3ª semana de 2011

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“Há um Deus, a Criação, o ser humano, uma missão, um destino, uma eternidade… Quem não faz filantropia vegeta neste mundo. E vai para um mundo ainda mais pobre do que o lugar de onde veio. A única forma de levar alguma coisa positiva é fazer o bem nesta Terra e levar isso junto com você para outro mundo. […] O ideal é doar tempo e dinheiro, mas cada um doa o que pode. Eu doo ‘x’ horas por semana e ‘x’ reais por ano. Não vou falar quando porque é um pouco íntimo, mas no fim da vida mais da metade do que tenho irá para obras de caridade. […] No começo, pensava muito na questão da pobreza. Depois comecei a pensar que se a gente aproximasse as pessoas de Deus não haveria estupro, nem assassinatos. Portanto, a formação moral é fundamental. O mundo educado, o mundo moral, é o mundo que não tem mal. Ou, diante dele, o mal diminui de forma bastante rápida. Por isso, em primeiro lugar, hoje invisto na educação moral. Aí está o futuro. […] Você tem de ajudar o próximo, mas também tem de ajudar a humanidade. A obrigação do ser humano na Terra é ajudar todos. […] A única moeda conversível e interplanetária entre os mundos espiritual e físico é o bem. Essa é a única que não tem barreiras e não tem banco central. O resto fica aqui. Então, qualquer pessoa que seja inteligente e com bom senso vai pensar: ‘Por que vou levar meu dinheiro para o túmulo ou deixar para alguém que vai torrar tudo?’. Se você deixar R$ 100,00 para o seu filho torrar, o que se ganha com isso? Nada. É muito melhor doar a maior parte para obras de caridade, dando vida para muitas pessoas, milhares de pessoas. […] No Shabat só trato de assuntos espirituais e não faço negócios. Nesse dia me espiritualizo, este é o alimento da semana. Os negócios são cativantes. Se você não se espiritualiza, você fica preso na matéria. Para fugir da matéria um pouquinho, é preciso se espiritualizar. […] Leitura é o maior prazer que tenho na vida.”

Elie Horn, 64, empresário (construtora Cyrela – que fundou em 1978), bilionário discreto, o maior filantropo brasileiro, Revista Época Negócios – janeiro de 2011

 

“Apesar de seguirem regras específicas, não se constrangem com a modernidade. A comunidade interage com os vizinhos que não pertencem à ordem religiosa. Também estão a par dos avanços da sociedade moderna, mas por uma opção voluntária e por questões religiosas, preferem não adotá-los. O principal motivo que determina se uma inovação, como dirigir um carro, por exemplo, será incorporada ou não à cultura amish é o julgamento que fazem a partir de seus valores. Se entenderem que a inovação desvirtualiza a vida em família e em comunidade, ela será vetada. […] A religião explica essas escolhas Ela é onipresente e rege tudo, desde o modo como se vestem até o jeito como fazem os negócios. […] Conhecidos pelo extremo rigor quanto à adoção de novas tendências, os amish estão levando seu modo simples de vida e suas crenças para os negócios que administram – com todas as vantagens e desvantagens que isso possa trazer. Nenhum empresário amish ilustra tão bem o novo cenário quanto Amós Miller, 32 anos. Há cinco anos ele transformou a fazenda do pai na Miller Farm, uma produtora e distribuidora de produtos orgânicos que chega a 26 estados. Mesmo tendo de gerir uma empresa de alcance nacional, Miller não tem carro, não usa telefone celular – e jamais se sentou diante de um computador. Miller também não tem nenhuma educação formal em negócios, já que os amish param de estudar na oitava série. ‘Não me sinto frustrado por usar esses meios de comunicação modernos. Meu negócio não é dependente de computadores e eletrônicos, mas de produtos e pessoas’, diz ele. […] Os amish pertencem ao grupo dos anabatistas, surgido em 1525, na Suíça. […] Um dos líderes mais influentes era Menno Simons e, aos poucos, o grupo passou a ser chamado de Menonitas. Eram considerados e ala mais radical da reforma protestante e muitos foram perseguidos e mortos. […] Cerca de 150 anos mais tarde, em 1693, um suíço chamado Jakob Ammann tornou-se o líder do grupo dos anabatistas que ficou na Suíça e resolveu fazer mais reformas. O que a princípio seriam pequenos detalhes, levou a uma cisão irreparável. Os membros seguidores de Ammann passaram a ser chamados amish. Tudo o que fazem e todas as decisões que tomam têm como princípio preservar os valores nos quais acreditam. Câmeras de vídeo, televisões, computadores e mesmo a escola dos filhos são vistos como tentações para desviar a atenção da vida em comunidade.”

Marcos Todeschini, Revista Época Negócios – janeiro de 2011

 

“Quem começou a trabalhar no século passado ouviu falar muito da necessidade de dominar um terceiro idioma, fazer pós-graduação ou comprovar experiência. Quem chega ao mercado de trabalho agora depara com exigências adicionais bem mais abstratas. Os jovens precisam ser a ‘atitude correta’, seja lá o que signifique isso. Para complicar, enfrentam uma impressão difundida pelo mercado de trabalho, justa ou injustamente, de que têm ambição demais e paciência de menos. Uma pesquisa feita pela consultoria alemã Trendence em 20 países oferece um panorama mais detalhado do que as companhias querem do jovem. […]

As grandes empresas brasileiras, de acordo com o estudo, buscam jovens flexíveis (para assumir diferentes papéis numa organização, não necessariamente ao mesmo tempo), capazes de liderar e decidir (dentro de seu raio de atuação), com facilidade para atuar em equipe, hábeis em análise (para entender cenários amplos), empreendedores (para criar e abraçar projetos) e com ‘integridade pessoal e ética forte’. Essas foram as mais mencionadas entre 19 características que poderiam contribuir para o sucesso de um recém-formado numa companhia.”

Marcos Coronato, Revista Época, 17 de janeiro de 2011 

 

“Somos muito pouco alfabetizados nas questões ambientais. Não me refiro nem à ignorância inofensiva como a de não saber diferenciar uma sibipiruna de um pau-brasil.
Refiro-me à ignorância maior e imperdoável da intrínseca interdependência entre todos os sistemas e espécies da natureza. Convencionou-se que o ser humano é a espécie mais importante e a natureza deve servir às suas necessidades às expensas da comunidade da vida. Portanto, há uma cultura de apropriação, abuso e desprezo em relação ao meio ambiente, que, somada à ignorância, faz com que o principal resultado da cultura antropocêntrica seja ameaça constante ao meio ambiente em geral e à condição humana, em particular.  Não conhecer o meio ambiente e suas dinâmicas e não se comprometer com a vida faz com que nossos aglomerados urbanos assemelhem-se a histórias de horror, palcos de tragédias sem fim e de um desânimo inconsolável quanto ao “Nosso Futuro Comum” (ver Relatório Brundtland). […]Somos literalmente objetos de políticas publicas, hipotecamos direitos aos políticos profissionais e ignoramos nossos deveres primários.”

Ricardo Young, Folha de S.Paulo – 17/01/2011

 

“Férias são uma instituição em crise. Esqueça o ideal que nos leva a imaginar nelas um período de descanso, reflexão, diversão ou renovação de conhecimento. Esse tipo de desfrute das férias está em extinção. […] Para todo lugar que ando, vejo pessoas de férias, mas apenas dando uma conferidinha nos e-mails e nas planilhas enviadas por seus assistentes. Desconectar? Nem pensar! O mundo depende de nossa atenção para continuar girando, certo? […] Desconecte-se. Se quiser levar seu tablet na viagem, faça-se o favor de esquecer o carregador. A desculpa dos livros digitais tem feito muita gente ficar 24 horas respondendo a e-mails. […] Lamento o que observo na vida daqueles que tanto batalham para sair de férias e, quando conseguem, entram em um período de intenso estresse. Para alguns, o estresse é físico, decorrente do vaivém com as crianças. Para outros, é um estresse psicológico, tentando esconder de si que estão trabalhando de fato. Para a maioria, trata-se de um estresse financeiro, em razão dos preços de temporada que nos obrigam a receber muito menos pelo que pagamos. […] Uma mente bem descansada não terá problemas em se reinventar.”

Gustavo Cerbasi, , Folha de S.Paulo – 17/01/2011

 

“Os louros passageiros nada mais são do que símbolo, assim como a beleza estereotipada, a riqueza que corrompe, o poder político que trai, os relógios dourados e carrões escandalosos que servem para encobrir fraquezas e limites, o luxo que desaparece quando se vê só, a fama que engana e fantasia, e outros menos globalizados. Sentir-se bem com a própria personalidade, caráter, capacidade e sensibilidade deveria ser o mais importante.”

Sócrates, Carta Capital, 19/01/2011

 

“No regime democrático em que vivemos, ninguém assalta o poder, como nas ditaduras. Somos nós que elegemos as autoridades e se elas, ao longo do tempo, não cuidam do bem público, a culpa é nossa pelas deficiências daqueles que escolhemos para nos governar.”

Carlos Heitor Cony, Folha de S.Paulo – 20/01/2011

 

“Novas expansões do conceito de direitos humanos continuam em discussão. Na pauta, figuram direitos dos animais e da natureza como um todo. Como sublima Iara Pietricovsky, os desastres naturais deste início de século segurem que talvez seja a hora de considerar a natureza como um ente de direito, no mesmo plano dos seres humanos.”

Diego Viana, Valor Econômico – 21-23/01/2011

 

“Eles são ricos, viajados, cosmopolitas – e sedentos. A crescente classe alta da Índia quer licores sofisticados e vinhos finos que definam a ‘boa vida’ que eles veem em suas viagens de férias e nos filmes de Hollywood. O velho hábito de servir uma dose de rum barato em um copo qualquer simplesmente está ‘proibido’. ‘A vida é uma festa! Se podemos ter o melhor, por que não ter?’, diz Vikrant Nath, um promotor de eventos de 49 anos de Nova Déli. […] ‘Queremos novas experiências, saber mais sobre a boa vida’, diz a esposa de Nath, Alka. […] O número de indianos com patrimônio de pelo menos US$ 1 milhão cresceu 51% em 2009, para 126 mil pessoas, segundo um estudo do Merrill Lynch e da consultoria Capgemini. […] Embora parte da população seja abstêmia, 5% – cerca de  60 milhões de pessoas, a população da França – é alcoólatra, a maioria pessoas pobres e viciadas em bebidas baratas fabricadas ilegalmente. A Ìndia é a maior produtora de bebidas alcoólicas da Ásia, mas dois terços das cerca de 700 milhões de caixas consumidas anualmente não são declaradas – fabricadas em vilarejos remotos ou compradas de embaixadas ou contrabandistas”.

Katy Daigle, Valor Econômico – 21-23/01/2011

 

“Além das perdas afetivas, as vítimas sofrem por não ter onde morar. ‘A casa da gente não é só parede, chão e teto. Por isso, quando você perde isso, perde muito mais’, diz a psicóloga ambiental Marlise Bassin. […] Como o primeiro instinto é sobreviver, só depois elas entendem o que aconteceu’, afirma a psicóloga Fernanda Delgado, de um abrigo na cidade. Mesmo quem não perdeu parentes e amigos precisa de ajuda. A dona de casa Marcilene da Silva Rodrigues perdeu a casa no Jardim Salaco, mas conseguiu salvar a família. Apesar de reconhecer a sorte que teve, tenta conseguir forças para seguir em frente. ‘Sei que muitas pessoas passaram por coisas piores. Eu estou com meu marido e meus três filhos, mas tento não pensar sobre o que vou fazer daqui para frente. Não tenho ninguém e não sei quando vou conseguir sair do abrigo’, lamenta.”

Paulo Sampaio/Bruno Boghossian, Estado de S.Paulo – 21/02/2011

2ª semana de 2011

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“Veja o futuro como um quebra-cabeça. Conecte, digamos, algo vivido no trabalho com algo lido no jornal. Veja como as peças formam uma nova imagem. O futuro não é linear.”

Oscar Motomura, Revista Época Negócios – janeiro de 2011

 

“Uma pesquisa do MCT (Ministério de Ciência e Tecnologia) sinaliza que apenas 12% dos entrevistados conseguem citar o nome de um cientista brasileiro e só 18% sabem mencionar de cabeça uma instituição científica. Quem consegue nomear está na parte mais rica da população. “Isso mostra que o Brasil ainda é uma país extremamente desigual”, analisa o físico Ildeu de Castro Moreira, coordenador do trabalho.
E os cientistas mais citados são Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. “Praticamente ninguém menciona cientistas sociais, sendo que o Brasil têm nomes importantíssimos como Paulo Freire e Gilberto Freyre”, completa. A pesquisa consultou 2.016 brasileiros com objetivo de investigar as atitudes e percepções dos brasileiros sobre a ciência e tecnologia. O trabalho dá continuidade a uma investigação similar realizada em 2006.”

Sabine Righetti, Folha de S.Paulo – 10/01/2011

 

“Está na hora de as autoridades entenderem que não haverá qualidade de vida se saneamento, tratamento de esgotos, gestão de recursos hídricos e política habitacional preventiva não estiverem no centro das agendas municipais. A crise ambiental é séria, e o número de cidades vitimadas é crescente. A lógica da gestão pública tem de mudar. É na infraestrutura das cidades, nos subterrâneos das ruas, nas periferias longe dos holofotes, nas várzeas de rios, nas encostas de morros e nos aterros sanitários que reside a nova lógica das políticas públicas.”

Ricardo Young, Folha de S.Paulo – 10/01/2011

 

“Afirmam os entendidos que não se pode nem se deve viver sem inimigos. São necessários à firmeza de nossas convicções e eficiência de nossos atos. Mesmo na metafísica há necessidade de contrários: após a Criação, o próprio Deus descolou um adversário, na pessoa do seu anjo predileto, que era Lúcifer.”

Carlos Heitor Cony, Folha de S.Paulo – 11/01/2011

 

“Entramos na década em pleno caos criativo. As mídias sociais evoluíram e agora são só mídia. Todos viramos mídia. Tudo virou mídia. E mídia é um meio condutor. De conteúdo humano. O que é fantástico. […] O Facebook é a cara do hoje.
Seu segredo é o segredo da revolução em curso e que a publicidade conhece desde sempre: comunicação. Agora evoluída para conexão.  O Facebook é a cara do hoje porque é a nossa cara. Com suas conexões, permite-nos fazer algo de que sempre gostamos: mergulhar em vidas alheias. E algo que descobrimos adorar: expor as nossas vidas. Aliás, o grau de transparência de algumas pessoas na rede chega a constranger. […] O criativo é naturalmente destrutivo.  A única forma de ter esse caos criativo como aliado é entrar no fluxo e inovar. A inovação é ao mesmo tempo mãe e filha da comunicação. Se você pensa que sabe tudo, está obsoleto. Quem diz que sabe tudo sobre o seu próprio negócio está morto. É preciso inovar. Para fazer mais rápido, mais sustentável, mais barato, mais produtivo, melhor.”

Nizan Guanaes, Folha de S.Paulo – 11/01/2011

  

“Esse mundo mecânico/ elétrico/eletrônico demanda, cada vez mais, mão de obra viciada em precisão, atenção e capricho. […] Fazer, rever, corrigir, verificar de novo daqui a pouco, o mundo clama por isso. Na fábrica, na oficina, nos escritórios de projeto, entre operários e doutores.”

Anna Veronica Mautner, psicanalista, Folha de S.Paulo – 11/01/2011

 

“Escrever não dá quando a necessidade é sustento, mas faz toda a diferença na vida. […] Não há quem nos impeça de desenvolver nossas possibilidades. Se elas existem, é quase natural que desabrochem, se não existem, podadas por qualquer coisa que seja, vamos desenvolvê-las alegremente, com humor, só atentas para não cairmos na mesma cela com outra decoração.”

Nina Horta, Folha de S.Paulo – 13/01/2011

 

“Os nativos digitais, aqueles que nasceram a partir dos anos 1990 e não concebem o mundo sem celular nem internet, são estimados em 1,6 bilhão de pessoas, número que cresce a cada dia. Numa pesquisa mostrada por Katherine Savitt durante o último Web 2.0 Summit, em San Francisco, Califórnia, em novembro, 71% das pessoas dessa faixa etária reportaram uso simultâneo de celular com internet e/ou televisão. E 69% disseram manter três ou mais janelas ativas do navegador durante uma sessão de internet. Por conta das tarefas múltiplas, os jovens e ultrajovens são às vezes tachados de DDA, ou seja, portadores de Distúrbio de Deficit de Atenção. Mas será que trocar mensagens tipo SMS enquanto assistem a programas na TV não é algo como conversar no sofá? Desde os anos 60 sabe-se que o sistema nervoso se modifica quando o organismo é exposto a muitos estímulos. Neuroplasticidade é o nome que se dá à capacidade que os neurônios têm de formar novas conexões a cada momento. Será que o cérebro da Geração Z não evolui de maneira diferente da dos mais velhos? Será que essa geração não tem uma capacidade sem precedentes de coletar e processar informações? […] Essa geração parece muito mais afeita a criar e compartilhar seus textos, fotos e vídeos na internet do que todas as gerações precedentes. 93% dos jovens internautas fazem isso, diz a pesquisa. Além de criar e publicar, há o espírito curador. O hábito de sair navegando e selecionar o que se vê, lê ou ouve. Validam o que gostam comentando ou compartilhando o conteúdo de terceiros, profissionais ou amadores. Essa é a forma normal de expressão nas redes sociais.”

Márion Strecker, 50, jornalista, Folha de S.Paulo – 13/01/2011

 

“Navegar é preciso, mas nem sempre se chega ao porto desejado. Os mares deste mundo estão cheios de náufragos do outro mundo.”

Carlos Heitor Cony, Folha de S.Paulo – 13/01/2011

 

“As pessoas devem ser, acima de tudo, curiosas. É a curiosidade que a faz imaginativa, e aí a criatividade emerge. […] O bem-estar é um dos mais poderosos fermentos para a criatividade e a inovação. […] A mesmice cria tédio. E o tédio gera insatisfação. […] É um desafio e uma oportunidade [a convivência]. As cidades europeias reúnem pessoas com origens étnicas e culturais diversas. Na América Latina, as diferenças são sociais. Vejo nessa heterogeneidade um poderoso fermento para a inovação e a criatividade. Acho que a inovação poderosa, num país como o Brasil, vai nascer do convívio e da troca de ideias de pessoas com backgrounds diferentes, da classe A com as classes C, D ou E. Só assim surgem ideias e insights.”

Charles Landry, 62, britânico, especialista internacional em cidades criativas, Revista Época Negócios – janeiro de 2011

1ª semana de 2011

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“É difícil imaginar um mestre que possa exercer sua competência pedagógica sem autoridade para corrigir erros. Comportamento tem que ser corrigido, assim como caligrafia, apresentação de trabalhos e conteúdos. Numa época como a nossa, em que ter uma falta ou falha apontada é visto como humilhação, e a repetição e a imitação são um martírio, como ensinar e como aprender? […] A imposição de tarefas não criativas, não inventivas, é tediosa e deveria poder ser evitada. Assim não se ensina e nem se aprende. Tentativa e erro, repetição, verificação, correção são o caminho para a assimilação.
Para que eu me aproprie de um novo saber, é preciso verificar se o conteúdo (dois e dois são quatro) é correto. […] Professor com medo do aluno, como qualquer ser humano, vai evitar esse desconforto. Vai observar pouco, vai verificar o estritamente necessário, vai fugir do eventual confronto. […] Onde domina o medo do erro, onde se evita a falha em vez de corrigi-la, onde se evita o confronto, se aprende pouco.”

Anna Veronica Mautner, psicanalista, Folha de S.Paulo – 04/01/2011

 

“Justo agora, quando depois de séculos de opressão, a mulher passou a ter voz própria, acontece um fato imprevisto, desagradável e aparentemente inexplicável: a ameaça de extinção do “homo interessantis”. Pelo menos é o que se escuta por aí. […] Antes do movimento feminista, essa era a posição da mulher: um acessório mais ou menos indispensável. O homem se valorizava infantilizando a mulher e depois lamentava não ter uma companheira. Para conversas divertidas e interessantes, frequentava ambientes masculinos. […] Ao colaborar para a extinção do “homo interessantis”, a mulher se vê obrigada a contar com a companhia feminina. Para cimentá-la, é preciso diminuir o homem. O ciclo se perpetua.”

Marion Minerbo, psicanalista, Folha de S.Paulo – 04/01/2011

 

“Existem duas maneiras de abordar o risco. Há o modo analítico, que opera com cálculo probabilístico e lógica formal. É um sistema abstrato e lento, que exige reflexão antes de traduzir-se em ações. Muitas vezes, simplesmente não processamos suas recomendações. […]O outro modo é o experiencial. Moldado por milhões de anos de seleção natural, é intuitivo, baseia-se em emoções e é rápido. Não temos de pensar antes de fugir de um leão. O desafio é encontrar meios de ensinar o cérebro a interpretar de forma visceral informações sobre o perigo de construir em áreas inadequadas ou ignorar leis de trânsito.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 05/01/2011

 

“No fim de semana do Ano-Novo, os mais de 500 milhões de usuários do Facebook postaram um total de 750 milhões de fotos na rede social, número recorde, segundo divulgou ontem o blog TechCrunch. Em julho, a rede social afirmou que 100 milhões de fotos eram postadas por dia. O blog destaca, porém, que atualmente a média já deve ser maior por conta do crescimento no número de usuários.”

Folha de S.Paulo – 05/01/2011

 

“A gente sempre acha que a mudança virá de grandes resoluções: parar de fumar, pedir demissão, declarar-se à Regininha do RH. Às vezes, contudo, são as pequenas atitudes que alteram definitivamente a rota de nossas vidas. Às vezes, são as pequenas escolhas que mais dilaceram o coração.”

Antonio Prata, Folha de S.Paulo – 05/01/2011

 

“A fé não muda muito minha maneira de escrever. Eu só evito palavras de baixo calão, por exemplo. Fora isso, a religião interfere um pouco nos temas que abordo em meus livros. Eu me recuso a escrever sobre adultério. Toda história de amor precisa de um conflito, e os escritores adoram o adultério porque é o mais fácil deles. Duas pessoas se amam, mas não podem ficar juntas porque… uma delas é casada. Quase todos os romances românticos e filmes de Hollywood se enquadram aí. Tenho de procurar outros conflitos. Pode-se dizer que minha fé me obriga a ser um escritor melhor e mais original.”

Nicholas Sparks, 44, escritor americano, Revista Época, 03/01/2011

 

“Em um mundo que substituiu a ideologia pela economia, não importa quanto dinheiro você tem no bolso, manda aquele que pode e deseja gastar, seja no crediário miúdo ou nas grandes tacadas dos cartões platinum. O resto é silêncio. […]

Eu estive na posse de Darcy Ribeiro no Senado no fim da década de oitenta. Darcy fez um discurso belíssimo sobre a importância da educação e declarou que todo aquele que é capaz de ler, no Brasil, é responsável pelo analfabetismo.”

Fernanda Torres, atriz, Folha de S.Paulo – 08/01/2011

2011: O QUE ESCOLHO?

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“A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Dilma Rousseff fez essa citação de nosso extraordinário escritor Guimarães Rosa, no discurso no Congresso, quando da sua posse, logo no dia primeiro. A vida, de fato, tem seus movimentos próprios e a questão é qual nossa postura e decisões diante de cada um deles.

Em meus caminhos e escolhas qual o meu ponto de partida, minha referência, saio da onde? Das minhas certezas imutáveis ou de quem já viveu o suficiente para compreender que desconfiar de si mesmo é bom e necessário? Das fraquezas assumidas ou da ilusão da força própria e do pensamento positivo? De couraças e máscaras que disfarçam bem ou de quem se mostra, se deixa conhecer para valer?

Nesse início de ano onde tanto se projeta, certas considerações podem ser bem-vindas. Atentar para a dinâmica de minhas escolhas pode ser importante. Desejo terminar esse ano maior ou menor do que começo? Dietas à parte penso na alma que cresce e amadurece pelas descobertas que traz consciência sensível, cuidado maior e atenção terna. Menos obsessões, mas, mais aberturas. Ampliando conceitos, abandonando preconceitos, desapegando de coisas supérfluas e desfrutando de sabores ignorados até então.

Viver também é relacionar-se. E relacionar-se é uma possibilidade de me conhecer mais e melhor. Então, o que escolherei? Ampliar e aprofundar relacionamentos, ou, encolhimento da minha própria alma? Quando nos fechamos, impedimos a chegada de outros, optamos pela superficialidade, e assim podemos viver empobrecidos, desperdiçando boas oportunidades.

Claro que há tempo para o recolhimento, a necessidade da solitude, mas me parece que o medo tem predominado nas relações, as distâncias são preferidas, e vivemos escondidos em nossas muralhas particulares.

O que se tem para perder? Se proteger tanto do quê? Por que tanta resistência em se entregar? Preservo o quê exatamente? Nosso medo de perder o que nem sabemos explicar ao certo é perigoso. Quanto mais nos limitamos nas relações, há grande possibilidade de menor sermos.

Tem gente fechada por medo da dor de amar. Outros reclusos nutrem o medo de que se conhecidos serão rejeitados. Outros desistem antes de tentarem por pura preguiça. E assim vamos nos acomodando, concluindo que poucas relações é mais fácil de “controlar”.

A honestidade está em extinção, inclusive nas relações. A farsa pode convencer, mas agarrar-se a uma ilusão é sempre uma vida menor. Enquanto que descobrir as próprias fraquezas e partilhá-las pode ser mais difícil, mas certamente será mais corajoso, verdadeiro e digno.

Uma mentalidade estreita, que vai se estreitando quanto mais medo cultivo, quanto menos amor conheço. Um amor que aprendo quando me arrisco em relacionamentos de amizade, onde exercito a musculatura afetiva, abro novos espaços em mim, permito que outro seja um outro que me ensina novas maneiras de ver e entender a realidade. O que vou escolher?

02 de janeiro de 2011

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“Essa é a era da inclusão, da participação, da disseminação da informação, da busca da igualdade de oportunidades. A complexidade de lidar com esse mundo da inclusão é muito maior e ao mesmo tempo fascinante, pois reflete o fato de estarmos construindo um mundo melhor e mais digno. Enfim, não dá para poucos irem bem num mundo que vai mal!”

Fábio Colletti Barbosa, 55, administrador de empresas, é presidente do Grupo Santander Brasil e da Febraban,  Folha de S.Paulo – 02/01/2011

 

“A palavra religião vem de “religare”, reconectar. Mas com o quê? Escolhas diferentes para religiões diferentes. Ao buscarmos as leis que descrevem a natureza e suas criações, estamos nos reconectando com nossas origens cósmicas. Esse é o meu “religare”, que traz sentido à minha vida e lhe dá direção. Se a vida é fruto da luta contra o inexorável crescimento entrópico e o decaimento material, é ainda mais bela por isso. Por que não chamá-la, afinal, de sagrada?”

Marcelo Gleiser, professor de física, Folha de S.Paulo – 02/01/2011

 

“Mais de um século atrás, Nietzsche observou: ‘Quase 2 mil anos e nenhum Deus novo!’ De fato, embora centenas de novas religiões apareçam e desapareçam a cada ano, faz séculos desde que uma grande religião realmente nova surgiu no planeta. Nós já estouramos o prazo para um Deus novo. Nossa atual ordem religiosa formou-se no que Karl Jaspers chamou de ‘era axial’ – aquele período extraordinário entre 800 a.C. e 200 d.C. que testemunhou a ascensão do monoteísmo com o zoroastrismo, o surgimento do budismo, a criação do confucionismo e a florescência da filosofia humanista grega. […] Três tecnologias nos trouxeram para o limiar de outra mudança axial hoje. O transporte aéreo deu às populações uma mobilidade sem precedentes. O contêiner intermodal distribuiu uma cornucópia de produtos para todos os cantos do mundo. E o ciberespaço tornou-se um promíscuo viveiro de ideias seminais. Agregue a isso tudo a dose atual de miséria humana com as guerras, revoluções e desastres naturais, e o resultado é um potente caldo de cultura a partir do qual um novo Deus poderia surgir. A ascensão do fundamentalismo é um indicador seguro de insatisfação com a atual ordem religiosa. Os crentes descontentes olham primeiro para suas raízes em busca de conforto, mas as origens raramente reconfortam e, assim, eles inevitavelmente procuram por um novo Deus.”

Paul Saffo, diretor-gerente e de previsão da Discern Analytics, e professor visitante da Universidade de Stanford, “O Mundo em 2011” – Revistas The Economist/Carta Capital – janeiro-fevereiro de 2011

01 de janeiro de 2011

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“Feliz Ano Novo desejamos uns aos outros na data de hoje, porque a felicidade é o estado da alma que nos leva à sensação de plenitude emocional mais abrangente que a condição humana é capaz de atingir. Em nome dela, passamos a existência atrás de dinheiro, realização profissional e um lugar ao sol. Por ela, damos o melhor de nós: ajudamos o próximo, fazemos amigos, criamos filhos, cultivamos o espírito e passamos tanto tempo à procura do amor. E também o pior: a avareza, o egoísmo, a tendência espúria de explorar os mais fracos. É o bem mais desejado. Para viver infeliz, de que vale todo o dinheiro do mundo? – reza a sabedoria popular.

Drauzio Varella, Folha de S.Paulo – 01/01/2011

 

“Escreve-se muito sobre este interessante e recorrente fenômeno que é a renovação de esperanças, propósitos e projetos em cada ano novo. A simples virada de uma página no calendário provoca nas pessoas até mesmo a revisão dos valores e dos objetivos, como se tudo fosse começar do zero. O que alimenta essa curiosa atitude é a esperança. Sempre comento com meus alunos na universidade que a esperança é o grande combustível da vida. Para que seguir se não houver a expectativa de que as coisas vão melhorar, o futuro é promissor e tudo vai dar certo? Se não há esperança de dias mais risonhos, a vida não faz sentido.”

Roberto Rodrigues, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp,  Folha de S.Paulo – 01/01/2011

31 de dezembro de 2010

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“As mulheres vivem com os nervos à flor da pele. Um levantamento realizado pela Med-Rio, especializada em check-ups, com 10.000 executivas ao longo dos últimos 20 anos mostra que o número de mulheres estressadas aumentou de 40%, no início dos anos 1990, para 60% em 2010.. ‘A dupla jornada de trabalho submete as mulheres à mesma tensão, ou talvez até maior, que a vivida pelo homem. Como consequência, elas estão desenvolvendo uma série de patologias que antes eram mais frequentes no universo masculino’, diz o especialista em medicina preventiva Gilberto Ururahy, diretor médico da Med-Rio. Quem mais sofre com os altos níveis de estresse é o coração. Na década de 60, para cada vítima feminina de doenças cardiovasculares havia nove masculinas. Hoje, depois da emancipação feminina, a proporção é de uma para três.”

Claudia Miranda, Revista Você S/A – dezembro de 2010

 

“Tolerância é uma forma de respeito, sim, mas a tolerância com o desrespeito perde sua essência. Uma sociedade assim desrespeita a si mesma, banaliza a educação, embrutece as relações, diminui seu valor e compromete seu futuro. E tudo começa nos pequenos atos, que se replicam nas grandes decisões.”

Eugenio Mussak, rofessor do MBA da FIA e consultor, Revista Você S/A – dezembro de 2010

 

“Ao subir a rampa, em primeiro de janeiro de 2003, Lula carregou com ele uma história de vida incontrastável e uma nítida boa vontade de pobres, de ricos e da classe média que antes o rejeitava. Ao descer, em primeiro de janeiro de 2011, deixa um raro registro de sucesso para a história. Ele pegou o bonde da estabilidade andando e tocou em frente, movido por um ambiente internacional francamente favorável e por sua estrela, inteligência, intuição, carisma e empatia com o seu povo. Em seu governo, milhões de pessoas saíram da miséria, geraram-se empregos, ampliou-se o crédito, famílias pobres entraram no mercado consumidor. Ele ficou com o carimbo da justiça social num país sempre tão cruelmente desigual. […]Lula desce a rampa idolatrado dentro e fora do país e inebriado por um balanço que lhe é inegavelmente favorável. Mas a vida continua, a história está sendo escrita. Fora do poder, o desafio do homem Lula será sustentar o mito Lula.”

Eliane Cantanhêde, Folha de S.Paulo – 31/12/2010

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