Bildade (amigo de Jó):

Deixe que os nossos antepassados falem a você e o ensinem. Da sua experiência eles dirão isto:
Será que a taboa pode crescer fora do brejo ou o junco viver sem água?
Verdes ainda e mesmo sem serem cortados, eles secam antes das outras ervas.
Assim acontece com os que esquecem de Deus; assim dá em nada a esperança dos maus….

Reflexão

No fim de semana passado estive em Brasília num encontro com cerca de 50 pastores do centroeste. Numa conversa particular com um deles, comentei da minha alegria (e aprendizagem) ao escrever estas devocionais baseadas no Livro de Jó. Então, este amigo me perguntou se entendi as falas dos amigos de Jó como tendo: a) a mensagem certa, de maneira errada ou na hora errada, b) a mensagem certa, de maneira certa e na hora certa, ou c) a mensagem errada, de maneira errada e na hora errada. Respondi que de grosso modo, estou pressupondo “c”, que os amigos de Jó falaram essencialmente a mensagem errada e na hora errada.

A qualificação,“de grosso modo”, é importante, pois, sem dúvida, os amigos de Jó falam muitas coisas certas também. É justamente isto que complica a leitura deste livro. E por trás desta “complicação” há outra: a nossa dificuldade de conciliar a nossa doutrina da inspiração das Escrituras com conteúdos equivocados dentro dela! Logo, está na hora duma explicação.

Muitos de nós estamos acostumados com mensagens evangélicas que se qualificam em algum momento coma a afirmação, “assim diz a Palavra de Deus” ou algo semelhante. Aprendemos a citar a Bíblia desta forma com a própria Bíblia, porque os seus autores citam textos bíblicos anteriores desta maneira. Logo, isto é bom. Só que não devemos entender, por isso, que a Bíblia é mero catálogo de afirmações desconectadas. Não, salvo algumas exceções (como o Livro de Provérbios), ela é escrita como história e assim possui uma sequência. Isto significa que são textos cujos significados se encontram em contextos. Por exemplo, em Mateus 4.5 o diabo cita Salmo 91.11-12. O diabo anunciou a Palavra de Deus? Sim e não. Sim porque citou corretamente e assim reproduziu fielmente as escrituras. Não porque o diabo procurou aplicar o texto dum modo equivocado.

O mesmo occore com o texto de Jó citado acima. Bildade falou uma verdade. Entretanto, aplicou a sua afirmação a Jó e assim errou a sua aplicação. A grande diferença entre o conversa do diabo em Mateus 4 e o diálogo dos amigos de Jó no Livro de Jó é de volume. O diabo fala poucos versículos em Mateus, mas os amigos de Jó falam muitos versículos e capítulos em Jó. E assim, muitos leitores ficam confusos. Afinal, como pode Deus permitir que uma perspectiva, ou pelo menos uma applicação errada seja tão extensa como no Livro de Jó? Não sei se tenho uma resposta certa a esta pergunta, mas talvez Deus queira que conheçamos aplicações erradas ou não apropriadas e que conheçamo-nas relativamente bem. Afinal de contas, não precisamos discernir muito bem as diversas mensagens “evangélicas” que estão sendo anunciadas por aí?

E assim, poderemos amadurecer no nosso jeito de tratar as Escrituras.

Oração

Não desejamos, ó Pai, um conhecimento da tua Palavra que não tenha vida e paixão. Mas também, ó Pai, queremos te ouvir tanto no interior dos nossos corações, como discernir a tua voz nos teus dizeres, na Palavra. Desperta o nosso ouvido para te ouvir, e nos incomoda para te obedecer. Em nome de Jesus. Amém

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