Alma – como vai?
A alma deseja aconchego
lugar onde chego e encontro sossego
A alma busca sua própria avenida
onde possa caminhar com familiaridade apesar de todo trânsito
A alma necessita ser reconhecida na sede que traz
essa insatisfação, às vezes, gera contorções
A alma assustada, ressabiada pelas marcas da vida
se protege, esconde-se, camufla-se na paisagem das adequações
A alma num mundo esfomeado anda raquítica
aliás, quase não anda, arrasta-se
A alma contorna riscos por desejar segurança
quase não arrisca mais, vê-se toda rabiscada
A alma rouca já nem grita
geme num suspiro cansado
A alma reclama, perturbada
muito ruído para pouca resposta
A alma sente… saudade
do tempo que nunca foi, mas que ela almeja
A alma sobrecarregada
vaga cansada
A alma que transborda de sensações
para cair no abismo da noite escura
A alma armada afasta até boas intenções
prefere a dor da solidão que mais desilusões
A alma carregada
de perguntas embaladas a vácuo
Calma, alma. Escuta:
uma melodia em volume baixo
“Por que estás abatida dentro em mim?
Olhe para Deus. Ponha sua esperança em Deus!”
Uma inquieta alma procurou salmodiar
Goles profundos de Deus.
נַפְ שִׁ י (nephesh) ou anima (latim), ou o tradicional alma no português.
Façamos uma enquete entre os evangélicos e perguntemos um a um: o que é alma, o que entendem pela palavra, como a usam?
Não tenho medo de errar: com raríssimas exceções todos entendem alma como se o João, Pedro, a Maria, etc., fossem constituidos de duas partes que se justapõem: uma parte chamada de alma, e a outra alma de corpo ou carne ou o conjunto daquilo que eu vejo quando contemplo uma pessoa.
Aliás os espíritas são mais pródigos ainda no raciocínio. Um amigo me telefonou dizendo que tal e tal havia desencarnado. Perguntei se morrera, “sim, desencarnou”.
Todos os evangélicos, com raríssimas exceções são espíritas travestidos de crentes. Para eles também, à beira da sepultura, contemplando o corpo inerte, imagina-se que em algum momento a ‘alma’ se despreendeu e ‘subiu’, talvez em direção a hipotéticas mansões celestiais.
O inventor da ideia de alma, muito antes do Novo Testamento e tão antigo quanto o Velho, é Platão. Os cristãos o adotaram.
E nesse poema aqui? O que é alma? Nada. É apenas o cantar poético, por sinal muito muito bonito, de algo que provavelmente nem a autora saiba, nem a psicologia entende, e alguns figurões do passado (Freud) deram outro nome.