Somos crentes complicados. Ou será que sou só eu? Bem, eu assumo. Olha só: houve um tempo em que a IPP cantava muito o cântico “Vaso Novo”. Mas eu não cantava. Então, lá da frente, o dirigente olhava pra mim e sabendo das minhas complicações, sorria. Música que segue.

Mas o que todos os pastores e ministros de música da IPP sabiam? Sabiam aquilo que conto no livro “Fábrica de Missionários”: que desde os tempos dos acampamentos da Palavra da Vida eu fugia da África. Aqueles temíveis cultos da fogueira, quando o missionário fazia o apelo para conversão ou consagração. Eu temia que, se fosse à frente, ele me mandasse para a África.

Muitos anos mais tarde, já na IPP, lá no auditório da SIL, eu não brincava, como ainda não brinco com hinos e corinhos, pois cria, como ainda creio, que são cantados diante de Deus. E, pior, comunitariamente. E eu pensava: “vai que Deus me ouve, quando digo, inconsequentemente, quebra a minha vida e faze-a de novo”? África, na certa (vão perdoando; eu já fui jovem)!

Entretanto, nesse tempo comecei a aprender um pouco mais sobre o amor de Deus, na forma de gentileza. Sim, de um Deus imenso, poderoso, criador do universo e tal, mas também pai compreensivo e gentil; que não invade, não arromba; mas pede, mansamente, o meu coração; que bate à porta, se convidando para a mesa comigo. E diz: “se você abrir a porta…” (Ap 3:20).

Foi nesse tempo que surgiu a “teologia do querer querer.” Explico. Na minha complicação, eu pensava (e compartilhava!): “eu gostaria de confiar mais na boa, agradável e perfeita vontade de Deus para minha vida” (Rm 12:2b). Porque sabia que meu medo da África significava medo do que Deus poderia fazer comigo, se eu relaxasse. Eu sabia que se pedisse a Deus: “venha o teu reino; seja feita a tua vontade…”, perigava ele me atender. Então, eu pensava: “eu gostaria de querer essa vontade de Deus para mim”. Porque, se eu quisesse, eu lhe pediria. E se eu lhe pedisse, certamente ele me atenderia. “Mas, Senhor, deixemos as coisas bem claras: eu ainda não quero; apenas gostaria de querer. Há uma grande diferença”. E não cantava o Vaso Novo.

Enquanto todos cantavam, eu orava em secreto: “Senhor, mude essas coisas, para que, confiando, eu queira. E peça. E cante”. Eu quero querer, por favor.

E Deus me atendeu, acredita? E me concedeu o querer. Então, eu passei a lhe pedir e cantar: “quebra a minha vida e faze-a de novo; eu quero ser um vaso novo”.

Achou complicado? Você nem imagina, rsrs.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


The reCAPTCHA verification period has expired. Please reload the page.