Mais uma prévia da Bíblia Missionária de Estudo que será lançada pela Sociedade Bíblica do Brasil por ocasião do Congresso Brasileiro de Missões em outubro deste ano. Segue-se uma curiosidade:

Então o que é que podemos dizer de Abraão, o antepassado de nossa raça? O que foi que ele conseguiu? Se foi por causa das coisas que ele fez que Deus o aceitou, então ele teria motivo para se orgulhar, mas não para se orgulhar diante de Deus. Pois o que é que as Escrituras Sagradas dizem? Elas dizem:“Abraão creu em Deus, e por isso Deus o aceitou.” Romanos 4.1-3

Paulo escolheu Abraão como o seu “estudo de caso”, por vários motivos. Primeiro, Abraão foi o primeiro de receber a incumbência de “abençoar todas as famílias da terra”, que para Paulo e a igreja primitiva significa que Abraão é o pai não só dos judeus, pela bênção prometida de Deus para os seus descendentes, mas também é pai de todos aqueles que põe a sua fé em Deus inclusive os não judeus. E porque a fé de Abraão precedia a lei, Paulo argumenta que os não judeus não precisam das “marcas” principais naquela época da lei como a observância da circuncisão, do sábado e das lei alimentícias.

Segundo, porque Abraão era o pai fundador de Israel (Isaías 51.1-2; Gênensis 12.1-3) e por isso serve de paradigma para todos os judeus. E Paulo sabia que nem sempre os judeus entenderam direito a história de Abraão. Os rabinos viam em Abraão o maior exemplo de retidão e justiça e o consideravam o “amigo” especial de Deus (2 Crônicas 20.7; Is 41.8; Tiago 2.23). Entenderam que Abraão mereceu este favor de Deus pela sua retidão durante a vida toda (Gênesis 15.6; compare Jubileu 23.10; 24.11; Siraque 44.20-21; 1 Macabeus 2.52), ou que Abraão era justo porque Deus havia escrito a Lei no seu coração antes (2 Baruque 57.2; Qumrã Documento da Comunidade 3.2-3; Mishná Kiddushin 4.14). Até citaram as Escrituras para dizer que Deus o abençoou porque obedeceu a Deus (Gênesis 22.15-18; 26.2-5), sem perceber que estes versos falam da obediência de Abraão depois da sua justificação (veja Tiago 2.17-21; Efésios 2.10). Paulo entendeu a importância de Abraão na auto identidade dos judeus e queria contar direito a sua história, o que nos leva ao terceiro motivo por que Paulo cita Abraão.

Paulo cita Abraão, em terceiro lugar, porque o plano de Deus de reverter o efeito do pecado na história da criação começou com o chamado de Abraão. E isto Deus fez prometendo abençoar Abraão e todos os seus descendentes (os judeus) e, por meio deles, abençoar todas as famílias da terra (gentios). Logo, a história de Abraão tem tudo a ver com a justificação de judeus e gentios que Paulo expõe nesta carta.

Em quarto lugar, ao contar a história de Abraão, Paulo ilustra a maneira como se deve ler as Escrituras, com os olhos da fé e não o esforço humano de ganhar favor de Deus, uma distinção que Paulo apresentou no capítulo 3. Paulo propõe um jeito de ler as Escrituras que está servindo bem até os dias de hoje:

  • lendo com grande abrangência (ao longo das Escrituras) e
  • procurando o cumprimento das promessas de Deus mais adiante (o que chamamos de “revelação progressiva”), acima de tudo, cumprimento na pessoa de Jesus Cristo.

Erramos muito hoje quando lemos e aplicamos textos, por exemplo do Antigo Testamento, sem este simples procedimento: perguntar como estas coisas se cumprem adiante, qual o seu “destino” no tempo de Jesus ou nos tempos de hoje ou mais adiante, e acima de tudo, perguntando se e como estas coisas são cumpridas ou não em Cristo Jesus.

E em quinto lugar e ligado ao motivo anterior, Paulo, ao citar Abraão e Davi, novamente quer demonstrar que a sua perspectiva não era novidade, e sim, simplesmente a perspectiva das Escrituras, lidas com os olhos da fé e devidamente arrazoadas.

 

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