Posts tagged sociedade

34ª semana de 2013

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“Apesar da culpa que as mães costumam sentir por se afastar dos filhos para trabalhar fora, as crianças de hoje recebem muito mais atenção dos pais do que nas décadas de 60 e 70. É o que revela a American Time Use Survey, pesquisa do departamento de estatísticas do trabalho do governo americano. A explicação é que, naquela época, as donas de casa monitoravam menos as crianças para se dedicar aos afazeres domésticos e à vida social.”

VocêS/A – agosto 2013

 

“Segundo Pesquisa TIC KIDS Brasil 2012, ‘Quem aconselha os estudantes sobre segurança na internet?’: 59% parente; 55% professor; 33% televisão, rádio, jornais e revistas; 20% igrejas ou grupos de jovens; 16% bibliotecário ou monitor de lan house. Crianças e adolescentes rejeitam o controle dos adultos quanto ao uso da rede, mas querem orientação. ‘Ao mesmo tempo que não aceitam interferências, eles demandam intermediações sobre o uso seguro’, diz Regina de Assis, consultora em Educação e Mídia.”

Nova Escola – agosto de 2013

 

“Líderes que têm como principal característica o comando e controle, em geral, serão menos eficazes do que os catalizadores de colaboração e inovação. Conduzir a diversidade de opiniões será a chave para gerar mais inovação. De fato, o último estudo da IBM com CEOs em todo o mundo revelou que 71% dos executivos consideram o capital humano como a principal fonte interna de valor econômico sustentável das empresas. Serão os líderes com esse perfil que transformarão isto em realidade.”

Alessandro Bonorino, O Estado de S.Paulo – 18/08/2013

 

“É possível um mundo melhor? Sim e não. Sim, é possível um mundo melhor a começar por melhores remédios, casas, escolas, hospitais, aviões, democracia (ainda acredito nela, apesar de ficar de bode às vezes). Não, não é possível um mundo melhor porque algumas coisas não mudam, como o caráter humano, suas mentiras e vaidades, sua violência, mesmo que travestida de civilidade, nossas inseguranças, nossa miséria física e mental, nossa hipocrisia. Nossas ambivalências sem cura. […] O mundo melhor parece ser aquele no qual as pessoas podem errar, pedir perdão e ser perdoadas. Um mundo melhor não é um mundo sem violência ou ambivalência, mas um mundo onde existe o perdão.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 19/08/2013

 

“Continuo cheia. Cheia de tecnologia. Cheia de pessoas que acham que estão inventando a roda. Cheia de empreendedores cujo grande objetivo na vida é ficar rico. Cheia de espertalhões que criam problemas para vender soluções. Farta dos que espalham terror para vender segurança. Estou cada vez mais cheia de fazer cadastros, preencher formulários, alimentar estatísticas. Não suporto marketing invasivo. Não aceito como herança tanto lixo industrial. […] Hoje não quero ser amiga de todo o mundo. Não quero que todo o mundo goste de mim. Não quero ter razão. Não quero ser popular. Não quero ser forçada a gostar de nada nem de ninguém. Hoje não quero conhecer uma nova rede social. Não acho que tudo na vida tenha de se transformar em software ou sistema. Não acredito que tecnologia seja solução para todos os problemas.”

Marion Strecker, Folha de S.Paulo – 19/08/2013

 

“É maravilhoso fazer amigos pela internet. Encontrar antigos conhecidos, colegas de infância. Manter contato com quem não se pode ver sempre. Mas a maldade me assusta. Não tenho uma solução para o problema, mesmo porque sou contra qualquer tipo de restrição. O problema é que as pessoas gostam de maldades. Ler uma notícia fantasiosa sobre alguém famoso, ou mesmo sobre uma pessoa comum, dá uma falsa sensação de intimidade. E, na constelação da internet, o veneno está em expansão.”

Walcyr Carrasco, Época – 19/08/2013

 

“A religião muda as pessoas para o bem e para o mal. Sempre fui fascinado pelo poder que a religião tem de mudar o comportamento das pessoas e da sociedade. Um de meus objetivos em meus livros é analisar o processo da crença: o que leva alguém a acreditar numa religião. No caso da cientologia, não é uma conversão, uma iluminação, como ocorre na maioria das religiões. É uma espécie de lavagem cerebral, uma passagem em que pessoas instruídas, inteligentes e céticas se tornam crentes.”

Lawrence Wright, 66, escritor americano, Época – 19/08/2013

 

“Se a humanidade se comprometesse a consumir a cada ano só os recursos naturais que pudessem ser repostos pelo planeta no mesmo período, em 2013 teríamos de fechar a Terra para balanço hoje, 20 de agosto. Essa é a estimativa da Global Footprint Network, ONG de pesquisa que há dez anos calcula o ‘Dia da Sobrecarga’. Para sustentar o atual padrão médio de consumo da humanidade, a Terra precisaria ter 50% mais recursos. Segundo a ONG WWF-Brasil, que faz o cálculo da pegada ambiental do país, nossa margem de manobra está diminuindo (veja quadro à dir.), e exibe grandes desigualdades regionais. ‘Na cidade de São Paulo, usamos mais de duas vezes e meia a área correspondente a tudo o que consumimos’, diz Maria Cecília Wey de Brito, da WWF. O número é similar ao da China, um dos maiores ‘devedores’ ambientais.”

Rafael Garcia, Folha de S.Paulo – 20/08/2013

 

“A capacidade dos uruguaios em assumir riscos e procurar inventar novas respostas para velhos problemas é louvável. […] Eles optaram por colocar à frente do processo político uma espécie de antilíder [José Mujica], cujo carisma vem exatamente de seu desconforto aberto em relação aos ritos do poder. Alguém que parece a todo momento dizer não se enxergar como um presidente e que se recusa a abandonar sua vida espartana, seu sítio modesto e seus hábitos e roupas comuns. Alguém que tem a liberalidade de deixar o lugar do poder vazio e, por isso, encontra uma força inaudita por meio exatamente da expressão de seu franco desprendimento. Trata-se de uma lição política merecedora de nossa admiração, a saber, a compreensão de que o melhor líder é aquele que sistematicamente recusa-se a se ver como tal.”

Vladimir Safatle, Carta Capital – 21/08/2013

 

“A inveja é uma mistura de idealização, amor e ódio. sonha-se ser o que os outros sonham. […] Nesse mundo, em que a inveja é um regulador social, as aparências são decisivas porque elas comandam a inveja dos outros. Por exemplo, o que conta não é “ser feliz”, mas parecer invejavelmente feliz. Nesse mundo, o ter é mais importante do que o ser apenas porque, à diferença do ser, o ter pode ser mostrado facilmente. É simples mostrar o brilho de roupas e bugiganga aos olhos dos invejosos. Complicado seria lhes mostrar vestígios de vida interior e pedir que nos invejem por isso. O Facebook é o instrumento perfeito para um mundo em que a inveja é um regulador social. Nele, quase todos mentem, mas circula uma verdade de nossa cultura: o valor social de cada um se confunde com a inveja que ele consegue suscitar.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 22/08/2013

 

“Se entre dez mandamentos, apenas dez, cobiçar a mulher alheia estava entre eles, com a mesma relevância de “não matarás” e “não furtarás”, porque é um princípio que deve ser seguido à risca. Talvez, um dos pilares da civilização. Deus não queria baderna. Foi sucinto, porque Deus não tinha tempo a perder. E soube como ninguém usar aquilo que criou em primeiro, o verbo.”

Marcelo Rubens Piva, O Estado de S.Paulo – 24/08/2013

 

“O apelo do papa Francisco aos jovens na Jornada carioca – ‘manifestem-se’ – não pode ter resposta universal. Em regimes políticos fechados, manifestar-se não é exatamente uma opção. Além disso, a expectativa das sociedades em torno dos jovens difere muito. Quem conversar com jovens chineses de classe média urbana, por exemplo, vai se dar conta de que o seu espectro de liberdade pessoal é limitado. Eles são alegres, mas frequentemente usam a palavra ‘yali’ (pressão) para qualificar a vida. A sociedade espera que, entre 22 e 28 anos, as pessoas assegurem um emprego estável, casem-se, tenham seu filho único e o deixem sob a responsabilidade dos avós. Esse até pode ser o curso normal da vida em outros lugares. Na China, contudo, a cobrança para segui-lo é determinada. Enquanto a economia crescia a dois dígitos, encontrar trabalho não era problema. Com o crescimento mais baixo, o cenário fica difícil. Em 2011, 17.5 % dos que se formaram ficaram desempregados. O número em 2013 deve ser bem maior. Nesta semana, o premiê Li Keqiang encontrou-se com um grupo de graduandos e lhes sugeriu: criem oportunidades para si mesmos, inovem, abram negócios, tomem riscos. Em outras palavras, sua mensagem foi a seguinte: faremos o possível, mas vocês têm de se mexer.”

Marcos Caramuru de Paiva, Folha de S.Paulo – 24/08/2013

 

“Não vi nada melhorar. Cada vez parece que vai piorando. Muita gente perde a vida. O Brasil não é um país tão atrasado assim, até intelectualmente era para melhorar esse negócio da violência. Saber que a vida do ser humano tem valor.”

Wagner dos Santos, 41, sobrevivente da chacina da Candelária, Folha de S.Paulo – 24/08/2013

31ª semana de 2013

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“Como definir o mal? Como se manifestou o mal neste início do século 21? E será que muitos reagiram de forma banal aos episódios de mal que vivenciaram? […]O mal está entre nós. Está nesses episódios, está nos crimes associados às drogas, está na violência e no desrespeito contra os pobres. Mas é difícil para nós nos indignarmos, porque esse mal é banal. Só quando ele deixa de sê-lo, e a sociedade se torna indignada, pode ele ser combatido e, em alguns casos, vencido.”

Luiz Carlos Bresser-Pereira, Folha de S.Paulo – 29/07/2013

 

“A modernidade é toda feita para servir ao pequeno autoritário, o ‘eu’: ele exige mais sucesso, mais autoestima, mais saúde, mais dinheiro, mais beleza, mais celulares, mais viagens, mais consumo, mais direitos, mais rapidez, mais eficiência, mais atenção, mais reconhecimento, mais equilíbrio, melhor alimentação, mais espiritualidade para que ele não se sinta um materialista grosseiro.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 29/07/2013

 

“O que dizer de um papa que se diz pecador? Estaria ele dessacralizando o papado? Em partes, explica o historiador e padre José Oscar Beozzo. ‘Francisco dessacraliza o que deve ser dessacralizado no papado, isto é, formas de poder herdadas do fato de o bispo de Roma ter-se tornado um príncipe e chefe de Estado.’ O foco do pontificado de Francisco é seu caráter pastoral.”

Ocimara Balmant, O Estado de S.Paulo – 30/07/2013

 

“Não acho graça quando dizem que alguma falha, bizarrice, relaxamento ou incompetência é o jeito brasileiro. Não concordo quando autoridades dizem que atrasos em ocasiões oficiais fazem parte da cultura brasileira… Não acho que errar o trajeto ou combinar mal ou nem combinar nada sobre o trajeto de um papa, sabido séculos antes, nas tantas vezes convulsionadas ruas do Rio atual, seja apenas jeito brasileiro. E, se for, a gente tem que corrigir.”

Lya Luft, Veja – 31/07/2013

 

“Para a política do passado, que às veze se tem que encarar seu outono antes de viver sua primavera, toda transformação deve ter um guia, uma pauta, um interesse por trás. A ideia de que nossa insatisfação, pode ser catalisada como um verdadeiro acontecimento, justamente por que ela ainda não adquiriu a fisionomia dos processos institucionais habituais, ou porque ela se posiciona na geografia mental de que dispomos, torna-se então inaceitável.”

Christian Dunker, Cult – julho de 2013

 

“Creio que nossas instituições estão falidas e temos que começar a repensá-las por completo. O que a Fundação Casa oferece? O que o Estado oferece? […] Acho que temos de fazer todas as reflexões possíveis para mudar esta realidade. Em trinta anos, as mudanças foram pequenas no Brasil, não fizemos nenhuma grande reforma como a política, a educacional, na área de saúde, transporte, habitação… e, pior ainda, sinto falta de que a intelectualidade participe mais ‘na base’. Desde os meus tempos de academia sempre tive como espelho pessoas como Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Milton Santos, Celso Furtado… É disso que sinto falta, de novos pensadores.”

Carlos Augusto dos Santos, sociólogo, um dos criadores da Fundação Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas, Sociologia – julho de 2013

 

“Aprender a pensar não significa aprender pensamentos ensinados pelo professor. Para Kant todos podemos aprender a filosofar, exercer o talento da razão; aprende-se a filosofar pelo exercício e pelo uso que se faz para si mesmo de sua própria razão. O papel da reflexão ou da razão autônoma não está em treinar a memória e nem a erudição. Tais parcialidades apenas conseguirão torna-lo dependente, pois esta não é a maneira correta de usar a razão. Quando o professor se deixa levar por esse tipo de laisser-aller – ou  displicência -, tem-se a indicação de que ele não pensa, não tem coragem de posicionar-se, permanece numa condição de absoluta menoridade; ele não pesquisa, não estuda e limita-se a passar esquemas prontos, o que, na prática, significa um servilismo. E isso não é ensinar.”

Geraldo Balduíno, Filosofia – julho de 2013

 

“É quando minha vida deixa de ser minha que ela começa.”

Gustavo Gitti, Vida Simples – julho de 2013

 

“A poesia mesmo nasce de um estado de espírito de perplexidade diante do mundo. Não é algo que você faça porque quer. O poema utiliza a linguagem verbal, que é organizada.”

Ferreira Gullar, Folha de S.Paulo – 03/08/2013

 

“Acho que nada supera o momento presente, por mais que tenha sido maravilhoso o que já foi vivido. Agora, o que já foi vivido me interessa como caminho para o que está vindo.”

João Anzanello Carrascoza, O Estado de S.Paulo – 03/08/2013

 

“Em 1988, Ramsay MacMullen, conhecido historiador especializado em Roma, da Universidade de Yale, publicou um livro analisando uma das questões fundamentais nesse domínio: por que o maior império da história do mundo entrou em colapso no século 5.º? A causa, segundo ele, foi a corrupção, que se tornou sistêmica no fim do Império Romano. O que antes era imoral passou a ser aceito como prática comum e o que antes era ilegal foi comemorado como normal.”

Fareed Zakaria, O Estado de S.Paulo – 03/08/2013

29ª semana de 2013

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“A verdade é que não dá para entender, a existência não tem explicação, e o que não tem explicação é absurdo. Absurdo para quem, sensato como eu, quer entendê-la. Já o louco não busca explicações sensatas. Inventa alguma tão absurda quanto o próprio universo. Enfim, a existência é a existência, não precisa de lógica. E é, por isso mesmo, maravilhosa.”

Ferreira Gullar, Folha de S.Paulo – 14/07/2013

 

“A ética aprendida pelos nossos políticos, que a repetem automaticamente, é a que favorece a legislação em causa própria. Desaprender tal comportamento sob pressão das ruas é bom, mas insuficiente para mudar a face de um país submetido à truculência dos que deveriam apenas representar o povo soberano.”

Roberto Romano, O Estado de S.Paulo – 14/07/2013

 

“A fotografia foi a forma que encontrei de conectar o mundo com o que mais gosto. Através da fotografia pretendo inspirar as pessoas a desacelerar. Às vezes é preciso mudar hábitos para perceber a beleza que nos cerca. […] Quem não enxerga o próprio redor dificilmente vai se importar com um lugar distante.”

Marina Klink, O Estado de S.Paulo – 14/07/2013

 

“A vida está tão corrida que as pessoas querem ver algo leve, ágil no cinema. Fora disso é mais difícil dar público.”

Marcelo Adnet, O Estado de S.Paulo – 15/07/2013

 

“96% das pessoas veem TV no Brasil, segundo dados do Ibope – 43% desse universo vê televisão enquanto navega na internet, sendo que 29% comentam nas redes sociais sobre o conteúdo visto.”

Cristina Padiglione, O Estado de S.Paulo – 15/07/2013

 

“Medito todos os dias. Apesar de falar muito, escuto muito bem também.”

Cissa Guimarães, O Estado de S.Paulo – 15/07/2013

 

“Cientistas ligados à World Happiness Database, em Roterdã, Holanda mergulharam num estudo universal para entender as chaves da felicidade. A maior delas é exatamente ‘viver uma vida ativa’. Para ser feliz e ter uma vida recompensadora, diz o professor universitário Ruut Veenhoven, coordenador da pesquisa, é preciso ser atuante, na vida profissional e pessoal. ‘Envolvimento é mais importante para a felicidade do que sabedoria. Ser ativo é um pré-requisito mais poderoso para a felicidade do que entender o porquê das coisas, saber por que estamos aqui.’ Engajamento político e interesses pessoais ajudam a evitar tristeza e ódio, inércia e depressão, diz a pesquisa.”

Ruth Aquimo, Época, 15/07/2013

 

“Pelo fato de eu ser mãe, sei realizar várias tarefas ao mesmo tempo e tenho várias habilidades que não tinha antes, como fazer ‘malabarismos’, mentorear, educar, solucionar problemas e administrar. Agora sou muitíssimo mais produtiva nas horas em que trabalho. A maternidade deveria ser um ponto ao meu favor, não uma desvantagem nas empresas.”

Sara Uttech, The New York Times/Folha de S.Paulo – 16/07/2013

 

“Diálogo não é estratégia de persuasão.”

Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 16/07/2013

 

“É importante que possamos viver a relação com a liturgia e com a fé com simplicidade e sem superestruturas, porque vivemos excessivamente da burocracia, inclusive a Igreja.”

Papa Francisco, O Estado de S.Paulo – 16/07/2013

 

“Nem só de indignação, por mais justa que seja, a gente vive. Toda indignação, ainda que abençoada, seja na medida sensata quando é possível. E com a necessária dose de emoção, pois a emoção é um bom motor de boas causas, desde que não seja irracionalmente conduzida.”

Lya Luft, Veja – 17/07/2013

 

“O que as pessoas estão dizendo é que elas querem um mundo melhor. As pessoas que se movem têm ideal da causa, têm algo novo, que é o componente do prazer, de algo vivencial. Elas estão emprestando corpos e falas para esse movimento. É um avanço de consciência política muito importante.”

Marina Silva, O Estado de S.Paulo – 18/07/2013

 

“Qualquer crepúsculo do indivíduo é um crepúsculo da moral. Pensemos nisso, por favor, quando torcemos, agitamos bandeiras ou falamos, misteriosamente, na primeira do plural. […] Por que preferiríamos ser funcionários do horror a conviver com as incertezas cotidianas do juízo moral?”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 18/07/2013

 

“Em vez de perguntar o que “eles”, os manifestantes brasileiros, querem, talvez fosse o caso de perguntar o que a nova cena política pode desencadear. Pois não se trata apenas de um deslocamento de palco – do palácio para a rua -, mas de afeto, de contaminação, de potência coletiva. A imaginação política se destravou e produziu um corte no tempo político.”

Peter Pál Pelbart, Folha de S.Paulo – 19/07/2013

 

“A referência de toda escrita é a memória do seu autor, que não necessariamente é a memória de coisas vividas. […] Assim como cada pessoa tem um timbre de voz, cada autor é capaz de ser bom ou idiota à sua maneira.”

Michel Laub, Folha de S.Paulo – 19/07/2013

 

“Eu não me importo em ter elementos autobiográficos no meu trabalho porque no cerne o que eu escrevo é ficção. Eu falo mentira como ganha-pão. Mentiras que criam nos leitores a possibilidade de ver a verdade. […] A vida não valeria a pena sem a possibilidade do amor. […] Das pessoas que você conhece quem está confortável com o mundo? Esse lugar não é fácil para nenhum de nós.”

Junot Díaz, O Estado de S.Paulo – 20/07/2013

 

“Devemos nos relacionar no tempo, que é intangível e permite mais liberdade. Nossa cabeça está programada para dividir; aqui e agora, eu trabalho; lá fora e mais tarde, eu vou me divertir. Essa separação é espacial. No tempo, você pode se divertir e produzir, somar, integrar os opostos, tudo. O mundo está mutante e móvel. Não se trata mais de um terreno sólido, estável, em que você se sentia relaxado. Como permanecer em cima de uma coisa que está se alterando o tempo todo? É como dançar em uma cama elástica. Se não achar o seu eixo, seu equilíbrio para ficar e se divertir, você cai fora ou perde o par. Há novidades chegando sem parar. E você precisa replanejar, negociar rapidamente com o contexto.”

Ricardo Guimarães, Claudia – julho de 2013

28ª semana de 2013

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“O descrédito nos políticos atinge os píncaros. As manifestações que se multiplicam pelo País expressam tal sentimento. O verbo indignado está nas ruas. A massa tende a associar signos, símbolos e perfis que representam o poder com os dissabores da vida cotidiana. Na moldura cabem Executivos, Congresso, representantes, juízes corruptos, empresários flagrados na maré de corrupção. Urge, porém, separar a expressão passional da locução racional. Fazer política sem as instituições é cair na escuridão das ditaduras.”

Gaudêncio Torquato, O Estado de S.Paulo – 07/07/2013

 

“O que há de comum com outros movimentos similares e o que há de específico? Uma das características surpreendentes é a força gravitacional de um movimento liderado por jovens de uma classe média diversificada, em que manifestantes das classes C e D marcharam junto aos das classes A e B. Em poucos dias, o que era uma reivindicação tópica adquiriu escala nacional, atraindo cidadãos urbanos não organizados em 360 cidades. Com isso a pauta de reivindicações ganhou em densidade, diversificou-se e converteu-se num alvo móvel. Um dos fatores de sucesso é seu caráter apartidário, graças ao uso intensivo dessa imagem como seu principal asset político.”

Lourdes Sola, O Estado de S.Paulo – 08/07/2013

 

“O desafio dos jovens é manter a força do movimento, num momento em que as manifestações naturalmente diminuem, o inverno e as férias chegam e promessas dos governos atendem parcialmente a algumas demandas. Os políticos deveriam perceber que o desafio é usar essa força para mudar o país naquilo que ele tem de pior. Têm de limpar as feridas para facilitar a cicatrização. Não adianta dourar indefinidamente a pílula, na espera de um Brasil que nunca chega!”

Jairo Bouer, Época – 08/07/2013

 

“O que o movimento de protestos chileno nos ensinou é que o crescimento não é uma panaceia para os problemas de um país. Embora o sucesso econômico de um Estado permita que seu governo enfrente desafios domésticos, esse mesmo sucesso intensifica as pressões para que líderes realizem bem seu trabalho. No Brasil, essa pressão se traduziu em demanda por serviços de boa qualidade para todos. Como no Chile, o sucesso econômico despertou expectativas quanto à capacidade do governo para servir os cidadãos. E porque o governo canalizou bilhões de dólares às instalações para a Copa do Mundo e a Olimpíada, a indignação pela lentidão do governo em usar esses recursos para melhorar as escolas e expandir seus programas sociais se multiplicou. Em certo sentido, portanto, o Brasil é vítima de seu sucesso.”

Carl Meacham, Folha de S.Paulo – 09/07/2013

 

“Os cidadãos cansaram de ouvir tanto horror perante os céus sem que nada mude. […] Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito menos entre valores e interesses práticos. No mundo interconectado de hoje, movimentos protestatários irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Na vida política, tudo depende da capacidade de politizar o apelo e de dirigi-lo a quem possa ouvi-lo. No mundo contemporâneo, essa agenda brota também da sociedade, de seus blogs, twitters, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo.”

Fernando Henrique Cardoso, O Estado de S.Paulo – 09/07/2013

 

“A literatura reconstrói nosso lugar no mundo, nos desenha, é um espelho para que nos vejamos melhor. A leitura de um bom romance é uma viagem visceral, é uma experiência, é um jeito de ter novos olhos e ouvidos. Somos capazes de captar por meio da literatura, conviver com a arte nos faz crescer como seres humanos.”

Nina Horta, Folha de S.Paulo – 10/07/2013

 

“Empresas e outras organizações exigem cada vez mais de seus funcionários a capacidade de entender o mundo ao redor, de pensar criativamente, de criar e de agir com autonomia. É a nossa base cultural, a permear a literatura, a música, o cinema e o teatro, que contém os elementos para desenvolver essas capacidades. São nossas viagens intelectuais pelo mundo das artes a nos permitir escapar das convenções, olhar além dos lugares-comuns, fazer conexões, pensar fora do convencional e buscar novas ideias.”

Thomaz Wood Jr., Carta Capital – 10/07/2013

 

“Em uma época na qual se insiste tanto na importância da criatividade e da inovação, pouco ou quase nada se ouve sobre a renovação do discurso. Não há nenhum personal trainer para a palavra, não conheço receita, manual, regime ou educação dirigida que seja eficiente neste assunto (não confundir com oratória, sedução e coisas do gênero). A cura para isso anda escassa. É na poesia que aprendemos o trabalho de dizer com cuidado e escutar com precisão. Mas quem defenderá a utilidade da poesia como gênero de primeira necessidade da vida relacional?”

Christian Ingo Lens Dunker, Mente&Cérebro – julho de 2013

 

“Se o grito das ruas, ainda que implicitamente, era por ’novas formas de atuação dos poderes do Estado, em todos os níveis federativos’, como disse a presidente, então as ruas perderam. É quase impossível que instituições tão desprestigiadas quanto os partidos e os parlamentos encampem “’novas formas de atuação’.”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 11/07/2013

 

“Pode ser que, aos poucos, as manifestações populares se acalmem. Mas talvez algo irreversível tenha acontecido: uma desconfiança, que existia há tempos (se não desde a origem do país), agora se tornou exasperação. E a exasperação é quase sempre um prelúdio. Ao quê? Seria sábio ter medo? Uma coisa é certa: a responsabilidade pela eventual ‘aventura’ de hoje não é das massas exasperadas, é de quem as encurralou até a exasperação.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 11/07/2013

 

“Estudos da ciência comportamental apontam o ser humano como uma espécie de ‘máquina superconfiante’, que geralmente exagera as avaliações sobre as próprias qualidades. Ao responder a pesquisas sobre seu desempenho, por exemplo, a maioria se considera acima da média – uma conclusão que desafia a possibilidade estatística. Essa defasagem entre a autoilusão e a realidade pode gerar no ambiente de trabalho consequências até piores do que a incompetência das pessoas menos inteligentes, alertam cientistas e consultores.”

Época Negócios – julho de 2013

26ª semana de 2013

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“Você sabia? Que a Tunísia, berço da Primavera Árabe, juntou-se a uma coalizão de 20 países em defesa de uma internet livre e aberta? Que há dois anos o país era uma ditadura, onde a rede era censurada, e que hoje é uma jovem democracia onde qualquer pessoa fala o que quiser on-line? Como dizem por lá, ‘falta emprego e educação, mas ao menos eu posso dizer quem é o culpado’. […] A primavera é contagiosa. A energia que primeiro manifestou-se em Túnis mudou o país e a região. O processo de avanços e retrocessos continua e não é fácil. Estamos agora vivendo a adrenalina de que tudo pode acontecer.”

Ronaldo Lemos, Folha de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Nos últimos dez anos, houve muitos avanços no Brasil. Quarenta milhões ascenderam à classe média. Mas a vida nas grandes metrópoles está um inferno. Os serviços são muito ruins. Saúde hoje é um ‘problemaço’. Aquele jovem de 17 ou 18 anos, que está entrando em uma universidade, está irritado com as instituições, com os governos, com as prioridades tomadas. Quando vê uma Copa das Confederações, essa grande desta, esse ‘Brasil do cartão postal’, ele chama para o Brasil real. Esse movimento está com base popular. Tem uma coisa diferente da minha época, da juventude do movimento do impeachment, era mais de juventude de classe média. […] A pauta que esses caras podem ajudar é colocar a vida do povo no centro do debate político.”

Lindbergh Farias, Folha de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Não é com as Diretas Já ou o Fora Collor que se parecem as manifestações atuais. Aquelas iniciativas foram enquadradas e dirigidas por líderes políticos. Possuíam objetivo único e bem definido: o fim da ditadura, o fim de um presidente. Visavam, no fundo, substituir os que detinham o poder. Os manifestantes brasileiros restabeleceram o exercício direto da cidadania, demonstraram que o mar de corrupção não afogou a consciência moral dos jovens, revelaram senso de hierarquia de valores e prioridades superior ao de um governo empenhado em anestesiar os cidadãos com o desperdício circense da Copa. […] A euforia das passeatas, a intoxicação de se sentir ator e sujeito do próprio destino, traz de volta o que ensinavam os gregos: a mais nobre expressão da vida humana é participar do governo da cidade. Para isso, é preciso ter, como dizia Celso Furtado, uma ‘fantasia organizada’.”

Rubens Ricupero, Folha de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Cultura é algo que você passa a precisar depois que tem um contato com ela. […] O teatro lida com coisas que são novas, que são caóticas. O teatro desorganiza. […] Uma linha muito forte: a de que o ser humano precisa ouvir histórias. Quando essa história é bem contada ao vivo, ninguém esquece. É muito difícil esquecermos uma peça de teatro boa. A gente esquece filme, mas peça nunca.”

Lígia Cortez, O Estado de S.Paulo – 24/06/2013

 

“O poder do teatro é pequeno, mas profundo. As experiências teatrais radicais – no sentido de vivas – são decisivas, formadoras. […] O teatro exige conexões.”

Sérgio de Carvalho, O Estado de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Existe uma correlação entre participação cívica e o nível de felicidade de uma população. No Brasil, esse engajamento é pequeno. Espero que esses protestos sejam o início de uma mudança, não apenas um desabafo. Por trás desses manifestos, está a insatisfação com os serviços públicos oferecidos num país em que a carga tributária é altíssima: 36%. O aumento da passagem de ônibus é somente a parte visível dessa insatisfação. A inflação incomoda. A sensação de bem-estar advinda do aumento da renda ficou para trás, em 2011 e 2012.”

Eduardo Giannetti, “Revista Época” – 24/06/2013

 

“Não devemos confundir todos esses levantes entre si nem suas causas nem suas estratégias e efeitos. Mas elas têm um ponto em comum. Todas dizem aos dirigentes: ‘Não bebam o nosso sangue, não se comportem como ladrões, não entreguem as chaves da casa aos arrombadores. As pessoas estão cansadas; é verdade, elas parecem passivas e resignadas, mas um dia despertarão e o poder estará ameaçado. Governantes, tenham medo!’.”

Gilles Lapouge, O Estado de S.Paulo – 25/06/2013

 

“[Quanto aos protestos] É um fenômeno inédito, que bota a gente para pensar muito. Os problemas da corrupção, da educação, da saúde e do transporte não são os problemas objetivos, e sim a indiferença dos políticos de um modo geral. Está todo mundo perplexo, mas isso tudo vai ser um bem para o Brasil. […] A crise de ética brasileira é enorme. É claro que não se pode gastar milhões e milhões em estádios para os Jogos Olímpicos se o entorno está em estado de miserabilidade. O combustível é o ódio interno que as pessoas têm contra a injustiça social. […] Agora se pede a mudança de uma moral. Ninguém sabe o que quer, só sabe o que não quer, e vai pedir mesmo assim. Isso é novo, revolucionário, moderno.”

Domingos Oliveira, O Estado de S.Paulo – 25/06/2013

 

“A escola e a saúde públicas são o destino resignado dos desfavorecidos. A insegurança se tornou uma condição existencial, tanto no espaço público quanto dentro da própria casa de cada um. O atraso da Justiça garante impunidades iníquas. Convenhamos, seria mais fácil aceitar essa triste realidade 1) se a corrupção não fosse endêmica e capilar, especialmente na administração pública, 2) se os governantes baixassem o tom ufanista de nossos supostos progressos e sucessos, 3) se a administração pública não fosse cronicamente abusiva e desrespeitosa dos cidadãos e de seus direito. Além disso, o dinheiro no Brasil compra uma cidadania VIP, na qual não só escola, saúde e segurança são serviços particulares, mas a própria relação com a administração pública é filtrada por um exército de facilitadores e despachantes. A sensação de injustiça é exacerbada pela constatação de que muitos representantes procuram ser eleitos para ganhar acesso à dita cidadania VIP.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 27/06/2013

 

“Devemos nos alegrar por termos chegado a um ponto de virada, em que é possível fazer a história fora do museu, deixar a velha e estagnada repetição que nos condena a andar sem sair do lugar. Tenho dito e repetido: é hora de metabolizar, não de capitalizar. Para além das reações, podemos construir respostas, reelaborando, sobretudo, os improvisos que a surpresa do momento nos obriga a fazer e colocando em debate as soluções dadas no susto. De nada adianta o frenesi de anúncios com pompa de grandes soluções, sem a sincera disposição de ver e perceber, de escutar e compreender o que dizem as manifestações. Se formos capazes de ver mais que a superfície, o que fizermos terá maior altura e profundidade. […] Basta reconhecer que o poder – se não está com todos – é de todos.”

Marina Silva , Folha de S.Paulo – 28/06/2013

 

“É preciso mudar ‘tudo’, você sabe, e para ontem. A juvenilização da participação política é um fato, mas, desta vez, está produzindo resultados –as bandeiras dos manifestantes, cada vez mais definidas, começam a chacoalhar o Planalto e o Congresso. E, a indicar que essa juvenilização é sem volta.”

Ruy Castro, Folha de S.Paulo – 28/06/2013

 

“Políticos são como água, tomam a forma que os contêm –mas os nossos assombram pela flexibilidade de suas convicções. Neste momento, por exemplo, ao som das ruas, eles estão batendo todos os recordes de aceitação da pauta popular. Nos últimos dias, cancelaram os reajustes de passagens de ônibus e de pedágios nas estradas, reduziram tarifas de transporte, destinaram os royalties do petróleo para educação e saúde, derrubaram a PEC 37, consideram acabar com o voto secreto entre eles e, intrépidos, tornaram a corrupção crime hediondo, aumentando as penas e levando à prisão dos políticos condenados. ‘Pode o leopardo mudar suas pintas?’, perguntou o profeta Jeremias (13:23). Os de Brasília podem.”

Ruy Castro, Folha de S.Paulo – 29/06/2013

 

“As passeatas não são um fato novo. Mas ganharam em capacidade de organização e de divulgação com o avanço das tecnologias da comunicação. Estão-se tornando mais frequentes e consequentes. Numa era de afirmação da democracia em escala mundial, em que golpes e revoluções têm espaço cada vez mais reduzido, os movimentos sociais e suas manifestações se afirmam como instrumento crucial para a transformação da sociedade. Os gritos da rua são um sinal de alerta. Como bem assinala Manuel Castells, ‘o eco dos movimentos sociais é bem mais forte do que os próprios movimentos, assim como as suas consequências nas instituições e no mundo dos negócios’.”

Sergio Amaral, O Estado de S.Paulo – 29/06/2013

 

“Eu dizia que era só questão de tempo e que uma hora iria transbordar para o presencial. Acabou transbordando. E, ao transbordar, o centro não pode agora ter uma atitude de encapsular a borda. […] Era óbvio que a ideia de fazer um discurso orientado pelo marketing não iria funcionar. […] O que está aí tem a força de uma agenda, na qual a reforma política está dentro, mas também a reforma tributária, o problema da educação, da saúde, da segurança pública. Uma agenda que não é para se fazer para eles, mas sim com eles. Os jovens estão dizendo que querem mais. Mas não é mais do mesmo. Querem mais e melhores serviços públicos, qualidade da representação.”

Marina Silva, O Estado de S.Paulo – 29/06/2013

 

“Se renunciamos ao conhecimento que a arte – e somente a arte – pode nos proporcionar, mutilamos a nossa compreensão da realidade.”

Leandro Konder, Revista Cult – junho de 2013

25ª semana de 2013

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“Desde cedo, os pais devem aproveitar qualquer oportunidade, como uma briga entre irmãos, para conversar sobre sentimentos. Isso ajuda a criar crianças, especialmente meninos, mais sensíveis.”

Amanda Polato, Revista Época – 17/06/2013

 

“A criança se desespera com a ideia de que vai morrer – só que ela ainda não sabe quando. E, na atualidade, em que o mundo adulto foi devassado para as crianças, elas sabem que não são apenas os velhos que morrem: criança também morre. Não é a idade, a saúde ou qualquer outra coisa que possibilita a morte. É o fato de estar vivo. Mas é a partir desse momento que a criança cresce e passa a pensar. Por isso, as crianças não devem ser poupadas do fato, mas acolhidas em seu sofrimento, acompanhadas em sua angústia, apoiadas em seu crescimento. É: testemunhar o processo de humanização dos filhos não é simples. Exige força e coragem.”

Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“O Brasil não é um país de sair à rua, salvo em Mundiais. Que saia agora, em massa, ainda por cima para protestar também contra as obras da Copa, é de atordoar qualquer um.”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Em uma cidade onde o metrô é alvo de acusações de corrupção que pararam até em tribunais suíços e onde a passagem de ônibus é uma das mais caras do mundo, manifestantes eram, até a semana passada, tratados ou como jovens com ideias delirantes ou como simples vândalos que mereciam uma Polícia Militar que age como manada enfurecida de porcos. Vários deleitaram-se em ridicularizar a proposta de tarifa zero. No entanto, a ideia original não nasceu da cabeça de ‘grupelhos protorrevolucionários’. Ela foi resultado de grupos de trabalho da própria Prefeitura de São Paulo, quando comandada pelo mesmo partido que agora está no poder. […] Apenas nos EUA, ao menos 35 cidades, todas com mais de 200 mil habitantes, adotaram o transporte totalmente subsidiado. Da mesma forma, Hasselt, na Bélgica, e Tallinn, na Estônia. Mas, em vez de discussão concreta sobre o tema, a população de São Paulo só ouviu, até agora, ironias contra os manifestantes.”

Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Precisamos, antes de mais nada, desfazer alguns equívocos sobre a democracia. Ela até que funciona, mas não pelas virtudes que normalmente lhe atribuímos. Para começar, é preciso esquecer o mito do eleitor racional que compara propostas, as analisa e toma a melhor decisão. Se há um momento em que o cidadão tende a ser especialmente emocional, é o instante do voto. A coisa só dá certo porque, em condições ordinárias, as posições mais extremadas tendem a anular-se, empurrando a escolha para grupos menos radicais. A democracia também não tem o dom de eliminar os conflitos presentes na sociedade. O que ela procura fazer é institucionalizá-los e discipliná-los, para que se resolvam da forma menos violenta possível. Daí que é impossível e indesejável eliminar completamente o caráter meio baderneiro de protestos e atos públicos. Eu não diria que o fato de as ações de movimentos como ‘Occupy’ e ‘Indignados’ não terem se materializado em propostas concretas signifique uma derrota. Ao contrário, mesmo com sua pauta imprecisa e vagamente metafísica, eles contribuíram para modificar as percepções de governantes e da própria sociedade.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“É óbvio que R$ 0,20 a mais nas passagens em São Paulo não seria suficiente para botar o povo nas ruas do país, em multidões cada vez maiores, com imagens impressionantes. Esse foi apenas o detonador, o gatilho de manifestações de grupos distintos e de motivações difusas. […] A fantasia de que o país está um paraíso, uma maravilha, acabou. A verdade dói, mas ajuda a melhorar.”

Eliane Cantanhêde, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“A cidade de São Paulo é vítima de uma concepção urbanística inapropriada às necessidades de sua população. Segue um modelo composto por um núcleo rodeado por áreas densamente povoadas. Essa concepção espacial induz à construção de custosas vias arteriais de integração que, contraditoriamente, se transformaram nos principais focos de congestionamento. É necessário rever o modelo viário para atenuar os impactos negativos dos congestionamentos, ao menos enquanto se aguarda a maturação dos investimentos de longo prazo em transporte coletivo de massa. É preciso abandonar a visão que privilegia os megaprojetos como construção de vistosas pontes, gigantescos viadutos, vias expressas e túneis que apenas movem os pontos de engarrafamentos para alguns metros adiante, quando não se transformam, eles mesmos, em novos focos de paralisação. É urgente revascularizar o trânsito por meio de intervenções, em geral pequenas, capazes de criar vias alternativas de circulação em áreas de congestionamento.”

Marcos Cintra, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

 

“Ora, quem há de negar que a qualidade de vida nos centros urbanos tangencia o desespero? A imobilidade urbana, a vertiginosa e sufocante verticalização, a baixa qualidade da saúde, o descaso com a educação, as enchentes, o custo de vida… E, é claro, a insegurança: já esquecemos que o noticiário dos últimos meses veio recheado de casos os mais escabrosos, os quais o governador teima em transformar em mera questão de menoridade penal? […] Voltado quase que exclusivamente à manutenção mecânica de espaços de poder, o sistema político nacional deixou de olhar e sentir a pulsação social, o clima das ruas; a nova sociedade. E é hoje incapaz de compreender, canalizar demandas e representar os cidadãos. Sim, ainda que menos comuns e mais difusos que no passado, há cidades e cidadãos que reagem ao mal-estar que suas autoridades não percebem. Será sempre questão de tempo para que uma fagulha ilumine perigosamente o paiol. Coisa pouca, vinte centavos bastam!”

Carlo Melo, O Estado de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Desqualificar os protestos dos jovens em São Paulo e outras capitais ‘como se fossem ação de baderneiros’ constitui, na avaliação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ‘um grave erro’. Para ele, ‘dizer que (essas manifestações) são violentas é parcial e não resolve’. Na análise FHC aconselhou: ‘Justificar a repressão é inútil: não encontra apoio no sentimento da sociedade. Por isso, ‘é melhor entendê-las’, perceber que essas manifestações ‘decorrem da carestia, da má qualidade dos serviços públicos, das injustiças, da corrupção’. Ele recorreu a um dos mais respeitados estudiosos dos problemas contemporâneos, o espanhol Manuel Castells. ‘Reações em cadeia, utilizando as atuais tecnologias de comunicação, constituem marca registrada das sociedades contemporâneas, como meu velho amigo e colega Manuel Castells mostrou há tantos anos.’ A saída é entender, não reprimir. ‘Quem tem responsabilidade política deve agir, entendendo o porquê desses acontecimentos.’ Esse entendimento pressupõe buscar a razão da insatisfação geral com os governos. As manifestações ‘decorrem de um sentimento difuso de descontentamento e do desejo de um tratamento digno para as pessoas’, concluiu.”

Gabriel Mazano, O Estado de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Utilizando redes sociais, os jovens concentram suas insatisfações num objeto de protesto, saem às ruas e passam a se confrontar com as autoridades locais. E o movimento se repete e se espalha. Entre nós espanta a rapidez com que se tem multiplicado pelo País afora. […] Os jovens simplesmente estão dizendo que recebem um serviço inadequado e que não encontram canais políticos para exprimir suas insatisfações. Trata-se de uma crise de representação. Se eles estão subordinados ao ritual das eleições periódicas, estas pouco dizem a respeito de sua vida cotidiana. Os manifestantes são vozes sem voto efetivo. […] Os jovens foram para as ruas vociferando contra o beco no qual foram empurrados. Os jovens já têm demonstrado suas opções por outras formas de vida, o que demanda novas formas de politização. […] E os jovens se defrontam de imediato com a farsa em que se transformou a educação nacional, obviamente com raras e nobilíssimas exceções. Diante do problema mais urgente, pleiteiam mais verbas sem se dar conta da podridão do sistema. Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes. A começar pela reeducação dos educadores, que, na maioria das vezes, ignoram o que estão a ensinar.”

José Arthur Giannotti, O Estado de S.Paulo – 19/06/2013

 

“Sei que a ideia de complexidade é vista como ‘frescura’ e que macho mesmo é simplista, radical e totalizante. Mas, no mundo atual, a inovação está no parcial, no pensamento indutivo, em descobrir o Mal entranhado em aparências de Bem.”

Arnaldo Jabor, O Estado de S.Paulo – 19/06/2013

 

“Seria possível mudar o mundo, mudando por pouco que seja os princípios e valores de cada um de nós? Ou é um velho ideal ultrapassado, e juvenil? Talvez haja um modo de transformar nossa louca futilidade e desvairada busca de poder. […] A gente podia mudar: se cada um mudasse um pouquinho, exigisse muito mais dos líderes em todos os setores, e aspirasse a algo muito melhor. […] Amadurecer não precisa ser renunciar a todas as nossas crenças.”

Lya Luft, Revista Veja – 19/06/2013

 

“Mesmo quem tem emprego e renda é torturado no cotidiano por um país em que o trânsito é infernal, a violência é aterradora, há eternas carências graves na educação e na saúde, os serviços públicos são precários, para não usar uma palavra feia. Na verdade, deveria haver espanto não com os protestos de agora mas com o fato de que nunca tenha havido manifestações de massa contra esse massacre cotidiano (as que ocorreram foram por motivos institucionais).”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 20/06/2013

 

“Os R$ 0,20 de aumento do transporte público foi o gatilho nesse processo de deterioração nas relações entre representantes e representados. Mais uma dentre tantas outras demandas sociais feridas pelo poder público ao longo de anos. Até aí, nenhuma novidade. Mas foi o suficiente para fertilizar um campo minado. Ao deixar o virtual para protestar no mundo real, da universidade às ruas, provocou a identificação imediata dos mais diferentes estratos sociais. A imagem da repressão policial contra os jovens escolarizados despertou o apoio tanto de setores conservadores da classe média, que sofrem de insegurança crônica quanto, ainda que timidamente, quanto dos moradores da periferia, já familiarizados com a violência da instituição. Nesse momento o apoio aos protestos atinge patamar semelhante ao do início da campanha das Diretas, acima de 70%, conferindo-lhe legitimidade. […] Esses episódios alertam o poder público para a urgência da criação de canais de participação adequados aos contrastes da cidade. É preciso ouvir a população, antes que ela grite.”

Mauro Paulino, Folha de S.Paulo – 20/06/2013

 

“Na principal capital do país, incendeiam-se dentistas, mata-se à toa. Na cidade maravilhosa, os estupros são uma rotina macabra. Enquanto isso, os juros voltam a subir, impostos, tarifas e preços de alimentos estão de amargar. E os serviços continuam péssimos. É por essas e outras que a irritação popular explode sem líderes, partidos, organicidade. Graças à internet e à exaustão pelo que está aí.”

Eliane Cantanhêde, Folha de S.Paulo – 20/06/2013

 

“Não haverá mais política como conhecemos até agora. Daqui para a frente ela irá em direção aos extremos. Uma sociedade, quando passa por mobilizações populares como as que vimos nas últimas semanas, fica para sempre marcada. Nesse sentido, devemos nos preparar para um embate de outra natureza. Quando a política popular ganha as ruas em uma reação em cadeia, todo o espectro de demandas sobe à cena. Uma contradição de exigências que pode dar a impressão de estarmos em um buraco negro da política. No entanto, não há que temê-la, pois tal contradição é a primeira manifestação de um novo conflito de ideias que servirá de eixo de combate. Por isso, a política brasileira não se dará mais no interior de partidos que há muito perderam sua função de caixa de ressonância dos embates sociais. Ela será decidida nas ruas. […] Agora é hora de compreender que o verdadeiro embate começou e será longo. Agora não é hora de medo. Agora é hora de luta.”

Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 22/06/2013

 

“É uma espécie de grito da sociedade, rebelada contra as condições de vida nas cidades. Não se trata apenas de transporte, mas, também, de violência, educação, saúde, dívidas a pagar… E uma juventude que não consegue se empregar e não enxerga um futuro.”

Silvio Caccia Bava, O Estado de S.Paulo – 22/06/2013

24ª semana de 2013

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“O cansaço é maior quando a gente faz aquilo que não gosta. Não tem sido muito pesado, não. Já fiz teatro, TV e filme ao mesmo tempo. Diante desse passado, minha vida está leve agora. A melhor coisa é fazer nada. Vou ao teatro, cinema, leio, ando na praia, viajo com meus filhos e netos e arrumo gavetas. É ótimo ficas bestando completamente, jiboiando como se diz.”

Fernanda Montenegro, 83, atriz, O Estado de S.Paulo – 09/06/2013

 

“O número de americanos que estão se matando atingiu um nível sem precedentes. No período de 1999 a 2010, o suicídio de americanos entre 35 e 64 anos de idade cresceu quase 30%. Mais pessoas nos Estados Unidos morrem hoje pelas próprias mãos do que em acidentes de carro. Entre homens na faixa dos 50 anos, a taxa de suicídio cresceu 50%.”

Lee Siegel, O Estado de S.Paulo – 09/06/2013

 

“A coisa é a seguinte: escrever ou não escrever poesia não é coisa que se decida. Na verdade, sempre que termino de escrever um livro de poemas, tenho a impressão de que não vou escrever mais, de que a fonte secou. […] Creio que isso se deve ao fato de que não planejo nada, muito menos meus livros de poemas. De repente, descubro um tema novo, um veio que passo a explorar até esgotá-lo. Isso demora anos, porque, também, ao concluir cada poema, tenho a impressão de que o veio se esgotou. […] Sempre digo que meus poemas nascem do espanto, ou seja, de algo que põe diante de mim um mundo sem explicação. É essa perplexidade que me faz escrever.”

Ferreira Gullar, Folha de S.Paulo – 09/06/2013

 

“Dos 260 mil inscritos até agora na Jornada Mundial da Juventude, a maioria são mulheres (55,32%). Peregrinos entre 19 e 24 anos respondem por 35% das inscrições. Os maiores de 65 anos não são nem 1%.”

O Globo – 09/06/2013

 

“O mundo de hoje está aterrorizado. E a economia não está florescente. Isto leva a um enclausuramento.”

Carla Bruni, O Globo – 09/06/2013

 

“A reportagem de qualidade é sempre substantiva. O adjetivo é o adorno da desinformação, o farrapo que tenta cobrir a nudez da falta da apuração. […] Uma imprensa ética sabe reconhecer os seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, destruir patrimônios, desinformar. Confessar um erro de português ou uma troca de legenda é fácil. Mas admitir a prática de prejulgamento, de engajamento ideológico ou de leviandade noticiosa exige pulso e coragem moral. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é condição da qualidade e, por isso, um dos alicerces da credibilidade.”

Carlos Alberto Di Franco, O Estado de S.Paulo – 10/06/2013

 

“A lição assustadora da psicologia social é a de que o ser humano pode passar por cima de suas convicções e de várias barreiras morais se for devidamente compelido por seus pares. E nem precisa ser uma pressão muito intensa.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 11/06/2013

 

“Nunca nos livraremos de jovens desajustados que montam bombas caseiras ou fanáticos empunhando machadinha. Não há absolutamente nada que possamos fazer para evitar isso. Podemos minorar a letalidade dessas pessoas controlando a circulação de armas, e só. O verdadeiro problema é termos chegado à situação de todo um país entrar em pânico quando se associa um crime comum à palavra ‘terrorismo’. […] A insegurança da submissão voluntária ao controle contínuo de alguém que reforça sua autoridade alimentando-se de nossos medos. A insegurança do fim da vida privada.”

Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 11/06/2013

 

“Aqui, a tradição é entrar na iniciação científica em um laboratório e continuar nele durante o mestrado, o doutorado e o pós-doutorado. E a tendência é a pessoa se aprofundar cada vez mais em um único assunto. Com isso, formamos jovens cientistas bitolados, tudo o que eles sabem é pensar em detalhes daquele único assunto que vêm desenvolvendo desde a iniciação científica. Além disso, a política de contratação nas universidades privilegia os ex-alunos. Criam-se colônias sem diversidade.”

Suzana Herculano-Houzel, Folha de S.Paulo – 11/06/2013

 

“A criança costuma dar sinais claros de que ela quer aprender a usar o banheiro. Os pais não precisam se preocupar tanto. O que não podemos é antecipar o processo. […] Quando ela pergunta do uso do banheiro, pede para ir, quer ficar por lá mais tempo, por exemplo. Quanto mais natural for o processo, melhor para a criança. Os pais não devem atrapalhar. Para isso, precisam munir-se de calma e paciência. A criança nem sempre vai acertar, e, mesmo depois de os pais acharem que ela já aprendeu, ela vai querer usar o banheiro quando tiver vontade, não quando os pais quiserem. E mais: ganhar prêmios por fazer a coisa que os pais julgam certa confunde a criança.”

Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 11/06/2013

 

“Como as bandas de jazz, as empresas precisam de regras básicas para operar, de forma que cada profissional possa, no momento correto, improvisar e criar.”

Thomaz Wood Jr., Carta Capital, 12/06/2013

 

“Somos anjos e demônios. Viver na internet tem um perigo: nós mesmos.”

Manuel Castells, Folha de S.Paulo – 13/06/2013

 

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