Frustração é o estado que fico quando não tenho o que gostaria, quando me deparo com um obstáculo, externo ou interno, que me priva de satisfazer um desejo acalentado.

Frustro-me quando mergulho na ilusão, enganando-me com a expectativa, defraudando meus próprios castelos de areia.

Não gosto da frustração, pois ela me remete às falhas que nego ou tento esconder. Engasgo com o desgosto, ao ver que as coisas não saíram como eu pretendia, e o resultado é algo aquém dos meus sonhos, quase sempre infantis.

Lidar com a frustração é encarar uma guerra, de quem pretende ser onipotente, mas perde. Perder é amargar uma derrota do orgulho, é ferida narcísica, é manha de ser um ser mimado que não quer deixar esse lugar.

Pensar na frustração é ter que rever minhas idealizações. Trata-se de enfrentar o espinhoso trabalho de desidealizar, desmascarar a ingenuidade preguiçosa e covarde a que me apeguei, e ter que lidar com a realidade dura, por vezes cruel. Aí não há espaço para nutrir perfeccionismos doentios, alimentado pelo autoengano do “eu consigo”, “só os fracos desistem” torna-se o mantra da infeliz teimosia.

Apesar de eu evitar com toda minha força a colisão com o muro das ilusões, ela acontece, e aí sobram ruínas. E aí, tomo fôlego pra construir novos muros parecidos? Mais do mesmo?

“Pretensiosos e arrogantes vestem-se com os insultos da última moda. Mimados e fartos, enfeitam-se com as tiaras da tolice” (Sl 73.6-7 – A Mensagem). Quem sou eu de fato? Por detrás de dispositivos internalizados, disfarces e ataduras, o que sobra?

Desejo olhar, mas desejo também um olhar misericordioso. Quero a coragem de não fechar os olhos, mas também a audácia de não me acomodar na autocontemplação vaidosa. Que a compaixão e a sabedoria me guiem, afinal, como dizia Martin Buber, “existe uma autocontemplação estéril, que não leva a lugar nenhum, somente à tortura de si mesmo”.