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01ª semana de 2012

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“Nós, seres humanos, somos ruins em agir com vistas a metas futuras porque, ao contrário do que acreditamos, nossa experiência de ‘eu’ se decompõe em muitos eus que funcionam de forma diversa e têm interesses, às vezes, conflitantes.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 01/01/2012

“Emagrecer, retomar hábitos saudáveis, ter mais lazer, praticar exercícios físicos, ler mais livros, parar de fumar, tratar melhor o próximo, dedicar mais tempo à família, estudar mais, estressar-se menos, ser mais tolerante, menos preconceituoso e, a cada novo dia, mais feliz. […] Não basta prometer ou até mesmo tentar. É preciso fazer! […]Precisamos aprender a cumprir promessas. Tal atitude é importante, até mesmo para que a sociedade, mais organizada, possa cobrar com civismo antigos compromissos do poder público, como as reformas política, fiscal, tributária, trabalhista e previdenciária, essenciais para que nossa economia siga próspera. Compromisso interior, com o próximo, a família, o país e o planeta, é essencial para que celebremos com mais responsabilidade e atitude o Dia Mundial da Paz. Feliz ano novo!”
Josué Gomes da Silva – Folha de S.Paulo, 01/01/2012

“Época de projetar o futuro. Nas famílias há hoje desempregados e workaholics, uns só pensam em um novo trabalho, outros só pensam em parar de trabalhar nas férias. Queremos todos o que não temos. […] Tive a oportunidade de perguntar a dois dos mais renomados e experientes “scholars”: Helio Jaguaribe e Candido Mendes. Hoje as mudanças são mais rápidas que antes ou é ilusão de ótica de quem está no meio do processo? Eles foram muito claros em dizer que hoje tudo muda mais rápido. O que não significa um processo contínuo uniforme de mudanças, pelo contrário. Mais concretamente: o que será de mim? o que será de você? o que será de nós?”
Marcelo Neri – Folha de S.Paulo, 01/01/2012

“A energia escura é um dos grandes mistérios da ciência moderna. Confesso que, quando as primeiras observações foram apresentadas em 1998, duvidei que fosse possível. Como explicar que uma espécie de fluido (não líquido, claro) permeia o Universo e dita com que velocidade ele se expande?”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 01/01/2012

“Não espero nada da vida na forma de recompensa moral (aquilo que a teologia cristã chama ‘retribuição pelos méritos’). […] Não conto com a misericórdia de Deus porque não a mereço. Guerras sempre existirão, e a humanidade faz o que pode para sobreviver ao mundo e a si mesma. A possível falta de sentido da vida não me interessa. Durmo bem com ela. Sou daqueles que pensam que a metafísica é fruto de indisposição e mau humor.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 02/01/2012

“Persiste ainda, na sua alma rigorosamente descrente, essa fagulha de vaidade milenarista: a vaidade típica de quem se considera um sujeito único na história; e, por isso mesmo, merecedor de assistir ao maior espetáculo do mundo sentado na primeira fila. Fantasiar o fim do mundo é uma forma de nos fantasiarmos a nós como testemunhas desse fim do mundo. E, além disso, é também uma forma conveniente de sacudirmos um pouco o tédio existencial da nossa condição pós-moderna, da mesma forma que os nossos antepassados medievais procuravam libertar-se da miséria material que os rodeava pela violência utópica. Vaidade e tédio, eis a combinação dos nossos namoros apocalíticos. Que, às vezes, divertem.”
João Pereira Coutinho – Folha de S.Paulo, 03/01/2012

“Para ser justo é imprescindível ter ‘fé nas faculdades humanas mais elevadas’ como aquelas ligadas a valores, à cidadania, à moral, aos direitos humanos, à individualidade do cidadão, como diz o professor de Harvard. Para ser justo é preciso dosar a felicidade que as atitudes irão gerar com as dores que poderão provocar tanto na maioria como no único, além de outras questões filosóficas que variam a cada tomada de decisão. Em resumo, ser justo, às vezes, pode dar um trabaaaaalho danado. Porém, ter a preocupação e o cuidado de valorizar as decisões do dia a dia, sobretudo aquelas que envolvem diretamente os interesses do outro, ajuda a construir uma sociedade mais igualitária.”
Jairo Marques – Folha de S.Paulo, 03/01/2012

“É o espírito da época: queremos emagrecer comendo trufas de chocolate e tonificar nosso corpo sem esforço, graças a pílulas que agiriam no sono. Ora, em regra, o que queremos não sai de graça. Num momento de propósitos como o começo do ano, é bom lembrar o seguinte: há várias razões de não conseguirmos realizar nossos desejos; talvez a principal delas seja que, frequentemente, não estamos dispostos a pagar o preço que esses desejos exigem de nós.”
Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 05/01/2012

“16 mil viciados em jogo já aderiram a programa para serem proibidos de entrar em cassinos na Bélgica. Os inscritos são barrados na entrada de todas as casas de jogo do país.”
Felipe Corazza – O Estado de S. Paulo, 05/01/2012

“Os cientistas vêm alertando que o aquecimento global provoca uma maior frequência de eventos climáticos extremos. Sabemos que a ausência de planejamento na ocupação de áreas urbanas expõe um grande contingente da população a riscos na maior parte das cidades brasileiras. Mas, apesar de termos instrumentos técnicos e recursos para avaliar os riscos e adotar medidas de prevenção, fatores políticos fazem com que nos atolemos na lama da imprudência e deixemos milhões de brasileiros sujeitos a se tornarem vítimas dessas catástrofes.”
Marina Silva – Folha de S.Paulo, 06/01/2012

“Atualmente, é consenso no mundo acadêmico que o mais eficiente instrumento de desenvolvimento científico, tecnológico e cultural é a escola de pós-graduação. Todavia, esse é um mecanismo recente, exceto nos EUA, onde começou a se instalar já na primeira metade do século 20. Na França, o “doctorat de troisième cycle”, que imitava o sistema de pós-graduação americano, só teve início em meados da década de 1950. O mesmo aconteceu com o Japão e com a maioria das nações europeias. Não é, portanto, de se estranhar que também no Brasil os cursos de pós-graduação tenham tomado tanto tempo para serem instalados. O primeiro mestrado brasileiro foi na área de eletrônica, no ITA, em 1964. A primeira escola de doutoramento só veio a ser iniciada em 1970, na Unicamp, em física. Por outro lado, a primeira bolsa para estudos no exterior foi concedida a Carlos Gomes por dom Pedro 2º. No final da década de 1950, o número de bolsas para pós-graduação no exterior concedidas pelo recém-criado CNPq era irrisória, talvez umas vinte por ano. Foi na administração Sarney que aconteceu o grande salto. Foram oferecidas mil bolsas. E, com isso, vieram muitas distorções. Algumas universidades inglesas e espanholas recém-criadas passaram a oferecer cursos de qualidade duvidosa, para onde afluíram estudantes medíocres de outros países, inclusive brasileiros. Aos poucos, formou-se uma doutrina.”
Rogério Cezar de Cerqueira Leite – Folha de S.Paulo, 06/01/2012

“A direção é mais importante que a velocidade. O fundamental é debater se estamos no caminho certo e ir definindo as barreiras que têm de removidas. Um futuro glorioso depende da nossa capacidade para enfrentar e superar complexos obstáculos -e de esconjurarmos o nosso ‘narcisismo às avessas’.”
Eduardo Fagnani – Folha de S.Paulo, 07/01/2012

51ª semana de 2011

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“Nossa política para a primeira infância continua um pouco desarticulada, apesar de ser setorialmente muito rica. Você tem alguns indicadores de que a gente não está dando a atenção que a primeira infância precisaria. A pobreza em famílias que têm crianças pequenas é o dobro da média brasileira.”
Ricardo Paes de Barros, Revista Época – 19/12/2011

“O ano de 2012 promete, no mínimo, ser agitado. No âmbito internacional, alista de eventos importantes é enorme. O euro passará por seu grande teste, haverá eleições presidenciais completamente indefinidas nos Estados Unidos, a Primavera Árabe poderá ao mesmo tempo se expandir em alguns lugares e retroagir noutros, e mesmo os Brics não podem garantir que terão o crescimento econômico dos últimos anos. No plano interno, a temperatura será menor. Os acontecimentos mais marcantes serão as eleições municipais, a definição do marco regulatório do pré-sal e, sobretudo, a forma como o governo Dilma reagirá às dificuldades econômicas e políticas externas. Cientistas sociais (incluindo os economistas) e analistas políticos em geral não são bons em profecia. O máximo que conseguimos, como certa vez dissera o historiador Fernand Braudel, é ser ‘profetas do passado’. Mas se pode usar o aprendizado adquirido ao longo dos anos para enfrentar melhor o futuro. É impossível saber, tim-tim por tim-tim, o que acontecerá em 2012, não obstante seja possível reduzir danos e erros, e até mesmo propor algumas trilhas – não muitas – mais propícias ao sucesso.”
Fernando Abrucio, Revista Época – 19/12/2011

“A história dos megatemplos está ligada a um movimento chamado emerging church (igreja emergente), liderado pelo pastor Bill Hybels. Em 1974, ele percebeu a existência de um enorme número de pessoas que não frequentavam igrejas porque as achavam ‘chatas’ e rejeitavam símbolos religiosos como Jesus crucificado ou vitrais com cenas bíblicas. Com os dados dessa pesquisa, criou a Igreja Comunitária Willow Creek, uma das três mais populares dos Estados Unidos. Ela reúne no culto principal, em sua sede em South Barrington, Illinois, cerca de 7 mil fiéis. O templo tem espaço para crianças e restaurantes. Os megatemplos de hoje, católicos ou evangélicos, seguem o mesmo padrão.”
Revista Época – 19/12/2011

“Um desejo profundo dos ‘poderosos da Terra’, sejam eles traficantes, mafiosos, generais, políticos ou líderes religiosos corruptos: o desejo de dar cabo daqueles que investigam seus negócios mal explicados.”
Eugênio Bucci, Revista Época – 19/12/2011

“O mundo é um lugar inóspito. Todo indivíduo tem um ou mais pontos fracos e se sujeita diariamente a dezenas de tentações que podem atirá-lo em seu inferno particular.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 23/12/2011

“Sonhos não realizados comparecem na esperançosa bandeja dos compromissos futuros: mais tempo para viver a vida, em lugar de ser vivido por ela. Mudar antes de ser mudado. Renunciar mais às certezas que ensoberbecem a alma, antes de ser estagnado por elas. O que se fez e o que não se fez, muitas vezes, vira fardo nessa época tão intensa. […] Na espécie de tsunami emocional que costuma acometer as pessoas nas festas de fim de ano, há algo que, lá, meio soterrado por preocupações e ansiedades e pelo consumismo desenfreado no qual se transformou o Natal, pode dar sentido às coisas. […] Como diz Hannah Arendt, “esta fé e esta esperança no mundo talvez nunca tenha sido expressa de modo tão sucinto e glorioso como nas breves palavras com as quais os Evangelhos anunciam a ‘boa-nova’: ‘Nasceu uma criança entre nós'”. É a alegria da fé em nossa eterna capacidade de começar. Que o espaço entre pensar e agir, findar e começar, brincar e trabalhar, e outras coisas que só se realizam entre nós e os mundos que nos habitam, possa ser sempre ocupado pela criança que nasce e renasce em cada um de nós.”
Marina Silva – Folha de S.Paulo, 23/12/2011

“O Natal é uma festa encharcada de emoção. Das festividades da civilização ocidental cristã, é a que tem maior apelo afetivo. É compreensível, pois, ao lado dos significados religiosos, o Natal nos mostra o momento em que uma família se constitui, o que se dá pelo nascimento do filho de um casal. Por essa via, o Natal aponta diretamente para a realidade familiar, que nos é muito próxima, fazendo-nos evocar nossas famílias – seja a família original onde ocupávamos o lugar de filho, ou a família que constituímos ocupando o lugar de pai. Daí o Natal suscitar sentimentos tão fortes nas pessoas.
Tirando proveito desse derramamento afetivo, o consumo e publicidade se apropriaram do Natal, transformando-o na maior oportunidade de vendas do ano. Embora a maioria se alegre com o simbolismo explícito do nascimento de uma criança, com tudo que isso representa de esperança, continuidade e oposição à morte (ideias reforçadas com as festividades do ano-novo, que também apontam para a renovação e o recomeço), não podemos esquecer que há pessoas que não compartilham deste sentimento. Pelo contrário, sentem-se tristes, ficam deprimidas e lamentam não compartilhar uma alegria que supõem ser universal nesta ocasião.
Como o Natal nos remete à família, é de se esperar que as experiências ali ocorridas sejam singulares, apresentem, portanto, uma grande variedade. Ao contrário da visão apressada que mostra as relações familiares como perfeitas e amorosas, a verdade é que elas podem ser bastante difíceis.
Não é então surpreendente que enquanto muitos curtam e aproveitem sem maiores conflitos a festa do Natal, alguns a experimentem com uma carga mais complexa de sentimentos. Mais do que nosso conhecimento intelectual, é essa mistura de amores e ódios, fracassos e vitórias, carinhos e violências, alegria e tristeza, agressões e cuidados para com aqueles que nos são próximos o que dá a nossa verdadeira dimensão enquanto seres humanos. Em nossos afetos está armazenado o inestimável fogo da vida.”
Sérgio Telles, O Estado de S. Paulo, 24/12/2011

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