O Brasil é um dos cinco países com os maiores índices de homicídios de adolescentes no mundo

 

Por Lucas Louback

A cena do enterro do menino Kauê de apenas 12 anos me (re)visita constantemente. Compartilho esse sentimento não como mera exposição, mas a fim de provocar uma inquietação que contribua para luta justa do direito à vida. 

Na última semana, estive no cemitério de Olinda, localizado em Nilópolis no Rio de Janeiro, para o sepultamento do Kauê. Fomos na tentativa de prestar algum nível de apoio à família. Sua mãe sepultava junto com suas crianças o seu menino. Naquele lugar, me chamou atenção a presença de uma senhorinha com Bíblia aberta cantando um hino. Suas súplicas eram o único bálsamo naquele lugar. 

Kauê vendia bala e sonhava conhecer o Neymar. O adolescente foi morto durante uma incursão do blindado da Polícia Militar. Um tiro de fuzil atingiu sua cabeça. O luto e a fome por justiça era o que unia todos ali, pois os relatos da família e amigos eram assustadores. Uma sequência de causas traumatizantes.

O mais trágico é que a mesma cena é recorrente na cidade do Rio de Janeiro e muitas cidades do Nordeste. A política de enfrentamento em áreas empobrecidas expõe milhões e milhares à morte. Além disso, a ausência de políticas públicas de educação, esporte e cultura agrava – ainda mais! – um buraco enorme. A sociedade segue com pouca comoção, pouca luta e poucas são as ações e políticas sendo alteradas. 

Segundo a UNICEF, “o número de homicídios de adolescentes do sexo masculino no Brasil é maior, inclusive, do que em países afetados por conflitos, como Síria e Iraque. Em 2015, 11.403 adolescentes de 10 a 19 anos foram assassinados no Brasil, dos quais 10.480 eram meninos. No mesmo período, na Síria, um total de 7.607 meninos morreram, a maioria em decorrência da guerra. No Iraque, foram registradas 5.513 mortes de meninos no mesmo período, em decorrência da violência.

Caso não haja mudanças significativas no país, 43 mil adolescentes de 12 a 18 anos serão mortos no Brasil entre 2015 e 2021, de acordo com o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA, 2014). Até quando vão continuar matando os nossos meninos?


Lucas Louback é graduado em Teologia e atua na ONG Rio de Paz como coordenador de projetos. É pastor da igreja Mesa Vineyard no Rio de Janeiro e mobilizador de projetos sociais em favelas no Rio de Janeiro.

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