1960 — Viçosa inaugura o primeiro templo protestante

Os meses foram passando e ninguém nos alugava um imóvel para realizarmos os nossos cultos. De repente, soubemos que havia um terreno desocupado na avenida Bueno Brandão, de propriedade do mecânico de automóveis Luiz Pimentel. Mesmo não tendo de fato a menor possibilidade de construirmos um templo, pois éramos poucos e a maior parte da membresia era formada de estudantes, cujo dízimo, embora fiel, não representava muito dinheiro, resolvemos corajosamente adquirir o terreno por 120 mil cruzeiros. Só tínhamos 10 mil em caixa. Mas, com o empréstimo de outros 10 mil da Igreja Presbiteriana de Ubá, pagamos a entrada do imóvel (30 de maio).

Em junho, a estudantada da igreja abraçou com entusiasmo a ideia de construir imediatamente o templo. O tal piloto-missionário de Montes Claros, que havia sido estudante de engenharia antes de abraçar o ministério, fez o anteprojeto e os estudantes Osmar Ribeiro e Daison Olzany Silva elaboraram a planta definitiva, que foi assinada graciosamente pelo projetista José Ubirajara Euclides, um homem admirável.

Contratamos o construtor licenciado Vicente da Paixão para assinar a planta e ceder a placa de responsabilidade. Como havia uma minúscula marquise na fachada, convidamos certo engenheiro e professor de matemática da UREMG (parece-me que na ocasião era o único engenheiro residente em Viçosa) para fazer os cálculos e ser o responsável por eles.

Quanto à mão-de-obra, resolvemos que alguns dos rapazes passariam as suas férias de julho aqui trabalhando oito horas por dia como serventes de pedreiro (pagaríamos só o pedreiro) e que algumas das moças tentariam levantar ofertas em suas igrejas durante as férias. Como os estudantes não poderiam permanecer no alojamento em período não letivo, minha esposa e as duas filhas foram para a casa do sogro, em São José dos Campos, SP, graças a uma carona dada gentilmente pelo dr. Walter Brune, luterano, que era professor da universidade, e eu hospedei a turma em nossa casa. O café da manhã e uma boa sopa de legumes à noitinha ficaram por minha conta, além da compra do material da construção. Almoçamos no Príncipe Hotel (o gerente fez um preço especial e permitiu que nós fôssemos comer lá com a roupa suja da construção). A prefeitura deu o necessário alvará, ainda que ficássemos devendo a assinatura do engenheiro.

No dia primeiro de julho de 1960, há 50 anos, demos início à construção do primeiro templo não católico de Viçosa. Parecia-nos que tudo estava finalmente resolvido. Mas tivemos alguns surpreendentes imprevistos. A prefeitura me enviou uma carta informando que o construtor havia cancelado a sua responsabilidade técnica. E o tal engenheiro mandou outra carta com a informação de que, como católico, não deveria colaborar com outra religião (as cartas estão arquivadas).

Para quebrar esses galhos, fiz duas pequenas viagens: em Ubá consegui a assinatura do construtor João Campanha, minha ex-ovelha (antes de vir para Viçosa, passei cinco anos em Ubá, onde organizei a Igreja Presbiteriana), e em Ponte Nova consegui a assinatura do engenheiro Orlando Fonseca, cuja esposa era membro da Igreja Presbiteriana daquela cidade.

E quanto aos recursos para pagar o terreno e construir o templo? Quando não há dinheiro, muitos de nós lançamos mão de um expediente que costuma dar certo, quando há muito cuidado e responsabilidade, e depois de muita oração. Chama-se, na linguagem evangélica, fazer esse e aquele empreendimento pela fé na providência de Deus, sem, no entanto, cruzar os braços. Todos revigoramos nossa confiança em Deus e nosso entusiasmo quando recebemos três ofertas cada uma no valor de dez mil cruzeiros, exatamente nos dias 2, 3 e 4 de julho (duas delas não solicitadas!).

Gastamos três meses e uma semana para construir o templo, que comportava cerca de 120 pessoas. Na parede de trás do púlpito fizemos questão de afixar com letras de Eucatex, o querido versículo de Zacarias: “Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos”. No dia 9 de outubro de 1960, o templo foi inaugurado e consagrado a Deus. Na ausência do prefeito dr. Raymundo Alves Torres, o delegado José Simeão desatou a fita simbólica. Gastamos com o terreno, a construção e a mobília, pouco mais de 500 mil cruzeiros. Desse montante, ficamos devendo a dois bancos e ao comércio aproximadamente 200 mil cruzeiros. Quando nos mudamos para o templo atual, na av. P. H. Rolfs, anos depois, vendemos o templo da av. Bueno Brandão, 12, onde fica hoje a Pizzaria Balaústre.

  1. Americo Jose da Silveira citado na reportagem partiu para o Senhor ao 48 anos.Era meu tio, irmão de minha mãe. Me orgulho e tributo ao Senhor Jesus toda a honra de ter tido em minha familia um soldado sempre a postos a ir às ultimas consequencias pela causa Santa do Mestre na cidade de Viçosa-MG na decada de 1960.

    Pb. Jaime Silveira Chaves
    Igreja Evangelica Renovada Herdeiros do Rei
    Rua Ofelia Livieiro Rivitti, 47-Pq Bristol
    São Paulo-SP

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