Por Lucimar Rocha (PróSertão)

O que vou lhes contar aconteceu na última viagem que fiz em companhia do pastor Ignácio Pinto, ao sul do estado do Piauí. Dirigindo o seu carro, o pastor deixou a BR e adentrou por uma estrada vicinal, por mim desconhecida, nas proximidades da cidade de Regeneração. Perguntei para onde estávamos indo. “Vou lhe mostrar um homem valente”, respondeu.

Alguns minutos depois, o reverendo para o carro à porta de uma casa, daquelas interioranas mesmo, no meio da mata, cuja vegetação neste período de estiagem parece morta. Dada a ausência da sua folhagem, não oferecia nenhuma sombra e o sol estava muito quente.

“Bom dia, cadê o Foboca?”, cumprimentou meu colega a uma mulher que estava no pátio daquela solitária residência. Era a mulher do Seu Argemiro, um maranhense da gema, há muitos anos morando naqueles interiores. Vi chegar um homem de pequena estatura, franzino, aparentando seus 70 anos. Era o Foboca, que foi logo abraçando o pastor Pinto.

Conversa vai conversa vem, Foboca começou a falar do seu passado. “Fui um homem ruim, mal pra desgraça. Eu tinha prazer em fazer bagunça. Acabei muitas festas naqueles interiores, só na panada de facão”.

Ele conta que gostava de ver homens e mulheres correndo e entrando na mata com medo de morrer. “A primeira coisa que eu fazia”, continua, “metia o facão nas lamparinas aí começava a gritaria: ‘Corre que lá vem o Foboca!”. E eu dizia: “É o Foboca Leão. Assim fiquei conhecido em toda esta região”.

Era pequeno em estatura, porém tinha uma agilidade incrível com muita destreza e desenvoltura no corpo. Só andava armado. O seu maior orgulho era ser temido naquelas plagas.

Segundo ele, certa vez chegou e acabou um terreiro de macumba. Estava no meio do terecô, quando chegou, puxou o seu inseparável facão e fez sangue em alguém. Com medo de ser denunciado pelo chefe à delegacia de Polícia da cidade, fingiu que estava possesso de espírito mau. Chegou à frente do “pai de santo” e disse: “Paizim, o que foi isto que aconteceu?”. “Ele então rezou em mim”, graceja.

Um dia recebeu em sua casa o seu amigo Monteiro. Convidou o velho companheiro para meter umas e outras, mas Monteiro respondeu: “Amigo, agora sou outro homem, sou crente. Aceitei Jesus e Ele mudou a minha vida. Agora quero lhe falar sobre a minha nova vida”. E continuou: “Jesus também pode lhe transformar em outro homem”. Monteiro apresentou o caminho da salvação para o Foboca.

Naquela noite ia acontecer um culto de evangelização numa localidade próxima. À noite, ambos compareceram ao culto, mas o Foboca Leão estava desconfiado, com um pé na frente e outro atrás. “Quero ver se essa cabra é crente mesmo”, pensava consigo mesmo. Mas o valente não quis entrar, ficou lá no terreiro ouvindo… O pastor dizia: “Amigos, o céu é um lugar maravilhoso. Lá não há dor nem tristeza, lá não entra pecado, é a morada dos salvos”. E descrevia a beleza do lugar. O Foboca Leão pensava: “Eu quero ir para esse lugar”. “De repente perdi a cabeça”, confessa ele. “Entrei na casa do culto e fui direto ao pregador e disse: ‘Você está mentindo cara. Tu já foi lá para saber?’. Confesso que tive vontade de meter o facão nele, mas o Monteiro não deixou”.

Enquanto ele contava a sua história, eu me mantinha calado ouvindo. Passado mais alguns dias, através do testemunho do irmão Monteiro, o Argemiro, o Foboca, foi liberto da escravidão de Satanás.

Alcançado pelo Evangelho [agora é ovelha de Jesus Cristo]. Hoje é outro homem e vive a contar a sua história. Já esteve em Goiânia dando seu testemunho e em tantas outras igrejas proclamando sua fé em Jesus Cristo. Hoje, Argemiro está com 78 anos com boa saúde e bem esperto.

– Texto publicado originalmente na 2ª edição do Jornal PróSertão. Clique aqui para acessar o jornal.

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