Opinião
- 19 de julho de 2017
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O poder do testemunho
Por Luiz Fernando
“Os que haviam sido dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem” (Atos 8:4).
Em menos de 300 anos o cristianismo, praticamente, conquistou o Mediterrâneo e a totalidade do Império Romano. Um movimento que começou dentro do judaísmo com doze homens em treinamento intensivo aos pés de um Mestre e ainda quase uma centena de outros seguidores e discípulos com níveis diferentes de comprometimento. Nesse período de vertiginoso crescimento é de se esperar que tempos de paz, muito incentivo e apoio cultural e político, bem como a influência de pessoas poderosas, contribuíssem diretamente para tal sucesso. Também poderíamos esperar que a todo o tempo, os membros desse movimento contassem com a liderança sempre proficiente de líderes bem formados e profissionais. Mas, nada disso aconteceu, pelo menos não o tempo todo e em todos os lugares.
Na verdade, tudo corroborou, debaixo da providência divina, para que o Evangelho se movimentasse em todas as direções, o tempo todo, em todas as camadas sociais. Deus serviu-se de perseguições religiosas, perseguições e intolerâncias culturais e políticas, guerras, epidemias, tráfico de escravos e muitas outras situações para colocar em ação o seu plano de estabelecer Cristo como Rei e Senhor de muitíssimas vidas. O mais impressionante é que nem sempre o Evangelho chegou com um missionário especialmente para isso comissionado. E isso, ainda nos tempos apostólicos. Na esmagadora maioria das vezes o Evangelho foi levado no meio dos poucos pertences de uma fuga às pressas em tempos de perseguição. Outras vezes foi recebido entre os espólios de uma guerra e foi introduzido quase imperceptivelmente pelos expatriados, exilados e escravizados onde quer que seus novos ‘senhores’ os haviam enviados.
O impacto do Evangelho nesse período até Constantino (313) e também depois dele até quase o século V teve como principais obreiros, os seguintes personagens: soldados, mercadores, empregados domésticos, servidores públicos, artesãos, mascates, donas de casa e escravos. Os principais púlpitos eram os mercados, as esquinas, as casas públicas de banho, os escuros, úmidos e insalubres aposentos dos empregados e escravos e as masmorras. A estratégia era uma só, não perder tempo e nem oportunidade para falar de Jesus Cristo e de viver uma nova ética em meio ao seu contexto vital.
As rotas comerciais, as impressionantes estradas da “Pax Romana”, a incessante movimentação dos povos e as rotas migratórias e o gigantesco deslocamento de tropas do exército romano e suas legiões formadas por bárbaros vencidos e recrutados, propiciou um encontro internacional e multiétnico que favoreceu a disseminação da fé cristã entre povos, línguas e raças numa escalada impossível de ser planejada com antecedência. Assim, através do encontro pessoal, dos relacionamentos sociais, do testemunho intencional e apaixonado e da “tradição oral”, Jesus Cristo foi apresentado como único e suficiente salvador, Aquele único que pode dar sentido à essa vida, conforto na morte e certeza da imortalidade.
Não são poucos os casos de grandes conversões ou conversões de pessoas ilustres e influentes que se deram através do comportamento casto, nobre, honesto, sempre magnânimo, gentil, manso e corajoso dos cristãos, cuja função nem sempre passava de insignificante e trivial serviço doméstico. O corajoso testemunho dos cristãos nas arenas diante das feras, ou no cadafalso diante de seus algozes, a serenidade sob a falsa acusação de um tribuno, sempre causou fortíssima impressão, mesmo nos inimigos da fé.
Evidentemente que mais tarde, quando comunidades surgiam da força deste testemunho pessoal e a igreja começava a sua vida, foi preciso a participação de missionários, pastores, evangelistas com especial comissão e conhecimento para agregar valor, profundidade, solidez e racionalidade à novíssima fé dos recém-convertidos. Entretanto, uma lição pode e deve ser aprendida por nós em pleno século XXI: Nada substitui a força dos relacionamentos sociais, o contato real, corpo a corpo, e a convivência com pessoas de fora de nossos arraiais, para o crescimento do Evangelho.
Não há estratégia que possa suplantar o intencional testemunho de um cristão em ambiente hostil, indiferente e até zombador da fé. Os discursos são necessários, claro. Somos a religião da Palavra. Nosso Deus é o Deus da Palavra e é por meio dela que Ele se comunica conosco. Todavia, palavras sem testemunho, sem comportamento, sem procedimento ético é uma palavra ao vento.
O mundo precisa outra vez ser impressionado pela vida dos cristãos. Impressionar-se vendo-nos no dia a dia, no cumprimento de nossas obrigações, na substancial diferença que marca os nossos relacionamentos. Que o nosso testemunho seja outra vez irresistível e queira Deus marcar outras vidas por nossas vidas marcadas por Ele.
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Photo by Jeremy Yap on Unsplash.
“Os que haviam sido dispersos pregavam a palavra por onde quer que fossem” (Atos 8:4).
Em menos de 300 anos o cristianismo, praticamente, conquistou o Mediterrâneo e a totalidade do Império Romano. Um movimento que começou dentro do judaísmo com doze homens em treinamento intensivo aos pés de um Mestre e ainda quase uma centena de outros seguidores e discípulos com níveis diferentes de comprometimento. Nesse período de vertiginoso crescimento é de se esperar que tempos de paz, muito incentivo e apoio cultural e político, bem como a influência de pessoas poderosas, contribuíssem diretamente para tal sucesso. Também poderíamos esperar que a todo o tempo, os membros desse movimento contassem com a liderança sempre proficiente de líderes bem formados e profissionais. Mas, nada disso aconteceu, pelo menos não o tempo todo e em todos os lugares.
Na verdade, tudo corroborou, debaixo da providência divina, para que o Evangelho se movimentasse em todas as direções, o tempo todo, em todas as camadas sociais. Deus serviu-se de perseguições religiosas, perseguições e intolerâncias culturais e políticas, guerras, epidemias, tráfico de escravos e muitas outras situações para colocar em ação o seu plano de estabelecer Cristo como Rei e Senhor de muitíssimas vidas. O mais impressionante é que nem sempre o Evangelho chegou com um missionário especialmente para isso comissionado. E isso, ainda nos tempos apostólicos. Na esmagadora maioria das vezes o Evangelho foi levado no meio dos poucos pertences de uma fuga às pressas em tempos de perseguição. Outras vezes foi recebido entre os espólios de uma guerra e foi introduzido quase imperceptivelmente pelos expatriados, exilados e escravizados onde quer que seus novos ‘senhores’ os haviam enviados.
O impacto do Evangelho nesse período até Constantino (313) e também depois dele até quase o século V teve como principais obreiros, os seguintes personagens: soldados, mercadores, empregados domésticos, servidores públicos, artesãos, mascates, donas de casa e escravos. Os principais púlpitos eram os mercados, as esquinas, as casas públicas de banho, os escuros, úmidos e insalubres aposentos dos empregados e escravos e as masmorras. A estratégia era uma só, não perder tempo e nem oportunidade para falar de Jesus Cristo e de viver uma nova ética em meio ao seu contexto vital.
As rotas comerciais, as impressionantes estradas da “Pax Romana”, a incessante movimentação dos povos e as rotas migratórias e o gigantesco deslocamento de tropas do exército romano e suas legiões formadas por bárbaros vencidos e recrutados, propiciou um encontro internacional e multiétnico que favoreceu a disseminação da fé cristã entre povos, línguas e raças numa escalada impossível de ser planejada com antecedência. Assim, através do encontro pessoal, dos relacionamentos sociais, do testemunho intencional e apaixonado e da “tradição oral”, Jesus Cristo foi apresentado como único e suficiente salvador, Aquele único que pode dar sentido à essa vida, conforto na morte e certeza da imortalidade.
Não são poucos os casos de grandes conversões ou conversões de pessoas ilustres e influentes que se deram através do comportamento casto, nobre, honesto, sempre magnânimo, gentil, manso e corajoso dos cristãos, cuja função nem sempre passava de insignificante e trivial serviço doméstico. O corajoso testemunho dos cristãos nas arenas diante das feras, ou no cadafalso diante de seus algozes, a serenidade sob a falsa acusação de um tribuno, sempre causou fortíssima impressão, mesmo nos inimigos da fé.
Evidentemente que mais tarde, quando comunidades surgiam da força deste testemunho pessoal e a igreja começava a sua vida, foi preciso a participação de missionários, pastores, evangelistas com especial comissão e conhecimento para agregar valor, profundidade, solidez e racionalidade à novíssima fé dos recém-convertidos. Entretanto, uma lição pode e deve ser aprendida por nós em pleno século XXI: Nada substitui a força dos relacionamentos sociais, o contato real, corpo a corpo, e a convivência com pessoas de fora de nossos arraiais, para o crescimento do Evangelho.
Não há estratégia que possa suplantar o intencional testemunho de um cristão em ambiente hostil, indiferente e até zombador da fé. Os discursos são necessários, claro. Somos a religião da Palavra. Nosso Deus é o Deus da Palavra e é por meio dela que Ele se comunica conosco. Todavia, palavras sem testemunho, sem comportamento, sem procedimento ético é uma palavra ao vento.
O mundo precisa outra vez ser impressionado pela vida dos cristãos. Impressionar-se vendo-nos no dia a dia, no cumprimento de nossas obrigações, na substancial diferença que marca os nossos relacionamentos. Que o nosso testemunho seja outra vez irresistível e queira Deus marcar outras vidas por nossas vidas marcadas por Ele.
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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