Amados de Deus
Encontrei recentemente um ex-aluno, assembleiano, que começou a conversa me agradecendo pela última música postada no site da IPP e também por um artigo que lhe havia trazido muito consolo e conforto. O que me ressoa nos ouvidos, até agora, foram os termos que ele usou nessa conversa. Começou mais ou menos assim: “Meu amado! Varão de Deus! Nosso Pai está muito feliz com sua vida e ministério, profeta-poeta do Senhor! Nunca desanime, pois você é vaso tremendo nas mãos daquele que lhe concede tantos dons e talentos. E tem usado você para abençoar tremendamente este país…” vou cortar o resto, pois você já entendeu o jeitão.
E eu disse, cá com meus botões: “esses ‘pentés’ são exagerados! Cheguei a me sentir bem” (rs). Minha reação, na hora, foi só de uma risada divertida, e a conversa seguiu: “Varão de Deus, o que você tem pensado, ultimamente? Por que caminhos seu coração tem andado?” E por aí foi.
Passadas essas coisas, fiquei a pensar que, intimamente, rejeitei o cumprimento e, com ele, também o afeto e o abraço que aquelas palavras continham. Talvez por não crer que pudessem ser palavras intencionais, ou mesmo pessoais. Não que fossem fruto de falsidade, pois conhecia bem o caráter irrepreensível do irmão, mas imaginei que pudesse ser um jeito aprendido de falar; coisa do meio eclesiástico dele. Naquele átimo, pensei: “Ele deve falar assim com todo mundo. Portanto, não deve estar querendo me dizer o que disse”.
Entretanto, ao mesmo tempo, algo lá dentro me dizia que seria tão bom se, de vez em quando, eu pudesse ouvir metade, um décimo, daquilo que ouvi, sabendo que era um modo usado por Deus para me dizer que ainda me amava; que, passado o tempo, eu continuava na lista daqueles que ele amou de tal maneira que deu o seu Filho. Talvez mais ainda: que nossa amizade estava intacta; que nossos encontros do quarto lhe eram agradáveis e ansiados. E que ele ainda tinha prazer em me esclarecer as Escrituras, à medida em que eu as lia. Ou seja, que eu não era querido apenas como “o mundo” que ele amou, mas como uma pessoa cujo nome, cuja vida, cujos defeitos, pecados e eventuais virtudes ele conhece intimamente.
Que carência! — dirá você. Admito. Sou carente de Deus. Sou carente do seu amor. Anseio muito ouvir dele (ainda que indiretamente) algo assim: “você é um filho amado, em quem tenho prazer”.
Bem, o resultado dessas reflexões, surgidas de um susto (um bom susto, por sinal), é que concluí que gostaria de ser como aquele irmão; de estar entre aqueles que bendizem, validam, reforçam, animam, socorrem, confortam e encorajam — extravagantemente — em nome do Pai. Para além do anelo de ser visto e querido por ele, eu gostaria de aprender a abençoar as pessoas com uma palavra boa (e verdadeira), no estilo assembleiano (está bem, está bem; mantenho meu jeitão contido; afinal, nem todo “penté” é expansivo como aquele meu amigo). Mas gostaria de ter nos lábios uma palavra pessoal, de incentivo, de afeto.
Aliás, já pensando em minhas próprias defesas e desconfianças, elaboro um pouco meus anelos, pensando em uma palavra que seja fruto de observação, de atenção, de quem tem olhos para o outro. Em especial, olhos para ver o que há de bom. De modo que, ouvindo-a, os irmãos se sentissem amados por mim e, principalmente, por Deus. Algo parecido com o que diz João a Gaio, em 3 Jo 1-6.
O presbítero ao amado Gaio, a quem eu amo na verdade. Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma. Pois fiquei sobremodo alegre pela vinda de irmãos e pelo seu testemunho da tua verdade, como tu andas na verdade. Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade. Amado, procedes fielmente naquilo que praticas para com os irmãos, e isto fazes mesmo quando são estrangeiros…
Veja como João afirma, confirma — chama de “amado” e, como se não bastasse, diz que o ama. Sobriamente, o presbítero elogia seu filho na fé e fala de sua alegria em relação “à prosperidade de sua alma”; e não faz segredo do seu agrado em relação ao bom testemunho que lhe chegou por terceiros. Bem, imagino o “gás” que essas palavras deram ao Gaio.
Relendo meus anelos, acima, chego apensar que estou abusando da boa vontade do Pai. Como se ele dissesse: “menos, meu filho; menos” (rsrs). Mas agora já disse, e fica. Quer fazer parte disso? Está feito o convite.
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
Gosto de ler os seus artigos no Ultimato, mas, esse foi demais. Fiquei com o mesmo desejo de ouvir do Pai que sou amado, muito amado e cuidado. Minha carência é muito grande. Abraço presbiteriano.