Chama-me a atenção a informação de que o primeiro registro bíblico a mencionar o Espírito Santo enchendo uma pessoa e habilitando-a para uma missão ocorre em Êxodo, onde se lê a seguinte impressionante declaração do próprio Deus:

Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício, para elaborar desenhos e trabalhar em ouro, em prata, em bronze, para lapidação de pedras de engaste, para entalho de madeira, para toda sorte de lavores. (Êx 31:2-5)

Sim, Bezalel era um artesão, um artífice, um artista. Ou passou a sê-lo, não sei, a partir da visitação recebida. A primeira unção divina de que se tem notícia foi para a arte; para produzir (ou reproduzir) o belo. Três pensamentos me ocorrem, diante desse fato.

Primeiro, Deus não chama apenas pastores, missionários e líderes para sua obra; chama também artistas. E alguns ele chama pelo nome (por conhecê-los pessoalmente) e lhes dá a missão de mostrar Sua beleza (e de sua criação) com uma linguagem não-verbal. Porque nos fez capazes de identificar o bem como belo. E associar Sua presença com o inefável (aquilo que não se pode expressar com palavras).

Segundo, há uma camada emocional na revelação de Deus. Eu ousaria mais: uma camada afetiva. É dessa forma que ele se apresenta como sublime (de inexcedível perfeição e beleza), e nos capacita a perceber — e a alguns a representar —, com a linguagem das afeições, sua sublimidade.

Terceiro, a aceitação do chamado divino para ministrar por meio da arte faz do(a) artista ministro(a) da reconciliação. Não apenas por conta do sacerdócio universal dos crentes, mas também por esse canal especial que — com palavras ou sem elas — vai direto à raiz dos nossos afetos, e, por ação do Espírito de Deus, faz vibrar ali uma corda primordial, plena de harmônicos coloridos, tais como o amor, a alegria, a gratidão e a devoção. Essa corda, ao ser tangida pela proximidade de Deus, pela sublimidade do Cordeiro, pelo encantamento de seu evangelho, pela glória luminosa da cruz do Calvário e pela delicadeza de sua graça produzirá, naquele em cujo interior ela vibrar, um despertar para realidades até aqui impensáveis. É Deus despertando o coração. É a beleza de Cristo salvando o mundo das trevas.

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