48ª semana de 2011

0

“Deve-se admitir que a audácia por si só não é valor artístico. Nada me alegra mais do que me deparar com uma criação artística inovadora, mas, para isso, não basta fugir das normas, das soluções conhecidas e situar-se no polo oposto: é imprescindível que a obra inusitada efetivamente transcenda a banalidade e a sacação apenas cerebral ou extravagante. O que todos nós queremos é a maravilha, venha de onde vier, surja de onde surgir. […] Não é função da arte retratar a realidade, mas reinventá-la.”
Ferreira Gullar – Folha de S.Paulo, 27/11/2011

“Não conheço nenhuma palavra mais bonita do que ‘serendipity’. […] Inventada por um inglês, em 1754, que se inspirou numa lenda persa, ‘serendipity’ é uma palavra impossível de ser traduzida para outros idiomas num único termo. Superficialmente, ela significa o prazer das descobertas ao acaso. Um velho amigo encontrado numa inóspita cidade estrangeira, os acordes de um violino tocado em um parque numa tarde de outono, uma súbita paisagem de uma praia que aparece quando caminhamos numa mata fechada. Um encontro amoroso no final da madrugada, quando já estávamos conformados de ficar sozinhos ou um prato feito com ingrediente exótico num improvável restaurante de beira de estrada. Mas o significado profundo de ‘serendipity’ vai além do imprevisto. É o encanto da transformação dos acasos em aprendizagem. O bacteriologista Alexander Fleming viajou de férias e se esqueceu de guardar os pratos em que fazia experiências para curar infecções. Um fungo caiu do teto em um desses pratos. Descobriu-se o antibiótico. Se o tal fungo não tivesse caído na frente de um bacteriologista atento, seria apenas um bolor inútil. Por trás da palavra, existe a ideia de que o melhor da vida é a aventura do aprender pela experiência – o que compensaria os riscos e a dor provocada pelos sucessivos erros. […] Aí está a dor e a delícia do ‘serendipity’: para viver experiências, sempre estamos nos despedindo de alguma coisa de que gostamos.”
Gilberto Dimenstein – Folha de S.Paulo, 27/11/2011

“Se prevalecer a ideia de que a mulher é um bibelô a ser preservado, prevalecerá também a interpretação mais obscurantista do Islã, segundo a qual a mulher é propriedade do homem, e não ator com vontade própria.
Essa desgraçada cultura impregna ainda o mundo todo, a ponto de exigir um Dia Internacional contra a Violência de Gênero. No mundo árabe, essa (in)cultura é mais forte, exatamente pelo ranço da interpretação radical do Corão.”
Clóvis Rossi – Folha de S.Paulo, 27/11/2011

“A crise que afeta a zona do euro não alterará esse rumo político nem os compromissos assumidos quanto ao financiamento de ações climáticas urgentes em cooperação com os países menos desenvolvidos. […] É essencial que, em 2020, o aumento global de emissões seja contido e que, em 2050, decresça em 50% relativamente aos níveis de 1990. Trata-se de desafio global cuja resposta só pode ser encontrada com a cooperação de todos.”
Ana Paula Zacarias – Folha de S.Paulo, 27/11/2011

“Os homens estão comprando itens de luxo exatamente como as mulheres. Estão até se apaixonando por sapatos. É o que sugere estudo da Bain & Company, que usa a expressão ‘feminilização da sociedade’ para descrever o atual padrão de consumo. […] ‘Todas as marcas de luxo estão agora se concentrando em desenvolver suas linhas masculinas. Os homens têm se tornado mais e mais ‘fashion’ e ido às compras assim como as mulheres’, diz a italiana Claudia D’Arpizio, parceira da consultoria.”
Verena Fornetti – Folha de S.Paulo, 27/11/2011

“Acidentes acontecem e é muito mais difícil, senão impossível, preveni-los sem rigorosa fiscalização e com métodos de exploração obsoletos e análises sísmicas incompetentes. Não temos um plano nacional de emergência para vazamentos e só pensamos em discutir a questão dos royalties, ‘com a excitação com que algumas famílias debatem o testamento de um tio bilionário’, como bem observou Fernando Gabeira.”
Sérgio Augusto – O Estado de S.Paulo – 27/11/2011

“Quando houve o surgimento da moda dos blogs, muitos articulistas, principalmente os mais jovens, saudaram a chegada de uma linguagem e tecnologia que iria combater a mídia ‘mainstream’, com estilo mais autoral, atitude mais independente, interação mais democrática. Rodo por alguns blogs, sobretudo de moda, e vejo exatamente o contrário: escrita primária, comprometimento publicitário, busca da audiência pela audiência. Já os twitters, já chamados imprecisamente de microblogs, parecem confirmar cada vez mais a impressão de José Saramago: são grunhidos virtuais. Alguns de música postam um vídeo e só acrescentam a expressão ‘uau’ ou ‘uhu’ ou ‘ooôôôoo’. Isso que é argumento. Abro então o Facebook, que pouco mais é do que uma caderneta de contatos com álbuns de família e mensagens breves, e volto a pensar no livro de Alain de Botton: a era do exibicionismo veio para ficar, e não há ritual comunitário que possa reverter a tendência.”
Daniel Piza – O Estado de S.Paulo – 27/11/2011

“Se o teatro não for o lugar para discutir os temas da humanidade, da política, da economia, para pensarmos como vivemos e quem somos, eu não sei para que ele serve. Para que seria? Para a beleza? Existem muitas outras coisas bonitas. A poesia é muito mais bonita. O teatro é onde as pessoas podem, juntas, se engajar em alguma coisa. […] Hoje, falamos ao telefone enquanto estamos em uma reunião. Assistimos à televisão enquanto estamos na internet. Onde mais você pode fazer unicamente uma coisa? Apenas no teatro. E as pessoas vão valorizar isso cada vez mais e mais. […] Há sempre política, economia e questões sociais no que escrevo. Porque não fazer isso seria se dedicar a uma arte para privilegiados. As únicas pessoas que não se preocupam com economia, política e a sociedade são as que têm dinheiro suficiente para não ter que pensar nisso.”
Mike Barlett, 30, dramaturgo e diretor – O Estado de S.Paulo – 27/11/2011

“A maior parte dos tumores tem mais de um fator de risco, mas, entre todos eles, o mais comum é o envelhecimento. Ele faz com que as células fiquem ais tempo expostas a fatores que podem transformá-las em cancerosas. Mas se abrem oportunidades. O câncer não é doença que se forma do dia para a noite. É um processo muito longo, de uma a duas décadas, com exceção dos tumores associados a síndromes familiares. Então temos a oportunidade de atuar na juventude, reduzindo os riscos. Você nunca vai conseguir eliminar todo o risco, mas pode reduzi-lo. O jovem sempre pensa que é invulnerável e tende a ser um pouco mais solto em relação a hábitos. Mas o que ele faz agora vai cobrar a conta daqui a algumas décadas. Queremos conscientizá-lo de que hábitos saudáveis agora podem evitar que ele enfrente esse problema daqui a 20 anos.”
Marcelo Gehm Hoff, 43, médico, diretor do hospital Sírio-Libanês e do Instituto Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) – O Estado de S.Paulo – 27/11/2011

“O consumo sustentável abrange tudo. É preciso pensar nisso desde a hora em que se acorda, economizando água, luz, telefone. Comprando menos detergentes e levando a sacola para o supermercado. Não comprar o que pode não usar para não ter desperdício. Tem que começar em casa e fazer sempre. Não se muda da noite para o dia, é preciso ir incorporando, ampliando as ações e dando exemplos para outros grupos, como trabalho, vizinhança.”
Lisa Gunn, coordenadora-executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) – O Globo – 27/11/2011

“Muitas pessoas diriam que ‘crescer numericamente’ é o ideal de todos, posto que sempre podemos COMPRAR mais, ser DONOS de mais coisas! Mas será este o único ideal de vida, de ambição e de felicidade para todo mundo, mesmo? Ou é parte do pacote de infelicidade eterno do que não somos ou não temos, em comparação com os ideais de beleza, sucesso e riqueza vendidos nas revistas, na televisão, no cinema comercial etc.”
Mônica Salmaso, cantora, Revista O Globo – 27/11/2011

“No dia em que todo ser humano for dotado de bom-senso, não precisaremos legislar sobre a quantidade de álcool tolerada ao volante ou sobre o que é razoável na fundamental tarefa de impor limites aos pequenos.”
Antônio Góis – Folha de S.Paulo, 28/11/2011

“As escolas, sobretudo as públicas, operam sucateadas, sem estrutura condizente, e conduzidas por professores justamente desmotivados, em virtude da tibieza dos seus salários. No Brasil há solução para quase tudo, menos para encontrar uma resposta condigna para essa questão que vem desde meados do século passado. É certo que o perfil do aluno está mudando. […] Como pretender alunos críticos, reflexivos e investigadores se lhes falta o essencial, que é o adequado domínio da língua portuguesa?”
Arnaldo Niskier, 75, doutor em educação – Folha de S.Paulo, 28/11/2011

“O medo é um sentimento expresso com frequência hoje em dia pelos cristãos árabes, uma triste ladainha para uma comunidade antiga, que durante muito tempo foi uma força política e cultural no mundo árabe. Milhões de cristãos -distribuídos principalmente por Egito, Líbano, Síria, Jordânia, Iraque e territórios palestinos- viraram pouco mais do que meros espectadores de fatos que estão remodelando um lugar que essa comunidade ajudou a criar, e às vezes são vítimas da violência desencadeada por tais fatos. Em meio a tantas narrativas que as revoltas árabes representam -de dignidade, democracia, direitos e justiça social-, muitos cristãos se limitam a uma versão mais sombria: a de que seu tempo pode estar se esgotando. ‘Não sou um cristão fanático’, me disse um amigo. ‘Não vou à igreja. Respeito todas as religiões. Mas, pelo que vejo agora, em 30 anos não restarão mais cristãos aqui.’ Os temores quanto ao destino dos cristãos do Oriente Médio costumam entrar de forma desconfortável no conflito entre o Ocidente e o mundo islâmico. Mas focar nesse conflito e nos fanatismos que o cercam é ignorar as nuances daquilo que os cristãos representam para esta região, e as lições que a sua história em outras épocas de tumulto podem oferecer. ‘Há uma parte do islã em cada árabe cristão’, me disse certa vez em Beirute o jornalista, diplomata e intelectual Ghassan Tueni. […] Os cristãos, me disse um amigo, foram marginalizados no mundo árabe por não terem líderes capazes de articular uma identidade que fosse além da religião e criasse uma comunidade mais ampla. […]As sociedades podem simplesmente ter mudado demais para que se imagine uma reconciliação entre fé e secularismo. Há muito poucas vozes dentro das minorias oferecendo tal visão, e muito poucos líderes para articulá-la.
Mas, há tantos anos, Al Bustani teve uma ideia que era tão simples quanto elegante: cidadania.”
Anthony Shadid – New York Times/Folha de S.Paulo, 28/11/2011

“A palavra ‘sustentável’ hoje em dia é como ‘ética’, ‘Cabala’, não quer dizer nada. É como escrever na porta de uma padaria ‘sob nova direção’ só para atrair clientes. Propaganda provinciana.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 28/11/2011

“Dizem os psicanalistas que, quando pequenos, temos prazer em cada centímetro do corpo. Com o passar do tempo, contudo, também a pele vai sendo adestrada, e a libido acaba restrita às “red light zones” de nossas íntimas moradas. Eis a nossa sina, buscar em vão o Éden perdido: na mulher amada, nas religiões, nas drogas.”
Antonio Prata – Folha de S.Paulo, 30/11/2011

“Viver está muito além das mesquinharias da realidade política, em que se ganha ou se perde, e da realidade individual também, em que só se pode ganhar ou perder na vida! Isso importa pouco em relação a esse outro mundo que te aguarda, esse outro mundo possível, que está na barriga deste. Vivemos num mundo infame, eu diria. Não nos incentiva muito, é um mundo malnascido. Mas existe outro mundo na barriga deste, esperando, que é mundo diferente e de parto complicado. Não é fácil o nascimento, mas com certeza pulsa no mundo que estamos.”
Eduardo Galeano, Revista Trip – novembro de 2011

“É banal que o amor nos leve a querer transformar parceiros e parceiras de forma que eles correspondam a nossas expectativas. O projeto de moldar o outro transforma qualquer convívio numa violência.”
Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 01/12/2011

“O fim da exigência, no ano passado, de um prazo mínimo de separação antes da formalização do divórcio resultou num aumento recorde de 37% dessa prática em relação a 2009, e numa queda de 32% no número de separações.
Os casamentos que terminaram em divórcio duraram, em média, 16 anos, sendo que 41% deles não passaram dos dez anos, proporção que era de 33% em 2000, segundo as Estatísticas do Registro Civil, divulgadas ontem pelo IBGE. […] As únicas faixas etárias em que houve diminuição na proporção de casamentos foi entre homens e mulheres com menos de 24 anos, o que indica que brasileiros têm adiado a formalização do casamento.”
Antônio Góis – Folha de S.Paulo, 01/12/2011

47ª semana de 2011

0

“Dados do Censo 2010 divulgados na última semana revelam que a fecundidade no Brasil caiu para 1,86 filho por mulher. Chama a atenção, em primeiro lugar, a grande velocidade com que o índice despencou. Meio século atrás, em 1960, ele era de 6,2. Isso significa que o Brasil fez em cinco décadas o que a Europa levou mais de cem anos para conseguir. Como reduzir a fertilidade e, por extensão, a população não constitui um fim em si mesmo, é preciso analisar as implicações do fenômeno. […] Decisões antipáticas, como alterar (e para pior) o regime da aposentadoria, precisam ser tomadas. No limite, é preciso pensar em abrir o país à imigração, outra medida impopular. Os obstáculos são tantos que a tendência é empurrar a encrenca para nossos filhos e netos. É pena, pois o atraso torna o problema mais difícil de administrar.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 20/11/2011

“A ciência avança por meio de seus fracassos. Novas ideias são necessárias quando as velhas não podem explicar as observações. Portanto, não há explicações finais, apenas explicações melhores. […] É difícil combinar objetividade e subjetividade. […] Talvez devamos ouvir as sábias palavras de Sócrates, que há mais de 24 séculos já dizia que o essencial é conhecer a si mesmo.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 20/11/2011

“Ter um dom é uma coisa preciosa, seja ele escrever, fazer publicidade ou cozinhar.”
Danuza Leão – Folha de S.Paulo, 20/11/2011

“Temos de aprender a conviver com a nossa insignificância, por melhores que nos consideremos.”
Gilberto Dimenstein – Folha de S.Paulo, 20/11/2011

“Cantor tem que ser bonito porque imagem vende. Se não for, pelo menos tem que estar bem cuidado. Minhas cantoras fazem dieta quando engordam, porque dou ataque. Nunca achei que isso pudesse entrar em choque com minha igreja. Se são filhos de Deus, [artistas] têm que ser pessoas que mostram que são felizes.”
Yvelise de Oliveira, 60, presidente da maior gravadora gospel do país, a MK Music – Folha de S.Paulo, 20/11/2011

“Jung dizia que muitas terapias estagnam porque acende-se uma lanterna no escuro mas ilumina-se o lugar errado do bosque. Na educação tem sido assim. Coloca-se o facho por sobre a reciclagem do professor, a tecnologia na sala de aula, o aumento de horas na escola ou melhor gestão do sistema. Apesar de tudo isto ser obviamente relevante, passa ao largo do cerne. Estamos em transição, e tempos efêmeros causam perplexidade institucional. Viemos das caixinhas de currículo, disciplinas e mestres exigentes, e estamos rumando para o ensino autopropulsionado, a diluição da importância da estrutura escolar, e o fim das barreiras artificiais que métodos e cartilhas impõem.
Ricardo Semler – Folha de S.Paulo, 21/11/2011

“A religião vem sendo tratada como uma espécie de bem de consumo individual, de forma que valores essenciais, como o senso de comunidade, de lealdade e de transcendência, têm se perdido.”
Rodrigo F. de Sousa, teólogo – Revista Claudia – novembro de 2011

“Franqueza e transparência são fundamentais para as relações de amizade. Sem tais características, o relacionamento amoroso que caracteriza a amizade não sobrevive. Aliás, nem sequer vive. Outra característica básica de pessoas que querem ser amigas de outras é a maturidade para controlar os próprios impulsos em favor da amizade. Saber renunciar a prazeres imediatos para preservar o amigo é condição fundamental. […] Devemos nos perguntar se, num mundo que dá extremo valor ao individualismo, à realização de nossos caprichos e ao prazer imediato, há lugar para a amizade. Deve haver. Afinal, são os amigos que dão sabor à nossa vida, que a iluminam, que fazem com que valha a pena viver, mesmo enfrentando as mazelas inevitáveis com as quais nos deparamos. Podemos fazer algo para que os mais novos conheçam essa alegria?”
Rosely Sayão – Folha de S.Paulo, 22/11/2011

“Desejo não é igual a vontade, é trama mais complexa. Começa com nossos instintos animais e vai se enriquecendo com aquilo que o atrai. A admiração é uma dessas coisas. Mas tudo começa com a imitação. Como no aprendizado da língua. Imitamos o português que ouvimos: sotaque; sofisticação ou falta dela; riqueza ou pobreza vocabular.”
Francisco Daudt – Folha de S.Paulo, 22/11/2011

“O Brasil moderno, se quiser governar na Rocinha, deverá merecer a autoridade que ele pretende exercer, ou seja, deverá fazer o que ele, durante muito tempo, não fez: cuidar de seus sujeitos.”
Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 24/11/2011

“Sendo verdade que passamos a viver de modo mais rápido, individualizado e fora de controle, inseridos em redes e estruturas cortadas por riscos e crises permanentes, então ficou mais difícil controlar o que quer que seja. A corrupção adquiriu ‘vida própria’, atingindo áreas e pessoas antes tidas como inatingíveis. Também cresceu a percepção social dela, o que a torna ainda mais intolerável. Isso não significa que sejamos impotentes perante esse problema, que se alimenta de hábitos seculares, bebe em muitas fontes e afeta tanto o setor público quanto o privado. Não poderemos, porém, eliminá-lo pela raiz se o reduzimos à responsabilidade pessoal ou acharmos que a solução virá de mera (e difícil) mobilização da sociedade civil. Avanços consistentes dependerão de múltiplas ações combinadas e só alçarão voo sustentável se estiverem articulados com uma perspectiva reformadora e democrática do Estado e da política.”
Marco Aurélio Nogueira – O Estado de S.Paulo – 26/11/2011

“Posso dizer que o dia mais importante de minha infância foi quando descobri que sabia ler. Eu tinha de 4 para 5 anos. Foi como assistir ao próprio parto.”
Ruy Castro – Revista Claudia – novembro de 2011

46ª semana de 2011

0

“Artistas, músicos e celebridades: nós os amamos, adoramos, somos obcecados por vocês e os compramos. Mas nossos sentimentos mudaram. Vocês estão distantes demais e queremos sair deste relacionamento. Queremos sentir que fazemos parte de uma coisa mais significativa. Não, não é sua culpa. É nossa.”
Anita Patil – Folha de S.Paulo, 14/11/2011

“A vida pode ser miserável e pequena. Triste constatação. Mas miserável pode ser apenas a constatação de que anatomia é destino, como dizia Freud. O corpo, essa massa mortal que perde a forma com o tempo, é nosso lar, uma casa em que habitamos e que nos abandona, deixando-nos a herança do pó.”
Luiz Felipe Pondé – Folha de S.Paulo, 14/11/2011

“A literatura acadêmica mostra que investir na educação infantil pode gerar vários benefícios. Pesquisas em neurociência mostram que o aprendizado acontece com mais facilidade na primeira infância do que em estágios posteriores da vida da criança.
Além disso, como a aprendizagem em cada nível de ensino depende do conhecimento acumulado em estágios anteriores, a atenção dada à primeira infância aumenta a efetividade das escolas. A educação dada a crianças de 0 a 5 anos também pode contribuir para o estímulo de determinadas características de comportamento e traços de personalidade, como sociabilidade, autoestima, persistência e motivação. Vários estudos mostram que, além de melhorar o desempenho escolar, essas características comportamentais reduzem a probabilidade, no futuro, de envolvimento dessas crianças com drogas e de participação em atividades criminosas.”
Fernando Veloso – Folha de S.Paulo, 14/11/2011

“O corrupto não se admite como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca, peixe não belisca. […] O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido.
Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos. Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas.”
Frei Betto – Folha de S.Paulo, 15/11/2011

“Sofremos com um sentimento de iniquidade, uma vontade de mudança, uma tensão do espírito crítico.”
Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 17/11/2011

“Os diagnósticos da ONU já nos mostram consumindo mais de 30% além da capacidade de reposição da biosfera terrestre; se tivermos de aumentar a produção de alimentos em 70% nas próximas décadas para atender à população crescente e à redução da pobreza, agravaremos a situação, pois a ‘pegada ecológica’ (área necessária para atender às necessidades de um ser humano) também já está mais de 30% além da disponibilidade – e seu crescimento significará mais degradação do solo, mais desertificação, mais crise da água, mais perda da biodiversidade, etc., etc. Sem falar em agravamento das mudanças climáticas. Mas como se fará se 1,44 bilhão de pessoas no mundo ainda não dispõem de energia elétrica e em sua maior parte terão de ser abastecidas com mais queima de carvão e petróleo, principalmente na China e na Índia, como adverte a Agência Internacional de Energia? E como tirar do âmbito da fome crônica quase 1 bilhão de pessoas? Outros padrões de consumo terão de ser observados. Nossos modos de viver terão de ser repensados.”
Washington Novaes – O Estado de S. Paulo, 18/11/2011

“A dissonância cognitiva, segundo o qual a mente procura sempre harmonizar suas cognições, isto é, pensamentos, sensações e memórias. Quando elas estão em conflito e percebemos isso, diz-se que estão em dissonância. E o problema é que essas tais dissonâncias cognitivas são uma verdadeira tortura neuronal. Para evitar a dor da contradição, o cérebro simplesmente trapaceia. A fim de reconciliar as cognições, ele se utiliza do que estiver à mão. Valem truques bobos, como simplesmente fingir que não viu. Não é um acaso que um dos mais arraigados hábitos de políticos seja responder só o que lhes interessa, ignorando as perguntas difíceis. Quando isso não é suficiente, linhas de defesa mais complexas são acionadas. Memórias podem ser suprimidas e alteradas. Cognições harmonizadoras podem ser criadas. O detalhe é que a pessoa quer tanto acreditar na versão que lhe é mais favorável que, muitas vezes, não distingue suas próprias fabulações da mais dura realidade. Perde até mesmo a noção de quão esfarrapadas parecem suas desculpas a observadores que não estão em dissonância.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 18/11/2011

“A liberdade de expressão incomoda, e sempre houve tentativas de cercear sua atividade. […] Todas as vezes em que a sociedade optou pela repressão, escreveu páginas trágicas. […] A questão da liberdade do humor é séria. Não se pode levar a sério o que é mero humor, produzido num contexto de humor, com a intenção apenas de fazer rir.”
Eduardo Muylaert – Folha de S.Paulo, 18/11/2011

“A dificuldade que temos é a mesma de sempre: grupos religiosos que fazem da homofobia sua plataforma eleitoral, pessoas que confundem o combate aos atos de violência contra homossexuais com o apoio à união estável ou ao casamento e senadores nada interessados em se expor por um assunto cada vez mais radicalizado e mal compreendido por uma parte do eleitorado. A consequência desse apequenamento e conservadorismo dos parlamentares tem sido o aumento de crimes homofóbicos no Brasil e a judicialização de uma responsabilidade que é do Congresso.”
Marta Suplicy – Folha de S.Paulo, 19/11/2011

“Construir esse equilíbrio indispensável para o futuro da vida em todos os níveis é a grande tarefa que se apresenta à inteligência humana. Nossa ação hoje é o plantio que nossos netos e bisnetos colherão. Novas formas de organização social, empresarial e política precisam ser analisadas e criadas, numa corrida contra o tempo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O desafio é mudar e reconfigurar os modelos de produção e consumo.”
Roberto Rodrigues – Folha de S.Paulo, 19/11/2011

“Nós temos o dever de impedir o crime continuado que a indústria do fumo pratica impunemente contra as crianças brasileiras. Fumar não pode ser encarado como um simples hábito adquirido na puberdade. Hábito é escovar os dentes antes de dormir ou colocar a carteira no mesmo bolso. O cigarro deve ser tratado como o que de fato é: um dispositivo para administrar nicotina, a droga que provoca a mais torturante das dependências químicas conhecidas pelo homem.”
Drauzio Varella – Folha de S.Paulo, 19/11/2011

45ª semana de 2011

0

“De vez em quando é bom parar e refletir sobre coisas que pensamos ser triviais. Com frequência, descobrimos que o que tomamos como simples é bem mais complicado do que parece.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 06/11/2011

“Aumentamos o número de crianças e adolescentes na escola, sim. Os anos de escolaridade também. Falta muito. Mas já descobrimos que sete anos de escola no Brasil não ensinam o mesmo que na Argentina ou no Chile. Não garantem que a criança aprenda a ler e a escrever direito ou a fazer contas simples de matemática.”
Ruth de Aquino – Revista Época, 07/11/2011

“Antigamente, oito anos de escolaridade bastavam. Mas, na sociedade do conhecimento, você precisa de 11 anos para ter alguma chance. Até 2006, a exigência de ensino fundamental e médio no mercado de trabalho empatava. Depois, a exigência de empresas pelo ensino médio triplicou. O país coloca 97% das crianças no ensino fundamental, mas só 50% dos que têm de 15 a 17 anos estão no ensino médio. E não têm bom desempenho. Só metade deles termina. Vai ser uma geração perdida – e o apagão de mão de obra vai piorar.”
Wanda Engel, educadora – Revista Época, 07/11/2011

“O cérebro dos pequenos se adapta às técnicas e às tecnologias disponíveis. Nada tem a ver com aumento de capacidade intelectual. Certamente o ser humano é tão esperto ou modorrento quanto o foi no ano 1000 e não tem lógica achar os alunos de hoje mais capazes. […] Alunos têm aprendido a linguagem escrita em dois mundos paralelamente. Começam a brincar com o teclado, que segue um raciocínio de QWERT (do teclado) e não de ABCDE. Aprendem a linguagem com o dedinho estendido, em vez de curvá-lo em torno de um lápis. Mas o que aconteceria se uma criança de quatro anos aprendesse a ler e escrever apenas digitalmente, para, depois, reforçar esse conhecimento com caligrafia manual? Não há estudo algum no mundo sobre isso, o que é curioso.
Há experiências de aprendizado paralelo digital-manual, mas ninguém sabe que sinapses se formariam, durante essa fase indelével dos circuitos mentais, em termos de cognição. Será que a forma de perceber o mundo seria alterada se a alfabetização inicial fosse feita apenas com estímulos digitais? É possível que esse processo desemboque em uma maneira diferente de apreender sequências. O digital estimula mais cedo e se veste de moderno, mas isso é progresso? Ou apenas atraso no lúdico?”
Ricardo Semler – Folha de S.Paulo, 07/11/2011

“Todos sabemos que a educação brasileira tem problemas sérios de qualidade e acesso. Sabemos também que têm havido melhoras importantes desde a década de 90.
A dúvida é se essas melhoras caracterizam um avanço contínuo que, em poucos anos, nos colocará no mesmo nível dos países mais desenvolvidos ou se estamos diante de um impasse. Se há um ‘teto de vidro’ que temos dificuldade em enxergar, mas que nos impede de avançar com a velocidade e a qualidade que precisamos, fazendo uso adequado dos recursos disponíveis. […] O país precisa começar a aprender, em vez de continuar tentando fazer sempre mais do mesmo de sempre, que é o que tem sido a prática dominante até agora.”
Simon Schwartzman – Folha de S.Paulo, 07/11/2011

“- O que leva alguém a vazar informações do exame fundamental para milhões de jovens? -Por que espancar o diferente faz alguém se sentir melhor ou mais aliviado?
-Por que dinheiro ou status social fazem as pessoas se sentirem inatingíveis? -Até que ponto penso no outro quando assumo riscos? -Por que tão pouca gente “paga” por seus erros? De um lado, muita gente sai por aí achando que pode fazer o que der na telha.
Bater no outro, guiar sob efeito de bebida, se considerar acima de tudo e de todos, não enxergar os riscos e olhar apenas para o próprio umbigo são alguns dos sentimentos que existem por trás de uma sociedade que anda pra lá de individualista, mas segue imatura, incapaz de pesar seus atos. […] Danem-se os outros! Eu faço o que quero e não estou nem aí para quem paga essa conta. E aí? Seguimos de braços cruzados?”
Jairo Bouer – Folha de S.Paulo, 07/11/2011

“Um fenômeno que ocorre na internet: vídeos que exibem crianças em situações diversas, feitos e postados por seus pais, se transformam em fenômenos de audiência.
Um dos últimos mostra a reação de uma garotinha quando seus pais dão a ela uma surpresa de aniversário: uma viagem à Disney. O que deveria ser um acontecimento íntimo entre pais e filha, olho no olho, com afeto e vínculo, ganhou a intermediação de uma câmera, já com o intuito de exibir ao mundo a reação da criança. Um espetáculo.”
Rosely Sayão – Folha de S.Paulo, 08/11/2011

“Uma crise psicológica significa aumento insuportável do sofrimento psíquico devido à desestruturação de nossas categorias de ação e de orientação do desejo.
O sociólogo Alain Ehrenberg havia cunhado uma articulação consistente entre a atual epidemia de depressão e um certo ‘cansaço de ser si mesmo’. Por sua vez, boa parte dos transtornos psíquicos mais comuns (como os transtornos de personalidade narcísica e de personalidade borderline) são, na verdade, as marcas da impossibilidade dos limites da personalidade individual darem conta de nossas expectativas de experiência. É possível que, longe de serem meros desvios patológicos, estes sejam alguns exemplos de uma crise em nossos modelos de conduta que crescerá cada vez mais.”
Vladimir Safatle – Folha de S.Paulo, 08/11/2011

“O mundo está dividido entre os milhões abaixo da linha da miséria, que não têm nada, e os que têm. Mas todos sonham com abundância. Falo dos que têm, mas isso inclui os que sonham em ter o mínimo e, depois, bastante. […] O vício da acumulação pode ser visto também entre pessoas de estilo e recursos mais modestos. […] Vivendo neste mundo em que os bens mais caros são o silêncio e o espaço, não é fácil arrumar lugar para tudo. E aí caímos num terrível círculo vicioso.”
Anna Veronica Mautner – Folha de S.Paulo, 08/11/2011

“A maturação das estruturas ocorre de trás para a frente, de modo que a última região a “ficar pronta” é o córtex pré-frontal, área responsável por planejar o futuro, tomar decisões complexas e controlar a impulsividade, entre outras funções essenciais para a vida em sociedade. O pré-frontal não amadurece antes da terceira década de vida, lá pelos 25 anos. Isso significa que jovens podem se parecer e até falar como adultos, mas não agem como eles. […] Será que, quanto mais aprendemos sobre o cérebro, menos espaço sobra para a responsabilidade individual? Há neurocientistas, como David Eagleman, que afirmam que avanços nessa área exigirão uma revolução no Direito.”
Hélio Schwartsman – Folha de S.Paulo, 09/11/2011

“A insensatez e o corporativismo jogaram a imagem do Judiciário no balcão da defesa de causas perdidas. Não se pode criar um critério para decidir o que engrandece ou apequena a magistratura. Pode-se, contudo, seguir a recomendação subjetiva do juiz Potter Stewart, da Corte Suprema americana, tratando de outra agenda: “Eu não sei definir pornografia, mas reconheço-a quando a vejo”
Elio Gaspari – Folha de S.Paulo, 09/11/2011

“Israel não é um país. É uma discussão calorosa de 8 milhões de primeiros-ministros.”
Amós Oz – Folha de S.Paulo, 10/11/2011

“Os dez anos mais quentes da história da Terra foram de 1998 para cá. O aumento médio da temperatura tem sido de 0,2 grau por década. No extremo norte do planeta, a elevação é maior (3 graus) por causa do derretimento de gelos polares. O nível das águas oceânicas tem aumentado 2,5 milímetros por ano (1992-2011). A concentração de CO tem deixado a água mais ácida – o que pode afetar biodiversidade, a pesca, o turismo. Outra questão séria está na redução de geleiras nas montanhas, já que um sexto da população mundial depende da água que delas escorre. E que se vai fazer, lembrando que 1,44 bilhão de pessoas ainda não contam com energia elétrica e o suprimento dependerá (principalmente na Índia e na China) da queima de petróleo e carvão? As energias renováveis ainda são apenas 13% do total, apesar do investimento de US$ 211 bilhões no ano passado.”
Washington Novaes – O Estado de S. Paulo, 11/11/2011

44ª semana de 2011

0

“A desconfiança em relação à inovações é uma constante humana. Sempre recebemos as novas tecnologias com um misto de esperança e receio. Há 2.400 anos, o pensador grego Sócrates temia que a escrita acabasse coma memória das pessoas. Ele previu que a possibilidade de registrar pensamentos por meio de símbolos sobre uma tábua de cera levaria a um enfraquecimento da mente e raciocínio. O surgimento da imprensa de Gutemberg, na Europa da Idade Moderna, provocou uma reação parecida em alguns elitistas. Eles achavam que a difusão maciça de livros provocaria a banalização da cultura. Aconteceu o oposto. Em retrospecto, pode-se dizer que a difusão de conhecimento é invariavelmente um fenômeno positivo. Com a internet, é evidente que a humanidade ganhou nesse quesito. A dúvida diz respeito àquilo que perdemos. Algo que um dia poderá parecer tão ridículo quanto as palavras de Sócrates sobre a escrita – ou tão essencial quanto o resto de suas ideias.”
Alberto Cairo, Peter Moon e Letícia Sorg – Revista Época, 31/10/2011

“Agora que a população mundial ultrapassa 7 bilhões de pessoas, os alarmes estão começando a disparar. Crescentes protestos cidadãos são a expressão popular de um fato evidente: a incerteza econômica cada vez maior, a volatilidade dos mercados e excessivas desigualdades chegaram a um ponto crítico. […] Com sabedoria e visão, podemos aproveitar este momento para lançar os alicerces de uma prosperidade econômica saudável, inclusiva e responsável com o meio ambiente, e que chegue a todos. Se agirmos todos juntos -agora- podemos nos afastar do precipício e melhorar a situação para as gerações futuras. Não nos enganemos: essas são decisões difíceis e não podem ser adiadas. O tempo está passando.”
Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU – Folha de S.Paulo, 02/11/2011

“Para o psicanalista, o caminho da verdade é o que permite decifrar o inconsciente, ou seja, o da escuta.”
Betty Milan, psicanalista – Revista Veja, 02/11/2011

“Nunca tive muita tolerância com processos e burocracia. Meu desejo natural de seguir em frente, depressa, é o que alimenta meu espírito empreendedor. A liberdade de agir com presteza e de pôr em prática uma ideia baseada nos instintos teve um efeito fantástico sobre a companhia, sobretudo em seus primeiros anos de vida. Contudo, a impaciência tem também um lado sombrio e, no decorrer dos anos, minha intolerância com os processos por vezes se tornou um ônus, especialmente quando o ímpeto de seguir adiante passava por cima da necessidade de uma preparação cautelosa.”
Howard Schultz, fundador e presidente da Starbucks, Época Negócios – novembro de 2011

43ª semana de 2011

0

“Apenas uma população bem informada será capaz de tomar as decisões para um futuro melhor. Por isso, precisamos de mais ciência na mídia, nas escolas, nas nossas comunidades. Se o Brasil quer estar entre as cinco maiores potências mundiais nas próximas décadas, precisará de uma população educada cientificamente, preparada para competir com países que sabem da importância da ciência para o desenvolvimento.”
Marcelo Gleiser – Folha de S.Paulo, 23/10/2011

“Existe um denominador comum das crises econômicas, sociais e ambientais do nosso planeta: o padrão de consumo humano. Os estilos de vida da sociedade são um dos fatores que resultam nas chamadas doenças crônicas não transmissíveis: câncer, doenças respiratórias, condições cardiovasculares, hipertensão e diabetes, que matam no mundo cerca de 35 milhões de pessoas por ano. Tabagismo, alimentos com alto teor de gordura, sal e açúcar e o consumo nocivo de bebidas alcoólicas causam mais de dois terços dos novos casos dessas doenças. […] O homem é parte do ambiente em que vive. Os agravos sobre a saúde do planeta e a saúde humana têm causas interligadas. Para resolvê-los, é imperativo que os países adotem uma abordagem sistêmica e integrada.”
Luiz Antônio Santini e Tânia Cavalcante – Folha de S.Paulo, 23/10/2011

“O número de amigos no Facebook não mede apenas popularidade. Mede também o tamanho de áreas do cérebro associadas a uma rede que compreende memória, emoções e interações sociais. Pessoas com essas áreas mais expandidas conseguem desenvolver mais relacionamentos? Ou mudaram seu cérebro porque usam mais o Facebook, estabelecendo mais relacionamentos? Os cientistas da University College de Londres, responsáveis pela pesquisa, divulgada na semana passada, não sabem.
O que imaginam saber, graças a uma série de testes de ressonância magnética, é que existe uma relação entre o tamanho de certas áreas do cérebro e o número de amigos. […] Se, por um lado, há dúvidas sobre como a tecnologia cria novos circuitos cerebrais, é sabido, por outro, que o cérebro é plástico, molda-se aos estímulos externos. Isso significa que a inteligência pode aumentar ou diminuir.”
Gilberto Dimenstein – Folha de S.Paulo, 23/10/2011

“Na Líbia, na Síria, o povo se ergueu contra a falta de liberdade e os privilégios de que gozam os donos do poder e clama por democracia. Onde há democracia, como nos países ocidentais, as causas do descontentamento são outras; atrevo-me a dizer que se rebelam contra os excessos do regime capitalista. E aqui me parece estar a novidade. É isso aí: os jovens dos países capitalistas vão à rua para exigir mudanças radicais no capitalismo. A coisa ainda não está explícita e daí a dificuldade de apreendê-la e defini-la. Mas é isso que me parece surgir nas ruas dessas numerosas cidades: uma visão crítica do capitalismo que não tem nada a ver com Karl Marx nem com o que se define como esquerda. […] Não obstante, tendo derrotado o comunismo e se tornado o dono do pedaço no mundo inteiro, o capitalismo agora é questionado por aqueles que nunca leram Marx. Por isso mesmo, não podem os seus defensores alegar que os que estão nas ruas exigindo mudanças são subversivos a serviço de Moscou ou de Pequim, hoje tão capitalistas quanto Nova York ou Londres.”
Ferreira Gullar – Folha de S.Paulo, 23/10/2011

“Ágape, álbum do padre Marcelo Rossi, já é o CD mais vendido do ano, ainda que lançado há pouco mais de um mês: 1,4 milhão de unidades, um número que impressionaria mesmo nos tempos em que ainda existia indústria fonográfica.”
Revista Veja – 24/10/2011

“Viramos súditos das respostas simplórias. Todos fazem estudos que demonstram que professores melhores e mais tempo em sala de aula dão resultado melhor. Como a questão de professores melhores é subjetiva, e que leva tempo (uma ou duas décadas) para se consertar, parte-se para o segundo item. Assim, começa a grita pela escola integral e por mais tempo na sala de aula. Como se torturar a meninada com mais horas monótonas e mal pensadas fosse resultar em aprendizado duradouro. Que bobagem! Isso não passa de um clichê, que serve para dar aos pais e aos políticos a sensação, idealizada, de que algo está sendo feito. O custo é altíssimo, e esse percentual a mais de PIB que iria custear um aumento de jornada deveria ser usado na reforma curricular. […] No mundo que está por vir, com currículos baseados na web e abolição gradual do sistema conteudista, acrescentar horas de aula é quase um ato criminoso. Essa dinheirama precisa ser redirecionada a fim de preparar as escolas para a revolução digital. Que, aliás, permitirá aos alunos surfarem questões em casa, em vez de acorrentá-los às carteiras.”
Ricardo Semler – Folha de S.Paulo, 24/10/2011

“Com uma infraestrutura subdimensionada, o trabalhador sai de casa mais cedo, volta mais tarde, descansa menos, produz menos, é mais ansioso, adoece mais e consome menos. Nossa infraestrutura é cara por falta de planejamento, que, por sua vez, decorre de falhas na educação. A educação ineficiente, além de não conseguir capacitar gestores para um planejamento competente, cria um contingente de profissionais subcapacitados que exercem funções que pouco agregam em produtividade e muito pesam no custo. […] Educação limitada sai caro, prejudica nossa capacidade de planejar e torna o Brasil menos competitivo. Precisamos de menos chefes e mais engenheiros e administradores competentes. Precisamos aprender a planejar, o que nunca soubemos fazer. À nossa nação não falta dinheiro. Falta apenas saber empregá-lo melhor.”
Gustavo Cerbasi – Folha de S.Paulo, 24/10/2011

“Faço o convite para que você repense sua atitude a cada situação que envolva dinheiro. Não pense simplesmente em economizar. Esqueça a preocupação de poupar intensamente. Procure melhorar suas escolhas e faça com que sejam coerentes, saudáveis e equilibradas. Se fizer isso, estará dando um grande passo em direção à prosperidade.”
Gustavo Cerbasi, Revista Época – 24/10/2011

“A corrupção virou a pior forma de barbárie de nossa democracia não apenas porque mercadeja com o destino de crianças ou porque sacrifica vidas em hospitais imundos e estradas abandonadas, mas principalmente por ter transformado a política numa indústria complexa, cuja finalidade é a apropriação da riqueza de todos para fins privados (e fins partidários são fins privados).”
Eugênio Bucci, jornalista e prof. da ECA-USP, Revista Época – 24/10/2011

“É preciso diagnosticar e atuar sobre aquilo que pode diminuir nosso ímpeto desenvolvimentista. A melhoria da Educação é tarefas, a um só tempo, mais urgente e mais de longo prazo que temos de cumprir. Fazer com que as crianças se alfabetizem solidamente, que os jovens concluam o ensino médio e que nossos estudantes ampliem nossas capacidades científicas e tecnológicas é o grande passaporte para o futuro. Para isso, é preciso caminhar, mesmo que aos poucos, para o modelo necessário: escola de tempo integral, carreira docente atraente, comprometimento da escola com o aprendizado dos alunos, monitoramento constante dos resultados escolares e incentivo para a adoção das melhores práticas pedagógicas.”
Fernando Abrucio, cientista político, prof. da FGV/SP, Revista Época – 24/10/2011

“Devemos olhar com admiração o que jovens de todo o mundo fizeram em 2011. Em Túnis, Cairo, Tel Aviv, Santiago, Madri, Roma, Atenas, Londres e, agora, Nova York, eles foram às ruas levantar pautas extremamente precisas e conscientes: o esgotamento da democracia parlamentar e a necessidade de criar uma democracia real, a deterioração dos serviços públicos e a exigência de um Estado com forte poder de luta contra a fratura social, a submissão do sistema financeiro a um profundo controle capaz de nos tirar desse nosso ‘capitalismo de espoliação’. […] Ao serem questionado sobre o que querem, muito jovens respondem: ‘Queremos discutir’. Pois trata-se de dizer que, após décadas da repetição compulsiva de esquemas liberais de análise socioeconômica, não sabemos mais pensar e usar a radicalidade do pensamento para questionar pressupostos, reconstruir problemas, recolocar hipóteses na mesa. O que esses jovens entenderam é: para encontrar uma verdadeira saída, devemos primeiro destruir as pseudocertezas que limitam a produtividade do pensamento. Quem não pensa contra si nunca ultrapassará os problemas nos quais se enredou. Isso é o que alguns realmente temem: que os jovens aprendam a força da crítica.”
Vladimir Safatle – Folha de S.Paulo, 25/10/2011

“Tempos econômicos difíceis podem aproximar as pessoas. Depende muito da resposta social para a crise econômica, das comunidades aos sindicatos. Se houver determinação em compartilhar a resposta, a consequência psicológica pode ser até muito boa. Se a resposta for “cada um por si e o diabo fica com o último”, mais pessoas terão que lutar.”
Raewyn Connell, socióloga australiana – Folha de S.Paulo, 26/10/2011

“Hoje, a tecnologia digital facilita o trabalho dos falsários, e, graças à internet, um boato se transforma rapidamente numa certeza coletiva.”
Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 27/10/2011

42ª semana de 2011

0

“Em geral, temos pouca vontade de saber sobre o que desconhecemos. É preciso ter informações básicas e iniciais para querer seguir descobrindo. Por exemplo: eu não posso me interessar por estudar a obra de Van Gogh (1853-1890) se não sei que ele existe.”
Myriam Nemirovsky, pesquisadora argentina – Revista Nova Escola, outubro de 2011

“Se o homem é uma máquina sem alma, ele não tem liberdade de escolha, e, se ele não é livre, a própria ideia de moral perde seu sentido.”
Contardo Calligaris – Folha de S.Paulo, 20/10/2011

“O Brasil tem lideranças femininas em quase 14% das maiores empresas atualmente, segundo a Hays Executive. Há dez anos, essa participação girava em torno de 6%.
‘O Brasil caminha para um equilíbrio. Mas, em cargos de presidência ainda está longe’, diz Cynthia Rejowski, da Hays Executive no Brasil.”
Maria Cristina Frias – Folha de S.Paulo, 20/10/2011

“Na maioria das vezes, fazemos muitas coisas sem sequer refletir sobre elas. A questão é que boa parte do tempo estamos ligados a uma espécie de piloto automático. Tirar o pensamento desse modo significa assumirmos a direção. E isso requer maior esforço da nossa parte: prestar atenção no caminho, manter a concentração, segurar firme no volante. E nem sempre esse esforço parece realmente valer a pena (quando não enxergamos uma real vantagem nele). Então, nos mantemos presos aos hábitos que já estão aprendidos, e temos uma baita dificuldade de nos desprender deles. […] Temos de tomar consciência sobre o que estamos ou não fazendo, seja em direção à transformação ou até à permanência dos padrões – se essa for nossa vontade. Estar no controle é o fator mais importante para definirmos as rotas do caminho e chegarmos bem ao fim dele. Seja seguindo a ordem da lógica, seja pulando algumas páginas.”
Rafael Tonon, Revista Vida Simples – outubro de 2011

“As pessoas sentem culpa, não por terem de reprimir seus desejos e fantasias, mas, sim, por não estar à altura de seus desejos e fantasias. Há, então, uma procura cada vez mais desesperada de exigências de satisfação, que passa pelos objetos. O saldo disso, longe de ser uma espécie de quietude, é essa transformação da sociedade, na qual a depressão é o quadro clínico mais presente atualmente.”
Vladimir Safatle, Revista Psique – outubro de 2011

“No Brasil, todos conhecem e denunciam a corrupção, a injustiça social, o desleixo dos políticos, mas numa perspectiva fatalista, do ‘este país não tem jeito mesmo…’, e não numa via de engajamento em projetos transformadores.”
Maria Rita Kehl, Revista Cult – outubro de 2011

“Ser criativo para transpor os obstáculos que aparecem pelo caminho. O que distingue o profissional criativo dos outros é sua atitude em relação aos problemas. O criativo direciona sua energia para a solução. Não fica paralisado, lamentando o problema.”
Renato Grinberg, Revista Você S/A – outubro de 2011

“Antes de classificá-la como líder em ascensão é preciso buscar indícios de sua capacidade de aprender depressa com a prática, de um genuíno interesse em ampliar seu escopo e de disposição a assumir obrigações adicionais sem muito aviso prévio.”
Claudio Fernández-Aráoz, Boris Groysberg e Nitin Nohria, Harvard Business Review – outubro de 2011

“Não devemos ter atitudes bipolares diante da globalização. O ideal é encontrar um caminho entre a euforia e a negação. Nos negócios, a maneira mais eficiente de fazer isso é se debruçar sobre as diferenças em seu setor em particular, e não apenas na diplomacia mais ampla que rege os países. […] O mais importante é reconhecer que as diferenças entre os países são tão importantes quanto as semelhanças.”
Pankaj Ghemawat – prof. na Iese Business School, Época Negócios – outubro de 2011

Go to Top