 14 anos. Era o meu primeiro contato com a viola, embora sua sonoridade me fosse muito familiar.

Aos 17 anos, meu tio Gustavo Veiga, músico tarimbado na noite goianiense, me introduziu no palco de um boteco. Até então não tinha encarado um público com tamanha responsabilidade. Quando percebi, estava eu lá, sozinho, com aquele povo me assistindo. Foi muito legal. Mas o meu pai cortou logo o barato. Sabiamente ele não queria que eu vivesse da noite, principalmente pela idade que tinha.

No final de 1980, aos 17, quase 18, estava me preparando para o vestibular e me aproximei de um primo quase da mesma idade, o Israel Pessoa. Ele era cristão e eu não sabia… Naquela fase, ele praticamente se mudou para minha casa, e nós estudamos juntos para as provas. Só que a gente era “viciadérrimo” em música e começamos a cantar e a tocar violão o tempo todo. A gente fazia de MPB a sertanejo. Nessa época, não foi nem uma nem duas vezes que tivemos que acordar tarde da noite, às vezes alta madrugada, para cantar umas modas pro pessoal que chegava lá por casa. Eles iam para nos ouvir. Na época até convite para fazer shows recebemos. Mas não levamos a sério. Sertanejo não era nossa praia. Na verdade a gente fazia aquilo de onda. A gente curtia mesmo era Chico Buarque, Milton Nascimento, Boca Livre, esses lances bem MPB. Num sábado à tarde, fomos chamados pra cantar para um pessoal que apareceu lá em casa. Estavam na sala um menino franzino, mais ou menos da nossa idade, e um sanfoneiro de mais idade. Anos depois fiquei sabendo que aquele menino era o Zezé Di Camargo…

ENCONTRO COM JESUS

Em janeiro de 1981, visitei pela primeira vez a igreja do meu primo Israel. Fui muito bem recebido, e o pessoal me convidou para participar de um acampamento. Fiz minha inscrição, atraído pela novidade. Não podia imaginar o que me aguardava. Eu e a Rosana, minha irmã, pouco mais nova que eu, tivemos nosso encontro com Jesus, por meio da pregação da Bíblia. Conversão pra valer. Era o dia 21 de janeiro de 1981, uma semana após o vestibular.

Um mês depois eu estava com 18 anos, fazendo Física na faculdade e convertido. Mudança radical. Confesso que no início foi muito difícil. A minha família não entendia a fé que eu havia abraçado. Meus tios, aos poucos, foram se afastando de mim. Fiquei meio solitário na escola. Mas Deus me deu tranquilidade, e comecei a entender que a fé implica em rejeições. O simples fato servir a Jesus e recebê-lo como Senhor é suficiente para ver as pessoas se afastando do você.

Fui crescendo na fé enquanto via Deus realizando uma obra fantástica em toda a minha família. Todos meus três irmãos passaram a andar com Jesus. Nessa época eu e a Rosana participávamos do conjunto da mocidade: eu, no vocal e na guitarra, ela, no vocal. Com esse grupo eu venci meu primeiro festival, com uma canção feita em parceria com o amigo Lívio Luciano.

CONJUNTO DA MPC GOIÂNIA

Lembro-me, como se fosse hoje, da manhã de domingo em que conheci o Conjunto da MPC Goiânia. Eles foram à minha igreja cantar. O Israel, nessa época, cantava no grupo. Eu, que amava a música brasileira, fui deixando aos poucos de tocar MPB porque não era comum na época esse tipo de som na igreja. Quando vi aquele conjunto cantando, percebi que era possível conciliar a brasilidade com a fé. Foi maravilhoso. Pouco tempo depois, eu estava cantando e tocando com o grupo, a convite da líder, Cláudia Barbosa. Quem diria… Três anos depois ela viria a ser minha esposa.

Com a MPC a música deslanchou. Nós éramos convidados a cantar em escolas, teatros, praças, jantares etc. Nessa época viajamos para Belo Horizonte para cantar no acampamento da MPC. No grupo estávamos eu, Reny, Israel, Stives, Juninho Pimenta, Cláudia, Valéria, Zu, Gleide e Mônica. Não é por nada não, mas o nosso vocal era muito bom…

EXPRESSO LUZ

Em 85, o Grupo da MPC passou a se chamar Expresso Luz. Introduzimos instrumentos como o baixo elétrico, a bateria e a percussão.

Em dezembro de 86, eu me casei com a Cláudia. Nessa época eu já era o secretário executivo da MPC Goiânia. Numa das viagens com o Expresso para Ribeirão Preto, fomos convidados a gravar nosso primeiro disco. Ficamos malucos, sem acreditar. Gravação em 1987 era coisa de outro mundo, para poucos.

Embarcamos para o Rio de Janeiro na camionete Veraneio do Tico (baterista do grupo). Ficamos na Ilha do Governador. O estúdio era em Ricardo de Albuquerque, Baixada Fluminense. Como as gravações eram a noite, todo dia a gente encarava a Avenida Brasil na hora do rush. Teria sido uma experiência maravilhosa, se não fosse a crise que o grupo passou logo depois da gravação. Por uma série de razões, metade dos integrantes saiu do Expresso, antes de a prensagem do disco ser concluída. Foram dias difíceis para turma que ficou.

Mas eu, Cláudia, Zu, Gleide e Mônica arregaçamos as mangas e fomos à luta. Começamos a orar e a correr atrás de gente pra levantar o grupo. Conheci o Olemir, grande guitarrista. Convidamos também o David Izacc pra cantar com a gente. Ele havia feito a capa do primeiro LP e namorava a Mônica. Fiquei sabendo de um renomado baterista que havia se convertido e que agora dava aulas, depois de ter deixado sua famosa banda de baile. Seu nome é Décio.

Pronto… O time estava completo: Cláudia, na flauta transversal e nos teclados; eu, no baixo e no vocal; Olemir, na guitarra e no violão; David, no vocal e na percussão; Décio, na bateria; Mônica, Gleide e Zu, no vocal.

Nessa época a gente estava praticamente sem compositores. Tinham saído aqueles que se incumbiam dessa tarefa. O David compunha. Por necessidade comecei a escrever minhas primeiras músicas pro Expresso: Esperança, Salmo do Passarim…

Viajamos muito nessa época. Estivemos no Nordeste; depois fizemos uma viagem de 15 dias pelo Sudeste, contando com a força do Deoclides Júnior na mesa de som e nos quebra-galhos. Esse cara era demais… Uma bênção. Deus decidiu levá-lo ainda muito novo, num acidente na estrada Goiânia – Caldas Novas.

Lá pelo final de 1990, depois do Congresso Geração 90, o grupo passou a viver suas crises. Davi e Mônica decidiram sair do grupo. Zu e Gleide já não estavam mais com a gente. Olemir foi convidado a participar do Milad. Foi o fim de outra fase. Eu, Cláudia e Décio até que tentamos levar o grupo adiante, mas o desânimo era geral. Incrivelmente essa é a única fase do Expresso em que não há nenhum registro fonográfico. Nem mesmo uma gravação de ensaio, o que é uma pena.

VIÇOSA – MG

Em junho de 1991, eu e Cláudia mudamos para Viçosa – MG. Na época a gente só tinha o Pedro, nosso filho, com 3 anos. Fui estudar no Centro Evangélico de Missões. O meu trabalho com a MPC estava exigindo uma melhor capacitação bíblico-teológica. Como o trabalho com o Expresso tinha praticamente terminado, optamos pela mudança. Nesse ano, antes de nos mudarmos, cantamos no Som do Céu, acompanhados pelo Marlos, na guitarra, e pelo Robson Café, na bateria. O pessoal apelidou carinhosamente nosso grupo de Expressinho. Recebemos elogios e alguns convites. Só que o Robson e o Marlos moravam em Goiânia, e nós, agora, em Viçosa, a 1.200km de distância, o que se tornou um enorme empecilho para a continuidade.

Decidimos convidar alguns amigos de Viçosa para nos ajudar. Convidamos o Maurício Chima para tocar bateria e o Zilbinho para o violão e a guitarra. Chamamos a Marô, esposa do Zilbinho, para viajar com a gente também e dar uma força nas vendas do disco, na organização das transparências etc. Mas, no primeiro ensaio, percebemos que faltava alguém para fazer uma terceira voz; a Marô topou. O vocal ficou harmonioso e a presença da Marô deu um toque especial no grupo. Quando menos a gente esperava, já estávamos rodando brasis novamente e levando a mensagem de fé em Jesus.

Certamente essa foi uma das fases mais ricas da nossa passagem pelo Expresso Luz. Eu estava por conta dos estudos e da música; a Cláudia, idem. Zilbinho e Marô tinham um chamado missionário e faziam aquilo tudo com muito zelo e paixão; o Chima era um grande companheiro. Em várias ocasiões a gente contava também com a força do amigo Élben, no som.

Nessa época gravamos o segundo “bolachão”, Brasis do Brasil, no mesmo estúdio em que o primeiro, o 464, no Rio de Janeiro. Nessa época a vertente brasileira ficou ainda mais caracterizada com a introdução da viola caipira. O repertório curtido dos últimos anos estava ali, pronto para ser registrado. Era julho de 1992.

O disco foi gravado na raça. Ganhamos do Hermínio e da Valéria (integrante do primeiro Expresso) algumas horas no 464. Ele era dono do estúdio e havia conhecido a Valéria na gravação do primeiro trabalho. Na verdade, era um presente da Valéria para a Cláudia, pela amizade de anos.  Mas a Cláudia repassou ao grupo. O restando do dinheiro levantamos vendendo iogurtes no Som do Céu, brigadeiros no bandejão da Universidade Federal de Viçosa e pamonha nos finais de semana em Viçosa. Deixo claro que se não fosse a responsável gerência financeira do Zilbinho, a gente não teria conseguido nada. Nesse disco contamos com a participação do Robertinho Silva, do Didito, do Wayne Madalena, da Cristina Braga, entre outros “feras”.

Um tempo depois da gravação a Marô estava grávida. Como o Expresso já tinha algumas viagens agendadas, convidamos o Rogério Pinheiro, de Vitória, para fazer as vezes do casal nos meses próximos ao parto. Ele viajou com a gente para Goiânia e Brasília. Dali a gente seguiria para o Congresso Vinde/MPC, em Guarapari. Só que em Goiânia acabamos encontrando o Reny, antigo integrante do grupo. Ele estava voltando dos EUA. Decidimos chamá-lo para fazer Brasília e Guarapari conosco. Ele topou. Foi um momento muito gostoso pra gente.

VOLTA PARA GOIÂNIA – PRIMEIRO TRABALHO SOLO

No final de 1993, eu havia terminado o meu curso no Centro Evangélico de Missões. Era tempo de nos mudar. Com isso aquele Expresso Luz se desfez. Inicialmente iríamos para Vitória, como obreiros da MPC, mas Deus mudou os rumos. Voltamos para Goiânia. Só que dessa vez a gente trouxe o Élben e o Chima. Estava começando uma nova etapa na vida do Expresso.

O Élben e eu montamos o estúdio Expressão Livre. Nesse tempo o Expresso gravou uma fita chamada Aviva, e fizemos outras produções. O Chima não conseguiu permanecer em Goiânia, por falta de trabalho. Nessa época a Cláudia engravidou, e vieram a Anna Carolina e, um tempo depois, o Cézar. Depois de 7 anos sem termos filhos, por problemas nas gestações, vieram dois, em curto espaço de tempo. Ficou impossível para a Cláudia levar o trabalho adiante. Ela deixou o grupo, não oficialmente, mas já não nos podia acompanhar nas viagens. Foi uma fase super difícil para ela e para mim. Nessa época o Rogério, de Vitória, mudou-se pra Goiânia por causa do grupo. Entraram também o Reny, agora definitivamente, e o Romero Fonseca, amigo de longas datas. Veio também somar ao grupo o Jader Steter, excelente baterista.

Nessa época gravei uma canção minha e a inscrevi num festival promovido pelo Banco do Estado de Goiás. Fui o vencedor com a música Terra: Irmã, Mãe, Amiga.

Esse foi o empurrão que faltava para gravar o meu primeiro trabalho solo, e o primeiro CD da minha carreira (até esse momento os LPC ainda predominavam no mercado). Era o ano de 1995. Reuni minhas músicas que estavam engavetadas e produzi o Terra. O CD começou a tocar nas rádios FMs da cidade, e o meu nome, de certa forma, foi sendo divulgado.

Na mesma época, o Expresso estava conquistando um espaço muito legal, tanto em Goiânia quanto em diversas cidades. Foi uma fase muito gostosa. Gravamos o CD Cordel no estúdio Expressão Livre. Apesar dos poucos recursos técnicos que o Expressão Livre dispunha, inauguramos uma fase nas produções musicais do grupo: a valorização do acústico. Abrimos mão totalmente do teclado e introduzimos a percussão de forma mais presente. Nessa época estavam no Expresso eu, no vocal, na viola caipira e no baixo; Cláudia, na flauta e no vocal; Reny, no violão e no vocal; Rogério, no violão e no vocal; Romero, na flauta e no vocal; Jader, na bateria; e Maxwell, na percussão.

CORDEL E BRASÍLIA

Mas o inesperado aconteceu… Com as constantes viagens do grupo e as gravações noite a dentro, minha vida ficou uma loucura. Aos poucos fui deixando a liderança da MPC e passei a me ausentar bastante de casa. Isso não foi legal. Não sentia paz e via a cada dia uma distância sendo criada entre mim e a Cláudia, entre mim e os meus filhos. Passamos então a orar pedindo a Deus para resolver essa questão.

Em dezembro de 1996, fui convidado pela Igreja Presbiteriana de Brasília para trabalhar com a juventude, o que trouxe muitas, muitíssimas, mudanças. Deixei o Expresso, a MPC, a música, ou seja, o tripé no qual estava firmado todo o meu ministério. Era um preço alto, mas necessário para a minha sobrevivência e de minha família.

Com muita dor no coração, mudamos para Brasília, em janeiro de 1997, quando o CD Cordel estava sendo concluído. Foram anos de muita luta e de muita tristeza. Poderia dizer até de depressão.

MENINO

Depois de dois anos silenciosos e depressivos em Brasília, Deus começou a abrir algumas portas. Embora não dispusesse mais de tempo para poder seguir no trabalho, como vinha fazendo até então, fui me encontrando no caminho com algumas pessoas que vieram a se tornar grandes parceiros: Kalley Seraine, Marcos Benaia, Eline Márcia, Diana Mota, Renato Vieira. Além do mais comecei a receber apoio de amigos que me incentivavam a seguir adiante, principalmente do Neander Coelho e do João Antônio. Esse estímulo foi tão importante que em 1999 eu estava entrando novamente no estúdio para gravar o meu segundo trabalho, Menino.

Foi um trabalho que surgiu na hora certa, para recuperar a autoestima de músico sem espaço, sem motivação. Reuni um repertório que vinha trabalhando com alguns amigos, fiz algumas canções novas durante as férias e parti para o duro trabalho de gravação. Produzimos esse trabalho no estúdio Art Manha, do Toninho Maia. Dei continuidade àquela linha do acústico e do regional e aproveitei a virtuosidade do Renato, não economizando na percussão.

Relembrei músicas que me marcaram como Taças de Cristais, do Janires, e Salmo 40, de Guilherme Kerr e de Nelson Bomilcar. O trabalho veio para arejar a vida, como janelas abertas para espantar todo o mofo e toda a escuridão que se iam alojando na alma de poeta. Foi bom demais!

Nesse trabalho contei com a ajuda de muitos amigos. A troupe que me acompanhava era formada pela Cláudia, nas flautas e no vocal; pelo Benaia, no violão e na viola; pelo Kalley, no violino; pelo Jader Steter, na bateria, amigão que toca com o Expresso Luz até hoje; pelo Renato Vieira, na percussão; e pela Eline Márcia, no vocal. Ainda participaram desse CD meu irmão Fernando, no vocal; Paulo André, no violão; Enos Marcelino, no acordeom; e Rose Mary, no cello.

Com o trabalho pronto, saímos para a rua, divulgando. Por meio do Renato conheci um baixista chamado Davi, que se somou ao grupo. Também passamos a contar com as participações da Diana Mota, hoje esposa do Renato.

Não cantamos o tanto quanto gostaríamos, não. Todo mundo era muito ocupado com suas atividades, eu muito mais, cheio de coisas para resolver, curso na faculdade para levar adiante… Mas fizemos uns trabalhos bem legais.

Com o tempo nossos encontros foram ficando cada vez mais esparsos. Os músicos tinham outras responsabilidades. Perdi o contato com vários deles. Mas isso não impediu que eu continuasse a levar o trabalho adiante. Chamei o Léo Barbosa, que na época começava a tocar percussão na igreja, para me dar uma força, e fizemos muita coisa juntos, só nós dois.

MATA DO TUMBÁ

No final de 2001, desafiei o Neander Coelho a produzir meu terceiro trabalho. Eu pensava numa forma de comemorar os 50 anos da MPC em alto estilo. Ele topou. Dessa vez estava mais consciente do momento da vida e da fase “solo”. Sempre havia trabalhado com grupo e estava difícil me adaptar ao trabalho sozinho, tendo que criar tudo: músicas, idéias, conceitos.

Coloquei o nome desse terceiro trabalho de Mata do Tumbá. É uma referência à reserva ambiental que cerca o acampamento da MPC em Belo Horizonte. No Treinamento de Líderes de 2001, eu fiz um tema instrumental para violão, flauta e violino, enquanto observava a mata pela varanda. Gostei tanto do tema que o coloquei como música título. Traduzia muito bem meu sentimento pela MPC, pela mata, pelo acampamento, pelo ministério: um misto de alegria e saudosismo. Uma linda música. Na gravação, confiei o arranjo ao maestro Joel Barbosa.

Nessa época Deus estava preparando uma galera legal para somar forças comigo. Foram chegando, aos poucos, Ricardo Amorim, Sandro Araújo, Nelsinho Rios e Andreiev Kalupniek. Com Léo, Eline, Cláudia, Kalley e eu, uma banda muito legal foi formada. Descambamos para um regionalismo ainda mais convicto. Começamos a pesquisar sons e ritmos e fomos dando cara ao Mata. Levei a viola caipira mais a sério, desde que adquiri, com o apoio sempre amigo do João Antônio, um instrumento feito pelo luthier Vergílio Lima.

Ousei, incorporando a viola de cocho numa canção, a rabeca em outra. Gravamos um CD sem bateria. Só percussão. Era o meu sonho se tornando realidade. Esse trabalho teve uma importância muito grande para minha vida e para meu ministério. Soou definitivamente como um “sim” de Deus para a minha caminhada nessa nova fase. Contamos com a participação especial do Hélio Delmiro, músico que eu admirava de longa data. Tê-lo no CD como músico e como amigo foi um enorme presente dos céus.

E A COISA FOI SE AMPLIANDO

Um dos grandes benefícios do Mata do Tumbá foi a formação da banda que me acompanharia nos próximos anos. Assim que terminamos o CD, preparamos um show de lançamento no Teatro do Sesi, em Taguatinga – DF e, logo depois, um show ainda maior na Sala Martins Penna do Teatro Nacional. Os mesmos músicos que participaram nas gravações toparam levar esse trabalho adiante. Além da Cláudia, da Eline, do Léo Barbosa, do Ricardo Amorim e do Kalley, que já me acompanhavam anteriormente, chegaram o Enos Marcelino (na época integrante da Cia de Jesus), o Sandro Araújo e o Nelsinho Rios. A banda estava mais que perfeita, formada por músicos de alta qualidade.

Com esse grupo conquistamos espaços dentro e fora da Igreja, e nosso trabalho começou a aparecer no cenário cultural brasiliense, e porque não dizer, também brasileiro. Os convites se tornaram mais frequentes, e precisei de sabedoria para conciliar minha agenda pessoal, pastoral e de músico.

Um ano depois entrei com a mesma banda no estúdio para um projeto totalmente novo: a gravação de um CD “quase ao vivo”. A ideia era registrar, com ritmos brasileiros, o repertório de cânticos que cantávamos nas igrejas. Muita gente pedia esse material, e não tínhamos nada gravado. O Nelsinho Rios tomou a frente comigo e, juntamente com o Andreiev Kalupniek, pensamos numa gravação ágil e barata. Em 16 horas, incluindo a mixagem e a masterização, estava pronto o Santa Louvação, em tempo recorde.

Em janeiro de 2004, passei uns dias de férias em Vitória – ES. Fiquei hospedado ao lado da casa do compadre Rogério Pinheiro, que, nessa altura, já tinha deixado o Expresso Luz e retornado à sua terra natal. Nesse encontro tivemos momentos especiais com nossas famílias, tempo de boas prosas e muitas cantorias. Decidimos compor algumas canções e oferecê-las ao Expresso Luz. Não sei bem por que, mas as canções não se encaixaram na proposta do momento para o grupo. Eles tinham outras expectativas. Nem por isso abandonamos o projeto. Decidimos compor umas 11 canções e gravar um CD temático que falasse do mangue e do cerrado, do siri e do pequi, duas realidades distintas, separadas geograficamente, mas interessantemente unidas. Com a ajuda da Internet preparamos o repertório e, em 2005, entramos no estúdio do Andreiev, em Brasília, para gravar o Siripequi. Não posso deixar de mencionar a ajuda inestimável e companheira do Daniel Stretch, que, juntamente com o Rogério, fez o arranjo de cada uma das canções. A banda base do CD foi a mesma que me acompanhava.

PROJETOS CULTURAIS

Nessa época começamos a fazer as primeiras viagens internacionais com a banda, ou parte dela. Em 2005, estive em Boston e em Charlotte com o Enos Marcelino. Depois, em 2007, por 15 dias, viajei com a banda pelos EUA, com apresentações em igrejas e eventos, por meio da Mocidade Para Cristo, nas cidades de Orlando, Colorado Springs e Charlotte. Nessa época Nelsinho Rios se mudou para os Estados Unidos e meu filho Pedro, seu aluno de baixo, integrou o grupo.

No Brasil começamos a fazer shows em espaços culturais, como o Restaurante Feitiço Mineiro, os Projetos Culturais da Aliança Francesa, os SESCs Brasília, a Sala Funarte, o Circuito Cultural de Tatuí – SP, o Teatro Dias Gomes – SP, o Teatro Nacional – DF, o Teatro Cine Ouro – GO, entre vários outros. O grupo passou a ser convidado a compor a agenda anual do Clube do Choro de Brasília, um dos espaços mais respeitados e concorridos da agenda cultural brasiliense.

E assim demos mais um passo que foi a apresentação de um projeto para o FAC – Fundo da Arte e da Cultura do Governo do Distrito Federal. Desse projeto surgiu o CD Flor do Cerrado, que foi muito bem aceito no meio popular brasileiro.

Em 2008, após o lançamento do CD, o grupo se apresentou em Nova Iorque. Inicialmente as apresentações seriam realizadas somente em igrejas, no entanto fomos convidados a nos apresentar num show prévio ao Brazilian Day NY. Na oportunidade, mostramos nossa música para centenas de pessoas que estavam reunidas na 46 Street, conhecida como Little Brazil, em Manhattan. O nosso trabalho foi muito bem recebido, e alguns bons contatos surgiram daí.

Ainda em 2008 e 2009, realizamos o projeto Pelas Estradas desses Brasis, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, São Luís do Maranhão, Codó e Teresina. Nesse projeto a banda dividiu o palco com músicos consagrados como Telo Borges, Rubão, Expresso Luz e Stênio Március. Nessa época entraram dois músicos fundamentais para a banda: o percussionista Ismael Rattis (que veio ocupar o lugar deixado pelo Sandro) e o Marcus Vianna no violão e guitarra.

Em 2009, o meu trabalho foi selecionado entre mais de 2.700 artistas de todo país para compor o restrito grupo de 60 artistas que se apresentaram no Projeto Pauta Funarte, projeto promovido e patrocinado pelo Ministério da Cultura. Foi uma grande vitória.

O PRIMEIRO DVD

Em 2010 demos mais um passo ousado: a gravação do nosso primeiro DVD. Esse trabalho foi uma parceria nossa com a Toca de Barro Filmes, de São Paulo. Conheci o Jader Gudim e o Davi Julião na gravação do projeto Plataforma (www.plataforma.art.br) e do DVD do amigo Gladir Cabral. Comparrtilhei com eles o meu sonho de gravar em Pirenópolis, registrando o trabalho atual da banda. Da conversa até a gravação foram quase dois anos.

Os dias em Pirenópolis foram inesquecíveis. Uma equipe de 30 pessoas moraram uma semana naquela cidade do interior goiano, empenhada na gravação.

Ainda em 2010 fui premiado em dois festivais importantes como vencedor do Juri Popular: o Festival Nacional FM e o Prêmio SESC Tom Jobim de Música.

Em março de 2011 lançamos o DVD e CD Chão no Som do Céu, em BH. E a partir daí conquistamos outros espaços. Fizemos shows de lançamento em Brasília, BH (com participação de Chico Lobo), no Rio de Janeiro (no Teatro Rival), Campinas, entre outras cidades.

As portas, graças a Deus, continuam abertas. Esperamos levar a nossa arte, e consequentemente o testemunho da nossa fé em Jesus, em muitos lugares desse mundo. Que Deus nos ajude!

  1. Oi Carlinhos, que legal ler a sua história, sou muito amiga do Israel Pessoa, moro aqui nos Estados Unidos e fiquei triste de não poder assisti-los quando vieram aqui. Acompanhei muito o Expresso luz e o Milad, estes dois conjuntos fizeram parte da minha vida.
    Um abraço e que Deus te abençoe muito.
    Será que é muito tarde para o Israel fazer carreira na musica sertaneja?…

  2. Eita amigo,…….que história massa!! ……… e que alegria me deu de estar presente em alguns desses momentos!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Puxa!!!!!! GAnhei o dia!!!!! Fique na paz!!!!
    Um grande abraço.

  3. Prezado Carlinhos, sou um grande admirador de seu trabalho com a MPC. Ao longo de minha vida, aprendi muito com João Alexandre, Guilherme Kerr, Jairinho, Logos e tantos outros que já não existem mais porém deixaram grandes lições. Hoje faço parte de um grupo chamado SEMENTES. Não é plágio do Grupo Plantando Sementes ou Semeadores. Nosso objetivo é de fato difundir a boa semente que é Cristo nos lugares mais improváveis, na tentativa de cumprir o Ide de Jesus. Temos um Blog (gruposementescaruaru.blogspot.com) que teremos grande alegria se vc visitá-lo e deixar um comentário. Mas, Carlinhos, estou escrevendo em meu blog particular sobre a percussão na igreja e gostaria que vc (se possível) se posicionasse a respeito do tema e me mandasse por email suas conclusões para que eu publicasse neste blog. Tenho minha opinião. Toco percussão, mas já postei um texto de uma pessoa que discorda do uso da percussão no louvor a Deus, para que eu tenha de forma imparcial a opinião das pessoas que leem o blog. Meu querido, Deus o abençoe ricamente como tem feito ao longo de sua vida. Grande abraço.

  4. Acho bom vc pensar no minimo em um livreto pq dentro dessa historia tem mais quatro – da Claudia e dos meninos…rsrsrs. E olha, não esqueça o projeto de ser avô…Meu Deus rsrsrs, afinal o Pedro já casou e com certeza, é uma questão de tempo rsrsrs.
    Você é uma pessoa especial chamado para fazer coisas especiais, principalmente a arte na música e você faz muito bem…temos mais é que louvar a Deus pela sua vida e pelo privilégio de fazermos parte (mesmo que seja uma pequena parte, pois a gente se pouco) dos seus “amigos irmãos”…eu e minha casa amamos vc e sua casa…Bjs Bjs. PAZ!

  5. Carlinhos,
    Comecei a admirar seu trabalho por influência de minha irmã e não esqueço da apresentação do Expresso na Igreja de Vila Velha, mas confesso que não me lembrava que era na década de 80….
    De lá pra cá só admiração e alegria em ter boa música pra ouvir, companhia diária para ouvir no caminho pro trabalho e agora que descobri os podcast de grandes entrevistas …
    Bom, agradeço a Deus pela sua vida e família e que Ele continue a inspirar com canções e grandes projetos que nascem direto do coração do Pai.
    Abraços e apareça de novo nas terras capixabas
    Rosângela César Vargas
    Vitória-ES

  6. Oi, gostei muito da sua trajetória com Jesus. É gratificante saber que Ele realiza os nossos sonhos. Linda tua história.
    Entrei no seu site procurando algo sobre cigarras e olha só o que eu encontrei!
    Deus te abençoe!

  7. Olá Carlinhos,
    Linda sua história. Conheci vc, sua história e música hoje. Encantei-me com sua música. Mas, fiquei sem entender uma coisa. No seu blog tem uma matéria sobre sua visita a uma evento de Folia de Reis, não consegui entender sua ligação com esta manifestação cultural. Desculpe-me a pergunta, mas estou sendo sincera quanto a minha falta de entendimento sobre isto, porque tenho genuíno interesse cristão de conhecer seu trabalho, e estando nós em um país onde esta manifestação cultural esta, na sua maior parte, até onde conheço e presenciei em minha terra, ligada a questões religiosos diferentes da fé cristã, fiquei um pouco assustada, confesso. Espero receber seu contato, via e-mail, para poder dissipar estes questionamentos.

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