Por Jénerson Alves

Em meio aos transtornos provocados pelas chuvas, surge a solidariedade e o desejo de reconstrução nos municípios pernambucanos

Foto: Divulgação, prefeitura Belém de Maria (PE)

Em Caruaru, terra do Mestre Vitalino, as precipitações pluviométricas das últimas semanas provocaram a queda de mais de 20 árvores, desabamentos e erosões, destruição da pavimentação em trechos de mais de 1.600 ruas, danificação de mais de 30 muros de escolas da rede municipal de ensino, infiltração nos tetos de mais de 20 unidades do Programa Saúde da Família (PSF), alagamento nos parques municipais e desabamento total ou parcial em 24 casas, entre outros danos. Entidades civis e privadas, como igrejas, colégios, faculdades, Rotary, Lions e OAB têm se mobilizado, de diversas formas, para amenizar os problemas.

Além de Belém de Maria e Caruaru, também estão em calamidade os municípios de Amaraji, Palmares, Maraial, Ribeirão, Cortês, Barra de Guabiraba, São Benedito do Sul, Rio Formoso, Catende, Água Preta, Jaqueira e Barreiros.

Dados do Governo de Pernambuco dão conta que 46,1mil pessoas estão desabrigadas ou desalojadas em todo o Estado. Seis mortes foram registradas: duas pessoas soterradas em Lagoa dos Gatos, duas mortes em Recife e mais duas em Caruaru.

Solidariedade

Foto: Divulgação, prefeitura Belém de Maria (PE)

“Ao mesmo tempo, vejo angústia e esperança no rosto das pessoas”. É assim que a fotógrafa Andreza Ferreira, 25, retrata a situação atual em Belém de Maria, na Zona da Mata Sul de Pernambuco que fica a 120 km da capital, um dos locais mais devastados pelas últimas chuvas. A cota de inundação do Rio Panelas, que corta o município, chegou a 442,5 cm na semana passada, sendo o nível de alerta é 300 cm.

As chuvas do dia 27 de maio superaram todas as outras da história daquele município. Hoje, mesmo com o nível do rio em situação estável, ainda há muros derrubados, ruas danificadas, pessoas sem moradia e sem suprimentos. A água que devastou parte da cidade provocou uma enxurrada de problemas. Contudo, a intensidade da cheia é proporcional à intensidade de reinvenção do povo. O poder público está com maquinários e técnicos nas ruas, com ajuda de órgãos como Defesa Civil e Corpo dos Bombeiros, desenvolvendo esforços para reconstruir a cidade. Ao mesmo tempo, a solidariedade brota no coração dos cidadãos, que usam a criatividade e o amor fraterno para ajudar o próximo.

Andreza está entre as pessoas que têm se mobilizado para minimizar o sofrimento. Mesmo residindo em Caruaru (PE), ela se solidariza com a dor dos belenenses. Além de conseguir dezenas de donativos para aquela cidade, ela lançou uma campanha com o nome “Melhore o Retrato” – a ideia é arrecadar diversos itens em prol das famílias atingidas até o dia 14 de junho. Quem doar concorrerá a promoções em ensaios fotográficos.

A solidariedade também vem de outras cidades. O prefeito de Flores, Marconi Santana, mobilizou a população para arrecadar donativos aos belenenses.  Em Caruaru, cidade conhecida como a ‘Capital do Forró’, a solidariedade entra no ritmo dos festejos juninos. A Prefeitura do Município instalou diversos pontos de arrecadação de alimentos, roupas, cobertores e água nos focos de animação da festa, que serão direcionados para as vítimas das chuvas nos bairros mais afetados.

Abastecimento

As chuvas não somente trouxeram transtornos, mas também alteraram as perspectivas quanto ao racionamento de água. Pernambuco vivenciava uma das maiores secas das últimas décadas, de modo que em janeiro o Governo do Estado decretou que 70 municípios se encontravam em estado de emergência devido à estiagem. Como exemplo, pode-se citar que Caruaru tem enfrentado um rodízio de mais de 20 dias sem água na torneira e apenas cinco com. O município é abastecido pelas barragens do Prata e por Jucazinho. A primeira, localizada em Bonito, estava com 9,8% da capacidade e saltou para mais de 50%. Todaia, a barragem de Jucazinho, em Surubim,permanece em colapso. Mesmo assim, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) não sinaliza diminuição do rodízio.

Mudanças climáticas

Enchentes, deslizamentos e outros desastres naturais estão previstos para aumentar nos próximos anos. É o que indica o relatório “Impacto, Vulnerabilidade e Adaptação das Cidades Costeiras Brasileiras às Mudanças Climáticas”, lançado nesta segunda-feira (05/06), no Rio de Janeiro. O documento resume uma extensa quantidade de estudos, bem como de análises de publicações científicas, traçando um cenário de apreensão, sobretudo, para as cidades costeiras do país, em virtude da elevação da temperatura global. Segundo o relatório, cidades como Recife, Fortaleza, Natal, Maceió e João Pessoa estão sujeitas a inundações e outros problemas por causa da alteração climática. As mudanças também se relacionam com os fenômenos conhecidos como El Niño e La Ninã, que geram o aquecimento e, em seguida, prevê um esfriamento anormal nas águas do Oceano Pacífico.

Confira outros registros da situação:

 

  1. Antonia Leonora van der Meer

    Que situação devastadora. Já convivi de perto com outras enchentes destruidoras em Minas e Teresópolis. Mas sei que é uma grande tragédia para as famílias que perdem tudo, assim como para os municípios que vêem muitas de suas estruturas básicas destruídas. Graças a Deus pela solidariedade das pessoas dos municípios vizinhos. Espero que melhorem as condições de captação das águas, que é urgente. Tonica

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