Deus tem me dado grandes privilégios. Um deles é ser o músico que mais pisou nos palcos do Som do Céu. Para quem não conhece, o Som do Céu é um acampamento promovido pela Mocidade Para Cristo (MPC), realizado nos arredores de Belo Horizonte, no feriado da Páscoa.

Em 1985 aconteceu a sua primeira edição, com a participação do Rebanhão, Vozes da Promessa, Logos e Quarteto Vida. Desse eu não participei; o Expresso Luz não havia sido convidado. Porém, um ano depois estávamos em Belo Horizonte emocionados em cantar num evento de repercussão nacional, dividindo o palco com aqueles músicos cristãos que eram inspiração para nós.

Os tempos eram outros. Ainda não se ouvia falar do movimento gospel, a repercussão dos movimentos neopentecostais ainda era pequena, quase não se ouvia música cristã no rádio e a participação da igreja evangélica na televisão era ainda tímida. Falo de tempos em que o processo de gravação era ainda bastante caro e de difícil acesso. Praticamente tudo vinha do eixo Rio–São Paulo.

Desse palco muitos artistas surgiram e a partir dele realizaram um ministério relevante. Contudo, também nesse palco viu-se o ocaso de muitos outros, infelizmente. Ali pudemos aprender que não se faz a obra de Deus de qualquer maneira. O Senhor espera de nós fidelidade, vida santificada e separada, pois esse é o verdadeiro louvor que o agrada.

Para Marcelo Gualberto, fundador do Som do Céu, o acampamento representa um verdadeiro milagre — milagre na vida das pessoas que lá se encontram com Cristo Jesus; milagre pela sua longevidade; milagre por ter se tornado uma referência da boa música cristã; milagre pela maneira fantástica como Deus o vem suprindo a cada edição.

Às vezes paro para pensar na grande contribuição que o Som do Céu trouxe até aqui para a igreja brasileira. Ele acabou se tornando um espaço de contracultura gospel, diferente do que se vê por aí. O que era um evento tomou a forma de um movimento, não planejado, não institucionalizado, não regulamentado — de evento em vento; coisas do Espírito. Tem sido um espaço para se respirar um ar diferente, ouvir um som diferente e curtir um companheirismo diferente. Um lugar onde fé cristã e brasilidade se integram de maneira natural; onde a nociva dicotomia existente entre o evangelho e a vida cotidiana é questionada. Tudo isso porque ali o que se vê e o que se ouve são demonstrações práticas de que podemos viver neste mundo de maneira coerente, sob o governo de Cristo Jesus.

Em abril de 2009 acontecerá a 25ª edição do Som do Céu. Já foram confirmadas as participações do Grupo Logos, Vencedores Por Cristo, Sal da Terra, Expresso Luz, Quarteto Vida, Cia de Jesus, João Alexandre, Nelson Bomilcar, Jorge Camargo, Aristeu Pires, Stênio Március, Silvestre Khulmann, Telo Borges entre outros. A gente se vê por lá.

Artigo publicado originalmente na revista Ultimato, em fevereiro de 2009.