“Não há estabilidade política. E os momentos de crise não são a exceção, são a regra. Nas sociedades contemporâneas, a política é essencialmente conflituosa. O miraculoso é observar como tantas sociedades capitalistas encontram momentos de certa pacificação social, dentro de um quadro de injustiças e repressões. Como é possível que as multidões brasileiras, diariamente humilhadas e exploradas, não tenham se manifestado antes? E tenham passado anos num certo torpor? Como até agora não vimos revoltas e irrupções sociais suficientes para contestar o nervo central do sistema? O importante é destravar a vida política. Pensar na relação entre a mudança das estruturas políticas e as demandas das lutas sociais. A política administra o “estoque” de sonhos, desejos e anseios da sociedade. Às vezes faz repressões desses desejos, outras conta com o silêncio de impulsos para a transformação. As manifestações atuais são relevantes, mas não estão atacando a estrutura. É revelador que as pessoas destinem seus impulsos de agressividade e de ódio à arena política estatal, mas quase nunca ao campo econômico e ao próprio sistema capitalista. As vozes das ruas ecoam no nível político, e podem ser responsáveis pelas mudanças dos governantes. E essas vozes não devem se calar.”

Alysson Mascaro, O Estado de S.Paulo – 30/06/2013

 

“Eu não sei como as pessoas podem dissociar as duas coisas. Eu sou o Estado e eu sou a Igreja. Como posso me separar de mim mesmo? Foi quando o Vaticano se afastou da política, que a Igreja Católica começou a ruir e o diabo tomou o seu lugar.”

Reverendo Diaz Garden, fundador da primeira igreja evangélica latina do Bronx (Nova York/EUA), O Estado de S.Paulo – 30/06/2013

 

“A dor do Brasil saiu às ruas sem medo de desbancar o sorriso falso dos políticos. Saiu às ruas graças aos brasileiros de coragem e aos jornalistas que cumprem seu dever. E vem mais por aí.”

Eugênio Bucci, Época, 01/07/2013

 

“O mais importante é que o jovem tem de ser protagonista de um mundo novo. A preocupação da Jornada Mundial da Juventude é que o jovem não se sinta desesperançado. Ele está gritando isso, quer ter esperança, ter um futuro e poder ajudar o mundo a ser melhor. Ele tem como ajudar esse amanhã. Essa é a questão. Por isso, essas manifestações. De todos os legados da Jornada, o mais importante é a esperança da juventude no amanhã.”

Dom Orani Tempesta, Época, 01/07/2013

 

“Você, que acumula objetos e aparelhos de uso questionável e contribui para a formação do lixo eletrônico ao mesmo tempo que reclama da poluição e da exploração do planeta. […] Imerso na rede, você criou um reflexo psicológico em que precisa saber de tudo no momento em que acontece, posicionando-se o quanto antes, já que cada atualização diz mais respeito à opinião dos outros do que ao que você realmente pensa. Você acha que é diferente e no entanto é igualzinho aos que critica. Não espanta que espere cada vez mais da tecnologia e cada vez menos das pessoas.[…] Fruto de um sistema capitalista, a única resposta que a tecnologia pode trazer é mais tecnologia. Ela é só uma ferramenta, não há consciência nela. […] Você é um só. E ainda terá que topar consigo e prestar contas com seu legado.”

Luli Radfahrer, Folha de S.Paulo – 01/07/2013

 

“As igrejas mais frequentadas pelos participantes da marcha, segundo a pesquisa, são as evangélicas Renascer em Cristo (31%), Assembleia de Deus (19%), Batista (6%) e Quadrangular (5%). A idade média dos que compareceram ao evento é de 31 anos, segundo o Datafolha. Em relação à escolaridade, a pesquisa apontou a maioria dos participantes nas faixas do ensino médio (56%) e superior (34%). O instituto indagou os presentes à marcha sobre a contribuição mensal para as igrejas, e o valor médio apontado foi de R$ 220.”

Flávio Ferreira, Folha de S.Paulo – 01/07/2013

 

“Nelson Mandela nos mostrou que a coragem de um homem pode mover o mundo. O mundo é grato aos heróis da Ilha Robben, que nos lembram de que nenhuma algema ou cela pode se igualar à força do espírito humano.”

Barack Obama, O Estado de S.Paulo – 01/07/2013

 

“O que vemos é a falência dos órgãos públicos há muito Esses são os problemas que afetam as pessoas, é uma crise das vidas cotidianas, e não das instituições. As pessoas estão cansadas da vida como ela é nas grandes cidades.”

Fernando Henrique Cardoso, O Estado de S.Paulo – 02/07/2013

 

“No movimento das ruas não se projeta uma revolução. Há uma aspiração por mudanças profundas descoladas do processo político fraudulento e viciado. Esse sentimento guia o barulho das multidões nas ruas.”

Mauricio Dias, Carta Capital – 03/07/2013

 

“Que o universo digital produza essa sensação libertadora é positivo. Que a tecnologia lhe permita multiplicar ao infinito opiniões, contribuições e denúncias é positivo. Que a mídia direta crie uma maneira colaborativa de a sociedade se informar é positivo. Mas a ideia de que é apenas na internet ‘off mídia’ que os fatos são relatados sem manipulação e sem compromissos com aqueles que -para usar um bordão das ruas —‘não me representam’ é desastrosa. Na crise de representatividade, tudo é posto em xeque. Como instituição, a mídia é questionada como os partidos, o governo, o pastor Feliciano, a Copa e por aí vai. […] O cidadão exige participar de todos os processos que afetam sua vida. No país que não quer mais ser passado para trás, mas quer se passar a limpo.”

Junia Nogueira de Sá, Folha de S.Paulo – 04/07/2013

 

“Escutar não é apenas uma condição para saber o que curar e como, escutar é tão importante quanto curar.”

Contardo Calligaris, Folha de S.Paulo – 04/07/2013

 

“A pororoca de protestos nas ruas suscita várias tentativas de interpretação. Mas a visão do novo fenômeno está condicionada à posição de cada um: há os que olham da janela, das frestas, dos palácios ou das mesmas ruas onde caminham os manifestantes. Há os que se regozijam com os ventos da mudança e esforçam-se por descortinar novos horizontes. Há os que fecham as janelas e tentam ocultar a beleza do momento nas sombras da intolerância e do autoritarismo, construindo uma narrativa que mantenha tudo no lugar, do jeito que sempre foi. É preciso ir mais fundo e perguntar: o que gerou a insatisfação que explode nas ruas? Como chegamos a tal estado de frustração? Por que os representantes se apartaram dos representados? Por que a corrupção é tão persistente? Por que sacrificamos os recursos naturais de milhões de anos pelo lucro de algumas décadas? Por que predomina a indiferença com o futuro e as próximas gerações? […] O ‘éthos’ do movimento é uma irrupção de valores, o grito de uma ética libertária e profunda. E não foram apenas “os jovens”, mas todas as gerações, pais e avós juntos aos filhos e netos, dizendo: o Brasil é nosso e nós o queremos melhor. A rejeição não era “aos políticos”, mas aos vícios que o sistema por eles criado e gerenciado consagrou. A exigência é básica: respeito.”

Marina Silva, Folha de S.Paulo – 05/07/2013

 

“Grande parte do ajuntamento daquelas pessoas, a maioria jovens, se parece com uma rave, eles se encontram com um propósito cultural e também de diversão, o que explica sua eficácia. Existe o aspecto de arrastão, praticado por aqueles que foram marcados pelo ferrão da História, quer dizer, os menos favorecidos. Mesmo esses, tachados de vândalos pela classe média, têm suas motivações, ainda que sejam discutíveis. As manifestações fazem furos no chão aparentemente sólido da sociedade.”

Gilberto Gil, O Estado de S.Paulo – 05/07/2013