Aliança Evangélica Pró-Ribeirinhos – AEPR

Edição: Phelipe Reis

O trabalho missionário entre os povos ribeirinhos da Amazônia completou mais de um século. Entretanto, este segmento ainda consta na lista dos grupos menos evangelizados do Brasil. O isolamento geográfico e a falta de natural exposição ao evangelho pautam as principais dificuldades para alcançar e discipular essas populações. Estatísticas do IBGE e de outras pesquisas estimam a existência de até 35 mil comunidades ribeirinhas e cerca de três milhões de pessoas vivendo no interior da selva amazônica, longe das sedes de municípios e isolados por algum grau de dificuldade de acesso. Desse total de pessoas, cerca de um milhão não tem ninguém próximo que lhes poderia apresentar o evangelho.

Há décadas, mais de setenta denominações e organizações missionárias vem atuando, em algum grau, entre os povos amazônicos. Diversas estratégias e métodos para evangelização e plantação de igrejas vem sendo praticadas. Algumas delas mostrando-se bastante efetivas, já outras não conseguiram estabelecer igrejas locais com capacidade de multiplicação.

O chamado missionário do Senhor para sua igreja compreende a evangelização e o discipulado – o que só é possível por meio de um relacionamento significativo. Mas como discipular os ribeirinhos mais isolados, uma vez que o acesso a eles é difícil e as oportunidades “naturais” para estabelecer vínculos são raríssimas?

Desafios

Este é o maior desafio para as iniciativas evangelizadoras na Amazônica nos dias de hoje. O custo pessoal e financeiro para se manter o contato regular com estas comunidades é altíssimo. Viagens por vias fluviais podem durar vários dias, por via aérea custam milhares de reais e são impossíveis por via terrestre. Deslocar a família para morar em meio às comunidades, abdicando das facilidades da vida na cidade, impõe um custo pessoal e familiar enorme – principalmente quando os filhos entram na adolescência e precisam dar continuidade aos estudos.

Além disso, as igrejas locais pelo interior são pequenas, muitas delas com lideranças leigas e com sérias limitações econômicas para custear as viagens necessárias até as comunidades não alcançadas.

Percebemos que ainda há uma grande concentração de igrejas, projetos e organizações missionárias em Manaus, capital do Amazonas, ou nas proximidades das áreas urbanas da região, consequentemente, negligenciando os territórios mais carentes do evangelho. Este fenômeno deve-se, primariamente, a questões de logística, suprimentos e serviços, mas também por falta de estratégias que considerem essas limitações, a ponto de deslocar o potencial já existente para locais mais necessitados.

Na hipótese de se conseguir superar todas as barreiras de transporte, estratégia, recursos e pessoas, ainda há de se enfrentar as restrições de acesso adequado às aldeias e comunidades – limitação que o poder público não cessa de impor. Essas restrições prejudicam ainda mais comunidades carentes dos serviços públicos de saúde e educação, contribuindo para o alto índice de analfabetismo. A dificuldade na leitura também implica no discipulado, já que se espera que o discipulando tenha livre acesso ao conteúdo das Escritura Sagradas.

A Aliança Evangélica Pró Ribeirinhos (AEPR) tem procurado trazer luz sobre estes desafios e proporcionar um ambiente de diálogo e compartilhamento de informações, experiências, recursos e estratégias para alcançar os mais isolados. Fundada em 2013, por um grupo de mais de 20 igrejas e organizações baseadas no Amazonas, a AEPR promove encontros, eventos e apoio para que as organizações e pessoas aliançadas ampliem suas visões e iniciativas para essas áreas isoladas. Já realizou 10 encontros em 6 anos, sendo 8 fóruns e 2 congressos mobilizadores, todos em Manaus. No interior do estado, já mobilizou diversos outros encontros no esforço de descentralizar as ações da capital.

A partir das experiências junto às organizações aliançadas, a AEPR identifica como as principais necessidades para o avanço do evangelho na região o preparo de líderes, a capacitação de igrejas multiplicadoras, o treinamento bíblico e teológico adequados à realidade, o desenvolvimento de programas sustentáveis de evangelização e discipulado em áreas remotas, e a disponibilização de meios, recursos e estratégias missionárias relevantes e efetivas localmente e a novas iniciativas. Além disso, outros desafios também se impõem, tais como o fortalecimento dos que já estão no campo missionário e precisam de cuidados e renovo, a criação de um banco de dados unificado com informações de pesquisas para planejamento estratégico dos programas missionários, e a ampla divulgação das demandas de missões amazônicas, de modo a se mobilizar a igreja brasileira a investir mais na região.

Existe a tendência de priorizar as tarefas mais fáceis, ou as que geram resultados mais rapidamente, mas sabemos que as soluções para os desafios da evangelização da Amazônia exigem outros caminhos. É preciso intencionalidade, definição de propósito, planejamento coletivo e disposição para altos investimentos em nome do Reino de Deus, para se alcançar as áreas mais remotas da Amazônia. A obra missionária é muito maior do que qualquer organização missionária ou denominação religiosa. Por isso, é fundamental construir parcerias estratégicas para alcançar os isolados.

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