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Foto: Glimaz.net.

Por Sérgio Ribeiro

Tem-se dito que, historicamente, de todo o território nacional, o sertão é a região mais resistente ao evangelho. Eu, porém, desejo mostrar o outro lado dessa história: parece-me que o sertão nordestino é a região para a qual a igreja tem, historicamente, mais resistência de ir. Acho que a realidade cruel e mais triste é essa: a resistência mais pecaminosa é da igreja, que resiste em ir, do que a do sertanejo, que resiste em crer.

O fundamento do problema não está no povo sertanejo, mas na seletividade da igreja em priorizar demasiadamente em seu planejamento missionário as regiões mais fáceis, mais favoráveis, mais confortáveis, ou, como alguém já me disse, as regiões que podem dar “retorno financeiro”. Talvez, grande parte da aparente resistência sertaneja seja subproduto de duas atitudes da igreja: a) a resistência em ir para o sertão; e b) a inadequação dos obreiros — quando vai alguém, muitas vezes é uma pessoa com boa vontade para fazer a obra, mas com um perfil inadequado para empreender o trabalho missionário na terra de Lampião e Maria Bonita! Inadequado por uma ou mais razões: despreparo ministerial, falta de amor pelo sertão e pelo sertanejo, falta de retaguarda adequada.

Há obreiro que vai para o sertão porque não surgiu outra opção de trabalho. Na primeira oportunidade, sai de lá correndo — sem deixar nem levar saudades. Existe aquele que é transferido de um campo estruturado para o sertão por castigo ou porque pertence ao outro grupo político da igreja (aquela coisa: para os meus, o filé macio; para os outros, o osso duro!). Além do mais, há aqueles que não são enviados para o sertão — são jogados no sertão! Coitados, sofrem mais do que “couro de pisar fumo”! O pior é que a família sofre além do que seria normal; os filhos ficam decepcionados e, alguns, revoltados.

Eu creio que o Amazonas, que também carece muito de iniciativas missionárias, tem uma grande vantagem em relação ao sertão: está sempre na mídia, dá um certo status, tem um grande apelo ecológico e todo mundo tem interesse em investir no pulmão do mundo. Mas, o que o sertão tem a oferecer? Que retorno virá de se evangelizar o sertão, pelo menos a curto ou médio prazo? Imagina-se que, humanamente falando, nenhum! Pelo contrário, na maioria das vezes, nos lugares que mais precisam de novas igrejas, evangelizar o sertanejo só vai dar despesa, trabalho, sacrifício e algumas dores de cabeça. O único retorno certo será o de almas perdidas que serão salvas e famílias que serão restauradas. Muitos concluem que este é um retorno insuficiente para motivar grande parte de nossas lideranças. Parece que a mentalidade capitalista influencia os nossos projetos de evangelização nacional muito mais do que imaginamos!

Mas, nem tudo está perdido! Pela graça de Deus existem igrejas que estão fazendo a sua parte em favor dos sertões nordestinos, e há muitas outras que AINDA não estão fazendo por pura desinformação. Espero que o leitor se inclua num desses dois casos.

Nota:
Artigo retirado do livro “Missão Integral: proclamar o reino de Deus, vivendo o evangelho de Cristo” (esgotado), que reúne textos e palestras do 2º Congresso Brasileiro de Evangelização (CBE2).

• Sérgio Ribeiro trabalha com plantio de igrejas no sertão nordestino desde 1983. É presidente e fundador da Missão JUVEP.

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“[…] resistência mais pecaminosa é da igreja, que resiste em ir, do que a do sertanejo, que resiste em crer”. Já se passaram mais de uma década desta declaração do pastor Sergio Ribeiro, proferida durante 2º Congresso Brasileiro de Evangelização, que aconteceu em 2003, mas a pergunta ainda persiste: A igreja brasileira ainda resiste em ir ao sertão nordestino?

Se você conhece projetos ou iniciativas que tem feito o evangelho espalhar pelo sertão nordestino, compartilhe conosco. Também queremos conhecer e torná-las conhecidas. Escreva para ultimatoonline@ultimato.com.br.

  1. Concordo plenamente, e a igreja sertaneja não precisa muito que venham líderes de fora, pois a cultura que eles trazem muitas vezes podem atrapalhar no anuncio do evangelho, mas que houvesse um investimento nos líderes já existente e na formação de outros porque eles já conhecem a realidade mais que ninguém.
    E aqui eu deixo para a reflexão: Dizem que o sertanejo é povo mais difício de se trabalhar, como assim se o sertanejo é o povo mais receptível do que as outras regiões do nosso Brasil? Há sim um mal entendido sobre o Sertão e sertanejo.

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