or que existem as promessas? Porque as pessoas prometem. E por que prometem? Bem, eis a nossa questão.

Começo lembrando que um dos grandes alicerces da fé bíblica está nas promessas de Deus. Estamos conscientes, portanto, que prometer é um ato comum, seja no mundo secular, seja no religioso.

Voltamos, então, à nossa questão: qual a razão ou a função da promessa? Não bastaria à pessoa dizer que fará ou não fará; que estará na hora marcada; que voltará da viagem em tempo; que trará o presente (prometido); que será um bom marido etc? Me parece que sim. E acrescento: em boa parte das vezes, a promessa assume a feição de juramento. É quando jurar e prometer são sinônimos.

Lembro-me de um artifício usado em minha família. Para não cometer o pecado de jurar (lembra daquela palavra de Jesus sobre o “não jurarás”?), nós prometíamos. No caso, havia uma distinção semântica que até nós, crianças, compreendíamos: jurar, no caso, era um “sim” ou “não” com esteróides. Esse reforço era entendido como proibido, porque desmoralizava o sim ou o não. Talvez porque lançasse mão de âncoras externas à própria vontade da pessoa, como “a mãe mortinha” ou “a felicidade dos meus filhos”. Se precisou jurar é porque sua palavra já não vale muito, e isso “vem do maligno”. Algo por aí.

Entretanto, prometer não era pecado, porque não havia o reforço da palavra; era usado com o sentido de que se estava comunicando uma firme intenção; imutável, até onde as condições humanas permitissem. Hoje não sei bem se essas sutilezas semânticas se sustentam, mas fizeram parte de minha instrução.

O fato é que a promessa (e que ninguém nos ouça, também o juramento) tem um valor psicológico. Ela produz entre os pólos dessa relação, uma “linha de força” uma segurança especial. Uma coisa é dizer a um filho: “amanhã nós iremos ao parque”; outra, é dizer: “prometo a você que amanhã iremos ao parque”. Claro que a distinção depende bastante das relações existentes entre esse pai e esse filho. Mas imagino que a segunda forma de dizer a mesma coisa tenha o poder de tranquilizar o menino, quanto à real probabilidade de o passeio acontecer. Falo de probabilidades porque os mentirosos também prometem. Talvez mais que os outros.

Minha conclusão é que tanto a promessa quanto o juramento são formas de turbinar uma palavra. A promessa, no entanto, não precisa de ser interposta por “poderes externos”; está entendido que será cumprida, na medida das minhas forças. Portanto, não desmoraliza o sim ou o não, antecipadamente. Trata-se, assim, de uma forte e sincera intenção. O que vai dar mais ou menos valor a essa declaração é a história pregressa da pessoa ou da relação. Se ela é conhecida por cumprir suas promessas, estas terão valor. Em boa parte dos casos, nem será preciso usar a palavra. Bastará dizer: “está combinado; amanhã iremos ao parque”. Mas se, por algum motivo, surgir a necessidade de enfatizar a intenção, lança-se mão da expressão: “eu prometo que…”. Por trás dessas afirmações ou negações, haverá, a lhes dar (ou tirar) força, o caráter de quem fala.

Concluo pensando que não se deve confiar em promessas ou juramentos de estranhos. Por não lhes conhecer o caráter, torna-se impossível saber se estão falando a verdade ou mentindo. Acrescento que nossa confiança nas promessas de Deus está diretamente ligada ao conhecimento que temos dele. Às nossas experiências pregressas. Não se deve confiar em deuses estranhos. Sim, se o nosso Deus nos é, de alguma forma, estranho, também não nos será muito confiável, psicologicamente falando.

Um último pensamento é que esse conhecimento pode ser, de certo modo, indireto. É o caso da reputação. Confiamos em uma pessoa pelo que ouvimos dela. Até prova em contrário. Isso existe, mas já é outra história: a questão da confiabilidade daquele que fala bem dele, da sua testemunha.

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