Palavra do leitor
- 11 de maio de 2020
- Visualizações: 1287
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
A vida na dimensão do lamento
Jesus chorou (Jo 11:35)
Tem momentos em que a vida nos joga na dimensão do lamento.
Esse momento é importante na vida, pois, despedaça castelos de areia, estoura nossas bolhas de sabão, acaba de vez com as ilusões que alimentamos, restando somente pra nós a realidade.
Essa realidade iconoclasta, que despedaça nossas imagens construídas, que triunfa sobre toda projeção que podemos fazer da própria realidade.
A realidade nunca cansa de triunfar sobre a simples ideia que fazemos dela.
(C S Lewis)
Que faz a gente pensar a existência em sua finitude.
Nos joga na dimensão do silêncio, da dor, da qual o próprio salmista encerra seu lamento com uma pergunta pra si: Porque está tão abatida ó minh'alma?
(Salmos 42)
Às vezes a gente passa o dedo na existência e prova e tem gosto de nada.
(Soren Kierkegaard)
Experimentamos o vazio.
Lugar do mistério, onde toda forma de controle é inútil.
Onde não temos conhecimento.
Onde nos resta somente o silêncio e o lamento.
O silêncio do abandono, o silêncio de Deus.
É um silêncio que gera em nós sensibilidade para percebermos que as vezes a vida não requer de nós nada, a não ser o lamento.
O lamento de uma situação inesperada e indesejada.
De uma tragédia.
O lamento da dor, da angústia e do abandono.
Onde o lamento é traduzido em choro.
Esse é momento em que passamos como Brasil e como mundo diante da pandemia, onde mais de dez mil mortes no Brasil nos coloca na vida com os corações aflitos, angustiados, onde não nos resta outra coisa senão o lamento.
O lamento por ver tanta história sendo encerrada, tantas vidas não mais amadas, tantos sonhos encerrados, que agora são lembradas em fotos e nas memórias afetivas dos corações daqueles e daquelas que agora choram e lamentam a perda dessas vidas preciosas.
Mas também é o lamento da sensibilidade da qual podemos sair mais maduros pra vida, mais resolutos, percebendo Deus em nossas dores e andando na vida redescobrindo o lugar de nossa interioridade, de nossas profundezas no qual aquietamos e percebemos o Deus silencioso e presente, imperceptível muitas vezes, mas presente.
Onde percebemos Deus na sua ausência em que fase nenhuma da vida foge ou se esconde diante dele.
Porque nele vivemos, nos movemos e existimos. (Atos 17:28)
Entramos na dimensão da vulnerabilidade, da fraqueza, de nosso ser inacabado.
Então passamos a descobrir a vida nesse paradoxo assim como foi no crucificado.
Anselm Grün comenta: "A transformação das minhas feridas em pérolas significa que eu passo a enxergar minhas feridas como algo precioso. Nas áreas em que eu fui ferido, eu sou mais sensível a outras pessoas. Eu as compreendo melhor. E nos lugares em que eu fui ferido, eu entro em contato com meu próprio coração, com meu próprio ser verdadeiro. Eu desisto da ilusão da minha força, saúde e perfeição. Conscientizo-me da minha fragilidade, e essa consciência me torna mais real, mais humano, mais misericordioso e mais sensível. Meu tesouro se encontra na minha ferida. Aqui, entro em contato comigo mesmo e com minha vocação. Aqui, descubro minhas qualidades. Apenas um médico ferido é capaz de curar."
Aí sim experimentamos a realidade, nossa humanidade, vamos nos tornando seres mais humanos, misericordiosos, empáticos que não desejam se livrar da dor, mas assumi-la, aceitá-la, para então sermos redimidos.
Sermos redimidos de nossas perfeições, presunções, para andarmos despretensiosos e abertos para aprendermos a gestar a vida de outras formas, não como fruto de uma imposição à força, mas fruto de uma vulnerabilidade e fraqueza mansa.
Encontrando dentro de nosso ser inacabado um ponto de partida para uma existência mais qualitativa, viva e solidária com nossas dores.
Uma espiritualidade que não pretende nos levar para céu, mas nos faz experimentar mais o pó da terra, mais o barro, nos tornando mais humanos, na medida em que nos identificamos com o Cristo que chorou e fez do lamento, o ponto em que o silêncio tornou-se um caminho onde nos unimos em nossas decepções e dores, feridas e fracassos, vazios e angústias.
Que a partir desses momentos em que experimentarmos o lamento e o choro de Deus como dimensão de nossa existência, possamos ser conduzidos na fragilidade e vulnerabilidade de nossa humanidade inacabada, mas não sem sermos recriados para uma vivência mais solidária e sensivelmente humana com todas as suas intempéries.
Tem momentos em que a vida nos joga na dimensão do lamento.
Esse momento é importante na vida, pois, despedaça castelos de areia, estoura nossas bolhas de sabão, acaba de vez com as ilusões que alimentamos, restando somente pra nós a realidade.
Essa realidade iconoclasta, que despedaça nossas imagens construídas, que triunfa sobre toda projeção que podemos fazer da própria realidade.
A realidade nunca cansa de triunfar sobre a simples ideia que fazemos dela.
(C S Lewis)
Que faz a gente pensar a existência em sua finitude.
Nos joga na dimensão do silêncio, da dor, da qual o próprio salmista encerra seu lamento com uma pergunta pra si: Porque está tão abatida ó minh'alma?
(Salmos 42)
Às vezes a gente passa o dedo na existência e prova e tem gosto de nada.
(Soren Kierkegaard)
Experimentamos o vazio.
Lugar do mistério, onde toda forma de controle é inútil.
Onde não temos conhecimento.
Onde nos resta somente o silêncio e o lamento.
O silêncio do abandono, o silêncio de Deus.
É um silêncio que gera em nós sensibilidade para percebermos que as vezes a vida não requer de nós nada, a não ser o lamento.
O lamento de uma situação inesperada e indesejada.
De uma tragédia.
O lamento da dor, da angústia e do abandono.
Onde o lamento é traduzido em choro.
Esse é momento em que passamos como Brasil e como mundo diante da pandemia, onde mais de dez mil mortes no Brasil nos coloca na vida com os corações aflitos, angustiados, onde não nos resta outra coisa senão o lamento.
O lamento por ver tanta história sendo encerrada, tantas vidas não mais amadas, tantos sonhos encerrados, que agora são lembradas em fotos e nas memórias afetivas dos corações daqueles e daquelas que agora choram e lamentam a perda dessas vidas preciosas.
Mas também é o lamento da sensibilidade da qual podemos sair mais maduros pra vida, mais resolutos, percebendo Deus em nossas dores e andando na vida redescobrindo o lugar de nossa interioridade, de nossas profundezas no qual aquietamos e percebemos o Deus silencioso e presente, imperceptível muitas vezes, mas presente.
Onde percebemos Deus na sua ausência em que fase nenhuma da vida foge ou se esconde diante dele.
Porque nele vivemos, nos movemos e existimos. (Atos 17:28)
Entramos na dimensão da vulnerabilidade, da fraqueza, de nosso ser inacabado.
Então passamos a descobrir a vida nesse paradoxo assim como foi no crucificado.
Anselm Grün comenta: "A transformação das minhas feridas em pérolas significa que eu passo a enxergar minhas feridas como algo precioso. Nas áreas em que eu fui ferido, eu sou mais sensível a outras pessoas. Eu as compreendo melhor. E nos lugares em que eu fui ferido, eu entro em contato com meu próprio coração, com meu próprio ser verdadeiro. Eu desisto da ilusão da minha força, saúde e perfeição. Conscientizo-me da minha fragilidade, e essa consciência me torna mais real, mais humano, mais misericordioso e mais sensível. Meu tesouro se encontra na minha ferida. Aqui, entro em contato comigo mesmo e com minha vocação. Aqui, descubro minhas qualidades. Apenas um médico ferido é capaz de curar."
Aí sim experimentamos a realidade, nossa humanidade, vamos nos tornando seres mais humanos, misericordiosos, empáticos que não desejam se livrar da dor, mas assumi-la, aceitá-la, para então sermos redimidos.
Sermos redimidos de nossas perfeições, presunções, para andarmos despretensiosos e abertos para aprendermos a gestar a vida de outras formas, não como fruto de uma imposição à força, mas fruto de uma vulnerabilidade e fraqueza mansa.
Encontrando dentro de nosso ser inacabado um ponto de partida para uma existência mais qualitativa, viva e solidária com nossas dores.
Uma espiritualidade que não pretende nos levar para céu, mas nos faz experimentar mais o pó da terra, mais o barro, nos tornando mais humanos, na medida em que nos identificamos com o Cristo que chorou e fez do lamento, o ponto em que o silêncio tornou-se um caminho onde nos unimos em nossas decepções e dores, feridas e fracassos, vazios e angústias.
Que a partir desses momentos em que experimentarmos o lamento e o choro de Deus como dimensão de nossa existência, possamos ser conduzidos na fragilidade e vulnerabilidade de nossa humanidade inacabada, mas não sem sermos recriados para uma vivência mais solidária e sensivelmente humana com todas as suas intempéries.
Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
- 11 de maio de 2020
- Visualizações: 1287
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Revista Ultimato
- +lidos
- +comentados