Contando os dias

31ª semana de 2013

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“Como definir o mal? Como se manifestou o mal neste início do século 21? E será que muitos reagiram de forma banal aos episódios de mal que vivenciaram? […]O mal está entre nós. Está nesses episódios, está nos crimes associados às drogas, está na violência e no desrespeito contra os pobres. Mas é difícil para nós nos indignarmos, porque esse mal é banal. Só quando ele deixa de sê-lo, e a sociedade se torna indignada, pode ele ser combatido e, em alguns casos, vencido.”

Luiz Carlos Bresser-Pereira, Folha de S.Paulo – 29/07/2013

 

“A modernidade é toda feita para servir ao pequeno autoritário, o ‘eu’: ele exige mais sucesso, mais autoestima, mais saúde, mais dinheiro, mais beleza, mais celulares, mais viagens, mais consumo, mais direitos, mais rapidez, mais eficiência, mais atenção, mais reconhecimento, mais equilíbrio, melhor alimentação, mais espiritualidade para que ele não se sinta um materialista grosseiro.”

Luiz Felipe Pondé, Folha de S.Paulo – 29/07/2013

 

“O que dizer de um papa que se diz pecador? Estaria ele dessacralizando o papado? Em partes, explica o historiador e padre José Oscar Beozzo. ‘Francisco dessacraliza o que deve ser dessacralizado no papado, isto é, formas de poder herdadas do fato de o bispo de Roma ter-se tornado um príncipe e chefe de Estado.’ O foco do pontificado de Francisco é seu caráter pastoral.”

Ocimara Balmant, O Estado de S.Paulo – 30/07/2013

 

“Não acho graça quando dizem que alguma falha, bizarrice, relaxamento ou incompetência é o jeito brasileiro. Não concordo quando autoridades dizem que atrasos em ocasiões oficiais fazem parte da cultura brasileira… Não acho que errar o trajeto ou combinar mal ou nem combinar nada sobre o trajeto de um papa, sabido séculos antes, nas tantas vezes convulsionadas ruas do Rio atual, seja apenas jeito brasileiro. E, se for, a gente tem que corrigir.”

Lya Luft, Veja – 31/07/2013

 

“Para a política do passado, que às veze se tem que encarar seu outono antes de viver sua primavera, toda transformação deve ter um guia, uma pauta, um interesse por trás. A ideia de que nossa insatisfação, pode ser catalisada como um verdadeiro acontecimento, justamente por que ela ainda não adquiriu a fisionomia dos processos institucionais habituais, ou porque ela se posiciona na geografia mental de que dispomos, torna-se então inaceitável.”

Christian Dunker, Cult – julho de 2013

 

“Creio que nossas instituições estão falidas e temos que começar a repensá-las por completo. O que a Fundação Casa oferece? O que o Estado oferece? […] Acho que temos de fazer todas as reflexões possíveis para mudar esta realidade. Em trinta anos, as mudanças foram pequenas no Brasil, não fizemos nenhuma grande reforma como a política, a educacional, na área de saúde, transporte, habitação… e, pior ainda, sinto falta de que a intelectualidade participe mais ‘na base’. Desde os meus tempos de academia sempre tive como espelho pessoas como Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Milton Santos, Celso Furtado… É disso que sinto falta, de novos pensadores.”

Carlos Augusto dos Santos, sociólogo, um dos criadores da Fundação Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas, Sociologia – julho de 2013

 

“Aprender a pensar não significa aprender pensamentos ensinados pelo professor. Para Kant todos podemos aprender a filosofar, exercer o talento da razão; aprende-se a filosofar pelo exercício e pelo uso que se faz para si mesmo de sua própria razão. O papel da reflexão ou da razão autônoma não está em treinar a memória e nem a erudição. Tais parcialidades apenas conseguirão torna-lo dependente, pois esta não é a maneira correta de usar a razão. Quando o professor se deixa levar por esse tipo de laisser-aller – ou  displicência -, tem-se a indicação de que ele não pensa, não tem coragem de posicionar-se, permanece numa condição de absoluta menoridade; ele não pesquisa, não estuda e limita-se a passar esquemas prontos, o que, na prática, significa um servilismo. E isso não é ensinar.”

Geraldo Balduíno, Filosofia – julho de 2013

 

“É quando minha vida deixa de ser minha que ela começa.”

Gustavo Gitti, Vida Simples – julho de 2013

 

“A poesia mesmo nasce de um estado de espírito de perplexidade diante do mundo. Não é algo que você faça porque quer. O poema utiliza a linguagem verbal, que é organizada.”

Ferreira Gullar, Folha de S.Paulo – 03/08/2013

 

“Acho que nada supera o momento presente, por mais que tenha sido maravilhoso o que já foi vivido. Agora, o que já foi vivido me interessa como caminho para o que está vindo.”

João Anzanello Carrascoza, O Estado de S.Paulo – 03/08/2013

 

“Em 1988, Ramsay MacMullen, conhecido historiador especializado em Roma, da Universidade de Yale, publicou um livro analisando uma das questões fundamentais nesse domínio: por que o maior império da história do mundo entrou em colapso no século 5.º? A causa, segundo ele, foi a corrupção, que se tornou sistêmica no fim do Império Romano. O que antes era imoral passou a ser aceito como prática comum e o que antes era ilegal foi comemorado como normal.”

Fareed Zakaria, O Estado de S.Paulo – 03/08/2013

30ª semana de 2013

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“O que Martin Luther King fez foi tornar a consciência universal e a hipocrisia visível, e insuportável.”

Verissimo, O Estado de S.Paulo – 25/07/2013

 

“Firme no protagonismo da Igreja na sociedade atual, o pontífice disse que ‘frequentemente uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros’. Francisco conclamou os fiéis a serem ‘luzeiros da esperança’ e focou sua mensagem nas novas gerações: ‘Os jovens não precisam apenas de coisas, precisam, sobretudo, que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo’.”

Ocimara Balmant, O Estado de S.Paulo – 25/07/2013

 

“O papa Francisco parece ter dado um choque de energia da Igreja. Isso porque foi explícito ao trazer de volta à tradição cristã um tema fundamental do Evangelho: o da pobreza. O Evangelho nasce exatamente desse ponto. Existe uma proximidade com os pobres, com os sofredores. Francisco traz à tona um debate sufocado pela economia, pela tecnologia e também pela cultura. Ao afirmar que existe ‘outra coisa’ mais importante, o papa tornou-se radical. Ele tem essa força de dizer ‘não’ àquilo a fazer parte do poder dominante. E faz esse discurso com simplicidade e com base na lógica do Evangelho. Francisco usa a simplificação como um desafio cultural para transmitir uma linguagem mais radical.”

Gaetano Lettieri, Carta Capital – 24/07/2013

 

“A juventude é a janela pela qual o futuro entre no mundo e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se mostrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhes espaço.”

Leonardo Boff , Valor – 26/07/2013

 

“O papa fala muito mais por seus gestos do que pelos testemunhos formais. Ele insiste muito na credibilidade entre o discurso e o que você faz, no ato de dar exemplo.”

José Oscar Beozzo, teólogo e doutor em história social, Valor – 26/07/2013

 

“Se há algo que ficou claro com os protestos de junho e seus mais modestos sucedâneos de julho é o despreparo, para não dizer leviandade, de nossos governantes. É verdade que eles foram apanhados de surpresa e corretamente detectaram a necessidade de dar respostas. Admite-se ainda que sejam apenas humanos e não tenham muita ideia do que deve ser feito. O problema é que, em vez de reconhecer que não contam com soluções definitivas e de tentar buscá-las em diálogo com a sociedade (tanto a produção de conhecimento como a construção de instituições sólidas são necessariamente esforços coletivos), nossos dirigentes se põem e baixar medidas provisórias e decretos, que produzem efeitos legais imediatos, como se possuíssem todas as respostas sem margem a dúvidas; […] Legislar é tarefa séria demais para ficar a cargo de uma pessoa ou grupo restrito.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 27/07/2013

 

“O Datafolha comparou os católicos que foram a Copacabana com os evangélicos que participaram da Marcha para Jesus, realizada em São Paulo em junho. A única coincidência é a idade média dos participantes, de 31 anos. De resto, há um fosso entre os fiéis. Os evangélicos dizem ir mais a cultos do que os católicos. Enquanto 50% dos católicos afirmam que vão à igreja mais de uma vez por semana, esse índice atinge 75% entre os evangélicos. Os evangélicos também dizem doar mais à igreja do que os católicos: R$ 220 de média mensal ante R$ 86,08. Os católicos são mais escolarizados do que os evangélicos e por isso tendem a ter mais renda. Entre os peregrinos de Copacabana, 59% têm curso superior, quase o dobro do que os evangélicos (34%). A maioria dos evangélicos (56%) cursou o ensino médio. Os índices de escolaridade nos dois eventos são diferentes dos encontrados na população adulta brasileira. De acordo com o Datafolha, só 17% no país têm curso superior e 42%, ensino médio.”

Mario Cesar Carvalho, Folha de S.Paulo – 27/07/2013

 

“Um Estado laico tem direito de submeter a sociedade inteira a uma minoria de fanáticos decididos a impor suas idiossincrasias e intolerâncias em nome de Deus? Em que documento está registrada a palavra do Criador que os nomeia detentores exclusivos da verdade? Quanto sofrimento humano será necessário para aplacar-lhes a insensibilidade social e a sanha punitiva?”

Drauzio Varella, Folha de S.Paulo – 27/07/2013

 

“Os jovens veem que seus pais não estão em condições de orientá-los na carreira – muitas vezes, por desatualização profissional – e esperam dos chefes a capacidade de orientá-los. Só que esses líderes em geral não tiveram preparação para a gestão de pessoas.”

Danilca Galdini, HSM Management – julho de 2013

 

“Prejuízos na estimulação do desenvolvimento nos primeiros cinco anos de vida, por serem de caráter irremediável, promovem empobrecimento nas aprendizagens futuras, e podem comprometer o desenvolvimento pleno da pessoa, do cidadão, do trabalhador.”

Maria Irene Maluf, Psique&vida – julho de 2013

 

“Podemos nos perguntar que espaço existe para o lírico num mundo cruelmente desigual e devastado. Mas a dificuldade que expresso nos meus poemas tem a ver com a própria escrita do poema. […] Não compartilho com a ideia de que a poesia refletir necessariamente a experiência cotidiana, o que está acontecendo neste momento, e que se não fizer isso será mera abstração amorosa ou lírica, e por aí afora. Eu acho que o lírico pode ser um lugar de resistência no mundo em que vivemos.”

Ana Luísa Amaral, Cult – julho de 2013

29ª semana de 2013

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“A verdade é que não dá para entender, a existência não tem explicação, e o que não tem explicação é absurdo. Absurdo para quem, sensato como eu, quer entendê-la. Já o louco não busca explicações sensatas. Inventa alguma tão absurda quanto o próprio universo. Enfim, a existência é a existência, não precisa de lógica. E é, por isso mesmo, maravilhosa.”

Ferreira Gullar, Folha de S.Paulo – 14/07/2013

 

“A ética aprendida pelos nossos políticos, que a repetem automaticamente, é a que favorece a legislação em causa própria. Desaprender tal comportamento sob pressão das ruas é bom, mas insuficiente para mudar a face de um país submetido à truculência dos que deveriam apenas representar o povo soberano.”

Roberto Romano, O Estado de S.Paulo – 14/07/2013

 

“A fotografia foi a forma que encontrei de conectar o mundo com o que mais gosto. Através da fotografia pretendo inspirar as pessoas a desacelerar. Às vezes é preciso mudar hábitos para perceber a beleza que nos cerca. […] Quem não enxerga o próprio redor dificilmente vai se importar com um lugar distante.”

Marina Klink, O Estado de S.Paulo – 14/07/2013

 

“A vida está tão corrida que as pessoas querem ver algo leve, ágil no cinema. Fora disso é mais difícil dar público.”

Marcelo Adnet, O Estado de S.Paulo – 15/07/2013

 

“96% das pessoas veem TV no Brasil, segundo dados do Ibope – 43% desse universo vê televisão enquanto navega na internet, sendo que 29% comentam nas redes sociais sobre o conteúdo visto.”

Cristina Padiglione, O Estado de S.Paulo – 15/07/2013

 

“Medito todos os dias. Apesar de falar muito, escuto muito bem também.”

Cissa Guimarães, O Estado de S.Paulo – 15/07/2013

 

“Cientistas ligados à World Happiness Database, em Roterdã, Holanda mergulharam num estudo universal para entender as chaves da felicidade. A maior delas é exatamente ‘viver uma vida ativa’. Para ser feliz e ter uma vida recompensadora, diz o professor universitário Ruut Veenhoven, coordenador da pesquisa, é preciso ser atuante, na vida profissional e pessoal. ‘Envolvimento é mais importante para a felicidade do que sabedoria. Ser ativo é um pré-requisito mais poderoso para a felicidade do que entender o porquê das coisas, saber por que estamos aqui.’ Engajamento político e interesses pessoais ajudam a evitar tristeza e ódio, inércia e depressão, diz a pesquisa.”

Ruth Aquimo, Época, 15/07/2013

 

“Pelo fato de eu ser mãe, sei realizar várias tarefas ao mesmo tempo e tenho várias habilidades que não tinha antes, como fazer ‘malabarismos’, mentorear, educar, solucionar problemas e administrar. Agora sou muitíssimo mais produtiva nas horas em que trabalho. A maternidade deveria ser um ponto ao meu favor, não uma desvantagem nas empresas.”

Sara Uttech, The New York Times/Folha de S.Paulo – 16/07/2013

 

“Diálogo não é estratégia de persuasão.”

Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 16/07/2013

 

“É importante que possamos viver a relação com a liturgia e com a fé com simplicidade e sem superestruturas, porque vivemos excessivamente da burocracia, inclusive a Igreja.”

Papa Francisco, O Estado de S.Paulo – 16/07/2013

 

“Nem só de indignação, por mais justa que seja, a gente vive. Toda indignação, ainda que abençoada, seja na medida sensata quando é possível. E com a necessária dose de emoção, pois a emoção é um bom motor de boas causas, desde que não seja irracionalmente conduzida.”

Lya Luft, Veja – 17/07/2013

 

“O que as pessoas estão dizendo é que elas querem um mundo melhor. As pessoas que se movem têm ideal da causa, têm algo novo, que é o componente do prazer, de algo vivencial. Elas estão emprestando corpos e falas para esse movimento. É um avanço de consciência política muito importante.”

Marina Silva, O Estado de S.Paulo – 18/07/2013

 

“Qualquer crepúsculo do indivíduo é um crepúsculo da moral. Pensemos nisso, por favor, quando torcemos, agitamos bandeiras ou falamos, misteriosamente, na primeira do plural. […] Por que preferiríamos ser funcionários do horror a conviver com as incertezas cotidianas do juízo moral?”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 18/07/2013

 

“Em vez de perguntar o que “eles”, os manifestantes brasileiros, querem, talvez fosse o caso de perguntar o que a nova cena política pode desencadear. Pois não se trata apenas de um deslocamento de palco – do palácio para a rua -, mas de afeto, de contaminação, de potência coletiva. A imaginação política se destravou e produziu um corte no tempo político.”

Peter Pál Pelbart, Folha de S.Paulo – 19/07/2013

 

“A referência de toda escrita é a memória do seu autor, que não necessariamente é a memória de coisas vividas. […] Assim como cada pessoa tem um timbre de voz, cada autor é capaz de ser bom ou idiota à sua maneira.”

Michel Laub, Folha de S.Paulo – 19/07/2013

 

“Eu não me importo em ter elementos autobiográficos no meu trabalho porque no cerne o que eu escrevo é ficção. Eu falo mentira como ganha-pão. Mentiras que criam nos leitores a possibilidade de ver a verdade. […] A vida não valeria a pena sem a possibilidade do amor. […] Das pessoas que você conhece quem está confortável com o mundo? Esse lugar não é fácil para nenhum de nós.”

Junot Díaz, O Estado de S.Paulo – 20/07/2013

 

“Devemos nos relacionar no tempo, que é intangível e permite mais liberdade. Nossa cabeça está programada para dividir; aqui e agora, eu trabalho; lá fora e mais tarde, eu vou me divertir. Essa separação é espacial. No tempo, você pode se divertir e produzir, somar, integrar os opostos, tudo. O mundo está mutante e móvel. Não se trata mais de um terreno sólido, estável, em que você se sentia relaxado. Como permanecer em cima de uma coisa que está se alterando o tempo todo? É como dançar em uma cama elástica. Se não achar o seu eixo, seu equilíbrio para ficar e se divertir, você cai fora ou perde o par. Há novidades chegando sem parar. E você precisa replanejar, negociar rapidamente com o contexto.”

Ricardo Guimarães, Claudia – julho de 2013

28ª semana de 2013

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“O descrédito nos políticos atinge os píncaros. As manifestações que se multiplicam pelo País expressam tal sentimento. O verbo indignado está nas ruas. A massa tende a associar signos, símbolos e perfis que representam o poder com os dissabores da vida cotidiana. Na moldura cabem Executivos, Congresso, representantes, juízes corruptos, empresários flagrados na maré de corrupção. Urge, porém, separar a expressão passional da locução racional. Fazer política sem as instituições é cair na escuridão das ditaduras.”

Gaudêncio Torquato, O Estado de S.Paulo – 07/07/2013

 

“O que há de comum com outros movimentos similares e o que há de específico? Uma das características surpreendentes é a força gravitacional de um movimento liderado por jovens de uma classe média diversificada, em que manifestantes das classes C e D marcharam junto aos das classes A e B. Em poucos dias, o que era uma reivindicação tópica adquiriu escala nacional, atraindo cidadãos urbanos não organizados em 360 cidades. Com isso a pauta de reivindicações ganhou em densidade, diversificou-se e converteu-se num alvo móvel. Um dos fatores de sucesso é seu caráter apartidário, graças ao uso intensivo dessa imagem como seu principal asset político.”

Lourdes Sola, O Estado de S.Paulo – 08/07/2013

 

“O desafio dos jovens é manter a força do movimento, num momento em que as manifestações naturalmente diminuem, o inverno e as férias chegam e promessas dos governos atendem parcialmente a algumas demandas. Os políticos deveriam perceber que o desafio é usar essa força para mudar o país naquilo que ele tem de pior. Têm de limpar as feridas para facilitar a cicatrização. Não adianta dourar indefinidamente a pílula, na espera de um Brasil que nunca chega!”

Jairo Bouer, Época – 08/07/2013

 

“O que o movimento de protestos chileno nos ensinou é que o crescimento não é uma panaceia para os problemas de um país. Embora o sucesso econômico de um Estado permita que seu governo enfrente desafios domésticos, esse mesmo sucesso intensifica as pressões para que líderes realizem bem seu trabalho. No Brasil, essa pressão se traduziu em demanda por serviços de boa qualidade para todos. Como no Chile, o sucesso econômico despertou expectativas quanto à capacidade do governo para servir os cidadãos. E porque o governo canalizou bilhões de dólares às instalações para a Copa do Mundo e a Olimpíada, a indignação pela lentidão do governo em usar esses recursos para melhorar as escolas e expandir seus programas sociais se multiplicou. Em certo sentido, portanto, o Brasil é vítima de seu sucesso.”

Carl Meacham, Folha de S.Paulo – 09/07/2013

 

“Os cidadãos cansaram de ouvir tanto horror perante os céus sem que nada mude. […] Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito menos entre valores e interesses práticos. No mundo interconectado de hoje, movimentos protestatários irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Na vida política, tudo depende da capacidade de politizar o apelo e de dirigi-lo a quem possa ouvi-lo. No mundo contemporâneo, essa agenda brota também da sociedade, de seus blogs, twitters, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo.”

Fernando Henrique Cardoso, O Estado de S.Paulo – 09/07/2013

 

“A literatura reconstrói nosso lugar no mundo, nos desenha, é um espelho para que nos vejamos melhor. A leitura de um bom romance é uma viagem visceral, é uma experiência, é um jeito de ter novos olhos e ouvidos. Somos capazes de captar por meio da literatura, conviver com a arte nos faz crescer como seres humanos.”

Nina Horta, Folha de S.Paulo – 10/07/2013

 

“Empresas e outras organizações exigem cada vez mais de seus funcionários a capacidade de entender o mundo ao redor, de pensar criativamente, de criar e de agir com autonomia. É a nossa base cultural, a permear a literatura, a música, o cinema e o teatro, que contém os elementos para desenvolver essas capacidades. São nossas viagens intelectuais pelo mundo das artes a nos permitir escapar das convenções, olhar além dos lugares-comuns, fazer conexões, pensar fora do convencional e buscar novas ideias.”

Thomaz Wood Jr., Carta Capital – 10/07/2013

 

“Em uma época na qual se insiste tanto na importância da criatividade e da inovação, pouco ou quase nada se ouve sobre a renovação do discurso. Não há nenhum personal trainer para a palavra, não conheço receita, manual, regime ou educação dirigida que seja eficiente neste assunto (não confundir com oratória, sedução e coisas do gênero). A cura para isso anda escassa. É na poesia que aprendemos o trabalho de dizer com cuidado e escutar com precisão. Mas quem defenderá a utilidade da poesia como gênero de primeira necessidade da vida relacional?”

Christian Ingo Lens Dunker, Mente&Cérebro – julho de 2013

 

“Se o grito das ruas, ainda que implicitamente, era por ’novas formas de atuação dos poderes do Estado, em todos os níveis federativos’, como disse a presidente, então as ruas perderam. É quase impossível que instituições tão desprestigiadas quanto os partidos e os parlamentos encampem “’novas formas de atuação’.”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 11/07/2013

 

“Pode ser que, aos poucos, as manifestações populares se acalmem. Mas talvez algo irreversível tenha acontecido: uma desconfiança, que existia há tempos (se não desde a origem do país), agora se tornou exasperação. E a exasperação é quase sempre um prelúdio. Ao quê? Seria sábio ter medo? Uma coisa é certa: a responsabilidade pela eventual ‘aventura’ de hoje não é das massas exasperadas, é de quem as encurralou até a exasperação.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 11/07/2013

 

“Estudos da ciência comportamental apontam o ser humano como uma espécie de ‘máquina superconfiante’, que geralmente exagera as avaliações sobre as próprias qualidades. Ao responder a pesquisas sobre seu desempenho, por exemplo, a maioria se considera acima da média – uma conclusão que desafia a possibilidade estatística. Essa defasagem entre a autoilusão e a realidade pode gerar no ambiente de trabalho consequências até piores do que a incompetência das pessoas menos inteligentes, alertam cientistas e consultores.”

Época Negócios – julho de 2013

27ª semana de 2013

“Não há estabilidade política. E os momentos de crise não são a exceção, são a regra. Nas sociedades contemporâneas, a política é essencialmente conflituosa. O miraculoso é observar como tantas sociedades capitalistas encontram momentos de certa pacificação social, dentro de um quadro de injustiças e repressões. Como é possível que as multidões brasileiras, diariamente humilhadas e exploradas, não tenham se manifestado antes? E tenham passado anos num certo torpor? Como até agora não vimos revoltas e irrupções sociais suficientes para contestar o nervo central do sistema? O importante é destravar a vida política. Pensar na relação entre a mudança das estruturas políticas e as demandas das lutas sociais. A política administra o “estoque” de sonhos, desejos e anseios da sociedade. Às vezes faz repressões desses desejos, outras conta com o silêncio de impulsos para a transformação. As manifestações atuais são relevantes, mas não estão atacando a estrutura. É revelador que as pessoas destinem seus impulsos de agressividade e de ódio à arena política estatal, mas quase nunca ao campo econômico e ao próprio sistema capitalista. As vozes das ruas ecoam no nível político, e podem ser responsáveis pelas mudanças dos governantes. E essas vozes não devem se calar.”

Alysson Mascaro, O Estado de S.Paulo – 30/06/2013

 

“Eu não sei como as pessoas podem dissociar as duas coisas. Eu sou o Estado e eu sou a Igreja. Como posso me separar de mim mesmo? Foi quando o Vaticano se afastou da política, que a Igreja Católica começou a ruir e o diabo tomou o seu lugar.”

Reverendo Diaz Garden, fundador da primeira igreja evangélica latina do Bronx (Nova York/EUA), O Estado de S.Paulo – 30/06/2013

 

“A dor do Brasil saiu às ruas sem medo de desbancar o sorriso falso dos políticos. Saiu às ruas graças aos brasileiros de coragem e aos jornalistas que cumprem seu dever. E vem mais por aí.”

Eugênio Bucci, Época, 01/07/2013

 

“O mais importante é que o jovem tem de ser protagonista de um mundo novo. A preocupação da Jornada Mundial da Juventude é que o jovem não se sinta desesperançado. Ele está gritando isso, quer ter esperança, ter um futuro e poder ajudar o mundo a ser melhor. Ele tem como ajudar esse amanhã. Essa é a questão. Por isso, essas manifestações. De todos os legados da Jornada, o mais importante é a esperança da juventude no amanhã.”

Dom Orani Tempesta, Época, 01/07/2013

 

“Você, que acumula objetos e aparelhos de uso questionável e contribui para a formação do lixo eletrônico ao mesmo tempo que reclama da poluição e da exploração do planeta. […] Imerso na rede, você criou um reflexo psicológico em que precisa saber de tudo no momento em que acontece, posicionando-se o quanto antes, já que cada atualização diz mais respeito à opinião dos outros do que ao que você realmente pensa. Você acha que é diferente e no entanto é igualzinho aos que critica. Não espanta que espere cada vez mais da tecnologia e cada vez menos das pessoas.[…] Fruto de um sistema capitalista, a única resposta que a tecnologia pode trazer é mais tecnologia. Ela é só uma ferramenta, não há consciência nela. […] Você é um só. E ainda terá que topar consigo e prestar contas com seu legado.”

Luli Radfahrer, Folha de S.Paulo – 01/07/2013

 

“As igrejas mais frequentadas pelos participantes da marcha, segundo a pesquisa, são as evangélicas Renascer em Cristo (31%), Assembleia de Deus (19%), Batista (6%) e Quadrangular (5%). A idade média dos que compareceram ao evento é de 31 anos, segundo o Datafolha. Em relação à escolaridade, a pesquisa apontou a maioria dos participantes nas faixas do ensino médio (56%) e superior (34%). O instituto indagou os presentes à marcha sobre a contribuição mensal para as igrejas, e o valor médio apontado foi de R$ 220.”

Flávio Ferreira, Folha de S.Paulo – 01/07/2013

 

“Nelson Mandela nos mostrou que a coragem de um homem pode mover o mundo. O mundo é grato aos heróis da Ilha Robben, que nos lembram de que nenhuma algema ou cela pode se igualar à força do espírito humano.”

Barack Obama, O Estado de S.Paulo – 01/07/2013

 

“O que vemos é a falência dos órgãos públicos há muito Esses são os problemas que afetam as pessoas, é uma crise das vidas cotidianas, e não das instituições. As pessoas estão cansadas da vida como ela é nas grandes cidades.”

Fernando Henrique Cardoso, O Estado de S.Paulo – 02/07/2013

 

“No movimento das ruas não se projeta uma revolução. Há uma aspiração por mudanças profundas descoladas do processo político fraudulento e viciado. Esse sentimento guia o barulho das multidões nas ruas.”

Mauricio Dias, Carta Capital – 03/07/2013

 

“Que o universo digital produza essa sensação libertadora é positivo. Que a tecnologia lhe permita multiplicar ao infinito opiniões, contribuições e denúncias é positivo. Que a mídia direta crie uma maneira colaborativa de a sociedade se informar é positivo. Mas a ideia de que é apenas na internet ‘off mídia’ que os fatos são relatados sem manipulação e sem compromissos com aqueles que -para usar um bordão das ruas —‘não me representam’ é desastrosa. Na crise de representatividade, tudo é posto em xeque. Como instituição, a mídia é questionada como os partidos, o governo, o pastor Feliciano, a Copa e por aí vai. […] O cidadão exige participar de todos os processos que afetam sua vida. No país que não quer mais ser passado para trás, mas quer se passar a limpo.”

Junia Nogueira de Sá, Folha de S.Paulo – 04/07/2013

 

“Escutar não é apenas uma condição para saber o que curar e como, escutar é tão importante quanto curar.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 04/07/2013

 

“A pororoca de protestos nas ruas suscita várias tentativas de interpretação. Mas a visão do novo fenômeno está condicionada à posição de cada um: há os que olham da janela, das frestas, dos palácios ou das mesmas ruas onde caminham os manifestantes. Há os que se regozijam com os ventos da mudança e esforçam-se por descortinar novos horizontes. Há os que fecham as janelas e tentam ocultar a beleza do momento nas sombras da intolerância e do autoritarismo, construindo uma narrativa que mantenha tudo no lugar, do jeito que sempre foi. É preciso ir mais fundo e perguntar: o que gerou a insatisfação que explode nas ruas? Como chegamos a tal estado de frustração? Por que os representantes se apartaram dos representados? Por que a corrupção é tão persistente? Por que sacrificamos os recursos naturais de milhões de anos pelo lucro de algumas décadas? Por que predomina a indiferença com o futuro e as próximas gerações? […] O ‘éthos’ do movimento é uma irrupção de valores, o grito de uma ética libertária e profunda. E não foram apenas “os jovens”, mas todas as gerações, pais e avós juntos aos filhos e netos, dizendo: o Brasil é nosso e nós o queremos melhor. A rejeição não era “aos políticos”, mas aos vícios que o sistema por eles criado e gerenciado consagrou. A exigência é básica: respeito.”

Marina Silva, Folha de S.Paulo – 05/07/2013

 

“Grande parte do ajuntamento daquelas pessoas, a maioria jovens, se parece com uma rave, eles se encontram com um propósito cultural e também de diversão, o que explica sua eficácia. Existe o aspecto de arrastão, praticado por aqueles que foram marcados pelo ferrão da História, quer dizer, os menos favorecidos. Mesmo esses, tachados de vândalos pela classe média, têm suas motivações, ainda que sejam discutíveis. As manifestações fazem furos no chão aparentemente sólido da sociedade.”

Gilberto Gil, O Estado de S.Paulo – 05/07/2013

26ª semana de 2013

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“Você sabia? Que a Tunísia, berço da Primavera Árabe, juntou-se a uma coalizão de 20 países em defesa de uma internet livre e aberta? Que há dois anos o país era uma ditadura, onde a rede era censurada, e que hoje é uma jovem democracia onde qualquer pessoa fala o que quiser on-line? Como dizem por lá, ‘falta emprego e educação, mas ao menos eu posso dizer quem é o culpado’. […] A primavera é contagiosa. A energia que primeiro manifestou-se em Túnis mudou o país e a região. O processo de avanços e retrocessos continua e não é fácil. Estamos agora vivendo a adrenalina de que tudo pode acontecer.”

Ronaldo Lemos, Folha de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Nos últimos dez anos, houve muitos avanços no Brasil. Quarenta milhões ascenderam à classe média. Mas a vida nas grandes metrópoles está um inferno. Os serviços são muito ruins. Saúde hoje é um ‘problemaço’. Aquele jovem de 17 ou 18 anos, que está entrando em uma universidade, está irritado com as instituições, com os governos, com as prioridades tomadas. Quando vê uma Copa das Confederações, essa grande desta, esse ‘Brasil do cartão postal’, ele chama para o Brasil real. Esse movimento está com base popular. Tem uma coisa diferente da minha época, da juventude do movimento do impeachment, era mais de juventude de classe média. […] A pauta que esses caras podem ajudar é colocar a vida do povo no centro do debate político.”

Lindbergh Farias, Folha de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Não é com as Diretas Já ou o Fora Collor que se parecem as manifestações atuais. Aquelas iniciativas foram enquadradas e dirigidas por líderes políticos. Possuíam objetivo único e bem definido: o fim da ditadura, o fim de um presidente. Visavam, no fundo, substituir os que detinham o poder. Os manifestantes brasileiros restabeleceram o exercício direto da cidadania, demonstraram que o mar de corrupção não afogou a consciência moral dos jovens, revelaram senso de hierarquia de valores e prioridades superior ao de um governo empenhado em anestesiar os cidadãos com o desperdício circense da Copa. […] A euforia das passeatas, a intoxicação de se sentir ator e sujeito do próprio destino, traz de volta o que ensinavam os gregos: a mais nobre expressão da vida humana é participar do governo da cidade. Para isso, é preciso ter, como dizia Celso Furtado, uma ‘fantasia organizada’.”

Rubens Ricupero, Folha de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Cultura é algo que você passa a precisar depois que tem um contato com ela. […] O teatro lida com coisas que são novas, que são caóticas. O teatro desorganiza. […] Uma linha muito forte: a de que o ser humano precisa ouvir histórias. Quando essa história é bem contada ao vivo, ninguém esquece. É muito difícil esquecermos uma peça de teatro boa. A gente esquece filme, mas peça nunca.”

Lígia Cortez, O Estado de S.Paulo – 24/06/2013

 

“O poder do teatro é pequeno, mas profundo. As experiências teatrais radicais – no sentido de vivas – são decisivas, formadoras. […] O teatro exige conexões.”

Sérgio de Carvalho, O Estado de S.Paulo – 24/06/2013

 

“Existe uma correlação entre participação cívica e o nível de felicidade de uma população. No Brasil, esse engajamento é pequeno. Espero que esses protestos sejam o início de uma mudança, não apenas um desabafo. Por trás desses manifestos, está a insatisfação com os serviços públicos oferecidos num país em que a carga tributária é altíssima: 36%. O aumento da passagem de ônibus é somente a parte visível dessa insatisfação. A inflação incomoda. A sensação de bem-estar advinda do aumento da renda ficou para trás, em 2011 e 2012.”

Eduardo Giannetti, “Revista Época” – 24/06/2013

 

“Não devemos confundir todos esses levantes entre si nem suas causas nem suas estratégias e efeitos. Mas elas têm um ponto em comum. Todas dizem aos dirigentes: ‘Não bebam o nosso sangue, não se comportem como ladrões, não entreguem as chaves da casa aos arrombadores. As pessoas estão cansadas; é verdade, elas parecem passivas e resignadas, mas um dia despertarão e o poder estará ameaçado. Governantes, tenham medo!’.”

Gilles Lapouge, O Estado de S.Paulo – 25/06/2013

 

“[Quanto aos protestos] É um fenômeno inédito, que bota a gente para pensar muito. Os problemas da corrupção, da educação, da saúde e do transporte não são os problemas objetivos, e sim a indiferença dos políticos de um modo geral. Está todo mundo perplexo, mas isso tudo vai ser um bem para o Brasil. […] A crise de ética brasileira é enorme. É claro que não se pode gastar milhões e milhões em estádios para os Jogos Olímpicos se o entorno está em estado de miserabilidade. O combustível é o ódio interno que as pessoas têm contra a injustiça social. […] Agora se pede a mudança de uma moral. Ninguém sabe o que quer, só sabe o que não quer, e vai pedir mesmo assim. Isso é novo, revolucionário, moderno.”

Domingos Oliveira, O Estado de S.Paulo – 25/06/2013

 

“A escola e a saúde públicas são o destino resignado dos desfavorecidos. A insegurança se tornou uma condição existencial, tanto no espaço público quanto dentro da própria casa de cada um. O atraso da Justiça garante impunidades iníquas. Convenhamos, seria mais fácil aceitar essa triste realidade 1) se a corrupção não fosse endêmica e capilar, especialmente na administração pública, 2) se os governantes baixassem o tom ufanista de nossos supostos progressos e sucessos, 3) se a administração pública não fosse cronicamente abusiva e desrespeitosa dos cidadãos e de seus direito. Além disso, o dinheiro no Brasil compra uma cidadania VIP, na qual não só escola, saúde e segurança são serviços particulares, mas a própria relação com a administração pública é filtrada por um exército de facilitadores e despachantes. A sensação de injustiça é exacerbada pela constatação de que muitos representantes procuram ser eleitos para ganhar acesso à dita cidadania VIP.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 27/06/2013

 

“Devemos nos alegrar por termos chegado a um ponto de virada, em que é possível fazer a história fora do museu, deixar a velha e estagnada repetição que nos condena a andar sem sair do lugar. Tenho dito e repetido: é hora de metabolizar, não de capitalizar. Para além das reações, podemos construir respostas, reelaborando, sobretudo, os improvisos que a surpresa do momento nos obriga a fazer e colocando em debate as soluções dadas no susto. De nada adianta o frenesi de anúncios com pompa de grandes soluções, sem a sincera disposição de ver e perceber, de escutar e compreender o que dizem as manifestações. Se formos capazes de ver mais que a superfície, o que fizermos terá maior altura e profundidade. […] Basta reconhecer que o poder – se não está com todos – é de todos.”

Marina Silva , Folha de S.Paulo – 28/06/2013

 

“É preciso mudar ‘tudo’, você sabe, e para ontem. A juvenilização da participação política é um fato, mas, desta vez, está produzindo resultados –as bandeiras dos manifestantes, cada vez mais definidas, começam a chacoalhar o Planalto e o Congresso. E, a indicar que essa juvenilização é sem volta.”

Ruy Castro, Folha de S.Paulo – 28/06/2013

 

“Políticos são como água, tomam a forma que os contêm –mas os nossos assombram pela flexibilidade de suas convicções. Neste momento, por exemplo, ao som das ruas, eles estão batendo todos os recordes de aceitação da pauta popular. Nos últimos dias, cancelaram os reajustes de passagens de ônibus e de pedágios nas estradas, reduziram tarifas de transporte, destinaram os royalties do petróleo para educação e saúde, derrubaram a PEC 37, consideram acabar com o voto secreto entre eles e, intrépidos, tornaram a corrupção crime hediondo, aumentando as penas e levando à prisão dos políticos condenados. ‘Pode o leopardo mudar suas pintas?’, perguntou o profeta Jeremias (13:23). Os de Brasília podem.”

Ruy Castro, Folha de S.Paulo – 29/06/2013

 

“As passeatas não são um fato novo. Mas ganharam em capacidade de organização e de divulgação com o avanço das tecnologias da comunicação. Estão-se tornando mais frequentes e consequentes. Numa era de afirmação da democracia em escala mundial, em que golpes e revoluções têm espaço cada vez mais reduzido, os movimentos sociais e suas manifestações se afirmam como instrumento crucial para a transformação da sociedade. Os gritos da rua são um sinal de alerta. Como bem assinala Manuel Castells, ‘o eco dos movimentos sociais é bem mais forte do que os próprios movimentos, assim como as suas consequências nas instituições e no mundo dos negócios’.”

Sergio Amaral, O Estado de S.Paulo – 29/06/2013

 

“Eu dizia que era só questão de tempo e que uma hora iria transbordar para o presencial. Acabou transbordando. E, ao transbordar, o centro não pode agora ter uma atitude de encapsular a borda. […] Era óbvio que a ideia de fazer um discurso orientado pelo marketing não iria funcionar. […] O que está aí tem a força de uma agenda, na qual a reforma política está dentro, mas também a reforma tributária, o problema da educação, da saúde, da segurança pública. Uma agenda que não é para se fazer para eles, mas sim com eles. Os jovens estão dizendo que querem mais. Mas não é mais do mesmo. Querem mais e melhores serviços públicos, qualidade da representação.”

Marina Silva, O Estado de S.Paulo – 29/06/2013

 

“Se renunciamos ao conhecimento que a arte – e somente a arte – pode nos proporcionar, mutilamos a nossa compreensão da realidade.”

Leandro Konder, Revista Cult – junho de 2013

25ª semana de 2013

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“Desde cedo, os pais devem aproveitar qualquer oportunidade, como uma briga entre irmãos, para conversar sobre sentimentos. Isso ajuda a criar crianças, especialmente meninos, mais sensíveis.”

Amanda Polato, Revista Época – 17/06/2013

 

“A criança se desespera com a ideia de que vai morrer – só que ela ainda não sabe quando. E, na atualidade, em que o mundo adulto foi devassado para as crianças, elas sabem que não são apenas os velhos que morrem: criança também morre. Não é a idade, a saúde ou qualquer outra coisa que possibilita a morte. É o fato de estar vivo. Mas é a partir desse momento que a criança cresce e passa a pensar. Por isso, as crianças não devem ser poupadas do fato, mas acolhidas em seu sofrimento, acompanhadas em sua angústia, apoiadas em seu crescimento. É: testemunhar o processo de humanização dos filhos não é simples. Exige força e coragem.”

Rosely Sayão, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“O Brasil não é um país de sair à rua, salvo em Mundiais. Que saia agora, em massa, ainda por cima para protestar também contra as obras da Copa, é de atordoar qualquer um.”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Em uma cidade onde o metrô é alvo de acusações de corrupção que pararam até em tribunais suíços e onde a passagem de ônibus é uma das mais caras do mundo, manifestantes eram, até a semana passada, tratados ou como jovens com ideias delirantes ou como simples vândalos que mereciam uma Polícia Militar que age como manada enfurecida de porcos. Vários deleitaram-se em ridicularizar a proposta de tarifa zero. No entanto, a ideia original não nasceu da cabeça de ‘grupelhos protorrevolucionários’. Ela foi resultado de grupos de trabalho da própria Prefeitura de São Paulo, quando comandada pelo mesmo partido que agora está no poder. […] Apenas nos EUA, ao menos 35 cidades, todas com mais de 200 mil habitantes, adotaram o transporte totalmente subsidiado. Da mesma forma, Hasselt, na Bélgica, e Tallinn, na Estônia. Mas, em vez de discussão concreta sobre o tema, a população de São Paulo só ouviu, até agora, ironias contra os manifestantes.”

Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Precisamos, antes de mais nada, desfazer alguns equívocos sobre a democracia. Ela até que funciona, mas não pelas virtudes que normalmente lhe atribuímos. Para começar, é preciso esquecer o mito do eleitor racional que compara propostas, as analisa e toma a melhor decisão. Se há um momento em que o cidadão tende a ser especialmente emocional, é o instante do voto. A coisa só dá certo porque, em condições ordinárias, as posições mais extremadas tendem a anular-se, empurrando a escolha para grupos menos radicais. A democracia também não tem o dom de eliminar os conflitos presentes na sociedade. O que ela procura fazer é institucionalizá-los e discipliná-los, para que se resolvam da forma menos violenta possível. Daí que é impossível e indesejável eliminar completamente o caráter meio baderneiro de protestos e atos públicos. Eu não diria que o fato de as ações de movimentos como ‘Occupy’ e ‘Indignados’ não terem se materializado em propostas concretas signifique uma derrota. Ao contrário, mesmo com sua pauta imprecisa e vagamente metafísica, eles contribuíram para modificar as percepções de governantes e da própria sociedade.”

Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“É óbvio que R$ 0,20 a mais nas passagens em São Paulo não seria suficiente para botar o povo nas ruas do país, em multidões cada vez maiores, com imagens impressionantes. Esse foi apenas o detonador, o gatilho de manifestações de grupos distintos e de motivações difusas. […] A fantasia de que o país está um paraíso, uma maravilha, acabou. A verdade dói, mas ajuda a melhorar.”

Eliane Cantanhêde, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

“A cidade de São Paulo é vítima de uma concepção urbanística inapropriada às necessidades de sua população. Segue um modelo composto por um núcleo rodeado por áreas densamente povoadas. Essa concepção espacial induz à construção de custosas vias arteriais de integração que, contraditoriamente, se transformaram nos principais focos de congestionamento. É necessário rever o modelo viário para atenuar os impactos negativos dos congestionamentos, ao menos enquanto se aguarda a maturação dos investimentos de longo prazo em transporte coletivo de massa. É preciso abandonar a visão que privilegia os megaprojetos como construção de vistosas pontes, gigantescos viadutos, vias expressas e túneis que apenas movem os pontos de engarrafamentos para alguns metros adiante, quando não se transformam, eles mesmos, em novos focos de paralisação. É urgente revascularizar o trânsito por meio de intervenções, em geral pequenas, capazes de criar vias alternativas de circulação em áreas de congestionamento.”

Marcos Cintra, Folha de S.Paulo – 18/06/2013

 

 

“Ora, quem há de negar que a qualidade de vida nos centros urbanos tangencia o desespero? A imobilidade urbana, a vertiginosa e sufocante verticalização, a baixa qualidade da saúde, o descaso com a educação, as enchentes, o custo de vida… E, é claro, a insegurança: já esquecemos que o noticiário dos últimos meses veio recheado de casos os mais escabrosos, os quais o governador teima em transformar em mera questão de menoridade penal? […] Voltado quase que exclusivamente à manutenção mecânica de espaços de poder, o sistema político nacional deixou de olhar e sentir a pulsação social, o clima das ruas; a nova sociedade. E é hoje incapaz de compreender, canalizar demandas e representar os cidadãos. Sim, ainda que menos comuns e mais difusos que no passado, há cidades e cidadãos que reagem ao mal-estar que suas autoridades não percebem. Será sempre questão de tempo para que uma fagulha ilumine perigosamente o paiol. Coisa pouca, vinte centavos bastam!”

Carlo Melo, O Estado de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Desqualificar os protestos dos jovens em São Paulo e outras capitais ‘como se fossem ação de baderneiros’ constitui, na avaliação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ‘um grave erro’. Para ele, ‘dizer que (essas manifestações) são violentas é parcial e não resolve’. Na análise FHC aconselhou: ‘Justificar a repressão é inútil: não encontra apoio no sentimento da sociedade. Por isso, ‘é melhor entendê-las’, perceber que essas manifestações ‘decorrem da carestia, da má qualidade dos serviços públicos, das injustiças, da corrupção’. Ele recorreu a um dos mais respeitados estudiosos dos problemas contemporâneos, o espanhol Manuel Castells. ‘Reações em cadeia, utilizando as atuais tecnologias de comunicação, constituem marca registrada das sociedades contemporâneas, como meu velho amigo e colega Manuel Castells mostrou há tantos anos.’ A saída é entender, não reprimir. ‘Quem tem responsabilidade política deve agir, entendendo o porquê desses acontecimentos.’ Esse entendimento pressupõe buscar a razão da insatisfação geral com os governos. As manifestações ‘decorrem de um sentimento difuso de descontentamento e do desejo de um tratamento digno para as pessoas’, concluiu.”

Gabriel Mazano, O Estado de S.Paulo – 18/06/2013

 

“Utilizando redes sociais, os jovens concentram suas insatisfações num objeto de protesto, saem às ruas e passam a se confrontar com as autoridades locais. E o movimento se repete e se espalha. Entre nós espanta a rapidez com que se tem multiplicado pelo País afora. […] Os jovens simplesmente estão dizendo que recebem um serviço inadequado e que não encontram canais políticos para exprimir suas insatisfações. Trata-se de uma crise de representação. Se eles estão subordinados ao ritual das eleições periódicas, estas pouco dizem a respeito de sua vida cotidiana. Os manifestantes são vozes sem voto efetivo. […] Os jovens foram para as ruas vociferando contra o beco no qual foram empurrados. Os jovens já têm demonstrado suas opções por outras formas de vida, o que demanda novas formas de politização. […] E os jovens se defrontam de imediato com a farsa em que se transformou a educação nacional, obviamente com raras e nobilíssimas exceções. Diante do problema mais urgente, pleiteiam mais verbas sem se dar conta da podridão do sistema. Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes. A começar pela reeducação dos educadores, que, na maioria das vezes, ignoram o que estão a ensinar.”

José Arthur Giannotti, O Estado de S.Paulo – 19/06/2013

 

“Sei que a ideia de complexidade é vista como ‘frescura’ e que macho mesmo é simplista, radical e totalizante. Mas, no mundo atual, a inovação está no parcial, no pensamento indutivo, em descobrir o Mal entranhado em aparências de Bem.”

Arnaldo Jabor, O Estado de S.Paulo – 19/06/2013

 

“Seria possível mudar o mundo, mudando por pouco que seja os princípios e valores de cada um de nós? Ou é um velho ideal ultrapassado, e juvenil? Talvez haja um modo de transformar nossa louca futilidade e desvairada busca de poder. […] A gente podia mudar: se cada um mudasse um pouquinho, exigisse muito mais dos líderes em todos os setores, e aspirasse a algo muito melhor. […] Amadurecer não precisa ser renunciar a todas as nossas crenças.”

Lya Luft, Revista Veja – 19/06/2013

 

“Mesmo quem tem emprego e renda é torturado no cotidiano por um país em que o trânsito é infernal, a violência é aterradora, há eternas carências graves na educação e na saúde, os serviços públicos são precários, para não usar uma palavra feia. Na verdade, deveria haver espanto não com os protestos de agora mas com o fato de que nunca tenha havido manifestações de massa contra esse massacre cotidiano (as que ocorreram foram por motivos institucionais).”

Clóvis Rossi, Folha de S.Paulo – 20/06/2013

 

“Os R$ 0,20 de aumento do transporte público foi o gatilho nesse processo de deterioração nas relações entre representantes e representados. Mais uma dentre tantas outras demandas sociais feridas pelo poder público ao longo de anos. Até aí, nenhuma novidade. Mas foi o suficiente para fertilizar um campo minado. Ao deixar o virtual para protestar no mundo real, da universidade às ruas, provocou a identificação imediata dos mais diferentes estratos sociais. A imagem da repressão policial contra os jovens escolarizados despertou o apoio tanto de setores conservadores da classe média, que sofrem de insegurança crônica quanto, ainda que timidamente, quanto dos moradores da periferia, já familiarizados com a violência da instituição. Nesse momento o apoio aos protestos atinge patamar semelhante ao do início da campanha das Diretas, acima de 70%, conferindo-lhe legitimidade. […] Esses episódios alertam o poder público para a urgência da criação de canais de participação adequados aos contrastes da cidade. É preciso ouvir a população, antes que ela grite.”

Mauro Paulino, Folha de S.Paulo – 20/06/2013

 

“Na principal capital do país, incendeiam-se dentistas, mata-se à toa. Na cidade maravilhosa, os estupros são uma rotina macabra. Enquanto isso, os juros voltam a subir, impostos, tarifas e preços de alimentos estão de amargar. E os serviços continuam péssimos. É por essas e outras que a irritação popular explode sem líderes, partidos, organicidade. Graças à internet e à exaustão pelo que está aí.”

Eliane Cantanhêde, Folha de S.Paulo – 20/06/2013

 

“Não haverá mais política como conhecemos até agora. Daqui para a frente ela irá em direção aos extremos. Uma sociedade, quando passa por mobilizações populares como as que vimos nas últimas semanas, fica para sempre marcada. Nesse sentido, devemos nos preparar para um embate de outra natureza. Quando a política popular ganha as ruas em uma reação em cadeia, todo o espectro de demandas sobe à cena. Uma contradição de exigências que pode dar a impressão de estarmos em um buraco negro da política. No entanto, não há que temê-la, pois tal contradição é a primeira manifestação de um novo conflito de ideias que servirá de eixo de combate. Por isso, a política brasileira não se dará mais no interior de partidos que há muito perderam sua função de caixa de ressonância dos embates sociais. Ela será decidida nas ruas. […] Agora é hora de compreender que o verdadeiro embate começou e será longo. Agora não é hora de medo. Agora é hora de luta.”

Vladimir Safatle, Folha de S.Paulo – 22/06/2013

 

“É uma espécie de grito da sociedade, rebelada contra as condições de vida nas cidades. Não se trata apenas de transporte, mas, também, de violência, educação, saúde, dívidas a pagar… E uma juventude que não consegue se empregar e não enxerga um futuro.”

Silvio Caccia Bava, O Estado de S.Paulo – 22/06/2013

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