Semana 27: Lucas 8.1-4a

Algum tempo depois Jesus saiu e viajou por cidades e povoados, anunciando a boa notícia do Reino de Deus. Os doze discípulos foram com ele, e também algumas mulheres que haviam sido livradas de espíritos maus e curadas de doenças. Eram Maria, chamada Madalena, de quem tinham sido expulsos sete demônios; Joana, mulher de Cuza, que era alto funcionário do governo de Herodes; Susana e muitas outras mulheres que, com os seus próprios recursos, ajudavam Jesus e os seus discípulos. Uma grande multidão, vinda de várias cidades, veio ver Jesus.

Outra passagem curiosa, tanto pela informação que traz quanto pela negligência da mesma informação nos outros três Evangelhos.

A informação em si já é impressionante dentro de um contexto onde praticamente nem sequer se mencionava mulheres, muito menos ressaltava os seus bon atributos, especialmente quando estes atributos eram o dever dos homens! Ken Bailey, um estudioso do Novo Testamento criado no Oriente Médio onde também passou a vida profissional ensinando a Bíblia, no seu livro, Poeta e campones, esclarece que até hoje naquelas regiões não se menciona as mulheres. Mas Lucas as coloca ao lado dos doze discípulos e destaca o seu papel como financiadoras do ministério de Jesus. E três são chamadas por nome e descritas com certo detalhe. Talvez isto se deve ao fato de Lucas ser o único autor gentio do Novo Testamento e por isso se simpatiza mais com gentios e outros “desprivilegiados” como as mulheres. Talvez não. Fato é que as mulheres recebem um destaque em Lucas e Atos que não recebem nos outros Evangelhos. E isto nos apresenta com outra enigma…

Por que Mateus, Marcos e João não nos dão esta mesma informação? Pelo seu preconceito ou de otra sorte indisposição de destacar papeis positivos de mulheres (de certo modo, a mesma coisa que preconceito)? Não sei responder esta pergunta, mas acho importante fazê-la. Importante porque suspeito que tendemos, pelo menos nós homens (e quem sabe até algumas mulheres também), a perpetuar esta mesma “tradição” de indisposição.

E disposição e indisposição tem sido o assunto das últimas reflexões. Ou seja, a leitura das Escrituras (ou até mesmo qualquer texto) não depende unicamente de ferramentas objetivas nas mãos de quem quer que seja. Depende também de disposições e indisposições. Envolve também posturas…

Oração

Pai querido, como Jesus orava, dá-nos olhos para ver e ouvidos para ouvir, para que ouçamos a Tua voz. Em nome de Jesus. Amém.

  1. Eu me deleito a rir com papo de saboneteira!

    Aquela coisa que ensaboa até parecer a cobertura uniforme a lavar a sujeita. Vale para o glacê no bolo.

    Tem o papo dos esteroides teológicos. Funciona assim, imagina-se uma ideia qualquer por almondegas mal digeridas e tenta-se tirar ‘lições’ para uma audiência ou para cumprir agenda de produção.

    Exemplo de papo de saboneteira?

    “Não sei responder esta pergunta [Por que Mateus, Marcos e João não nos dão esta mesma informação?], mas acho importante fazê-la. Importante porque suspeito que tendemos, pelo menos nós homens (e quem sabe até algumas mulheres também), a perpetuar esta mesma “tradição” de indisposição.”

    Non sequitur, doutor!

    O que é que Lucas tem a ver com os demais ou com todos; ou um (Lucas) por mencionar os outros três e por estes ‘omitir’ (aliás, a inserção de ‘omissão’ ou ‘omitir’ é do articulista que mete, como de costume, o que lhe inspira as ruminações de volta ao texto bíblico na boca dos evangelistas) não é dito, mas a pergunta feita julga ser legítima!

    Maionese é isso, bate para qualquer lado! Cana ao vento!

    “E disposição e indisposição tem sido o assunto das últimas reflexões. Ou seja, a leitura das Escrituras (ou até mesmo qualquer texto) não depende unicamente de ferramentas objetivas nas mãos de quem quer que seja. Depende também de disposições e indisposições. Envolve também posturas…”.

    O Doutor está certíssimo ao ruminar que não depende o exame de texto algum de ferramentas objetivas. Concordo!

    Concordo e entendo, posto que é justamente esse passar maionese no pão da permissividade textual que garante a produção e4 o salário de muitos e do muito que se produz em textos bíblicos.

    Cada um ganha o pão honestamente com a manteiga que lhe escorre pelos dedos!

  2. Permita-me uma ruminância deste pobre aqui, rsrs… Sem antes, porém, reiterar minha admiração e respeito pelo Doutor.

    Não dá para comparar Lucas com outros evangelistas, pelo menos, não na busca por semelhanças, a não ser para apreciação das diferenças. Os ruminantes de plantão trazem certo “trunfo na manga” na alegação de que algumas particularidades de Lucas: Pode ter sido fruto da manipulação dos concílios, interesses políticos… Nada disso! A bem da verdade, aqui, vemos mais uma vez a questão da importância do contexto.

    Lucas, além de sua perspectiva histórica, do cuidado com a preservação do legado e consciente da importância do registro está envolvido numa tarefa que podemos chamar de “desescatologização” E já que estamos falando em contexto histórico, a questão das mulheres se encontrava na categoria dos excluídos, pelo que o Historiador Lucas teve o cuidado de registrar com entusiasmo o tratamento que Jesus deu às mulheres. Isso pode ser considerado também no ministério de Paulo, quando este observa o silêncio devido às mulheres, que além de denunciar o preconceito existente, permite, por causa de Lucas uma outra abordagem que trata do entusiasmo das mesmas em resposta ao tratamento dado àquele gênero, por Jesus.
    Amigo Timóteo, não estou fechando as propostas, mas é só uma ruminação, rsrs…
    Permita-me ainda um fato comparativo:

    Quando eu era pequeno fui uma vez ao zoológico, no Rio. Vimos um pavão. Diz a lenda que quando ele abre as azas para se exibir e, se alguém grita: olha o pé dele… Ele fecha as azas envergonhado (por que será? Por ser a base? Num programa televisivo daqueles que dá prêmios se acertar a pergunta, o apresentador perguntou qual era o símbolo do Pantanal, as opções eram: o jacaré, a onça e jaburu. Todos nós aqui erramos, porque era o jaburu. Nunca imaginávamos que um nome tão feio, representasse um pássaro tão bonito o tuiuiú.

    Copiou? Grande abraço, amigo Timóteo.

  3. Ainda estamos devendo um libelo às mulheres do Novo Testamento. Infelizmente, muitas abordagens contrárias estão ocupadas em combater o feminismo, esquecendo completamente o papel feminino no desenvolvimento da Igreja. Somente a “mudança” do status delas do Templo/sinagoga para o Cenáculo já renderia um bom trabalho.

    Abraços!

  4. Sitz IM Leben, Doutor! Corrija aí!

    A expressão, que o Doutor deve ter copiado-e-colado em algum lugar é realmente usada na exegese de textos bíblicos.

    E o Doutor também gosta de ‘form criticism’? Essas coisas na PCA e na IPB (a antiga, claro!) são meio anátemas. Na IPI nem tanto.

    Com o “EM” do Doutor, a “… disposição e indisposição tem sido o assunto das últimas reflexões” seria o ‘Sitz’, enquanto o ‘historical setting’ seria o pensamento de Lucas sobre o mulherio?

    ‘Entendo’: a gramática e a semântica é o “EM” do Doutor. O Waldyr Carvalho Luz lhe daria um zero redondinho, mas sem maldade! Aprendeu alemão só para fazer o doutorado!

    E era humilde, e quando ‘ruminava’, era melhor prestar atenção.

    Faltou ao Doutor o cuidado de um Rev. Álvaro Reis (adorava comer o chamado ‘ovo quente’ sem sujar a barbicha alva!) e até do Dr. Reverendo ‘Guilherme’ Kerr (como ficou conhecido).

    Conheces dele a historinha da vogal no ‘daleth’ do hebraico que descobriu-se mais tarde um cocozinho? Pois é, tinha essas no anedotário daquele grande homem. Estudei muito na gramática dele.

    Mas o Doutor, a despeito do grisalho da barbicha e da leve carapinha comida pela clara calvície, ainda é jovem, brilhante, e tem futuro!

    • Acertou! É “i” e não “e”. Estou terrivelmente envergonhado! Como será que poderia eu ter cometido tão grande burrada revelada por um brilhante! De onde poderia ter tirado que “em” em alemão seria “im” e não “em”. Ao pé da letra, Sitz im Leben é “situação em vida” de onde se faz a interpretação, “historical setting”. Mas claro, não estou dizendo nada que o amado já não sabe. Ah, uma nota, realmente achas que somente a crítica de forma se utiliza da expressão? Seria bom ampliar um pouco mais a sua leitura de exegese.

  5. É verdade amigo Timóteo,

    Para uma melhor tradução o Sitz im leben deve ser considerado, mas aqui me refiro mais propriamente ao Sitz im leben der Urkirche na questão da desescatologização que Lucas se envolve a fim de “resolver” a demora da parousia. Concordando contigo, para uma exegese comprometida, desprezar essa riqueza de contexto seria um erro fatal. É por isso que digo que hoje é moda ir nos “originais”. Sem essas considerações o camarada sai de lá gritando: eureka, eureka! Falando um monte de bobagens. A propósito, já está à venda a bíblia “Revelada”, obra de um brasileiro, considerando todo o trabalho e esforço bem como a intenção do, como é conhecido o autor, mestre, vá lá saber, não é mesmo?

  6. Agora, não significa que estamos pontificando a questão, ok? São abordagens, a partir de estudos a fim da compreensão das especificidades de cada um, e Lucas, assim como João, merece essa consederação por sofrer, em sua teologia a simploriedade da religiosidade.

    Isso corresponde dizer que Lucas, em sua tarefa, não deixa totalmente a parousia, nem muito menos o caráter escatológico de sua mensagem, mas prudentemente, trabalha uma condução com esses cuidados supracitados.

    Aliás, a gente crê que o Espírito Santo, que é o Espírito de Jesus, na visão delel , é que, de fato, conduziu tudo.

    Abração.

  7. Só para clarear Dr. Timóteo,

    Quando falei sobre a “bíblia revelada” esse é um título de uma bíblia mesmo que traz uma tradução do novo testamento e que também já foi lançada o VT. Obra de um brasileiro chamado Nelson. Também não significa que eu esteja desmerecendo a obra dele. Então fica aqui esclarecido que o que eu disse não há nenhuma relação com o seu rabalho junto à SBB.

    Atenciosamente

    • Obrigado pelo esclarecimento, Sergio. Não conheço esta publicação, A Bíblia Revelada. O meu trabalho com a SBB durante os últimos 2-3 anos me trouxe uma impressão melhor ainda do seu trabalho que antes. Estamos no quarto ano do projeto, A Bíblia Missionária de Estudo e esperamos vê-la publicada no segundo semestre de 2.014, em tempo para o Congresso Brasileiro de Missões em outubro daquele ano, se Deus quiser e a gente mantiver o pique!

  8. Desculpe-me o “bate ái no Google que você vai achar lá”
    Na verdade eu estava respondendo então copiei de minha resposta e colei aqui.

    Peço-lhes, que se o senhor quiser conferir, no Google há referências maiores. Não disponibilizei nenhum atalho por não saber. Desculpe, rsrs..

    Sincero abraço e respeito.

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