Ao chegar em Palmares (PE) a visão impactante é de comércios funcionando em prédios sem fundo, suas paredes arrancadas pela força da água do rio Una, durante as enchentes de junho. Percorrendo mais 8 km está a cidade de Água Preta, que também está se re-erguendo – a rua principal foi repintada, mas ainda existem 100 famílias abrigadas precariamente: 40 em tendas, 20 na maternidade e outras 40 em locais alugados. Nestas duas cidades a Visão Mundial vem implantando Unidades de Espaços Amigáveis para Crianças (UEACS) com o objetivo de ajudá-las a lidar com seus sentimentos pós-traumáticos, e a se reabilitar ao dia a dia. Das 12 Unidades previstas, apenas as de Palmares e Água Preta estão com recursos garantidos.

Só quem viveu o drama de passar a noite toda com a própria filha no primeiro andar de um sobrado totalmente ilhado pela força da água, pode saber o que muitas crianças passaram. Esta foi a experiência do pastor Luiz da Silva, que abriu a Igreja Batista em Água Preta para receber 100 crianças e adolescentes na faixa etária entre 3 e 17 anos. Além de reformar partes danificadas, ele tem adaptado os ambientes da Igreja para atender a demanda, e no momento está construindo salas para atender uma quantidade maior de crianças. Diariamente as crianças recebem café da manhã e almoço, participam de gincanas, oficinas de arte, futebol, capoeira, lazer e cultura, discussões literárias e jogos cooperativos. Até poucos dias atrás as crianças estavam sem escola. O sentimento de deslocamento e isolamento é forte, e o maior desejo dos meninos é de receber um time de futebol “para jogar contra”. A equipe tem apoiado as famílias a conseguir novos cartões de vacinação e documentação, pois muitos perderam tudo na enchente.

A coordenadora da ONG Bagulhadores do Mio, Ana Schwarz, contratada pela Visão Mundial, relata sobre o processo de treinamento de uma equipe local, seguindo o modelo de ações bem sucedidas com crianças no Haiti, Chile e Peru: “Oferecemos atividades lúdicas com base em um método pedagógico, para fazer as crianças refletirem sobre a situação trágica e depois buscar novos caminhos frente à nova realidade”.

A previsão é que o projeto permaneça em cada cidade por três meses. Em Água Preta a Prefeitura tem demonstrado interesse em dar continuidade às atividades, e a Unidade em breve será assumida pelo Programa PETI. Visão Mundial se dispõe a doar capacitação de profissionais e equipamentos, além de participação no processo de reativação dos conselhos da cidade.

*Alison Worrall é representante da Rede Mãos Dadas no nordeste.

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