Bildad de Chua respondeu, dizendo: “Deus é soberano e temível, lá do céu, faz reinar a paz. Os seus servidores são batalhões incontáveis e a sua luz ilumina toda a humanidade. Um homem não consegue ter razão contra Deus, um simples mortal nunca sai inocente. Até a Lua se apresenta sem luz e as estrelas perdem brilho diante dele, quanto mais o homem, criatura insignificante, que não passa dum simples verme!”

Job respondeu, dizendo: “Que boa maneira de ajudar a quem está sem forças, de socorrer quem não consegue erguer os braços!… (Sociedade Bíblia de Portugal)

Reflexão

Tanto a resposta do Bildade quanto a do Jó são afirmações verdadeiras. É verdade que Deus é o soberano sobre absolutamente tudo e diante dele, nenhum ser humano pode contrariá-lo com êxito. Bildade falou a verdade. E também é verdadeira a repreensão que Jó faz, de que este tipo de verdade, a verdade que Bildade contou, tem força zero para consolar os aflitos. Jó falou a verdade. Mas ambas as verdades se vestem de ironia, bastante ironia. E a ironia quase sempre tem o efeito inverso, neste caso, de transformar a verdade em falsidade. Ou será que estou exagerando?

A verdade de Bildade se torna “falsa” porque erra na sua aplicação. Não se aplica, como ele imagina, à situação específica de Jó. Mas também a réplica de Jó se torna “falsa” porque ao invés de se humilhar diante deste Deus soberano, Jó se chateia cada vez mais e se afunda cada vez mais na sua amargura. E assim a sua “inocência” em termos da causa do seu sofrimento acaba se transformando cada vez mais em culpabilidade em termos da sua contrição, ou melhor, da sua falta de contrição diante do Deus Soberano.

A lição é especialmente relevante para líderes cristãos. Será que nós também, como Bildade, afirmamos “verdades” que não se aplicam aos nossos relacionamentos e assim intensificamos mais ainda o desentendimento e a inimizade? Ou como Jó, afirmamos ironicamente a verdade do outro a nosso respeito com a finalidade também de minar a paz e nos auto-justificar com aquela falsapiedade?

Não sei de você, mas eu sou duplamente culpado… tanto da ironia encrenqueira de Bildade quanto da ironia orgulhosa de Jó.

Oração

Deus, tenha misericórdia de nós!

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