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Nossa história, nossos tempos, nossos movimentos

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Quem não conhece as palavras de Jesus: “No mundo tereis aflições” (Jo 16.33)? Quem não se angustia a ouvir e ler os jornais? Quem no momento não conhece alguém, mais de perto, que esteja passando por duras lutas?

Como isso nos afeta? Que efeitos traz para os de perto e os de longe? Qual o nível de tolerância de cada um? Quem persevera? Até quando, onde?

Lembro-me de Jules Michelet ao dizer: “O difícil não é subir; é, depois de ter subido, continuar sendo o mesmo”.

Tempos difíceis é da vida. Faz parte do que acontece na terra dos viventes. Mas o que fica, após um tempo onde as dificuldades parecem fortes demais, e ainda se multiplicam?

Uma das reações comuns é que começamos a lembrar e valorizar os tempos mais tranquilos, dias ensolarados, festivos, onde o riso vinha fácil, onde a saúde nem era lembrada por estar boa demais, onde a mesa era farta e as águas serenas. Mas, nem sempre.

É frequente nessa ocasião lembrarmo-nos do bom que havíamos esquecido, quase apagado. Porém, isso salienta negligências e ignorâncias do cotidiano. A dor tem o potencial de nos chamar atenção para coisas, pessoas, situações que antes não víamos, não reconhecíamos, é como se alimentássemo-nos de distrações.

Nossa alteridade é presente, apesar de nem sempre nomeada. Os altos e baixos fazem parte de nós, claro, em alguns mais, e em outros, menos. Mas, geralmente é preciso a dor chegar perto a fim de que abramos os olhos para algumas coisas.

Não precisamos aprender só na dor, não precisamos viver de esquecimentos, não necessitamos celebrar apenas em situações já esperadas. Mas, o acúmulo de tarefas, os desejos confusos, metas e compromissos nos levam, por vezes, a desligarmos a capacidade de observar e atentar a detalhes, e até mesmo para situações, gestos e falas que não era para serem atropeladas.

A reverência à vida vai sendo banalizada, nos entregamos as exterioridades, às imagens tão cultivadas, vitrines existenciais, corremos atrás do vento confundindo-o com miragens, obstinados por ilusões com cara de paraísos. O que se passa dentro de nós?

O Salmo 78 conta um pouco da história do povo de Israel, conta de altos e baixos, do que ora era lembrado, ora esquecido, de movimentos que são humanos, e que revelam realidades e perigos para nossa alma.

Saliento um verso (11) que diz: “Esqueceram o que Deus tinha feito, as maravilhas que lhes havia mostrado”. O contexto é que esqueceram do compromisso assumido com Deus, se acovardaram, se recusaram a caminhar pela Palavra de Deus e então, a consequência, foi perderem no baú de recordações o quanto Deus já tinha feito por eles e realizado neles.

A gratidão, não raro, vai minguando. Deixa-se, assim, de acessar memórias que celebravam a bondade de Deus, recordar as revelações de seus feitos maravilhosos. Afastamo-nos, com coração desleal, com espírito infiel, com rebeldias enraizadas. Sim, o texto relata que isso aconteceu, que é humanamente possível e provável quando não cultivamos espaços em que o silêncio e o descanso favorecem a atenção, onde estamos alertas, vendo com clareza onde depositamos nossa confiança, exercitamos a gratidão e o reconhecimento daquilo que Deus está fazendo.

Sem esse tempo sagrado, quer dias tranquilos, quer dias difíceis, nos distraímos e obedecemos ao império particular de desejos selvagens, ou, o desespero aumenta e a murmuração encontra-se a um passo da amargura.

Nossa trajetória e as histórias acumuladas nela podem nos ensinar, nos lembrar, nos tratar em questões fundamentais. A dor e a alegria nos habitam, faltas e apetite pela plenitude também, mas o reconhecimento e a memória da bondade divina podem ser um espaço de preservação do sabor da vida, do exercício da fé e da esperança, onde o amor é cultivado.

O Rabi Nachman de Breslav dizia: “Todo mundo diz que as histórias são um remédio para o sono. Eu, porém, digo que elas têm o poder de despertar as pessoas de sua sonolência”. Visitemos, pois, nossas histórias, acordemos para a gratidão.

05ª semana de 2013

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“Ler foi a coisa mais importante que aprendi. Nada gera conformismo como o entretenimento barato. Podem dizer que a cultura se democratizou, que deixou de ser elitista, mas é um processo que gera conformismo.”
Vargas Llosa, “Folha de S.Paulo” – 28/01/2013

“As tragédias acontecem sempre: aviões caem, ‘titanics’ afundam, mas sempre há uma tragédia não percebida entre nós, melhor, uma série de erros não anunciados que acabam desembocando na catástrofe de Santa Maria. Uma das piores do mundo. Mais um horror talvez evitável. Mas o defeito principal do País talvez seja a displicência, irmã da eterna incompetência que nos aflige desde a colônia. São as tragédias em gestação. Os problemas só surgem quando não há mais solução. Vejam os jornais, onde as notícias são sobre coisas que não deram certo, erros de cálculo, obras inacabadas, preços superfaturados, uma lista diária de fracassos, do que poderia ter sido e não foi. Ou então a inocência eterna: ninguém sabe de nada, ninguém pecou, ninguém roubou nunca. […] O dia a dia é assolado pela mediocridade e falta de amor pelos empreendimentos realizados. Interessa sempre o lucro pelo menor gasto possível. […] Aos poucos, nos esqueceremos dessa desgraça a mais. Outras virão. Só nos resta dizer mais uma vez: “Que horror!” e continuar a vida, hoje em dia feita de pressa, medo e suspense, num país onde o óbvio nunca é feito: só as desnecessidades”
Arnaldo Jabor, “O Estado de S.Paulo” – 29/01/2013

“Após uma tragédia como a de Santa Maria, a vontade de agir é irrefreável. Nas próximas semanas, Estados e municípios atualizarão suas normas de segurança anti-incêndio e apertarão a fiscalização sobre todo tipo de estabelecimento. Trata-se, é claro, de um efeito transitório. Com o tempo, o ímpeto vigilante arrefece e as coisas voltam mais ou menos ao que eram antes. E não adianta muito maldizer a leniência das autoridades brasileiras. Ainda que em diferentes graus, o fenômeno é universal e tem origem nos mecanismos pelos quais percebemos o perigo. A pergunta é se devemos aceitar essa abordagem intuitiva ou se seria preferível buscar uma visão mais racional, recorrendo à análise de risco e a especialistas antes de agir.”
Hélio Schwartsman, “Folha de S.Paulo” – 29/01/2013

“O desvio de recursos, a pura irresponsabilidade, a garantia da impunidade. Somos ineptos para minimizar danos das cheias, impedir desabamentos, prevenir incêndios. Mas numa coisa ninguém nos supera: em solidariedade. Instaurada a tragédia, acorremos ao local em batalhões, confortamos os parentes, acolhemos em nossa casa, doamos sangue e enchemos caminhões com donativos, embora não possamos garantir que cheguem ao destino. Nossa humanidade não está em questão – nossa eficiência, sim. E, quando a tragédia se repete, não será por que não avisamos – apenas ninguém tomou providências.”
Ruy Castro, “Folha de S.Paulo” – 30/01/2013

“Esperar sem esperança é a pior maldição que pode cair sobre um povo. A esperança não se inventa, constrói-se com alternativas à situação presente.”
Boaventura de Sousa Santos, “Folha de S.Paulo” – 30/01/2013

“Silas Malafaia não exige doações. À GQ, o pastor alerta: se alguém hesitar em colaborar, ‘Deus fará outro se levantar… e sua benção irá para este outro’. Logo depois, contemporiza: ‘Se R$ 100,00 é tudo o que você precisa, é seu sonho, não dê! Se não for, é sua semente’.”
“O Estado de S.Paulo” – 30/01/2013

“Não estou aqui para ensinar a fazer filmes hollywoodianos. É preciso originalidade. Se existisse apenas o ponto de vista americano, o mundo seria brutal e individualista. Se você possui talento, nada vale mais que se expressar “.
Robert McKee, um dos professores de roteiro mais conhecidos de Hollywood, “Valor” – 01/02/2013

“Henri Matisse confessou sua necessidade de solidão em 1939. ‘Eu gostaria de viver como um monge numa cela, desde que pudesse pintar sem preocupações nem incômodos’. Preocupações e incômodos houve aos montes durante a carreira atormentada do pintor francês.[…] ‘A pintura foi para ele um trabalho desenvolvido em toda a vida. Ele se esforçou por décadas para retratar diretamente o que via. Clichês, preconceitos e suposições, barreiras visuais consideradas seus piores inimigos, foram suprimidos em horas intermináveis de treinamento. A sua disciplina se parecia com a de um pianista’, diz Hilary Spurling, autora de ‘Matisse, Uma Vida’. […] ‘Matisse: In Search of True Painting’ fala do sofrimento do pintor, também relatado por Hilary Spurling, em relação às suas escolhas artísticas. ‘Ele não tinha certeza do seu caminho’. Ou nas palavras do próprio artista: ‘Trabalho sem teoria. Eu sou determinado por uma ideia que só começo a entrever à medida que a pintura se desenvolve’. Incompreendido, Matisse contemporizava.”
Francisco Quinteiro Pires ,“Valor” – 01/02/2013

“A memória é um mistério, às vezes as lembranças aparecem com nitidez, outras vezes ficam guardadas, teimosamente escondidas, ou em estado de latência. […] Só me resta o silêncio, nossa voz essencial, talvez a mais verdadeira.”
Milton Hatoum, “O Estado de S.Paulo” – 01/02/2013

“Meu gospel é bem brasileiro. Não saí copiando, sou a Baby, tenho meu lado rock, meu lado pop. O gospel que toca no rádio e na televisão aqui é muito cru, não dá pra comparar com a nossa música. Nunca fiz isso pra vender CD, mas por paixão”.
Baby do Brasil, “O Estado de S.Paulo” – 02/02/2013

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