23 de outubro de 2010

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“Escrever músicas tornou-se para mim, ao mesmo tempo que um lenitivo, um diálogo de vida ou morte com a criação. […] Escrever música  me faz um grande bem: é aí que me entretenho (e também me angustio, outro tanto) em confeccionar respostas concretas para os anseios, para as perguntas que me ocupam. Pode ser que não satisfaçam a ninguém além de mim, mas, nesta hora do mundo, foi assim que encontrei jeito de sobreviver…”

Willy Corrêa, 72, compositor, Estado de S.Paulo, 23 de outubro de 2010

 

“Fatores como vulnerabilidade, predisposição genética, hormônios e pressão social influenciam no aparecimento da ansiedade, mas, assim como no bolo não dá para identificar a farinha, também não é possível precisar o que detona o problema”.

Marcos Ferraz, professor titular aposentado do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, Revista Claudia, outubro/2010

22 de outubro de 2010

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“Em 2009, 32,8 dos jovens entre 18 e 24 anos abandonaram os estudos antes de completada a terceira série do ensino médio. A escolaridade média até 25 anos de idade é de apenas 5,8 anos (ante 12 anos na Coreia do Sul, 13,5 em Taiwan, 13,4 nos EUA). Apenas 39,2% dos jovens entre 15 e 17 anos estão matriculados no ensino médio no Nordeste, ante 39,1 no Norte e 60,5% no Sudeste. Como nos espantarmos, assim, que alguns estudos digam que 75% dos que passam até oito anos em escolas são ‘analfabetos funcionais’, incapazes de interpretar um texto simples, de poucas linhas? […]

O geógrafo Wanderley Messias da Costa, da Universidade de São Paulo, mostrou que apenas 24% dos 5 milhões de alunos no nível de graduação no País estão entre 18 a 24 anos. E 50% das vagas oferecidas em 2008 não foram preenchidas. A taxa média de evasão nos quatro anos de graduação é de 43%. A esmagadora maioria não conclui no prazo os cursos que freqüenta. Grande parte leva até oito anos ou mais para completar o curso de quatro. […]

Há muito mais que aborto a ser discutido com a sociedade. Nossos fundamentos sociais estão em questão.”

Washington Novaes, Estado de S.Paulo, 22 de outubro de 2010

 

“Diante do luto, entendemos que um ciclo terminou, que determinada coisa ou pessoa não fará mais parte de nosso cotidiano, mas isso não significa apagá-la completamente, e sim dar a ela um novo lugar em nosso memória, um novo significado em nossa vida. […] Não existem fórmulas mágicas ou tempo certo, cada um deve respeitar seu ritmo. Só não é positivo fingir que anda aconteceu ou tentar substituir o que foi perdido, Não funciona assim.”

Maria Helena Pereira Franco, psicoterapeuta, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre o luto da PUC-SP, Revista Claudia, outubro/2010

21 de outubro de 2010

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“Sai Deus, entra a mentira. Os candidatos pararam um pouco de falar no suposto criador para acusar um ao outro de mentir feito o diabo. É hora de humanizar um pouco o debate. Tudo indica que os postulantes mentem mesmo. Agem assim porque é da natureza humana fazê-lo. Como mostra Robert Feldman em “The Liar in Your Life”, bebês de seis meses já simulam choro para atrair atenção. A partir dos três anos, crianças tornam-se verdadeiras Dilminhas e Serrinhas, que descumprem as regras estipuladas em 82% das ocasiões e mentem sobre isso 95% das vezes. A coisa não melhora com a idade. No curso de uma conversa de dez minutos em que dois adultos se apresentam, eles mentem em média três vezes cada.

É preciso, porém, distinguir inverdades. Há, para começar, mentirinhas inocentes socialmente necessárias, como elogiar a comida da anfitriã. Um grau acima, estão as mentiras de autopromoção, pelas quais tentamos aparecer sob uma luz mais favorável. Estamos aqui no limiar entre a edição e a farsa. Só depois vêm as tramas com intuito de obter vantagem fraudulenta.

Essas fronteiras, já pouco nítidas, ficam mais borradas quando somos parte do processo, como mentirosos ou “vítimas”. Aí entram processos complexos como o autoengano (pelo qual construímos uma imagem positiva de nós mesmos) e o viés de verdade (o modo padrão do cérebro de aceitar como exatas as informações que recebe).

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 21/10/2010

“Entre os 30 objetivos submetidos à escolha dos reitores [1.100 reitores de diversos países], o de maior priorização (57,7%) foi o de ‘adequar os métodos de ensino e aprendizagem ao objetivo de aquisição de competências dos estudantes’.

Esse ponto está diretamente associado à necessidade de bibliotecas bem servidas de livros e periódicos, laboratórios bem equipados e constante adequação dos currículos.
O objetivo com segundo maior índice de priorização (46,9%) foi o de ‘determinar que tipo de universidades se pretende desenvolver nos próximos anos (objetivos, captação de estudantes, relações com a sociedade, áreas de investigação, estrutura de governo)’. […]

A geração de conhecimento é essencial também para que o desenvolvimento não se restrinja ao mero crescimento da economia. Ela deve atuar também em vista da melhor qualidade de vida, da conservação ambiental e da erradicação da miséria.”

Herman Jacobus Cornelis Voorwald, 55, engenheiro, reitor da Unesp, Folha de S.Paulo – 21/10/2010

20 de outubro de 2010

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“Quem não gosta de arte bom sujeito não é. A doença em geral é a falta de educação. O contato com as artes deveria ser obrigatório no ensino primário.”

Domingos Oliveira, cineasta, Folha de S.Paulo – 20/10/2010

 

“Muito se diz a respeito da emblemática idade dos 40 anos. Se a vida começa ou não na quarta década, é certo que termine cada vez mais longe dela. […]O mundo vem envelhecendo, e a notícia não é exatamente nova. […] Muitas empresas ainda resistem à contratação de profissionais maduros enquanto organizam simpósios e palestras para tentar compreender as crianças mimadas e inseguras que rotulam de geração Z. […]Em um mundo de trabalhadores cada vez mais velhos, que se orgulham de estar ativos até além dos 80, a conta simplesmente não fecha. Do outro lado da portaria, a situação não é exatamente confortável. Mesmo com salários e benefícios, o contingente de executivos cada vez mais novos e inexperientes, pressionados pelo excesso de competitividade, cresce a cada instante. Os médicos de empresas já não se surpreendem ao ver hipertensão, estafa e fadiga crônica em velhos de vinte e poucos.”

Luli Radfahrer, Folha de S.Paulo – 20/10/2010

 

“Quanto mais religiosa for uma sociedade, menor o terreno para a transigência.
A separação entre igreja e Estado não nasceu pronta da cabeça de algum filósofo iluminista – foi a solução que se encontrou depois de que guerras religiosas entre católicos e protestantes ameaçaram dizimar, por mais de um século, países como Inglaterra, França e Alemanha. […]

A fé que eu gostaria de contestar, a esta altura da campanha eleitoral, é a fé nos marqueteiros e nas pesquisas de opinião. O maior obscurantismo não está na condenação ou na defesa do aborto. Está no fato de dois candidatos seguirem, como ovelhinhas, o que lhes recomenda a última estatística.
Convenhamos que nem Dilma nem Serra são pessoas religiosas. Que quando um comunga e a outra se persigna, estamos diante de um ritual que não engana ninguém. Serra e Dilma apoiam a lei vigente, que permite o aborto em casos específicos. Os dois, portanto, não são sempre contra o aborto; estão a léguas de distância dos eleitores que desejam conquistar. […] As pesquisas, acho que já escrevi isso, são o ópio dos candidatos. A inteligência do país inteiro fica embotada nesse processo.”

Marcelo Coelho, Folha de S.Paulo – 20/10/2010

19 de outubro de 2010

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“O mundo precisa gerar centenas de milhões de empregos, uma demanda que não pode ser atendida sem o empreendedor de alto impacto. Gente que começa numa garagem e em dez anos constrói um bicho do tamanho da Apple. […] O que eles têm é visão, capacidade de trabalho, capacidade de relacionamento e uma chama interior chamada entusiasmo. […] A reengenharia de um mundo novo está nas mãos calejadas e incansáveis dos empreendedores.”

Nizan Guanaes, publicitário, Folha de S.Paulo – 19/10/2010

 

“Para homens e mulheres, a risada é uma arma poderosa e irresistível na sedução. Pode-se dizer que a risada é um importante capital no mercado das relações amorosas. E o melhor: é de graça.”

Mirian Goldenberg, antropóloga, Folha de S.Paulo – 19/10/2010

 

“A suspensão do suporte vital do embrião não representa apenas o fim de algo que ‘está vivo’. Como explica Stephen Schwarz em livro que recomendo aos interesses na matéria (‘The Moral Question of Abortation’; a questão moral do aborto), essa suspensão significa a morte de um ‘ser vivo’ em potência; significa, em linguagem prosaica, o roubo de um futuro pela autonomia do presente.”

João Pereira Coutinho, Folha de S.Paulo – 19/10/2010

Mineiros, minérios, minas

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            “Os 33”, assim passou a ser conhecido o grupo de homens que trabalhavam na mina San José, em Copiapó, norte do Chile (região do deserto de Atacama), onde ficaram soterrados por 70 dias.

            O resgate foi bem-sucedido, se tornou um espetáculo midiático, o alpinismo político tirou proveito, e documentários, filmes e livros estão sendo preparados.

            Uma frase, dentre as muitas, me chamou mais a atenção. Veio por parte do mineiro Mario Sepulveda, logo que saiu, ele testemunhou: “Estive com Deus e com o diabo. Os dois brigaram por mim e Deus venceu”.

            Biblicamente, talvez, possa nos remeter à história registrada no livro de Jó. De certa forma, também ali havia uma disputa, uma “grande aposta” como preferem chamar alguns teólogos, também entre Deus e o diabo. Mas, por agora, não vou me reter a esse episódio tão rico da Bíblia.

            Ao ouvir essa frase de Sepulveda me pus a pensar na vitória lá debaixo da terra. Também emocionada e agradecida a Deus por esse milagre, me juntei em festa. Apreciar a perseverança, os esforços, os recursos tecnológicos, a ajuda e esperança de tantos, faz considerar melhor a história carregada de expectativas e lições.

            Lá embaixo a guerra já foi vencida, mas outra aqui se apresenta. Uma outra guerra que é cotidiana, que também exige perseverança, disciplina, paciência, esperança, atenção e fé.

Aqui em cima, todo dia, há uma disputa. O problema é que nem sempre estamos conscientes dela.

             Não é toda hora que estamos atentos e dedicamos tempo considerando com maior cuidado o que cada decisão pode acarretar. Nem sempre as avaliações são bem feitas, as reflexões, no geral, tendem a ser mais superficiais.

             Nossa atenção se volta, na maior parte do tempo, para o que é visível, e ainda assim, dispomos de uma atenção temporária. Pressa e pressão nos empurram para o próximo item, para o próximo estímulo, a continuidade pede passagem, preferencialmente com velocidade.

             Os detalhes nos escapam, mas podem ser cruciais. Contudo, quem tem tempo para observar isso?

              Lá embaixo, conheceu-se uma outra realidade. Embora a escuridão os cercasse, foram iluminados em vários aspectos, refletiram sobre alguns valores, tiveram tempo para acariciar lembranças, ponderar posturas, conhecer mais dos instintos e da natureza humana. Apesar de tantos limites e escassez sobrava tempo, e assim, puderem, quem sabe, ponderar mais sobre outros limites até então disfarçados. Talvez, tenham tido momentos de gritos desesperados, uma agonia que se expressou em barulhos e movimentos diversos, entretanto, é possível que tenham encontrado longos períodos de silêncio, momentos onde puderem ouvir e perceber que uma outra guerra acontecia. Portanto, quase num paradoxo metafísico, em meio à escuridão viram melhor a vida; entre a escassez, abundou reflexões; entre dores, descobriram e valorizam mais sabores; entre um tempo quase “perdido”, encontraram memórias esquecidas, talvez até alguns, enquanto morriam para algumas coisas, nasciam para outras, enfim, precisaram de um silêncio profundo, corroborado pelas circunstâncias forçadas, a fim de ouviram melhor.

               Agora, de volta à superfície, a superficialidade ganhará? Esquecerão com o tempo a riqueza maior que o ouro, aquela que ladrões não podem cavar e levar, que puderam ou poderiam ali adquirir?

               A boa notícia de que eles poderiam ser resgatados, já se concretizou. Mas se perderão agora? E a má notícia é que a guerra que Sepulveda viu não terminou lá embaixo. Continua aqui em cima.

               Todos nós precisamos ser lembrados que a guerra continua, companheiro! Vamos nos distrair, tentar silenciá-la, ou, ignorá-la? Para o que ou quem dizemos “sim” e “não”?

18 de outubro de 2010

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“No universo de jovens que nem trabalham nem estudam, o grupo entre 18 e 20 anos é o que mais preocupa. […]

Para Luiz Carlos dos Santos, coordenador do Projeto Sol, uma ONG de apoio a adolescentes em São Paulo, parte dos jovens que não trabalham nem estudam forma uma ‘geração que ficou perdida e está começando a aparecer números. Muitos saíram da escola sem saber ler e escrever direito. Outros foram perdidos para o tráfico de drogas, no qual as possibilidades de remuneração são muito maiores’.”

Érica Fraga, Folha de S.Paulo – 18/10/2010

 

“Santo Agostinho e Pascal me ensinaram que o cristianismo é uma história do homem combatendo ingloriamente (e cotidianamente) sua natureza afogada no mais sofisticado orgulho e na mais profunda inveja (de Deus). […]

Só esmagando o orgulho com a humildade de quem se sabe insignificante é que vale a pena apostar no dia a dia.”

Luiz Felipe Pondé, filósofo, Folha de S.Paulo – 18/10/2010

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