Semana 57: Lucas 15.11-32

E Jesus disse ainda: — Um homem tinha dois filhos. (v.11)

A parábola do filho perdido se encontra apenas no Evangelho de Lucas e faz parte duma trilogia que inclui também as parábolas da ovelha perdida e da moeda perdida (15.1-10). A parábola do filho perdido é talvez a mais conhecida das parábolas e por isso mesmo, a gente acaba não prestando a devida atenção para perceber o peso que esta parábola apresenta.

É bom lembrar-se da orientação geral a respeito do propósito das parábolas de falar para pessoas muito religiosas para que elas não conseguem ouvir e entender. Isto é, o significado mais fácil de entender provavelmente não seja a mais certa. Precisamos cavar mais, prestar atenção e pedir a Deus olhos para ver, ouvidos para ouvir, e coração aquebrantado para entender e obedecer. Façamos isso, cada um silenciosamente e genuinamente?

O que aconteceu nesta parabola?  Kenneth Bailey, missionário da minha missão, trabalhou como Diretor da Escola de Teologia do Oriente Próximo em Beirute e pesquisou a fundo o pano de fundo cultural dos Evangelhos. Ele faz as seguintes observações :

  • No versículo 12, o filho mais novo, quando pede a sua parte da herança do pai, efetivamente está pedindo a morte do seu pai. Isto, porque simplesmente a herança se herda só depois da morte de quem se herda a herança. Somente no final da vida, pode-se passar a herança para seus filhos, caso contrário, o pai continua usufruindo das suas terras e bens até a sua morte. Toda a comunidade ao qual a família pretence iria ficar irada com um filho que pede a herança enquanto o pai ainda vive..
  • No versículo 13, o filho mais novo obviamente vendeu a sua parte das terras porque levou com ele a sua parte (já convertido em dinheiro). Só que a lei não dava este direito para ele porque isto significa que o pai não teria o usufruto destas terras para viver, outro afronto por parte do filho mais novo. O filho mais novo, na verdade, teria que fazer dois pedidos, um para receber a sua parte das terras e outro para vendê-la. Além disto, ao vender a sua parte, que por sinal era um terço (dois terços era a parte do filho mais velho), o intenso desprezo da comunidade ao vê-lo negociar as terras do pai iria crescer mais e mais. A única saída dum filho assim era de fugir do país e assim ele fez.
  • Nos versículos 12-13, embora ele não tenha pedido, o filho mais velho aceitou a sua parte (dois terços) sem protesto ao pai e sem fazer o seu papel devido como irmão mais velho de tentar conciliar o filho mais novo com o seu pai. Isto mostra que o relacionamento do pai com o filho mais velho também não era bom.
  • Nos versículos 12-13, surpreendentemente o pai reagiu como nenhum pai normal da Palestina reagiria. Simplesmente repartiu os seus bens entre os dois irmãos. A lei judaica até permitia que ele atendesse o pedido do filho mais novo mas no ato legal de passar a escritura dos seus bens para os filhos, o pai poderia tranquilamente alegar que fosse manipulado e a lei daria apoio ao pai e anulando a legalidade do pedido. Entretanto, o pai fez o total inesperado e repartiu os bens entre os dois filhos.
  • Nos versículos 14-17 e logo depois de chegar no país distante, o filho mais novo desperdiça o seu dinheiro na sua vida pecaminosa (você pode preencher os detalhes!) e logo o dinheiro acabou. Pior, chegou uma fome e o filho é obrigado a se grudar num estangeiro para sobreviver. Quando eu estava no nordeste nos últimos anos, aprendi uma nova palavra: pidão. Sabe o que é um pidão? Sim, todo mundo sabe, e na Palestina antiga havia um jeito cultural de se livrar dum pidão. Sabe o que você fazia? Você dava um emprego que o pidão ele não iria querer e logo ele sumiria. Esta era a estratégia na Palestina antiga. Imaginem o cidadão diante deste judeu jovem. “Ahá! Tenho uma tarefa para ti, cuidar dos meus porcos.” Para um judeu, não poderia haver uma atividade pior. Efetivamente, exigia a abnegação da sua própria identidade como judeu. E qual era o salário? O direito de comer a comida dos porcos, que por sinal, era uma fruta preta, muito amarga e humanamente indigesta duma alfarrobeira selvagem. Tão ruim que era que o filho não conseguia fazer a comida descer. Daí, sem dinheiro, sem emprego com o mínimo de condições de permanecer vivo, e morrendo de fome, o filho “caiu em si”.
  • O texto diz que “caiu em si”, “se-ligou”, não que ele se arrependeu….detalhe importante. Era a necessidade física que motivou este moleque a pensar no seu pai e no seu lar, não uma transformação interna e moral. Tanto que planejou a maneira como ele ia se apresentar diante do pai. O plano era nobre. Ao invés de pleitear o seu lugar como filho, ele iria se oferecer como um empregado asalariado. A gente esquece que para voltar à casa do pai, ele precisava passar pela sua aldeia e conviver com a sua comunidade. E a comunidade estava muito aborrecida com este moleque. Como asalariado ele teria condições de restituir os bens que ele adquiriu do seu pai, pelo menos começar. E assim poderia eventualmente apaziguar a comunidade e salvar as aparências. Este era o seu plano. Ele estava se preparando para fazer as reparações que demonstassem a sua sinceridade.
  • Finalmente, a reação do pai no retorno do filho. O que seria “normal”? Na cultura brasileira o que seria normal? O que vocês acham? … Na Palestina antiga o pai provavelmente espera que o seu filho fracasse. Ele seria considerado morto. E se voltasse, teria que mendigar. A aldeia da família também trataria o filho com severidade. O pródigo seria escarnecido por um multidão a hora que fica sabendo que o filho voltou. Mas o pai nesta parábola sabe muito bem como seu filho seria tratado pela comunidade e tudo que lemos sobre o cenário a seguir pode ser entendido melhor como uma série de atos dramáticos calculados para proteger o filho da hostilidade da aldeia, e para restaurá-lo à comunhão da comunidade. Tudo começa quando o pai sai correndo estrada fora.

1. NÃO se condiciona o amor (dê um beijão). Os nobres orientais não correm. Com suas roupas esvoacantes correr seria uma grande humilhação. Moços correm, homens simples correm, mas não os grandes homens da sociedade. Certamente a cena atrairia uma multidão para assistir. O pai faz com que a reconciliação se torne pública, na entrada da aldeia. E assim o filho entra na aldeia sob a proteção do pai. Ao invés de experimentar a hostilidade que ele merece, o filho, com os olhos arregalhados depara a cena do seu pai correndo na sua direção, uma demonstração visível e inesperada de amor em humilhação. Ao invés de exigir a humilhação do filho, é o pai justo que se humilha e o filho certamente se despedaça. Não há palavras para tamanho amor e, de fato, o pai não pronuncia palavras. Ele demonstra atos concretos.

Primeiro ele corre. (Quantos de nós ficaríamos imóveis, de braços cruzados, um olhar sério, exigindo que um filho deste chegasse até nós). O pai corre.

Segundo, o pai dá um beijo, mas vejamos só aonde ele beija. Dá um beijo no rosto e assim impede que o filho se curva devidamente para beijar a mão ou o pé do pai, o que seria apropriado da sua parte. O pai não deixa o filho se humilhar. Dá um beijo no rosto. Para um pai oriental, um beijo no rosto é sinal de perdão e é um sinal público. A palavra usada para “beijar”, neste caso, significa “beijar repetidamente”.

Finalmente, O amor do pai era um amor incondicional, sem lembrança de maldade, afetivo, carinhoso, humilde e perdoador. Nada de palavras tipo, “eu te avisei”, “tú foste burro mesmo”, “espero que tenha aprendido a sua lição”. Nada disto. Nem sequer esperava o filho falar. O pai deu um beijo no rosto, coisa gostosa até os dias de hoje. Pais, às vezes não há o que falar para seu filho. Não os humilhem. Dêem o belo beijo no rosto e espera em Deus por cura divina.

2. NÃO se questiona o seu próprio arrependimento (volte para a casa que te pertence). O filho, mesmo chocado com a reação do pai, falou, mas falou apenas metade do seu discurso. Aquela parte, “faze de mim um servo asalariado” ficou faltando. Só conseguiu falar, “Pai, pequei contra o céu [contra Deus, NTLH] e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho!” Dizer que pecou contra o céu não é somente uma outra maneira de dizer que pecou contra Deus. Mas também inclui o pecar contra a maneira que se deve viver. O filho mais novo havia agredido grosseiramente o nós chamaríamos do bom senso, do jeito que se deve comportar-se. Mas duas coisas são especialmente importantes aqui: o comportamento do filho e a reação do pai.

Acredito que o filho voltou para casa não por arrependimento, e sim por necessidade. Certamente remorso, mas o arrependimento, que na nossa cabeça depende unicamente de quem se arrepende, às vezes, só se completa com a ajuda de fora. Isto me lembra duma conversa que eu tive esta semana com um amigo querido aqui de Florianópolis. Ele estava querendo saber mais sobre o processo de se tornar discípulo de Cristo, mas ainda tinha bastante apego a coisas que ele mesmo sabia não eram compatíveis com a fé. Se eu entendi bem, ele estava dizendo algo assim, “eu quero, mas não consigo”. E a minha reação era imediata: “que bom, não conseguir é o primeiro passo.” E depois contei a minha experiência de entrega a Jesus depois de tentar diversas vezes mas não “conseguir”. De fato, eu precisava chegar ao ponto de dizer, “Deus não quero mais viver a minha vida do jeito que vivo hoje, e isto quer o Senhor exista, quer não. Não quero mais, mas também não sei mais o que fazer. Favor, se o Senhor existe, tome a minha vida.”

O arrependimento do filho mais novo não era completo e não era, digamos, puro. Não importa. Ele tomou o primeiro passo e depois, o pai o ajudou mostrando que não era como assalariado, e sim, com filho que ele teria que voltar, e desta forma ajudou o filho mais moço a completar o seu próprio arrependimento.

Filhos, voltem para casa. Vocês sabem onde está o seu lar. Vocês sabem. Voltem para casa mesmo que estejam morrendo de vergonha, ou remorso, mas não sabem se vão ser ou não transformados. Voltem para casa. Deixem seu Pai te ajudar com a sua transformação ainda incompleta e com o seu arrependimento ainda não aprofundado. O primeiro passo é voltar para casa do Pai.

3. NÃO se mede o perdão (abra bem os braços). Pais, não questionem o arrependimento dos seus filhos. Não se mede o perdão. Perdoem. Amem. Corram. Beijem. Abram bem os seus braços. É isto que os pais fazem.

4. NÃO se vive sem festa (coma prá caramba).
O pai não deixou o filho terminar. Como nós somos diferentes, exigindo que os filhos expliquem tudo! O pai não precisava saber mais e também não precisava falar mais com o filho. Precisava mostrar seu amor em ação. O pai fez três coisas bem concretas e inesquecíveis. Mandou vestir o filho com a melhor roupa, colocou anel no dedo e sandálias nos pés e mandou matar o bezerro gordo. Vamos ver cada um destes atos.

O pai mandou seus empregados vestirem o filho com a melhor roupa, que obrigatoriamente seria o roupão do próprio pai que usava apenas em momentos de grande solenidade. Veja bem, ele não mandou o filho se vestir, mas mandou seus empregados vestirem o filho. Afinal, os empregados, diante duma situação destas, não sabiam mais qual seria a reação apropriada. Mas agora, não há dúvida. Trate este filho como filho meu. Ponha o anel de autoridade nele. (E assim tirou a dúvida da aldeia). E ponham sandálias nos seus pés. Só os senhores usavam sandálias. Os empregados andavam descalços. Tudo isto indica total aceitação e restauração como filho. E indica isto publicamente. Mas há mais…

Reparou que o pai mandou trazer o bezerro gordo e não um bezerro gordo? Cada família de certa condição financeira na Palestina antiga possuía um bezerro especial que engordava só para ocasiões muito raras, como, por exemplo, a visita do governador. O pai não mandou buscar um frango assado na esquina ou até mesmo um churrasco qualquer. Ele mandou buscar e matar O bezerro gordo. Outro detalhe que devemos reparar. Um bezerro destes dava para alimentar umas 100 pessoas. Sem geladeiras, os animais uma vez abatidos, precisavam ser comidos. Ninguém colocava os restinhos na geladeira. Portanto, o pai estava indubitavelmente promovendo uma festa para a comunidade toda. Por que? Porque este meu filho estava morto e viveu de novo. Estava perdido e foi achado.

Queridos, a reconciliação com o Pai, o retorno para casa, é motivo de grande festa: bolos tortas, picanhas e costelas de todo tipo.

Desafio

Acredito que tudo já foi dito. Apenas quero chamar atenção para mais um detalhe. Quando nós lemos as parábolas da ovelha perdida ou do filho perdido, pensamos logo na analogia da conversão. E sem dúvida, a conversão é um retorno ao lar e um bem-vindo do Pai e de toda a comunidade. Entretanto, o filho perdido foi filho do início até o fim bem como a ovelha era ovelha antes de se perder. O que estou querendo dizer é que o filho perdido pode ser tanto aquele que nunca experimentou plenamente salvação e pode ser também aquele que experimentou mas “trocou” por um monte de bobagens que esta vida oferece. Esta mensagem é para ambas as pessoas, você que quer mas não consegue dar a sua vida a Jesus, e você também que já deu, já morou na casa do Pai, comeu a sua comida, viveu debaixo da sua proteção, mas quis experimenta algo, talvez os prazeres, que só este mundo sabe oferecer. Para ambas as pessoas, eu digo, voltem ao Pai. Venham para casa!

  1. A parabola do filho prodigo despertou um coisa em mim porque quando o filho peca e pede ajuda o pai o pai perdoa o filho e faz uma festa. Assim é com Deus quando você peca contra ele e se arrepende Deus te perdoa e faz uma festa para ele porque ele estava morto para ele e vivo para esse mundo. Mais quando ele pede o perdão, ele morre para o mundo e nasce para Deus. E isso traz uma grande alegria para o nosso senhor, o faz com que ele nos perdoe e faz uma festa para nós. E nunca é tarde para pedir perdão ao senhor. Não pense só porque você pecou muito Deus não vai te perdoar… ele vai te perdoar, sim. Então, siga em frente e peça perdão para Deus. E sempre que puder fale sobre o amor dele para as pessoas. Não tenha vergonha dele. Na Bíblia fala que aquele que se envergonhar de mim eu tambem se envergonharei de ti.

  2. Maravilhoso!! O amor de um pai e sua demonstração. Aprendi que como mãe devo receber meu filho de braços abertos, amá-lo e perdoar sem questionamentos. O arrependimento e as mudanças virão com o tempo e a ajuda do amor do pai.
    Senhor me ensine a ser uma mãe melhor, em nome de Jesus, amém!

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