No vuvuzelas!
A copa do mundo na África do Sul foi conhecida como a copa da vuvuzela. A cada partida o zumbido incessante dessas cornetas enchiam os estádios trazendo irritação para alguns e alegria para outros. Saí de casa dizendo comigo mesmo: tenho que trazer uma com as cores da África do Sul ou pelo menos com a logomarca da Fifa.
Andando pelas ruas da Cidade do Cabo, a gente se esbarra o tempo todo nelas. Estão nas esquinas, sendo vendidas pelos camelôs, nas lojas esportivas, nos shoppings, no comércio de artesanato, com suas variações de cores e detalhes… se espalham por todos os espaços. Mas, interessantemente não se ouve o seu som. Parece que o zumbido foi tanto no mês da copa, que esgotou a paciência do sul africano.
No domingo que antecedeu a abertura do congresso reunimos um grupo de brasileiros e fomos ao estádio assistir a semi-final do campeonato nacional de rúgbi. Para quem não sabia, o futebol não é tão difundido naquele país como se imagina. Os esportes mais fortes são o rúgbi e depois o críquete. A seleção de rúgbi da África do Sul está entre as melhores do mundo, disputando com a Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra e outros. O jogo que fomos assistir era do Provence, um time local que há 10 anos não vence um campeonato, contra o Free State Cheetahs. O estádio estava superlotado. Eram mais de 40 mil torcedores vibrando com o time azul e branco da Cidade do Cabo. Mas, quero chamar a atenção para um detalhe. Não havia sequer uma vuvuzela no estádio. Aliás, logo na entrada havia uma placa com os dizeres: “no vuvuzelas”. Estranhamente é proibido entrar com essa corneta barulhenta nos estádios de rúgbi.
Vale a pena lembrar que aquele país ainda vive sobre a sombra do apartheid e que se vê aqui e ali algumas marcas da separação racial. O esporte do branco, ou da não vuvuzela, é o rúgbi. O esporte do negro e da alegria festiva e barulhenta da vuvuzela é o futebol, ou soccer. Gostei muito do rúgbi, mas certamente seria mais alegre se as cornetas fossem permitidas.
No congresso Lausanne 3 também era proibido o som de vuvuzelas. Só que vez por outra soava naqueles imensos corredores um zumbido, ecoando por todo o Centro de Convenções. Via de regra era um brasileiro quebrando as regras do lugar. No sábado à noite fizeram uma homenagem ao presidente do congresso em agradecimento pelo seu enorme esforço: lhe presentearam com alguns belos artesanatos africanos e com uma vuvuzela. Doug Birdsall não agüentou: deu uma cornetada das boas fazendo os mais de quatro mil congressistas vibrarem com a quebra do protocolo pelo próprio presidente. Dá-lhe, Doug!
Davi Rabelo
Vim com 3 vuvuzelas na mala, ainda não sei porquê. Acho que meu espírito negro-barulhento quer falar mais alto do que o branco-reservado. Viva as diferenças e viva as vuvuzelas!