Beleza em tempos de seca
Moro há quinze anos em Brasília. Não tive muitas dificuldades em me adaptar com a vida aqui. É um lugar de muitas oportunidades e muito agradável. No entanto, enfrentei sérios problemas com o clima, principalmente no terrível período de seca, que se estende especialmente de julho a setembro.
Os primeiros anos foram difíceis: sentia uma dor de cabeça quase que constante, uma secura nos olhos e uma respiração difícil, principalmente à noite. Com o tempo acabei me adaptando ao clima desértico do meio do ano.
Talvez por causa disso eu sempre achasse Brasília feia nessa época. O gramado acinzentado, o ar esfumaçado, as árvores peladas, folhas secas pelo chão. Até que me mudei para uma casa com quintal. Nesse contato maior com a natureza, aprendi a ver a cidade com outros olhos.
Tudo começou quando num dia pela manhã vi que o pequizeiro do quintal estava diferente. As primeiras flores começavam a surgir, prenúncio de frutos (e que deliciosos frutos…). Depois, no tronco da árvore, vi três lindas orquídeas abertas. Nunca havia prestado atenção no fato de que elas estavam ali, enxertadas no pequizeiro. Essas flores embelezaram tanto o quintal que eu passei a visitá-lo mais vezes que o comum. A partir daí algo como que escamas caíram dos meus olhos, abrindo-me para uma realidade que ainda não havia percebido: a beleza do cerrado no período da seca.
Vi o amarelo cintilante do ipê, contrastando com o cinza ao redor; via as flores naturais multicoloridas se abrindo sorridentes, como que preparando a vida para a primavera que está às portas; senti o gosto doce da amora, da jabuticaba explodindo em sensações incríveis no paladar.
Percebi que nessa época o canto dos pássaros fica ainda mais belo porque o sabiá surge vibrante e embeleza ainda mais a sinfonia da criação, exaltando o nome do seu Criador. E daqui uns dias vêm a cigarra cantado sua canção monotônica: “sisisisisi… lá vem a chuva!”. As flores transformam-se em frutos; e a vida toma novo colorido e sabor.
Por que eu não havia percebido essa beleza antes? Por que tudo isso tinha ficado oculto aos meus sentidos? Creio que é pela minha limitação de não ver o cuidado de Deus em todos os momentos, mesmos nos períodos de seca, de deserto. A vida é cíclica: passamos por estações e cada uma delas traz suas características. Mas, temos às vezes a tendência de achar que na seca tudo seca. Até o amor de Deus. Olhamos para o lado e parece que a vida foi roubada de nós. Mas, Deus está presente e nos surpreende com novas belezas. Conquanto tudo pareça cinza, o amor de Deus está aí, bem presente, renovando nossas forças e nos despertando para o novo ciclo da vida que está por vir. Ele jamais nos desampara. Os sinais do seu grande amor jamais cessam…
alba valeria
DaVeiga, muito lindo, somos assim mesmo cegos de olhos abertos. Mas quando nos despertamos para Deus com o passar do tempo adquirimos algumas sensibilidades. Abracos, Alba