Por Héber Negrão

P10_09_03_15_capalivroO cuidado integral do missionário é um assunto um tanto recente na missiologia brasileira. A fim de contribuir com o tema, gostaria de compartilhar um pouco sobre livro “Igreja Missionária, Igreja Cuidadora”, escrito pelo pastor Sérgio Victalino, da Igreja Presbiteriana de Boa Viagem, em Recife (PE), com experiência na área de cuidado integral do missionário.

Dos seus trinta anos de ministério, o pastor dedicou nove ao campo missionário, três deles trabalhando com ribeirinhos na região amazônica. No ministério pastoral, ele se empenhou a despertar as igrejas para a obra missionária, incentivando a organização de núcleos de missões com o objetivo de cuidar dos missionários no campo e fora dele.

Hoje, a visão missionária das igrejas brasileiras não é a mesma de vinte anos atrás. No entanto, aparentemente, essa visão ficou limitada ao sustento financeiro do missionário. A Igreja pode e deve continuar contribuindo financeiramente com seus missionários, mas ela foi chamada para fazer algo mais. O pastor Sérgio argumenta em seu livro que o missionário deve ser assistido integralmente pela Igreja, não somente na área financeira, mas também na área espiritual, emocional, física, mental e social.

Com pouco mais de 100 páginas, o livro é escrito em capítulos curtos e práticos quase como em forma de diálogo. Uma leitura muito agradável e simples que não exige um conhecimento técnico na área da missiologia para entender. Com exceção do capítulo três onde é feita uma fundamentação bíblica, o autor não se preocupa com longas exposições de outras obras ou formulações de teses para abordar seu tema. É um pastor em seu gabinete abrindo o coração, em uma conversa informal com o leitor, orientando a igreja a zelar por aqueles que estão no campo. Ele mesmo diz que pretende ser “mais funcional do que teórico”1.

Cada capítulo aborda com objetividade a atenção que a igreja deve ter com o processo do ministério missionário: o período de preparo, de pré-envio, de chegada ao campo, de permanência no campo, de visita à igreja local e volta do campo.

A obra “Igreja Missionária, Igreja Cuidadora” é como um manual, um guia prático para o cuidado do missionário. O autor dá dicas úteis que podem ser colocadas em prática sem muito esforço por pastores, líderes e pelo departamento de missões da igreja local. Veja algumas delas:

  • Atividades que a liderança da igreja pode atribuir para um seminarista candidato ao campo missionário (p 49).
  • Maneiras de como a igreja pode amenizar o choque cultural do missionário no momento da sua chegada ao campo transcultural (p.65).
  • Como o departamento missionário pode ajudar a organizar a agenda do missionário (visitas, consultas médicas, descanso) durante o seu retorno para férias (p.85).
  • Atividades de reciclagem quando o missionário voltar do campo por um período mais prolongado (p. 91).
  • Como cuidar efetivamente do missionário que trabalha na cidade (p.99).
  • Em anexo, o livro ainda oferece um projeto simplificado para implementar o programa de Cuidado Integral do Missionário na Igreja Local (p. 105).

Os capítulos nove e dez merecem destaque. No nono capítulo o autor trata do cuidado que deve se dar ao missionário que volta do campo por um período prolongado, por motivos diversos como enfermidade, estudo dos filhos, mudança ministerial etc. Nesses casos, muitas vezes o missionário tem seu sustento financeiro cortado pelas igrejas. Para que isso não aconteça o autor sugere que “o planejamento desse período seja feito com a mesma responsabilidade do planejamento para seu envio ao campo”2. Havendo este planejamento e a comunicação devidamente estabelecida (entre missionário, agência e igreja), o missionário deve ser bem recebido e bem assistido pela igreja, que deve aproveitar esse tempo para renovar os laços e estreitar o relacionamento com ele.

O capítulo dez aborda o tema dos missionários que atuam “em Jerusalém”, e que são alvo de preconceitos por não trabalharem em um campo transcultural ou fora da sua cidade. Segundo o autor, isso acontece “porque a Igreja ainda acha que só é missionário o que vai para longe, trabalha em lugares com certo percentual de sofrimento e que passa por limitações financeiras.” Ele afirma que este equívoco é resultado de “uma cultura que valorizou, durante anos, as dificuldades e os resultados em detrimento da simples obediência e da disponibilidade responsável”3. O autor conclui o capítulo dando algumas sugestões de como a igreja pode cuidar desses missionários que estão tão perto, mas que facilmente não recebem a devida atenção e cuidado.

Felizmente temos visto contribuições valiosas de missionários que escrevem livros dos mais diversos temas relacionados a missões, mas o diferencial desta obra é que foi escrita a partir de uma ótica pastoral. Além de ter sido escrita por um pastor com visão e experiência missionária, “Igreja missionária, Igreja cuidadora” trata da grata preocupação de pastorear integralmente aqueles que servem.

O livro pode ser adquirido no site www.igrejacuidadora.com.br

Notas:

  1. p. 15
  2. p. 91
  3. p. 97

Héber Negrão é paraense, tem 32 anos, mestre em Etnomusicologia e casado com Sophia. Ambos são missionários da Missão Evangélica aos Índios do Brasil (MEIB) e da Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM). Residem em Paragominas (PA) e trabalham com o povo Tembé.

  1. Meu amigo de escola Heber,
    Que bom ver um texto excelente escrito por vc. Que o Senhor continue te usando.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *