Em meio ao caos e profunda angústia, um aflito ora, lembrando quem é esse Deus a quem clama: “No princípio firmaste os fundamentos da terra e os céus são obras das tuas mãos” (Sl 102.25).

Um Deus criador e uma criatura que vai se tornando cada vez mais perigosa pelas escolhas que faz. Ao que tudo indica não temos sido muito responsáveis, tão pouco bons cuidadores da criação. Temos visto o efeito das mudanças climáticas sobre a agricultura, a saúde, os ecossistemas, os recursos hídricos e os meios de subsistência. Estudiosos também afirmam ver sinais precoces de que o sistema de recifes de corais e o sistema ártico estão passando por modificações irreversíveis. Como reagimos a isso tudo?

Na tentativa de satisfazer impulsos interiores e atender a demandas criadas pelo mercado e suas ditaduras, onde na maior parte do tempo nos sujeitamos sem quase refletir, vemos então uma iníqua injustiça ecológica, uma exploração repetida por gerações, que agora beira o limite. Nossa voracidade consumista devorou recursos até quase esgotá-los. A exploração excedeu-se a tal ponto que devastamos ecossistemas inteiros, contaminando solos, as águas, os ares e os alimentos. Onde estava a ética, as considerações sociais e sanitárias? Comprometemos as futuras gerações?

Em triste e preocupante situação que criamos não podemos seguir ignorando a realidade que nos cerca. Nossa irresponsabilidade traz consequências ameaçadoras, que complicam cada dia mais rotinas simples, dos grandes centros aos sertões praticamente desconhecidos.

Sendo a oração um diálogo, tendo um Deus criador para conversar e ouvir, como a fé cristã pode ajudar-nos? Bem, acredito que as implicações são inúmeras, que espaços devem ser ampliados para se estudar e conversar melhor a respeito, contudo, hoje poderíamos pensar na singeleza e força transformadora que a oração pode ser.

A oração pode conduzir-nos a novas perspectivas, mudar nossa postura a partir do centro, uma interioridade resgatada apesar do exterior confuso. Quanto pode a oração?

Henri Nouwen destaca dois efeitos da oração na vida de Thomas Merton que foram facilmente crescendo: um estilo de vida diferente (cujos hábitos se tornaram mais austeros) e a receptividade crescente frente à beleza da natureza. Ou seja, resultados visíveis da oração em nós podem ser: uma vida mais disciplinada e simples, além de uma atenção mais sensível ao nosso ambiente.

Para usar as palavras de Nouwen, descrevendo as mudanças no Merton: “está menos tenso, menos agitado, menos desamparado, menos inquieto e a natureza que o cerca, antes despercebida, desabrocha agora numa beleza nunca dantes notada. É impressionante constatar como a oração abre os olhos de muita gente para a natureza. A oração torna o homem contemplativo e atento. O homem deixa de manipular, passando a ser mais receptivo diante do mundo. Não agarra as coisas, mas as acaricia, não as agride, mas beija, não as esquadrinha, mas admira-as. Para quem assim age, a natureza pode mostrar-se completamente renovada. Ao invés de ser um obstáculo, torna-se um caminho; em vez de ser escudo impenetrável, passa a ser um véu que descortina horizontes desconhecidos”.

A oração também educa a alma, faz-nos mais sensíveis com uma qualidade na atenção antes perdida, regenera olhos adoecidos. Assim diz Davi, num de seus salmos: “Bom e justo é o Senhor; por isso mostra o caminho aos pecadores… Todos os caminhos do Senhor são amor e fidelidade” (Sl 25.8 e 10). A oração é um espaço onde caminhos são mostrados, pecados são assumidos e pecadores são transformados. Crer num Deus cujos caminhos são amor e fidelidade me encoraja a ter conversas francas, a perseverar no caminho e ter a esperança renovada.

Sigamos descobrindo e desfrutando mais das orações.