img-md-pg12Para que uma criança chegue a viver nas ruas há um caminho a percorrer no qual ela é levada a transpor alguns muros de proteção. Da rua, se não houver um resgate, o caminho continua rumo às drogas, atividades ilícitas e autodestrutivas, doenças, violência e morte!

1º O primeiro muro de proteção é o da própria família original. É natural que uma família ofereça para seus membros cuidados básicos para a subsistência, como alimentação, abrigo, sentido de pertencimento e segurança física e emocional. É a ausência de vários destes cuidados mais básicos que leva uma criança a perder o vínculo com seus progenitores.

2º O segundo muro de proteção é o da família extensa. Quando a família nuclear falha, muitas vezes a criança é acolhida por familiares: avô ou avó, tio ou tia, primos, irmãos mais velhos etc. Ou seja, alguém na rede familiar se dispõe a preencher os espaços vazios deixados pela mãe ou pai da criança. Quando uma criança ganha a rua, podemos dizer que esta família extensa também falhou.

3º O terceiro muro de proteção é o da comunidade. Às vezes, amigos, vizinhos, uma igreja, um grupo de amigos, uma professora na escola, se dispõe a acompanhar a criança por ver que ela está desprovida. Talvez não cheguem a formalizar uma adoção, mas tentam prover aquilo que está faltando para ela, tanto na família original como na extensa. Sendo assim, a criança gasta o tempo que puder com estas pessoas amigas, mas mantém seu vínculo, ainda que enfraquecido, com a família que a gerou. Uma criança nas ruas indica que sua comunidade mais próxima também falhou.

img-md-pg134º O quarto muro é o da rede social de proteção formalizada pelo Estado por meio da criação dos Conselhos Tutelares e Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente em cada município. Participam desta rede ainda todo o poder judiciário, a polícia, a escola, os serviços de saúde, os projetos sociais organizados em forma de ONGs etc. Todos têm a responsabilidade prevista na nossa constituição de fazer o direito da criança prevalecer. Para que a criança chegue a se fixar nas ruas, é necessário que uma série de leis tenham sido descumpridas ou violadas, e que várias medidas de intervenção tenham sido ineficazes. Em outras palavras: o Estado e a sociedade civil organizada falharam!

O caminho de volta
Precisamos admitir o fracasso como povo brasileiro, pois abaixamos os muros de proteção a um nível perigoso para muitos meninos e meninas. Porém, podemos olhar para este quadro como um mapa, e buscar em Deus a estratégia certa para atuar como agentes de transformação. Em todos os pontos do caminho podemos intervir — há lugar para todos. Precisamos erguer cada muro de proteção mencionado acima e, para isto, o engajamento de todos é fundamental!

A vontade de Deus não mudou, ele quer fortalecer nossas famílias em todos os sentidos. Ao trabalharmos em qualquer esfera, seja na política pública, no trabalho pastoral, no aconselhamento individual, no resgate físico, na educação, na saúde, ou em atividades de mobilização social, o nosso objetivo deve ser claro: devolver cada criança a uma vida em família e, em última análise, a uma vida digna. Para tanto, podemos buscar em Deus o poder, a autoridade e a força para todas as nossas ações. “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos, […] ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mt 28.18-20) — palavras de Jesus indispensáveis para quem luta pelas crianças e suas famílias.

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Artigo publicado originalmente na Revista Mãos Dadas, Edição 27, em setembro de 2011.

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