Por Héber Negrão

indiosVisitei a tribo dos índios Parakanã no norte do Brasil em uma viagem que fiz com o objetivo de pesquisar a sua música e incentivá-los a utilizá-la para cantar para Deus e auxiliar no processo de tradução da Bíblia. Fui convidado por Gino e Tati Silva que são tradutores da Bíblia, missionários da ALEM, e na época estavam iniciando o trabalho no livro de Atos. Dei palestras sobre bases bíblicas para composição de músicas de louvor a Deus, fiz entrevistas com alguns cantores da aldeia e ajudei na gravação de músicas que eles mesmos já haviam composto.

O povo parakanã é muito amigável e alegre. Eles têm uma prática musical forte e gostam muito de cantar, tocar flautas e dançar. A maneira como eles aprendem suas músicas é diferente da que conhecemos. Eles recebem suas músicas através de sonhos e as ensinam para a comunidade nas várias festas durante o ano. Visitei duas aldeias. Lá conheci Xaperia e Kawore, dois índios que gostam de compor canções para Deus no estilo nativo.

Uma vez, sabendo que os Parakanã recebiam suas músicas através dos sonhos, decidi enfatizar essa característica nas palestras e nas conversas que tive com eles. Com a ajuda de um amigo, observei que o livro de Apocalipse relata visões de João, com a inserção de várias músicas ao longo do relato. Expliquei aos índios que as visões eram como um sonho, e assim, mostrei a eles que na Bíblia também havia pessoas que sonharam com músicas, e colocaram essas músicas num livro. Quando eles souberam disso, sentiram-se empolgados para criar suas próprias canções bíblicas.

Ainda mais empolgante foram os versículos bíblicos encontrados para reafirmar esse ponto. O Salmo 42.8 diz: “Conceda-me o Senhor o seu fiel amor de dia; de noite esteja comigo a sua canção” (NVI). Vibrei quando li este texto. A própria Bíblia diz que Deus nos dá uma canção à noite. Isso é completamente compreensível e aceitável para os Parakanã. Esta era uma mensagem com um elevadíssimo nível de importância para aquele povo. Quando falei que o “Livro da Fala de Deus” dizia que Deus nos dava uma canção à noite, eles ficaram muito contentes.

Em outra ocasião mostrei a Kawore e Xaperia que alguns salmos expressam que a Natureza também louva a Deus. Então, começamos a imaginar como seriam as árvores cantando de alegria ao Senhor (Sl 96). Depois falamos dos rios batendo palmas (Sl 98) e perguntei como seria o rio Xingu batendo palmas para Deus. Um deles imaginou que era quando as ondas quebravam sonoramente nas pedras formando uma espuma branca. Isso me deixou maravilhado. Eles estavam interagindo com a Palavra de Deus. Todas as coisas criadas cantam para Deus, cantam de alegria.

Antes de eu ir embora, eles me disseram que agora sabiam que era importante criar músicas de louvor ao Senhor porque a Bíblia diz isso. Eles mostraram interesse em fazer novas canções baseadas na Bíblia, começando pelo livro de Atos.

Nota:
Este artigo foi publicado originalmente na Revista Connections: The Journal of the WEA Mission Comission, vol 9, nº 1 e 2 (2010), p. 70.

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Héber Negrão é paraense, tem 30 anos, mestre em Etnomusicologia e casado com Sophia. Ambos são missionários da Missão Evangélica aos Índios do Brasil (MEIB), com sede em Belém, PA.

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