Nestes dias sombrios, em que as leis, a ética, a moral e mesmo a decência perdem seu significado social; dias em que a autoridade age com a esperteza do bandido e este, por sua vez, reina sobre sua comunidade, provendo-lhe “serviços públicos” com água, gás, luz, internet e tv a cabo roubados, em troca de obediência e silêncio servis; nestes dias sofridos, em que seguranças e esperanças são apequenadas pelos interesses particulares do poderoso de plantão, daquele que tem a arma (ou a caneta) na mão ― e também do gatuno, seja um pivete, seja um político de alta plumagem; nestes dias apocalípticos, em que o ministério da iniquidade se reúne de terno e gravata, ou de toga, em assembleia formal e solene, para repartir entre si as riquezas e a alma da nação; sim, nesses tempos de tormenta é preciso achar um farol para não ser levado pelas ondas bravias para as rochas.

O apagar das luzes de uma civilização pode ocorrer de muitas maneiras. Hoje o Brasil vive a “festa da colheita” de cinco séculos de autoritarismo, dos senhores-de-engenho, dos capitães-mor, das casas grandes e senzalas, de carnavais, malandros e heróis e de macunaímas sem fim para, tendo tudo isso entranhado na consciência nacional, terminar sem saber o que é pior: um Marcola, um governador, um deputado, um senador, um presidente da república ou um ministro do Supremo. Todos em seus nichos de atuação, e ciosos da separação entre os “poderes”; cláusula pétrea entre eles, para manter a estabilidade da “cosa nostra” brasileira.

Nos tempos de Jesus, essa “falência múltipla dos órgãos” judaicos advinha do longo tempo sob o tacão do invasor que impunha suas leis, valores e vícios, a apagar a memória, corromper a esperança e minar a fidelidade do povo de Deus. Muitos cediam para sobreviver; outros, para sustentar a família; outros para conseguir um cargo na administração. Outros ainda porque se identificavam com o charme e a sedução do modo romano de viver.

Foi para (e numa) uma situação assim que Cristo veio. E viveu entre nós; e morou e trabalhou na cidade; e ali cultivou amigos. E nos ensinou sobre “a apertada porta” que dá para o estreito caminho, tão difícil de trilhar.

Posso vê-lo, na celebração da Páscoa, a dizer aos seus discípulos: “não tenham medo! Vocês crêem em Deus, não? Creiam também em mim! Vocês vão passar por aflições, se optarem por viver no meu reino, enquanto habitam esta sociedade moribunda; mas tenham bom ânimo, eu ajudo vocês. Eu venci tudo isso; vocês também vencerão. Não abram mão da ética do meu reino e do que têm aprendido de mim. Não temam nem a dor nem a morte, porque elas não têm mais poder sobre vocês, e não poderão mais ditar como vocês viverão suas vidas.

Mal sabiam eles que, ao ressuscitar, vencida a morte, Jesus seria o primeiro habitante, e o Senhor, de um novo céu e uma nova terra ― preparados para eles.

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