desenho_adoracaoPor Héber Negrão

Você já se perguntou por que a Igreja existe? Talvez você responda: para cumprir a “Grande Comissão”. Ok. Mas então pergunto: a Igreja existe somente para cumprir esta última ordenança deixada por Cristo?

Há alguns anos eu li um livro sobre esse assunto chamado “Povo Missionário, Povo de Deus” de Charles van Engen, professor de missiologia do Fuller Theological Seminary. Com base nesta leitura, ministrei uma palestra para os pastores da região de Belém (PA) em um evento da MEIB (Missão Evangélica aos Índios do Brasil). O que compartilho com você nesse texto é o conteúdo resumido desta palestra baseada nas minhas reflexões deste livro que me ajudou a melhor entender o papel da Igreja no mundo.

Charles van Engen faz uma abordagem da Igreja missionária destacando quatro papéis essenciais. Segundo ele, “a Igreja missionária vem à tona quando seus membros participam cada vez mais da existência da Igreja no mundo por meio do “querigma”, da “diaconia”, da “coinonia” e da “martíria”.*

O “querigma” é a característica de que a Igreja deve pregar que “Jesus Cristo é o Senhor”. Esta poderosa declaração foi o primeiro credo da igreja primitiva e representava o elemento central de sua fé e identidade. (At 2.36; 10.36). Levando isso em consideração, a Igreja é forçada a sair, pois o senhorio de Cristo deve ser reconhecido por aqueles que ainda não se curvaram diante dele. E quando pensamos no papel da Igreja, muitas vezes olhamos somente para a Grande Comissão. A pregação do Evangelho é muito importante, e até essencial, eu diria, porém não podemos fechar nossos olhos para as outras três características.

A “diaconia” ressalta uma das qualidades onde a Igreja de Cristo deve se identificar com o seu Senhor. Assim como o Filho do Homem veio para servir, a igreja deve se portar como serva. John Stott** fala que muitos conhecem bastante a Grande Comissão de Mateus e de Lucas (em Atos), mas poucos lembram aquela de João: nós somos enviados como Cristo foi enviado pelo Pai (Jo 20.21). Marcos complementa dizendo que Jesus foi enviado para servir (Mc 10.45). O servo não pode estar acima do seu senhor. O discípulo que confessa que Jesus é o Senhor vai viver como o Mestre viveu. Ao servir, a comunidade de amor segue os passos de seu Senhor e testemunha dele aos que ela serve.
O grande problema aparece quando a Igreja precisa exercer esta terceira característica. A “coinonia” segue o mandamento de amar uns aos outros. Esse amor entre os cristãos deve refletir o amor entre o Deus Pai e Jesus Cristo, Seu Filho (Jo 15.10). A presença de Cristo no meio do seu povo, representada no amor fraternal, é testemunho para os que são de fora (Jo 13.34,35).

É simplesmente incrível o fato de representarmos em nossos relacionamentos a presença de Cristo no meio do seu povo. O problema é que a Igreja passa a supervalorizar a “coinonia”, priorizando programações para o crescimento do corpo, para a unidade de seus membros e para a boa convivência entre os irmãos. Quando os cristãos se voltam somente para si esquecendo-se de testemunhar para os outros a igreja pode estar sofrendo de uma enfermidade que Peter Wagner denomina de “coinonite”. A ausência do “querigma” e da “diaconia” na prática da Igreja demonstra que ela está voltada mais para si mesma do que para os que estão fora dela.

Por fim, a Igreja também se identifica com a “martíria”, sendo testemunha viva da obra de reconciliação de Cristo. O povo missionário de Deus deve ser uma comunidade reconciliada que testemunha a possibilidade de reconciliação num mundo alienado (2 Co 5.18-21). Ao pregar a reconciliação, a Igreja serve como Representante de Deus na terra. O ministério da reconciliação é o centro do Testemunho da Igreja. A “martíria” é o resultado da união das três características anteriores.

Por meio da unidade equilibrada da “coinonia”, da pregação do “querigma” e do serviço da “diaconia”, a Igreja missionária de Cristo testemunha o Evangelho da reconciliação.

 

Notas:
* VAN ENGEN, Charles. Povo Missionário, Povo de Deus. Vida Nova. São Paulo, 1996. p.112.
** STOTT, John. A Missão Cristã no Mundo Moderno. Ultimato. Viçosa, 2010. p.27.

 

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Héber Negrão é paraense, tem 30 anos, mestre em Etnomusicologia e casado com Sophia. Ambos são missionários da Missão Evangélica aos Índios do Brasil (MEIB), com sede em Belém, PA.

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