Haja luz!
Luz! Eis meu anelo para 2007. Pedirei a Deus os recomeços; as gêneses descritas em Gênesis 1, João 1 e Hebreus 1.
No princípio, era o Verbo, que irradiava existência sobre a face do abismo. Bastava a manifestação da vontade criadora e ordenadora do Espírito de Deus, que pairava sobre as águas: “Haja!” E o que antes fora trevas, terror e morte, recompunha-se em luz e vida.
E esse “Haja!” que estava no princípio e era Deus, era a luz e a vida dos homens. Sim, as vidas dos homens também se tornaram sem forma e vazias, e houve trevas sobre elas. A tal ponto que se imobilizaram em cólicas e luto; esvaziaram-se em desorientação, terror e lágrimas. Mas também sobre essas águas pairava o Espírito de Deus. E com ele, a possibilidade de uma ação restauradora de seu Verbo.
No primeiro princípio, ele não pediu licença. Atuou sobre o caos e lhe deu ordem. E a criação retomou seu curso, até à perfeição e descanso do sétimo dia. Já no segundo, ele veio para o que era seu, mas agora precisava ser recebido. O Haja de Deus esperava convite para reorganizar as vidas em trevas.
Minha pequena igreja tem experimentado o caos de uma forma sem precedentes em sua história. Em um mês e meio, sepultamos dois irmãos idosos, um jovem e uma criança.
Quando prejuízos, doenças, desemprego, acidentes, incêndios e outras perdas se sucedem como enxurradas de tsunami, como na experiência de Jó, não nos dão tempo de recuperação. Ficamos confusos e perdidos. Não sabemos como reagir aos fatos ou como ordenar nossos sentimentos. Não conseguimos “juntar os cacos”, rapidamente. Não é difícil prever que Deus será incluído em nossa perplexidade, com questionamentos que, em muito, extrapolarão nossa capacidade de compreender as respostas.
Mais que a alma enlutada, nossa vida sai do eixo. As atividades cotidianas já não são executadas com a mesma facilidade; o sol já não brilha com a mesma intensidade; as noites se tornam espessamente escuras; sentimo-nos estrangeiros em nossa própria cidade, em nosso local de trabalho. Amigos e parentes nos parecem falar por trás de uma parede de vidro. Seu abraço é exageradamente mais forte. Tristemente mais forte. E não nos importamos. Compreendemos e retribuímos, como se também quiséssemos dizer o que não é dito. Sentimo-nos invadidos por caos e solidão; o que se passa dentro de nós é incomunicável. Nem mesmo um grito de socorro encontra palavras, pois esse clamor se expressa por silêncios. Fecha-se em copas: o que tinha de ser, já foi.
Na realidade, nossa alma não encontra palavras para dizer que “a vida se tornou sem forma e vazia; que houve trevas sobre a face do abismo”.
Em momentos assim, importa trazer à lembrança que “a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (Jo. 1:5). Se perda, morte e trevas bateram à nossa porta, vale lembrar que a vida ainda está nele, e a vida é a luz dos homens. Deus ainda pode ser convidado, das profundezas das águas, a vir e proferir seu “Haja luz!
O resultado dessa visitação do Verbo, todos sabemos: “… e houve luz; e viu Deus que a luz era boa” (Gn 1:3,4). Aleluia!
Que esse poder ordenador do Verbo reorganize os corações em minha igreja. E também o meu. Amém.