Um país dito “emergente” da perspectiva econômica colabora para uma sociedade cada vez mais competitiva. Nessa selva só sobrevivem os mais fortes. Só os mais fortes, os bons, são vencedores. Como se reconhece um “vencedor”? Olhe para suas conquistas! Você vale pelo que você tem a mostrar. Se não tiver provas a serem exibidas, você será excluído. Ou você desfila orgulhosamente ou trate de com afinco impressionar as pessoas e dizer que está quase lá. Mas, apresse-se, as pessoas são impacientes, e ninguém quer ficar ao lado de “perdedores”.

Como se prepara um vencedor? Segundo a cultura brasileira, ensine-o a ser esperto, o que equivale a nem sempre ser honesto, tirar vantagem atropelando os distraídos e mal informados, esconder, ou no mínimo, omitir partes da história, toda a verdade nem sempre é conveniente, portanto, treine-o disfarçar, a ter truques, cartas na manga. Instrua-o a rapidamente reconhecer e explorar idiotas, isto é, ingênuos.

A vitória é dos ligeiros. Saia na frente. Quando o acusarem de coisas ilícitas, de falta de ética, de bom senso, falta de solidariedade, finja que não é com você. Quando reclamarem de falta de tempo para as relações, ignore ou justifique com excesso de responsabilidade e desafios. Lembre-se, qualquer sacrifício é legitimado em nome do bom desempenho. Muito esforço, muito merecimento. E esforço não tem fim, sempre achará novos empreendimentos. Afinal, precisa se manter no topo.

Pais que ficaram pelo caminho impõem aos filhos metas cruéis. Pais que chegaram lá, não todos, mas muitos, exigem que seus filhos os alcance e os supere. E diga-se de passagem, praticamente nenhum pai e mãe admitirá isso. E quando e se o fizerem, explicarão que é para o bem dos filhos. Pura preocupação supostamente amorosa. Será?

Indicar que não obrigatoriamente todos devem ser brilhantes, ou, alcançar o lugar mais alto no pódio, é uma heresia. É tudo ou nada. É ouro ou é lixo. Se não realizar um feito espetacular, de preferência único, arrancando a admiração das pessoas, então, é sinônimo de uma vida medíocre, um perdedor. Claro, só é contabilizado aquilo que pode aparecer, aquilo que é tido como “sucesso” (fama, mídia, muito dinheiro, consumismo sem miséria, etc.) – variadas formas de poder na sociedade do espetáculo.

Tenho visto pais e mães bastante aflitos com sua cria, angustiados com a possibilidade do filho “fracassar”, ser mais um na multidão de “perdedores”. Alguns até explicitam que querem investir mais, para irem mais longe, pois, num mundo tão inseguro, eles não estarão sempre por perto para “cuidar”, mas, no fundo é um pavor de que os filhos desperdicem os recursos e não compartilhem dos sonhos que eles têm para a sua continuidade na terra, no fundo, seria uma “desonra” a família.

Vejo também muitos adolescentes e jovens, abatidos com tamanha pressão. Ansiosos, com muito medo de decepcionarem seus progenitores. Muitos sentem-se culpados antecipadamente por receberem tanto investimento financeiro, afinal, muitos pais deixam claro os sacrifícios que fizeram para os filhos pudessem ter certas “regalias”.

Um dos sintomas, com índices cada vez mais elevados, é a depressão. Não poucas vezes acabam em suicídio, ou tentativas de. Mas, outro, também frequente, que é queixa comum dos adultos, é uma apatia crônica – desistências sutis da própria vida.

A resposta a tanta pressão familiar e social para que tenham um desempenho brilhante os faz cada dia mais reclusos. Quando em casa, adolescentes e jovens, ficam a maior parte do tempo no quarto. Ali ficam plugados no mundo externo, via redes sociais, navegando pelo mundo, conhecendo mares perigosos, entrando em ondas avassaladoras. Se possível, até tomam as refeições ali. Cansados, entretidos por um pouco, no fundo, esvaziados em boa parte. Eles ficam a observar sua própria incompetência para o nível de exigência que lhe foi imposta, disfarçada ou explicitamente.

E muitos dos que se rendem a tais pressões e naufragam com elas diriam que dominam o evangelho, que conhecem a Deus e o seguem.

Jesus diz algo muito claro àqueles que desejam ser seus discípulos: quem não perder a vida não pode encontrá-la Mc 8. Em outras palavras, Jesus diz que há uma vida que leva à morte. E a maneira que muitos tem vivido, de fato, os tem feito morrer aos poucos, mas, talvez não para aquilo que Jesus teria apontado como morte necessária. Vivemos mal porque escolhemos mal. Abrigar a ansiedade em nós, viver de preocupações e estresses, é um modo de vida que nos levar a morte, mas de maneira alguma era o que Jesus ensinava.

Qual seria a compreensão dos pais dito cristãos, e como eles tem ensinado seus filhos a esse respeito?

As imposições ansiosas e exigentes dos pais resultam em compulsões na vida de alguns filhos e em tédio na vida de outros. Pais não gostam de ver seus filhos respondendo dessa maneira, ficam ainda mais angustiados, porém, não mudam suas inquietações e posturas.

O sábio dizia: “O homem que ama a sabedoria dá alegria a seu pai” (Pv 29.3). Hoje precisamos refletir o que pais e filhos consideram sabedoria, e, o que de fato agradam os pais. Quem ama o quê?